Quebraram a corrente


A Mercedes tem a primeira baixa e Daniel Ricciardo alcança sua primeira vitória em uma corrida muito disputada que começou e terminou com o safety-car.

Gente no retrovisor

A soberana Mercedes veio para Montreal com aquela briguinha de Mônaco resolvida, pelo menos segundo Niki Lauda. A preocupação parecia então ter ido embora e a equipe alemã iria preparar o desfile, agora em terras canadenses. Simples assim.

Aí vem o primeiro treino livre, e a Ferrari de Fernando Alonso acaba a primeira seção na frente, seguida, claro, pelos carros prateados. E eles trataram de botar ordem no coreto no segundo treino livre, assumindo as melhores marcas mas tinham a Red Bull de Sebastian Vettel no encalço. E foi no terceiro treino livre que a Mercedes viu que as coisas poderiam se complicar um pouquinho, já que Felipe Massa conseguiu colocar o carro branco da Williams a frente de Rosberg e quebrar a dobradinha, de novo, no final de semana.

Ainda que houvesse ameaça, era sabido que a força da Mercedes era muito maior. E foi deles mesmo, mas com a emoção a cada curva, decidindo a pole em favor de Rosberg em um pequeno erro de Hamilton, que lhe custou a perda da pole por manos de um décimo de segundo. Logo atrás deles, Red Bull e Williams fizeram algo espetacular! Vettel, Bottas, Massa e Ricciardo, donos da segunda e terceira filas, ficaram separados por apenas 41 milésimos de segundo. Isso equivale a metade de uma piscada de olhos. Ou seja, você nem piscou e quatro carros passaram. Alonso, Vérgne, Button e Raikkonen fecharam os dez primeiros.

Com os dois carros da Force India fora dos dez primeiros, sem nenhum de seus carros, e com o McLaren de Magnussen entre eles, pedia uma estratégia diferente para os carros indianos, e essa estratégia chamou a atenção na corrida. Vamos a ela?

Começa com safety-car

Rosberg no comando, com direito a um chega pra lá em Hamilton.

Rosberg no comando, com direito a um chega pra lá em Hamilton.

Nico Rosberg quase perdeu a ponta para Hamilton logo na largada, chegou a ter o carro atrás do rival, mas, por dentro da primeira curva, embarrigou a curva de maneira acintosa e Hamilton recolheu, perdendo a posição inclusive para Vettel. Logo atrás, Massa e Bottas disputavam centímetros lado a lado, mas o finlandês é valente e manteve-se a frente de Massa. E todo mundo ia se ajeitando quando, lá no fundo, a alegria do pessoal da Marussia acabou com um acidente entre os dois pilotos da equipe, Chilton e Bianchi. Logo agora, depois dos primeiros pontos conquistados no Principado de Mônaco, deve ter sido muito frustrante. E não foi uma batidinha qualquer não, o impacto foi forte e o carro de Bianchi ficou atravessado no meio do lindo parque da Ilha de Notre Dame, solicitando os serviços do safety-car. E demorou mais de sete voltas para deixar a pista sem detritos e com uma serragem para secar algum fluido que ficou do acidente.

Com a relargada na oitava volta, Rosberg segurou a ponta e coube a Hamilton tentar superar Vettel o mais breve possível para que o alemão não escapasse. E Hamilton conseguiu a ultrapassagem depois de mais duas voltas, sendo que seu rival ao título não havia desgarrado tanto.

Felipe Massa fazia uma corrida em que não consegui chegar em seu companheiro Bottas e tinha Ricciardo embutido em sua caixa de câmbio desde a largada. Quando foi para os boxes, em sua primeira parada, Massa ainda teve alguns segundos de prejuízo causados por um problema em uma das rodas. O saldo foi de três posições perdidas na volta a pista. E todos que seguiam na pista iam fazendo suas paradas, menos a Force India (lembram que eu falei dela há pouco?). Com isso, a tática da equipe fez com que Pérez e Hülkenberg aparecessem logo atrás dos carros da Mercedes. Logo atrás é maneira de dizer, porque os prateados já estavam bem a frente.

Focando nos líderes agora, era a vez Hamilton tirar (ou ao menos tentar tirar) a diferença para Rosberg antes que a coisa para ele começasse a se complicar demais. E o inglês fazia bem a sua parte, tanto que Rosberg chegou a errar a freada da chicane da entrada da reta dos boxes. Dizem que sentiu a pressão, mas parecia problema com os freios. E a caça continuava entre ambos.

Como já era o meio da corrida, Pérez e Hülkenberg confirmavam a estratégia de uma parada apenas, mas o que mais chamou a atenção foi a queda de rendimento simultânea dos carros da Mercedes. Pelo rádio, tanto Rosberg quanto Hamilton sinalizavam que algo não deixava os carros “voarem” como de costume. Era como se os super carros tivessem perdidos seus superpoderes. Ainda havia uma certa gordura, em tempo, que podia ser administrada, e que era de mais de 25 segundos para o terceiro colocado, Hülkenberg.

Vettel conquistou o segundo pódio em 2014. O pulso, ainda pulsa.

Vettel conquistou o segundo pódio em 2014. E o pulso, ainda pulsa.

Quando Hülkenberg parou, era Massa quem ocupava o terceiro lugar e poderia assumir a ponta quando os dois carros da Mercedes, já lentos, fizessem suas segundas paradas. Felipe Massa na liderança de um GP em 2014, e a Williams chegou a cogitar a possibilidade do brasileiro ir até o final com uma troca apenas.

Rosberg errou de novo, permitiu a aproximação de Hamilton, que disputou com o alemão a freada da reta de entrada para os boxes até o limite extremo. Tão extremo que os freios se foram de uma vez para o inglês, apesar que pareceu ter havido um pequeno toque entre ambos. Hamilton fora de combate, pela segunda vez no ano.

Era difícil para Massa se manter na frente e mais uma parada foi feita, desta vez sem problemas.

Termina com safety-car

Faltando vinte voltas para o final, dois blocos de quatro pilotos brigavam pelas oito primeiras posições. Rosberg, Pérez, Vettel e Ricciardo separados por menos de dois segundos era o primeiro deles. Mais alguns segundos atrás e praticamente com o mesmo intervalo entre os quatro, Hülkenberg, Bottas, Massa e Alonso. Massa era quem tinha os melhores pneus, seria óbvio que o brasileiro superasse o companheiro Bottas e fosse brigar lá na frente, porque a possibilidade de colocar a Williams com mais pontos no mundial era real. Os mais entusiastas cogitavam até a vitória. Mas alguém acha que Bottas ia deixar o brasileiro passar fácil?

Massa teve como ultrapassar Bottas no momento em que o finlandês tentou superar Hülkenberg e errou, deixando o caminho livre para Massa não só superá-lo como também passar pelo alemão rapidamente, e ainda mais rapidamente se aproximar dos quatro primeiros.

Era o brasileiro quem fazia a melhor volta, colou em Vettel praticamente ao mesmo tempo em que Pérez também sinalizou problemas com os freios e ficou mais para Ricciardo do que para tentar a vitória. As voltas que se seguiram foram de adrenalina total.

Veio então a ultrapassagem de Ricciardo sobre Pérez, faltando quatro voltas para o final. Embolados, o mexicano, Vettel e Massa pareciam um carro apenas e assim seguiram mais duas voltas, o que deu para assistir a ultrapassagem de Ricciardo sobre Rosberg. Era a hora da Fórmula 1 conhecer o seu mais novo vencedor. Mais ainda tinha mais emoção para a última volta, e forte!

Massa e o pancadão de domingo a tarde. Safety-car e corrida encerrada.

Massa e o pancadão de domingo a tarde. Safety-car e corrida encerrada.

Na reta dos boxes, Vettel conseguiu superar Pérez e assumir a terceira posição. Na mesma manobra, Massa tentou superar o mexicano e os carros colidiram perigosamente, em velocidade maior que os duzentos quilômetros por hora. Por muito pouco, o carro de Massa não acertou em cheio Vettel, que saiu ileso. Susto muito grande porque a força da batida assustou, mas nada de mais grave com os pilotos, a não ser a perda de pontos preciosos.

Sob nova intervenção do safety-car, Ricciardo cruzou a linha de chegada em primeiro, com Rosberg em segundo e com Vettel em terceiro. Button, sempre bem no Canadá, ainda conseguiu ultrapassar Alonso e Hülkenberg para ficar com a quarta posição. Bottas, Vérgne, Magnussen e Raikkonen chegaram na zona de pontos.

A categoria conhece mais um piloto que entra para o seleto hall dos vencedores, e olha que Ricciardo tem bala para mais, porque faz uma temporada excelente e tem um carro que, se não é vencedor, é o primeiro a aparecer atrás dos (até ontem) insuperáveis carros da Mercedes. E olha que a próxima corrida é na Áustria, na casa da Red Bull. A estrela perde um pouco do brilho pela primeira vez este ano.

Palpitando…

– Rosberg conseguiu levar o carro até o final, Hamilton não. Com isso, abriu mais dezoito pontos para o inglês. São necessárias quatro dobradinhas seguidas favorecendo Hamilton nas próximas corridas, para que o inglês volte a liderança do mundial, que só teve por uma vez. Estabilidade psicológica em jogo;

– Felipe Massa voltou a ser combativo, mas faltou a ultrapassagem, faltou o algo mais. Faltou a ajuda da equipe? Pode ser, mas aquela coisa de ir além para ganhar posição, para mim, ficou devendo ainda. Todavia, o isento do acidente;

– Nico Hülkenberg sugerirá a FIA que os cinco primeiros possam subir ao pódio, já que conseguiu o quarto quinto lugar em sete etapas;

– Fernando Alonso segue o calvário na Ferrari. Foi sexto, seria oitavo, mas como Raikkonen não consegue nada de melhor, continua cantando de galo na equipe;

– Sergio Pérez foi punido com cinco posições no grid da próxima etapa pelo acidente com Massa. Ele é meio estabanado ainda, mas está andando muito. Ano passado incomodou Button e este ano iria para o segundo pódio. E olha que o seu companheiro de equipe é Hülkenberg;

– Por falar em Hülkenberg e Alonso, há quem coloque o primeiro no lugar do espanhol na Ferrari e o segundo no lugar de Button na McLaren, reforçando a aposentadoria de Button. A ver…

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

2 Responses

  1. Glauco de F. Pereira says:

    Não sei se alguém teria a mesma opinião, mas acho que esta transmissão ficará marcada como aquela em que o narrador estava mais perdido dos últimos tempos!

    Não dava uma dentro, todas as vezes em que apontava um carro, na verdade era outro, todas as informações que tentava passar ao público eram imediatamente corrigidas (de maneira muito educada, registre-se, pelo Luciano Burti e pelo Regi…), enfim, nunca achei que fosse dizer isto mas, VOLTA GALVÃO!!!!!!!!

    Depois deste pequeno “interregno cultural”, vamos ao principal fato da corrida, ou seja, o acidente de Massa vs. Perez.

    Se podemos atribuir culpa a alguém, acho que, sem “pacheqismo”, Perez não foi muito prudente em sua manobra naquele momento.

    Conhecido na F1 como chicane ambulante, perguntem a Button, Raikkonen, Grosjean, o que estes acham de suas manobras, seja na disputa de posições ou mesmo como retardatário, Perez não é muito conhecido como leal em suas manobras, e ontem tivemos mais um exemplo disso. Button então, garanto a vocês não ter muito saudade de seu companheiro de equipe…

    Ele vinha como problemas de freios, como dito por ele a equipe a poucas voltas antes do acidente; vinha com pneus bem mais desgastados do que Massa e, além disso, sua manobra pouco antes da tomada da curva não foi algo muito prudente, ainda mais na última volta, não é mesmo?

    Enfim, Massa, de certa forma e com a ajuda anterior da equipe, que não foi muito ousada em manter o mesmo na prova quando estava em 1º lugar, adiando um pouco mais sua troca de pneus, desperdiçou uma boa prova que vinha fazendo até aquele momento.

    Mas, como dizia Fangio, “…carreras son carreras…”. É partir para a próxima e, quem sabe, das próximas corridas, a FIA determine a Force Índia utilizar no carro de Sérgio Perez um novo equipamento: sabem aquelas faixas laterais que veículo com cargas mais largas e maiores utilizam, Excesso Lateral!

    Vai que dá certo, não é mesmo?

  2. lsussumu says:

    Na hora do acidente pareceu que o culpado foi o massa, ele que fez cagada, vou assistir mais alguns videos para ver.

    Riccardo, ele pilotou muito, eu não acreditei quando ele passou pelo Rosberg.

    Essa troca de equipes que pode acontecer vai ser interessante. Ano que vem então teremos Alonso + Mclaren + Motor Honda. Teremos um campeão espanhol na volta dos motores honda?

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