Tontura e queimação


Dobradinha da Red Bull, drama de Rosberg na largada e de Hamilton no final deram ao GP malaio uma importância enorme na reta final do campeonato.

Pegando fogo

Depois de perder a liderança do Mundial para Rosberg, Hamilton tratou de mostrar a que veio em Sepang logo nos treinos. Se hora Rosberg bateu o oponente, Hamilton colocou um caminhão de tempo sobre o alemão no treino classificatório. Era a pole necessária para mostrar a Rosberg que o campeonato tinha dono, apesar da desvantagem na tabela.

Tivemos pares formados para o grid, com a primeira fila da Mercedes, seguidos pelos carros da Red Bull, Verstappen e Ricciardo. Atrás deles, encontravam-se Vettel e Raikkonen, seguidos de Pérez e Hülkenberg. Apenas na quinta fila havia uma quebra desta sequência casada, com Button colocando o carro da McLaren em nono, a frente de Felipe Massa. Já Alonso largaria em último porque estava punido com dezenas de posições por troca do equipamento motriz, não tinha como ele estar ali mesmo. Mas Bottas estava, em décimo primeiro, logo atrás de Massa.

Os carros da Haas, com Grosjean e Gutiérrez, estavam em décimo segundo e terceiro, lugares respectivamente, e ambos a frente de Magnussen. Aliás, vale dizer que o piloto da Renault tomou um susto logo no primeiro treino livre. Após a primeira volta, ele voltou aos boxes e, ao parar, o carro começou a pegar fogo bem atrás do cockpit. Sem nenhum problema, Magnussen pulou do carro e o fogo foi controlado. Houve quem levantasse a hipótese de que o Halo, aquela proteção para a cabeça em teste, dificultaria a saída do piloto. Alexander Wurz, ex-piloto e atual presidente da GPDA, disse que a proteção retardaria a saída do piloto em um segundo, mas o macacão protege o piloto por mais de 50 segundos.

Button comemorando seu 300o GP na carreira.

Button comemorando seu 300o GP na carreira.

Atrás de Magnussen, mais duas equipes casadinhas: Kvyat e Sainz, da Toro Rosso, e Ericson e Nasr, da Sauber. Um intervalo com Palmer, da Renault, e finalmente os dois carros da Manor, “protegidos” por Alonso, como eu disse.
Falei rapidamente sobre o grid porque o que mais chamou a atenção dos pilotos foi o novo asfalto de Kuala Lampur. Embora seja usado também em outros autódromos, o calor de Sepang seria crucial para determinar o comportamento dos pneus durante treinos e corrida. Além disso, algumas curvas receberam inclinação negativa, forçando os carros a saírem da pista. Os pilotos, claro, aprenderam a lidar com isso.

Vettel, Vettel…

Felipe Massa queria partir para a volta de apresentação, mas o pedal do acelerador não quis e o brasileiro acabou largando do pit-lane depois que o time conseguiu “amarrar o cabo” de volta. Acelerador eletrônico é isso, às vezes o cabo seria mais confiável.

E, alguém me responda, o que acontece com Sebastian Vettel?

Todos sabem que ele é um piloto acima da média, que se tem um carro confiável e veloz vai sempre brigar por vitória e tal. Só que parece que ele quer andar mais do que a Ferrari permite a ele no momento e isso traz consequências nem sempre boas para ele. Pior, pode afetar outros colegas de profissão.

Foi exatamente isso que aconteceu quando as demoradas luzes vermelhas de Sepang se apagaram e deixaram os meninos correrem como loucos para chegarem no primeiro “S”, estilo “bold” do autódromo malaio.

Todos largaram bem na verdade, mas Vettel tentou uma manobra arrojada para se posicionar logo atrás dos carros da Mercedes. Ele veio por dentro de Verstappen, parecia que levaria a posição do holandês, mas acabou dando em cheio na roda traseira direita do carro de Rosberg, deixando o alemão na contra-mão. Para Vettel já foi fim de prova porque a suspensão dianteira do seu carro ficou em frangalhos. O chefe Arrivabene não podia ficar mais feliz…
Com o safety-car virtual acionado, alguns pilotos decidiram ir para sua troca de pneu e mudar a estratégia. Massa foi um deles, assim como Gutiérrez, mas o piloto da Haas já tinha um pneu furado logo de início.

Rosberg caiu para a décima sétima posição e Hamilton tinha pista livre. Os matemáticos então começaram as suas estatísticas enquanto Ricciardo e Verstappen se colocavam a frente de Pérez, Raikkonen, Button, Hülkenberg, Bottas, Grosjean e Alonso, os dez primeiros até então.

Raikkonen assumiu a quarta posição sobre Pérez e, mais atrás, Alonso também deixou Grosjean para trás e foi para cima de Bottas. Grosjean não aparentava nenhum problema, mas o carro aparentou uma falha feia no freio e o piloto francês acabou indo parar na brita para não voltar mais. Hora do segundo safety-car virtual, que permitiu que muitos fossem para suas primeiras paradas, casos de Verstappen. Pérez, Hülkenberg, Button e Rosberg, por exemplo. Massa também já havia feito a sua por conta de um pneu furado. E não é que o fiscal do trator, que conduzia a Haas de Grosjean resolve atravessar a pista de entrada dos boxes? Ainda bem que sem consequências, mas é uma coisa inadmissível.

Vettel errou feio e prejudicou Rosberg.

Vettel errou feio e prejudicou Rosberg.

Como Ricciardo se manteve na pista, a estratégia da Red Bull para seus pilotos era diferente. O australiano até chegou a acompanhar o ritmo de Hamilton no começo, mas o carro prateado ainda é superior. Prova disso foi a rápida e alucinante recuperação de Rosberg, que aparecia brigando com Pérez pela oitava posição ainda no primeiro terço da prova.

Além de Rosberg, chamava atenção o desempenho dos dois carros da McLaren, com Button e Alonso sempre entre os dez primeiros. Para quem largou em último, Alonso fazia uma excelente corrida e as atualizações do motor Honda mostravam um grande ganho de desempenho. Como disse o jornalista Flavio Gomes, a McLaren voltou a ser uma equipe, agora precisamos saber quando ela retornará a ser grande, o que nem sempre acontece (vejam o que tem ocorrido com a Williams).

Na volta 21 foi a vez de Hamilton e Raikkonen fazerem seus pit-stops, e na volta seguinte foi Ricciardo.
O último terço da corrida foi ainda melhor. Sempre com aquela máxima que diz que “se alguém está ganhando, é porque alguém está perdendo”, claro.

Quando Raikkonen fez sua segunda parada, voltou logo a frente de Rosberg, que era o quinto então e que também acabara de fazer mais uma parada. A distância era bem pequena entre ambos e o carro da Mercedes andava mais como de costume. O problema era ultrapassar Raikkonen, mas isso Rosberg resolveu de maneira muito agressiva na segunda perna do “S” de pois da reta dos boxes. Sem a distância ideal, o alemão mergulhou, literalmente, por dentro da segunda perna e apoiou o carro prateado na Ferrari do finlandês, tirando até um pedaço do bico do carro vermelho. Ambos seguiram firmes.

Rosberg agressivo como nunca.

Rosberg agressivo como nunca.

Na frente, Hamilton fazia seu trabalho, tentando abrir o máximo possível para os carros da Red Bull e garantir mais uma parada de box com tranquilidade no final. Liberado pela equipe, o inglês fazia os melhores tempos e abria.

Energia de sobra

Na briga pelo segundo lugar, Verstappen encostou de vez em Ricciardo e ambos protagonizaram uma briga de verdade, que valeu muito o ingresso dos presentes e a audiência de quem estava ligado na madrugada do Ocidente.

Os carros da equipe taurina, com Verstappen investindo sobre Ricciardo, fizeram uma seqüencia de quatro, cinco curvas lado a lado, absolutamente limpos em ataque e defesa, com vantagem ao final ainda para o piloto australiano. Um duelo arriscado que valia, naquele momento, mais do que o segundo lugar. Valia a afirmação de Ricciardo sobre Verstappen. Só que isso apenas até a página dois.

Lá na frente, descendo a reta dos boxes vinha Hamilton, de cara para o vento, pé embaixo, mistura de combustível em alta, fazendo contas na tabela do campeonato e fazendo contas para ver se a distância para os carros da Red Bull seria suficiente para mais uma parada. Mas o motor Mercedes traiu Hamilton a quinze voltas do final, para desespero do piloto pelo rádio e pelas atitudes ao deixar o cockpit em meio a fumaça provocada pelas labaredas.

Imediatamente, por razões de segurança, os dois carros da Red Bull entram nos boxes ao mesmo tempo para mais uma parada. Isso aconteceu também para Raikkonen e Rosberg.

Labareda no escapamento dos outros é refresco.

Labareda no escapamento dos outros é refresco.

Se por um lado Ricciardo tentava fugir de Verstappen, Rosberg tinha a obrigação de abrir dez segundos sobre Raikkonen para garantir o terceiro lugar. Isso porque os comissários interpretaram que Rosberg exagerou na dose quando da ultrapassagem sobre Raikkonen e lhe brindaram com uma penalidade de dez segundos. Na ocasião, a diferença entre eles era na casa de oito segundos.

A gente se acostuma a ver roda escapando do carro quando mal apertada, ou pneu dechapando. Mas quando o pneu resolve ir embora inteiro, como nos kits de modelismo que a gente compra e monta, aí é mais estranho. Gutiérrez que o diga, sendo forçado a abandonar antes do final da prova.

Verstappen bem que ameaçou a vitória de Ricciardo, mas o dia era do australiano, que venceu com autoridade pela primeira vez no ano e dividiu o champanhe na sapatilha com Verstappen e Rosberg, este último também muito feliz como se estivesse vencido.

Raikkonen completou em quarto, seguido por Vatteri Bottas, Sérgio Pérez, Alonso, Hülkenberg, Button e Jolyon Palmer.

Um GP bem movimentado, uma corrida em que os carros da Mercedes não venceram, ainda que por circunstâncias incomuns. O GP da Malásia de 2016 valeu a pena.

Ao desligar dos motores…

– Sergio Pérez vai ficar na Force India em 2017. O anúncio esperado, feito neste final de semana, era esperado e vai fechando a dança dos cockpits para o ano que vem;

– Hamilton falou o que pensava. De cabeça quente, mais que o motor explodido de seu carro, disse achar estranho que de todos os motores Mercedes presentes no grid, só o dele apresente problema. Ainda mais depois da troca feita há duas corridas. “Alguém não quer que eu vença”, disse, para depois voltar atrás e dizer que todo mundo é “brother”;

– Verstappen foi eleito piloto do dia pela internet. Ok, andou bem, mas para mim não mais que Ricciardo, Rosberg e Alonso. Mas a quantidade de torcida que ele tem é maior, sem dúvida;

– Rosberg deveria falar com Arrivabene para trocar Vettel por Wehrlein?;

– E o GP da Malásia marcou o 300º GP de Jenson Button. E ele até teve motivos para comemorar.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

4 Responses

  1. Denis says:

    Mesmo na madrugada a corrida valeu a pena, principalmente pela investida de Verstappen sobre Ricciardo. Além disso é bom ver Hamilton “mordido”, isso significa que as próximas corridas prometem muita emoção. Parabéns Lauro pelos detalhes oferecidos em seus textos. Até a próxima etapa

  2. Glauco de F. Pereira says:

    E quando a corrida se mostra animada eu faço a escolha por uma boa noite de sono… Oh vida, oh azar…

    E agora Verstappen, ficou claro quem manda na RBR?? Riccardo, por “supuesto”… Ou alguém duvidava disso?

    Ah, seu “Hamilton”, que tal trocar a “tia” responsável pela benzeção??? Essa que tu ta indo, sei não… Primeiro, Nicole te larga. Depois, resolve fazer espetáculo “pirotécnico” em plena reta, soltando fogos pela traseira…

    Como diria FHC, “assim não pode, assim não dá!”

    Mas algo me diz que ele ainda vai buscar isso lá no final, só pra deixar Rosberg com aquela cara de menino que, todo faceiro com o sorvete na mão, “trupica” e deixa o lindo sorvete cair no chão…

    E se isto acontecer, pode saber, Hamilton vai comemorar até meados de junho de 2018. A conferir.

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