A volta do boêmio


Depois de ser questionado na Alemanha e de ser flagrado com várias mulheres em uma boate, Hamilton segura os dois carros da Lotus, vence mais uma no mundial e se credencia ao título. A saideira, pelo jeito, está longe.

Sob sol dourado, domínio do carro prateado

As boas notícias da semana começaram com a alta hospitalar de Maria De Villota, a piloto de testes da Marussia, que agora se recuperará em casa do grave acidente sofrido nos testes da equipe. Apesar de ter perdido o olho direito, De Villota não teve nenhuma lesão cerebral, o que já foi um lucro imenso. E quem quase precisou dar entrada no hospital logo após o GP da Alemanha foi Kimi Raikkonen. Um fotógrafo flagrou o exato momento em que o finlandês resolveu pular uma cerca ainda no estacionamento do autódromo alemão e levou um tombo super fotogênico. Sem ferimentos, o Homem de Gelo se manteve frio e seguiu a vida.

Já no autódromo de Budapeste, os treinos livres mostraram que o pacote aerodinâmico da McLaren, que já havia estreado na Alemanha, colocou o carro de novo com força para brigar pelas primeiras posições. Hamilton, que sequer completou a corrida de uma semana atrás, foi dominando os treinos desde a sexta-feira. A Lotus, por sua vez, também mostrou força para o final de semana, enquanto os carros da Ferrari, principalmente Alonso, já se conformavam em brigar, no máximo, pelo pódium.

Mais do que esperado, a Toro Rosso se juntou ao pessoal que só conhece o Q1, desta vez com o australiano Daniel Ricciardo. No Q2, a decepção maior ficou com Michael Schumacher. Depois de bater na segunda sessão de treinos, quando a pista estava molhada, Schumacher não conseguiu ritmo para fugir do fundo do grid e ficou com a décima sétima posição apenas. Com ele, o companheiro Rosberg, os dois carros da Sauber, Paul Di Resta, Jean Eric Vergné, Pastor Maldonado e até mesmo Mark Webber, ficaram no Q2.

Nico Hulkenberg vem dando seqüência a boa fase, sendo melhor inclusive que seu companheiro Di Resta, e conseguiu uma excelente décima posição. Bruno Senna também fez um excelente treino e conseguiu a nona posição, mas Maldonado ainda conseguiu ficar a frente do brasileiro. No mesmo caso, Alonso conseguiu um limitado sexto lugar com Massa logo atrás. Raikkonen afirmou que poderia ter ido melhor que um quinto lugar, mas teve de se contentar em ficar atrás de Button. Com sobras, Hamilton superou Vettel e Grosjean, surpreso com a primeira fila. Hamilton estava tão á vontade que mesmo com a pole garantida, baixou mais ainda seu próprio tempo.

Nada de chuva no treino oficial, o que era até esperado, porque o calor na Hungria estava provocando alucinações. Eu nunca tinha visto um aparato usado por Bruno Senna, um colete de gelo, usado por baixo do macacão. Deve ter a patente KR, de Kimi Raikkonen.

Schumacher, que dia!

Por algum motivo, os sinais vermelhos não apareceram na hora da largada. Até aí, tudo bem, mas ninguém precisava desligar o carro, já que todo mundo iria para mais uma volta de apresentação, não é Schumacher? Isso fez com que o alemão tivesse que largar dos boxes. Pra quem já tinha batido no treino livre e feito uma péssima classificação, não poderia ter nada pior, mas teve.

Travadinha para garantir a liderança, e Hamilton vai embora na largada

Com uma volta a menos do que inicialmente programado, a corrida começou com Hamilton segurando bem a pole, enquanto Button ganhou a posição de Vettel e assumiu o terceiro lugar. Massa foi superado por Bruno Senna e Webber veio lá de trás aparecendo na sétima posição. Os tradicionais “chega pra lá” das primeiras curvas, mas desta vez nenhum pedaço de carro pelo caminho.

Lembra do Schumacher largando dos boxes? Pois o heptacampeão viria para uma prova de recuperação como nos velhos tempos, para mais uma vez deixar todos admirados com sua habilidade. Para isso, o alemão já fez a troca de pneus logo na primeira volta, em uma mudança radical de sua estratégia, e… pára tudo. Schumacher foi punido com um drive-thru por excesso de velocidade no pit-lane e voltou mais retardatário do que nunca.

Formada a fila, a corrida se resume a tentativa de aproximação de Grosjean em cima de Hamilton em um primeiro momento, sem sucesso. E nada de ultrapassagens, nem com a liberação da asa móvel, porque para conseguir a ultrapassagem no final da reta dos boxes, o carro de trás precisava colar no caro da frente na curva de 180º que antecede a reta, o que tornava a missão muito difícil.

Como todo mundo que foi para o Q3 estava de pneus macios e o calor continuava fervendo o asfalto, não demora muito para acontecerem as primeiras paradas. A McLaren não foi tão bem na troca de Hamilton, mas a Lotus também não colaborou na parada de Grosjean. De importante mesmo, apenas Raikkonen conseguiu retomar a posição perdida para Alonso na largada.

Raikkonen ainda não venceu, mas pelo menos desta vez pode tomar o champanhe que ficou faltando na Alemanha

No meio da bagunça que é a primeira janela de pit-stops, Senna se depara com Sergio Pérez a frente e faz uma ultrapassagem estudada, em uma seqüência de três curvas, se mantendo firme na prova. Outras brigas que aparecem são a de Vettel tentando se recuperar sobre Button e Webber que pressionava Alonso. Lá na frente, Grosjean tinha um rendimento melhor que Hamilton e tirava um pouco a diferença, mas como Vettel pressionava Button, ambos também chegavam aos líderes.

Vitória, aqui me tens de regresso

Ao final de mais uma rodada de pit-stops, Hamilton havia conseguido se distanciar de Grosjean, mas era Raikkonen quem liderava porque deixou para fazer a sua parada por último, na volta 46. Ao voltar para a pista, Raikkonen saiu lado a lado com Grosjean e expremeu o companheiro para assumir a segunda posição da prova. Raikkonen sabia que tinha carro para buscar a primeira vitória pela Lotus e começou a tirar a diferença. Sem mais paradas previstas, além de Hamilton, Raikkonen e Grosjean, vinham em seguida Vettel, Webber, Alonso, Button, Senna, Massa e Rosberg. Schumacher se limitava a abrir passagem para os líderes, em um dia típico de HRT.

Bruno Senna foi conseguiu um sétimo lugar excelente. Massa não foi tão bem assim, mas pontuou de novo.

Corrida monótona? Chame Maldonado que ele trata de agitar. Atrás de Paul Di Resta, Maldonado deve ter lido “force”, de Force India, e jogou Di Resta para fora, sem piedade. Resultado: Maldonado punido com um drive-thru, a sexta punição em onze corridas. Mas, como disse muito bem Flavio Gomes em seu blog, com o dinheiro que tem da PDVSA, Maldonado pode até murchar os pneus da cadeira de Frank Willimas que continuará na equipe. Mas isso é assunto para a próxima coluna.

Webber ainda é o vice-líder do mundial, mas agora mais longe de Alonso e na alça de mira de Vettel, Hamilton e Raikkonen

Voltando para a parte final, Raikkonen tirava perigosamente a diferença para Hamilton e chegou a ficar, por várias vezes, a menos de um segundo do inglês, mas Hamilton resistia. E a Red Bull resolveu fazer uma parada a mais para seus pilotos. Webber voltou atrás de Bruno Senna e Vettel consegue voltar ainda na quarta posição, mas com Alonso e Button, que caiu na classificação, colados atrás dele. Schumacher cansou de tomar voltas e abandonou no final.

Por fim, enquanto Hamilton segurava Raikkonen, Vettel chegava a tirar entre 1,5s e 2s por volta para Grosjean, mas ficou só na ameaça. Quem teve muito trabalho para segurar a outra Red Bull, de Webber, foi Bruno Senna, que fez uma corrida madura e conseguiu terminar a frente do australiano, na sétima posição. Massa foi nono, a frente de Rosberg.

Lá na frente, Hamilton confirmou a supremacia do final de semana e voltou a vencer na temporada, dividindo o pódium com os dois pilotos da Lotus, Raikkonen e Grosjean. Vettel, Alonso e Button, quarto, quinto e sexto colocados respectivamente, completaram a lista dos pontuadores.

Hamilton foi sempre superior e embola o campeonato, mas Alonso ainda é favorito

Aniversariante do dia, Alonso até queria comemorar 31 anos com a 31ª vitória na categoria, mas saiu contente em abrir ainda mais a liderança para Webber na disputa pelo mundial, que agora está em quarenta pontos. Disputa que se intensifica na vice-liderança, com Webber, Vettel, Hamilton e agora também Raikkonen, separados por ínfimos oito pontos. Ou seja, se os quatro brigarem entre si, ficará mais fácil para Alonso, que é pós-graduado em administração, de pontos. Mas Hamilton diz que alcança o espanhol, Raikkonen quer dar mais um pulo, na tabela agora, para sair bonito na foto, e tem a dupla rubrotaurina, sempre forte.

A Fórmula 1 volta agora apenas em setembro, no GP da Bélgica. Durante este período, o mercado de pilotos vai continuar agitado, e nós vamos especular um pouco sobre isto na próxima coluna, neste período de “férias” das equipes.

A gente se vê na próxima coluna.

Um grande abraço!

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

5 Responses

  1. Victor Ferraz says:

    Bom ressaltar também a parte que Bruno Senna segurou Button atrás dele, sendo que Button estava de pneus novos macios e Bruno estava com médios usados. 😀 Ótimo resenha!

  2. É isso mesmo Victor. Bruno Senna fez corrida de gente grande neste final de semana. Precisa melhorar na classificação, pois seu estilo não é tão agressivo. Obrigado pelo seu comentário! Um abraço.

  3. Fábio Cristófaro says:

    Se o Maldonado foi punido pelo que fez com o Di Resta, o Kimi também não tinha que ser pelo que fez como Grosjean? O comentarista Lito Cavalcante, do SporTV fez a seguinte colocação sobre a punição do Maldonado: “Logo esses comissários vão começar a punir o piloto que estiver com o cabelo despenteado”. (sorte do Hamilton!!)

  4. Fábio Abade says:

    o Fábio Critófaro exaltou exatamente o que eu ia exaltar (rsrsrs)!!

    E eu botei fé no Vettel pra essa corrida… que decepção…

    hehehe

    Vamo que vamo!!

    Abraços!!

  5. Cristófaro,
    Acho que a diferença entre a manobra dos pilotos da Lotus e a que puniu Maldonado é que o venezuelano, além de ter batido no carro de Di Resta, tirou o espaço de uma vez, não dando chance ao escocês.
    Maldonado é estabanado, como dizem os mais antigos, e com isso ficou marcado.

    Abade,
    Não se exalte, Vettel ainda vai vencer este ano, de novo.

    Hamilton pode até não ser punido pelo cabelo despenteado, mas ele também é chegado em uma confusão. Vamos ver.

    Um abraço!

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