Hamiton é hexa!


Bottas vence o GP dos Estados Unidos, mas Hamilton garantiu mais uma dobradinha da Mercedes e a sua conquista, como esperado, do hexacampeonato mundial. Verstappen foi o terceiro e Sebastian Vettel, um cavalheiro.

Bottas alimentando a esperança

Em terras americanas, uma semana após ter marcado e perdido a pole por acelerar demais em bandeira amarela no México, Verstappen começou o final de semana colocando a Red Bull em destaque nos treinos livres. Foi dele o melhor tempo no primeiro e no terceiro treinos livres, deixando Hamilton tomar conta do segundo treino livre apenas. Mas o que vale mesmo é o qualifying, e olha só o que me acontece ao final do Q1!

Cronometro zerado e o Lando Norris cruza a linha de chegada fazendo o melhor tempo de todos, a frente de Hamilton e de todos os favoritos. No TL3 ele já tinha ficado na terceira posição, prometendo portanto uma classificação forte.

E o que se viu na sequencia foi uma sucessão de fechamentos de volta com melhoria dos tempos para a maioria deles.

Até o George Russell fez um bom tempo e estava com a décima sexta posição quase que garantida, mas aí vieram os dois carros da Alfa Romeo e jogou o piloto da Williams para a décima oitava posição. Se vale de consolo, Russell foi melhor que Pérez, mas o Pérez já iria largar do fundo do grid mesmo.

Bottas teve um final se semana para lembrar.

Voltando ao time dos que ascenderam na última hora, tivemos um ótimo quarto lugar para o Gasly, um sétimo para o Magnussen e um décimo para o Stroll, só que ainda era apenas o Q1.

Já no Q2, a realidade voltou ao seu padrão “quase normal”. Digo isso porque, assim como ocorreu no Q1, ao zerar do cronometro, os carros começaram a fechar suas voltas e era o Albon quem tinha o melhor tempo até os carros da Ferrari fecharem suas voltas e assumirem provisioriamente a primeira fila.

Dos três que haviam surpreendido no Q1, apenas Gasly ficou entre os dez melhores, e mesmo assim por muito pouco, batendo o seu prórpio companheiro de equipe, Kvyat, que ficou em décimo primeiro. Além do russo e de Magnussen e Stroll, Hülkenberg e Grosjean também ficaram pelo caminho.

Na primeira tentativa do Q3, eis que o Bottas resolve bater o recorde do circuito e coloca respeito na briga pela pole. E o finlandes nem tinha se destacado nos treinos livres, mas, como sabíamos, era o único que ainda poderia sonhar em ser campeão do mundo sobre Hamilton neste ano (estou rindo agora).
Vettel chegou muito perto de Bottas, apenas 0.012s mais lento que Bottas. Hamilton ficou atrás dos carros de Verstappen e Leclerc, era o quinto apenas.

Vem então as últimas tentativas de cada piloto e, embora tenham melhorado seus tempos, Verstappen e Leclerc se mantiveram em terceiro e quarto lugares respectivamente. Vettel não melhorou e tinha a segunda posição quase garantida, só que Hamilton ainda iria fechar a sua volta. Mas não fechou.
Hamilton cortou para os boxes, ficando com o quinto lugar, e assim Bottas, que vinha atrás dele, tirou o pé e nem precisou melhorar sua marca para garatir a pole position no GP americano. Albon ficou em sexto lugar, fechando as três grandes nas três primeiras filas. Sainz e Norris, Ricciardo e Gasly ficaram na quarta e quinta filas respectivamente.

Com esta posição de largada mantida na corrida, Bottas adiaria a decisão matemática do mundial para o GP do Brasil.

Bottas segurando a esperança

Com uma largada extremamente segura, o finlandês contornou sem nenhum problema a curva um, enquanto Vettel e Verstappen vinham brigando roda a roda para ver quem pulava para segundo. Pouco mais atrás, Hamilton vinha se posicionando, enquanto Albon acabou por virar recheio entre Leclerc e Sainz, levando o espanhol para uma voltinha além das zebras.

Sempre alguém escapa nesta primeira curva. Albon e Sainz fizeram as vezes.

Todos continuaram, e Hamilton não quis dar tempo para Vettel pensar onde ele estava. Com uma manobra ousada, passou o alemão por fora, mostrando que com ele não existe essa história de correr pelo campeonato, e sim, correr por vitórias.

Aproveitando-se de que Vettel ainda estava se recuperando do passão que tomou de Hamilton, Leclerc foi para cima dele também e fez a ultrapassagem. O problema é que esta manobra foi antes do retão oposto, o que possibilitou a Vettel tentar retomar a quarta colocação mesmo sem poder usar a asa móvel ainda. Bom, tentar ele até tentou, mas o Leclerc não quis nem saber e tacou-lhe uma tranca de respeito. Não bastasse isso, ainda mais algumas curvas a frente, Vettel erra a freada e permite o mergulho de Norris e depois de Ricciardo, caindo para a sétima posição.

Nada de pior poderia acontecer para Vettel, você deve estar pensando. Errou.

Ainda na volta oito, a suspensão traseira se quebrou e o carro levantou a frente totalmente, ficando quase indirigível, e obrigando a Ferrari #5 procurar um lugar para descansar.

Verstappen, entre os líderes, foi o primeiro a parar, e logo depois veio Bottas. Assim, Hamilton assumiu a liderança da prova na volta quatorze. Só que, mais uma vez, os carros da Mercedes fariam estratégias de pit-stop diferentes. Assim, na volta 24, quando acabara de ser ultrapassado por Bottas, Hamilton foi para a sua primeira e também única parada para troca de pneus.

O meio do pelotão mostrava uma briga interessante entre Stroll, Kvyat e Pérez, todos brigando pela décima primeira posição. Stroll e Pérez se desvencilharam de Kvyat, mas foi a manobra do mexicano que chamou a atenção, executada como se fosse “de longo prazo”, aproximando-se com cuidado até mudar o traçado para mergulhar por dentro praticamente duas curvas depois que sinalizou a ultrapassagem. Arriba!

Vettel com tic-tic nervoso.

Agora, destaque mesmo era o Albon. O piloto da Red Bull parou para troca de pneus logo na primeira volta devido aquele toque com Sainz e veio eliminando os opositores um a um. Quando Hamilton parou, por exemplo, ele já era o sexto colocado, sendo que apenas Vettel facilitou a vida do tailandês abandonando a prova prematuramente.

Bottas foi completo, mas Hamilton se tornou hexa

Na hora em que Bottas foi para a sua segunda parada, a melhor volta da prova era de Hamilton. Mas não se contraria as leis da física tanto assim.

Apesar de Hamilton ser um piloto que costuma economizar muito bem os pneus, Bottas vinha fazendo as melhores voltas e chegando aos poucos no inglês.

No seu trabalho, Hamilton administrava bem a aproximação do companheiro, e mostrava decidido a vencer, mesmo que não precisasse disso para ser campeão. E, faltando apenas cinco voltas para o final, Bottas colocou de lado no final da reta oposta para retomar a primeira posição. Mas quem disse que o Hamilton iria deixar, assim, tão fácil?

Hamilton deu o lado de fora para Bottas, e com isso, pode dar aquela “embarrigada” na curva e obrigar o companheiro a ir “catar uns mariscos” pra lá da zebra. Hamilton queria vencer nos mesmos moldes em que fez no México, segurando o desgaste do pneu e o companheiro até o final da prova.

Albon, o melhor da prova. Outra corrida para garantir o assento no time ano que vem.

Mas os circuitos são diferentes e, já na volta seguinte, Bottas veio por dentro e não deixou nenhuma chance para Hamilton recuperar a posição, caminhando assim tranquilamente para a vitória. Hamilton ainda teve que se preocupar com a aproximação de Verstappen, mas não foi possível para o holandês ultrapassar o carro #44 e estragar mais uma dobradinha do time alemão.

Com o pódio definido, Leclerc conseguiu chegar na quarta posição e ainda levou um ponto a mais por ter feito a melhor volta da prova. Albon, que foi escolhido pelos internautas o piloto do dia, chegou em quinto depois de uma corrida de recuperação sensacional. De novo, fez o dele muito bem feito, por sinal.

Ricciardo, Norris, Sainz e Hülkenberg chegaram, respectivamente, em sexto, sétimo, oitavo e nono lugares. E era para Kvyat ter sido o décimo colocado, como foi na pista, mas pela segunda vez seguida o russo foi punido depois que a corrida acabou, tendo cinco segundos acrescidos em seu tempo total de prova, o que o colocou na décima segunda posição e deu para Pérez o décimo lugar da etapa. Gasly era o nono quando precisou abandonar.

Festa de Bottas, mas festa muito maior para Lewis Hamilton pela sexta conquista do campeonato mundial de Fórmula 1, a terceira seguida. Em frente ao público, Hamilton foi celebrar com seus zerinhos e teve até lugar reservado para estacionar o carro já na entrada dos boxes como campeão do mundo. Queria a vitória, mas é preciso reconhecer que Bottas foi impecável desde a classificação.

Para o Brasil, muita coisa decidida e a expectativa de uma corrida sem pressão para a maioria, e aí, tudo pode acontecer.

Combativo, estratégico, veloz. Hexagerado esse Hamilton.

Ao desligar dos motores…

– Hamilton é o segundo piloto a conseguir um hexacampeonato em setenta anos de categoria, o quinto pela Mercedes. Me lembro como se fosse hoje o dia em que eu vi sua saída da McLaren como um passo enorme em sua carreira, só não pensava que iria ser gigantesco;

– Vale lembrar que Hamilton foi vice-campeão outras duas vezes. Uma delas no ano de estréia, o que já era um feito e tanto, e a outra foi na derrota para Rosberg, seu companheiro de equipe, no ano em que o inglês estava um pouco mais relaxado;

– Tem uma briga interessante para ver quem vai ficar com a terceira posição no mundial. Leclerc, Verstappen e Vettel na briga, separados por 19 pontos;

– Antonio Giovinazzi vai correr pela Alfa Romeo em 2020. Com o contrato do italiano renovado, as chances de Hülkenberg são quase nulas de prosseguir na categoria. Na prática, há apenas uma vaga na Williams, a de Kubica. Na teoria, ainda é preciso definir os cockpits de Albon, Gasly e Kvyat, na Red Bull e na Toro Rosso, que se chamará Alpha Tauri no ano que vem. Será que vem surpresa por aí?

– Vettel abandonou a prova logo no início, mas fez questão de permanecer no autódromo e foi ao encontro de Hamilton na sala reservada antes da celebração do pódio. Uma atitude digna do alemão, que vê Hamilton se distanciando dele nos recordes e campeonatos. Vettel chegou a ser tetracampeão quando Hamilton tinha apenas um título. Isso só dá mais valor para a atitude do piloto da Ferrari.

Nobreza.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

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