Fórmula 1 – Rampante em dose dupla


Se a expectativa em torno da primeira prova da temporada já é passado, o presente se mostra vermelho, vermelho Ferrari, e o futuro parece que confirmará as previsões, uma delas, a de que o pódium tornou-se um lugar pequeno pra tanta rivalidade.

Quando terminou a classificação no sábado, a certeza de que o campeonato começaria com as quatro equipes de ponta brigando entre si se concretizava. E coube a Vettel fazer a primeira pole position da temporada, mostrando que a Red Bull tem um excelente conjunto e que ele deve incomodar mais ainda que no ano passado. Atrás deles, a Ferrari com Massa na frente de Alonso, mostrando que o brasileiro está disposto a brigar muito por vitórias. Depois vinham Hamilton da McLaren, Rosberg da Mercedes, Vettel com a outra Red Bull, Schumacher com a outra Mercedes (repetindo a posição de largada de sua estréia, em 1991) e só em oitavo o atual campeão Jenson Button. Estavam confirmadas as quatro forças para o início da temporada, deixando claro que a Ferrari vinha mais forte. Mas não seria tão fácil assim.

Já na largada, o momento que definiria o vencedor da prova, com Alonso ultrapassando Massa logo na primeira seqüência de curvas, assumindo o segundo lugar. Estranho o que aconteceu com a Red Bull de Weber, lançando uma fumaça de motor densa pro meio do pelotão, e parecia que ficaria fora da prova já de imediato, mas conseguiria chegar ao final da prova. Nessa sobrou para muita gente, Sutil e Kubica, principalmente. Vettel, que manteve a primeira posição, começava a abrir das Ferrari e parecia que iria firme para a vitória.

No pelotão do meio, destaques para Vitantonio Liuzzi, que fazia sua re-estréia pela Force India, e para Rubens Barrichello, na sua primeira corrida pela Williams. Ambas as equipes, juntamente com a Renault, brigam para se colocarem logo atrás das grandes. Se esperava um pouco mais de Toro Rosso e de BMW Sauber. No caso da BMW Sauber, os dois abandonos de De La Rosa e Kobayashi mostraram que os bons tempos nos testes da pré-temporada não foram “tempos de Brawn”. A Toro Rosso parecia ter nascido com um carro melhor, mas mostrou que ainda tem um longo caminho para evoluir.

Falando um pouco dos estreantes, quase todas fizeram o que se esperava delas. Quase todas. A frágil Hispania, que chegou ao Bahrein para colocar seus carros na pista pela primeira vez, sem testes, fez tempos pouco melhores que os carros da GP2, que é a principal categoria de acesso para a Fórmula 1. Se o discurso era o de completar a prova, ruiu logo no início com o acidente de Chandhok já na segunda volta. E, com menos de 20 voltas de prova, Senna abandonava com problemas mecânicos. A imagem de Senna olhando para a pista, ainda dentro do carro já estacionado fora dela, captada pela transmissão da televisão, fez muita gente lembrar-se do tio Ayrton pela impressionante semelhança do olhar de ambos vestindo o capacete. Na Virgin, Lucas de Grassi vinha fazendo uma corrida agressiva no pelotão do fundo, ultrapassando alguns concorrentes, mas abandonou logo, com três voltas. Glock, seu companheiro, abandonou pouco antes de Senna. Petrov, o russo estreante da Renault, vinha no pelotão do meio fazendo uma boa corrida, mas abandonou com a suspensão dianteira avariada. A quase normalidade das equipes e pilotos estreantes foi quebrada por duas situações opostas: a negativa foi a estréia de Hülkenberg na Williams. Companheiro de Barrichello na Williams, Hülkenberg errou e não acompanhou o ritmo do pelotão intermediário como fez Barrichello. A positiva foi a conclusão da prova pelos dois carros da Lotus, de Trulli e Kovalainen. Exatamente a dupla de pilotos mais experiente entre as estreantes conseguiu levar os carros, se ainda deficientes, até o final de uma prova longa e quente no meio do deserto. Sem dúvida o fato positivo da corrida.

Voltando para o pelotão da frente, após os pit-stops (agora feitos entre 4 e 5 segundos por causa da proibição do reabastecimento) Vettel mantinha a liderança mas começava a perder rendimento por causa de um problema com o escapamento da Red Bull. Foi ultrapassado então pelas Ferrari de Alonso e Massa e pela McLaren de Hamilton. Por pouco também não conseguiu a ultrapassagem, mas fez uma ótima corrida, tendo dominado o tempo todo seu companheiro de equipe, Schumacher, que chegou em sexto, tendo Button e Webber cruzando colados atrás da Mercedes. Schumacher, inclusive, parece ter estranhado a falta de estratégia das paradas para reabastecimento. E quando parecia que Massa partiria para a briga com Alonso pela vitória, um problema aparentemente de aquecimento que já vinha acontecendo no carro do brasileiro desde o primeiro terço da prova fez com que ele se contentasse com o segundo lugar. Luizzi e Barrichello completaram a zona de pontos dos, agora, dez primeiros colocados. Aqui vale uma observação: até ano passado, quem não completasse a primeira prova ficava a dez pontos do líder quando chegassem a segunda corrida da temporada. Agora, com a nova pontuação, são 25 pontos de diferença! Ou seja, quem tem pretensão ao título tem que pensar em vencer corridas.

E é assim que Alonso larga na frente da disputa, vencendo em sua estréia na Ferrari assim como fez Mansell e Raikkonen, por exemplo. Mais que isso, mostrou-se extremamente confortável com o carro e a equipe, o que é ruim para Massa. Ruim também para Webber e Button, o que eu confesso que já esperava, ficando atrás de seus companheiros Vettel e Hamilton respectivamente. Webber poderia ter terminado a prova barenita a uma distância ainda maior de Vettel se este não tivesse tido problemas no carro. E Rosberg, como dissemos, dominou Schumacher todo o final de semana, assim como tinha feito na pré-temporada. E o pódium continua só com três lugares…

Em Albert Park, na Austrália, o segundo capítulo desta temporada. Aguardo por vocês lá também!

Um grande abraço.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

4 Responses

  1. Lucas Brunckhorst says:

    Excelente matéria Lauro!
    Realmente, essa temporada promete!

    Como já disse anteriormente, não sou nenhum pouco fã de Alonso e, acho que será um trabalho duro para Massa superá-lo com sua equipe voltada para o espanhol, o qual infelizmente (na minha opinião), sabe pilotar muito!

    Grande abraço a todos e uma boa semana!

  2. Começou! E depois que começa, a gente não quer parar mais! hehehe…

    Concordo, esse ano promete, sim! Eu tenho visto uns comentários aí fora do pessoal reclamando da F1, como se fosse um circo e as manobras as acrobacias! Tudo bem, a F1 é “um” circo, mas não foi criada para (nem tem o objetivo principal de) entreter o público. Já foram impostas várias modificações na parte aerodinâmica dos carros para facilitar as ultrapassagens. Algumas podem ter ajudado, mas mais que isso fica difícil. Limitou-se o uso de apêndices aerodinâmicos, encurtaram-se as asas, mexeram nos compostos e tamanho dos pneus, tirou-se o controle de tração, instalou-se o KERS, … sai isso, entra aquilo, mas quem disse que é garantido?

    Por outro lado, esse ano temos tantos pilotos incontestavelmente bons que metade da disputa já tá garantida. A outra metade, vem do número de equipes em pé de igualdade (mas isso não é fácil de controlar). E se o esperado equilíbrio entre os times e pilotos gerar disputa(s), bom pra quem assiste. De qualquer forma, não podemos esperar que mudanças no regulamento irão ou devem nos beneficiar diretamente. Já percebi que a FIA realiza algumas mudanças de forma constante, com o intuito de tirar as equipes da monotonia e do conforto. As mudanças obrigam a adaptações e isso interfere na busca pela perfeição e desempenho.

    Porém, já foi mostrado no passado que mudanças muito sutis ou radicais demais, não são aconselháveis. A Brawn pode ter sido beneficiada no ano passado diante de mudanças tão bruscas. E a Ferrari também, na época de 1999 a 2004, justamente pela falta delas (*). Portanto, acredito que as mudanças para esse ano foram razoáveis. Eliminaram o reabastecimento e isso pode ser interessante. Acredito que não haverá supremacia de apenas uma equipe e espero ver podiums cada vez mais variados ao longo do ano. É o que todos esperam…

    * “Ferrari (2005): Struggle with new regulations, in particular those requiring tyres to last through qualifying and race. Seven podiums, including one victory at Indianapolis, where Michelin withdrawal leaves six-car field. Finish third in constructors’ standings.”

  3. Lauro says:

    Se o problema da Fórmula 1 fosse ultrapassagem, a solução seria fazermos o grid invertido e atribuírmos pontos não mais para a colocação de chegada e sim para o número de ultrapassagens, o que é, na minha visão (e que Bernie Ecclestone não nos ouça), absurdo, pois não favorece o mais rápido e joga como numa loteria todo um trabalho técnico.
    Schumacher já reclama que não consegue passar ninguém porque as estratégias de pit-stop sem o reabastecimento impedem isso. Mas a reclamação é compreensível de quem vem, principalmente largando em 7º no grid. Logo ele que se acostumou a largar na frente e abrir anos-luz do segundo colocado, assim como fazia Ayrton Senna, ou seja, os dois maiores de todos os tempos na opinião dos próprios pilotos, como publicamos aqui há algum tempo.
    Sou da opinião de que vencer uma corrida porque o líder quebrou ou errou, mesmo estando em segundo uma volta atrás do mesmo até a última volta da prova, tem todos os méritos, porque foi esse piloto que completou a prova antes de todos.
    É polêmico, é interessante, é discutível, é apaixonante, e não é futebol, é Fórmula 1!
    Abraços.

  4. Edney Mabilia says:

    Otima matéria, Lauro.

    parabéns.

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