Tem coisa que não pódio, eu agarântio


Novo 1-2 da Mercedes, com Hamilton tirando mais um pouco da diferença para Rosberg. E o terceiro lugar não ficou nem com quem cruzou em terceiro e nem com quem subiu ao pódio.

O touro ameaça e o cavalo refuga

A Fórmula Mercedes subiu na altitude da Cidade do México para continuar dominando a categoria, se bem que nos treinos livres sofreu uma certa ameaça da Ferrari, na sexta, e principalmente da Red Bull, no sábado.

A equipe austríaca, aliás, começou o treino da sexta bem abaixo da expectativa. Porém, no sábado pela manhã, Max Verstappen colocou o carro #33 na pole provisória e seu companheiro Riccardo foi o terceiro, ambos intercalando com os carros da Mercedes, mas com Hamilton na frente de Rosberg. Era quase o mundo ideal para Hamilton e um pesadelo para seu companheiro Rosberg, ainda que o alemão esteja jogando com o “regulamento embaixo do braço”, como se costuma dizer.

Só que Hamilton é, hoje, o piloto mais veloz da categoria, e ponto. Sem se abalar, colocou o carro prateado #44 na primeira posição tanto no Q1, quanto no Q2 e no Q3, garantindo mais uma pole na carreira de maneira até tranquila. Só que Rosberg não se fez de rogado e foi lá, de novo, dividir a primeira fila.

Por mais perto que chegassem, os carros da Red Bull ficaram com a segunda fila e mostraram que a diferença não estava tão grande assim. Quer dizer, apenas para Rosberg.

Vettel parecia que iria fazer um excelente treino, o que não ocorreu, mas se recuperou na corrida. Certo, Charlie?

Vettel parecia que iria fazer um excelente treino, o que não ocorreu, mas se recuperou na corrida. Certo, Charlie?

O natural era que os carros da Ferrari se colocassem na terceira fila. No entanto, foi um carro da Force India que apareceu na quinta posição. Claro, você pensou em Sergio Pérez, piloto da casa, mexicano da guacamole e fã do Chesperito. Nada disso. A quinta posição ficou com o novo piloto da Renault, Hülkenberg, que dividiu a terceira fila com Raikkonen, mais uma vez sendo mais rápido que Vettel, que ficou com a sétima posição.

Sérgio Pérez então, em oitavo, certo? Ainda não. Hora de colocar os dois carros da Williams em oitavo e nono lugares, Bottas e Massa respectivamente.

Décimo, então… Carlos Sainz Jr. Sim, Toro Rosso entre os classificados para o Q3. E olha que antes de aparecer o nome do mexicano ainda tinha o nome de Fernando Alonso, abrindo a sexta fila. Jenson Button ficou ao lado de Kevin Magnussen, na sétima fila, e ambos a frente de Marcus Ericsson e Pascal Wehrlein (olha só que oitava fila interessante).

Degolados no Q1, os dois carros da Hass, que estacionaram no desenvolvimento. No grid, Gutiérrez, “el otro”, estacionou na décima sétima posição, enquanto Grosjean, coitado, apenas o vigésimo primeiro, abrindo a última fila ao lado de Jolyon Palmer. O piloto da Renault nem conseguiu treinar só porque o chassi quebrou. Coisa simples. E, completando, decimo oitavo para Kvyat, décimo nono Nasr e vigésimo Ocon.

Um atalho polêmico

A temperatura da pista na hora da largada era mais alta do que a registrada nos treinos, e isso trouxe uma dúvida em relação ao comportamento dos pneus. Dos dez primeiros no grid, seis deles optaram pelos supermacios, entre eles os carros da Red Bull.

Hamilton cortando um belo caminho na largada. Sem punição.

Hamilton cortando um belo caminho na largada. Sem punição.

Uma enorme distância entre a largada e a primeira freada proporcionou que os carros chegassem muito juntos e eventuais toquem acontecessem, o que é natural.

Na ponta, Hamilton conseguiu chegar na primeira curva mantendo a pole, mas não fez o contorno da mesma e acabou atravessando a área de escape, sem prejuízo aparente ao seu carro e, de quebra, ainda conseguindo abrir um pouco do segundo colocado, Rosberg, que viu Verstappen se apoiar na Mercedes, roda a roda, para contornar a primeira curva.
Nem todos passaram limpos. Mais atrás, Gutiérrez tocou em Wherlein, que acertou o carro de Ericsson. O piloto da Manor acabou com a suspensão quebrada e fora da prova, em uma posição relativamente perigosa, mas que fez com que a direção de prova optasse pelo safety car virtual. Neste momento, Ricciardo, que já havia perdido posição para Hülkenberg na largada, faz o seu primeiro pit-stop opcional, enquanto Ericsson manda a Sauber fazer uma funilaria rápida para poder voltar a pista.

A largada ainda proporcionou um outro momento que só ficou claro quando começaram a mostrar o que as câmeras on board haviam capturado. Na de Alonso, por exemplo, viu-se que o espanhol foi “convidado a se retirar da pista” pelo compatriota Sainz Jr, o que levantou um terrão indecifrável em um primeiro momento. O que pareceu ser uma roda na terra, na verdade, foi um verdadeiro rally do bicampeão Alonso, incentivado pelo filho do maior campeão espanhol de rally, Carlos Sainz, o pai. Sainz, o Jr, foi punido em 5s.

Enquanto Hamilton mandava voltas mais rápidas, Grosjean, que já havia largado dos boxes, sentiu saudade dos mecânicos e resolveu dar um alô, fazendo sua troca de pneus. Uma volta depois, na décima terceira, foi a vez de Verstappen parar e retornar a pista apenas na décima primeira posição.

Na pista, Massa segurou o quanto pode os ataques de Vettel até que o brasileiro decidiu ir aos boxes. Seu companheiro Bottas, nesta altura, já era declarado inimigo número um do México pois estava dando uma canseira danada em Pérez, que fez uma ótima largada, mas acabou empacando atrás do carro #77.

Verstappen segurando e Ricciardo tentando passar Vettel no final. Três pilotos, duas penalidades.

Verstappen segurando e Ricciardo tentando passar Vettel no final. Três pilotos, duas penalidades.

Com a alternância de estratégias de pits das equipes, Vettel acabou indo para a ponta da corrida, retardando até a volta 33 a sua parada. Antes disso, entretanto, uma bela briga entre Massa, Bottas e Pérez. Bottas superou o brasileiro, mas quando Pérez tentou o mesmo, escapou e perdeu muito tempo. Parecia afobado o hermano.

Ter-ce-eeeeeiro, oba, oba!

Todos sabemos que os carros da Mercedes, em CNTP, são os mais velozes do circo hoje. Mas, em se tratando de velocidade absoluta, Valtteri Bottas colocou o carro da Williams para andar a 372,5 km/h. Oficialmente, apenas 0.1 km/h menor que a o recorde de Juan Pablo Montoya (que estava lá para ser o entrevistador do pódio), em Monza, quando a configuração motor-aerodinâmica era outra. Há, dentro da Williams, a informação que Bottas andou a 378km/h em Baku, no Azerbaijão, mas, este dado não é oficial da FIA. De qualquer maneira, sentou a bota de novo.

Voltando a falar das brigas por posições, Verstappen tirava muita diferença para Rosberg enquanto os pneus do seu Red Bull estavam melhores. Pouco mais atrás, Massa e Pérez travavam uma batalha muito interessante. Nos trechos sinuosos e estreitos, o piloto da Force India colava na caixa de câmbio da Williams, mas na reta, Massa conseguia se segurar. Mesmo assim, Pérez arriscou uma freada suicida na freada do retão e foi mais um dos presentes a dar uma aparada na grama na área de escape.

Rosberg fazia uma corrida muito discreta, sem ameaçar Hamilton uma única vez, mas dando um certo susto em quem torce por ele (se bem que eu não conheço ninguém que faz isso além do papai Keke). Na hora em que os líderes encontraram uma fila de retardatários, enquanto o alemão pedia licença, Vertappen chegava empurrando os mais lentos. Característica de cada um, mas que pode ser decisiva em uma prova como esta. Verstappen até tentou um mergulho em uma curva mais lenta, mas não conseguiu segurar o carro e acabou perdendo tempo em relação a Rosberg.

Com mais uma parada para cada um, Raikkonen e Ricciardo voltaram para a pista voando baixo. Ambos ultrapassaram Hülkenberg, mas foi na tentativa de Raikkonen que o piloto da Force India acabou rodando sozinho e perdendo tempo, mas que ao final da prova não o afetaria em mais nenhuma posição. Diga-se que, quando Raikkonen quer ultrapassar alguém por fora, ele o faz com primor.

Ricciardo. Quinto na bandeirada, quarto  e fora da comemoração do pódio, terceiro no resultado oficial

Ricciardo. Quinto na bandeirada, quarto e fora da comemoração do pódio, terceiro no resultado oficial

Nas últimas voltas, Vettel chegou de vez em Verstappen. Foi aí que aconteceu o lance mais polêmico da corrida. Não sei porque, mas polêmica e Verstappen estão virando sinônimos.

Na tentativa de bloquear a passagem de Vettel ao final da reta dos boxes, Verstappen bloqueou a roda dianteira esquerda e atravessou a área de escape nos mesmos moldes que Hamilton fez na largada. Voltou para a pista, mais lento, mas ainda a frente de Vettel, e parecia claro que o piloto holandês deveria ceder a posição para Vettel. Esta briga valia um lugar no pódio.

Alertado pelo rádio, Verstappen fingiu que não sabia de nada e continuou andando a frente de Vettel, que só neste final de semana já havia reclamado de tudo, começou a perguntar pelo rádio por que pimenta no Verstappen era refresco? A equipe, disse que já havia falado com o diretor de prova, Charlie Whiting, ao que Vettel proferiu palavras de baixo calão ao mesmo. Para piorar a vida de Vettel, não apenas Verstappen não abria passagem como Ricciardo chegou de maneira muito forte, aumentando a desconfiança de que o holandês estava segurando propositadamente Vettel até que Ricciardo chegasse e passasse, reduzindo a sua parcela de “culpa” em não devolver a posição.

E Ricciardo bem que tentou, no mesmo ponto em que Verstappen já havia tentado sobre Rosberg. Roda com roda, milimetricamente lado a lado e com fumaça branca pra todos os lados, Vettel conseguiu segurar a posição e fechou em quarto, cercado pelos carros da Red Bull.

Nova dobradinha da Mercedes, com Hamilton e Rosberg fazendo o que se espera deles. Raikkonen, que fez uma ótima corrida, acabou em sexto, a frente de Hülkenberg, dos dois carros da Willliams e de… Pérez! Isso mesmo, o mexicano conseguiu, mesmo decepcionado, marcar um pontinho em casa.

Mas a corrida não acabou na bandeirada.

Aliás, já ao cruzar a linha de chegada, Vettel fez questão de emparelhar o carro ao lado de Vertappen e fazendo gestos de “não, não, não” com o indicador, deixava mais que claro seu desconforto com o que aconteceu na prova. Verstappen, na dele, meio que ignorava.

Na sala em que os pilotos se preparam para ir ao pódio, enquanto a dupla da Mercedes trocava poucas palavras, Vertappen olhava para o monitor e percebeu que havia sido punido, em tempo, e que assim perdera a posição para Vettel no pódio. A cena de Vertappen sendo convidado a se retirar e a chegada de Vettel, que havia ido para os pits, levou tempo suficiente para que bombassem twitters e whatsapps condenando a manobra de Verstappen e aplaudindo a decisão, ainda que meio tardia da FIA, em deixar a champanhe para o piloto merecedor.

Sempre festa.

Sempre festa.

Mas, como polêmica pouca é bobagem, cerca de uma hora depois da corrida, Vettel foi considerado culpado na manobra em que defendeu a posição de Ricciardo, por ter mudado de trajetória mais de uma vez, o que é proibido. Assim, com a penalidade, Vettel acabou não apenas perdendo o pódio, mas também o quarto lugar, ficando a atrás dos dois carros da Red Bull, ou seja, do que ele tentou passar e do que ele não deixou passar.

Resultado oficial teve Hamilton em primeiro, Rosberg em segundo, Ricciardo em terceiro, Verstappen em quarto e Vettel em quinto. Com Raikkonen, Hülkenberg, Bottas, Massa e Pérez, as cinco melhores equipes do mundial fecharam nas 10 primeiras posições.

Ao desligar dos motores…

– Polêmica, teu nome é Verstappen;

– Se Verstappen foi punido por cortar caminho, porque o mesmo não se aplicou a Hamilton na primeira volta? É mais fácil colocar tachinhas na área de escape? Areia movediça? Ou será que a FIA entende que a vantagem que ele conseguiu na primeira volta se foi com o safety-car virtual?;

– Verstappen está exagerando no que alguns chamam de atitude. É preciso encontrar o equilíbrio, senão, é capaz de ninguém ir aos seus eventos;

– Vettel estava ameaçado de ficar fora do GP do Brasil pelas ofensas proferidas ao diretor de prova Charlie Whiting. Piloto de Fórmula 1 está ficando igual jogador de futebol, peitando o juiz. Não que Vettel não tivesse razão de reclamar, mas não é assim que as coisas se resolvem. O pedido formal de desculpas foi aceito;

– Como a resenha saiu tarde, Lance Stroll foi confirmado no lugar de Felipe Massa na Williams, e terá Valtteri Bottas como seu companheiro. Canadense, Stroll tem 18 anos e traz dinheiro para a equipe inglesa, mas não parece ser apenas um pagante;

– Hamilton chegou a 51ª vitória, igualando-se a Alain Prost. A frente deles, só Michael Schumacher.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

1 Response

  1. Glauco de F. Pereira says:

    Ainda acho que Rosberg irá perder este título… Aposto minhas fichas nisto.

    Já o menino Verstappen não tem construído sua carreira da maneira mais correta, digamos assim. Colher inimizades e discussões para se mostrar combativo não creio ser a atitude mais correta e merecedora de aplausos.

    Ou ele dosa a sua falta de temor e até respeito, em alguns momentos, ou seu caminho pode se tornar um pouco mais pedregoso. Não se discute seu talento, mas se quer impor como piloto, que seja por suas habilidades ao volante, não pelo destempero verbal.

    Acredito que Rosberg ou disputa o título correndo atrás dos resultados, fato este que o levou até esta posição neste momento ou corre sério risco de ainda conseguir perder algo que parece certo. Se tudo o que fez até agora deu certo, porque mudar agora?

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