Fórmula 1 – Sobe o giro dos motores

Agora é hora de falar daqueles cuja pior vista do mundo é, sem dúvida, a da traseira do carro adversário. Mas enquanto alguns vão lutar para serem lembrados um dia, muitos vão fazer o possível para não serem esquecidos.

Como já falei anteriormente das equipes, é fácil dizer que os maiores favoritos ao título são Fernando Alonso, Michael Schumacher, Jenson Button, Lewis Hamilton, Sebastian Vettel e Felipe Massa, não necessariamente nesta ordem. Correm por fora ainda Nico Rosberg e Mark Webber.

Para Alonso, e assim como deve ser para qualquer piloto, ganhar um campeonato pela Ferrari é sempre consagrador. Se vencer, será o terceiro título deste espanhol e virá num momento em que a maioria da imprensa especializada o considera o melhor piloto do grid, mesmo tendo sido envolvido nas últimas três temporadas nos dois maiores escândalos da Fórmula 1. Quando perdeu a disputa com o então estreante Lewis Hamilton, na McLaren e em 2007, se viu envolvido no caso de espionagem desta com a Ferrari. Em 2008, teve sua vitória em Cingapura arquitetada pela direção da Renault e com a ajuda de seu companheiro de equipe Nelsinho Piquet. Inocentado pela FIA em ambos os casos, Alonso não brigou no pelotão da frente em praticamente toda a temporada de 2009. Alguém acha que o espanhol não quer acabar com o jejum de títulos?

Mas a briga de Alonso já começa dentro de casa. Felipe Massa volta depois do grave acidente na Hungria ano passado querendo não só recuperar o tempo perdido mas também não ceder espaço para Alonso dentro da equipe. Pesa contra Massa o fato de já estar em sua sétima temporada, quinta pela Ferrari, sendo que só superou seu companheiro de equipe, Kimi Raikkonen em 2008, naquele ano que teve o final “hollywoodiano” nos últimos metros do campeonato em Interlagos. Alguém acha que Massa vai aceitar o quase de novo?

Jenson Button, embora campeão do ano passado e com méritos, sempre teve sua habilidade questionada. Agora, leva junto com o número 1 no carro a desconfiança daqueles que não acreditam que ele poderá repetir o bom desempenho do ano do título. Se a McLaren tiver um carro tão competitivo como parece, mesmo que Button tenha mais trabalho que em 2009, levantar o bicampeonato tendo inclusive trocado de equipe o fará entrar em definitivo para a galeria dos grandes campeões. Alguém acha que Button vai se acomodar com esta situação?

Mas assim como na Ferrari, dentro de casa Button tem ninguém menos que o protegido da McLaren, Lewis Hamilton. Piloto campeão em 2008 pela equipe inglesa que investiu em sua carreira, Hamilton já bateu Alonso logo em seu ano de estréia, em 2007, como dissemos. Foi campeão cedo, em sua segunda temporada, mas como não teve um carro competitivo no início do último ano, logo começou a ser questionado. Ledo engano. Hamilton se recuperou, venceu duas provas e não vai querer deixar o compatriota Button chegar ao bicampeonato bem agora. Alguém acha que Hamilton está disposto a ser o gentleman entre os favoritos?

Sebastian Vettel já tem um vice-campeonato e o respeito de todo o grid, apesar da pouca idade. Eu mesmo já afirmei aqui nesse espaço que esse menino vai ser campeão do mundo, tudo indica isso. E ele tem ao seu favor, além do excelente carro da Red Bull, o fato de ser mais destacadamente o primeiro piloto dentro da equipe. Isso pode ser fundamental para Vettel se dar bem e já escrever seu nome na galeria dos campeões da Fórmula 1 em 2010. Alguém acha que Vettel não analisou as oportunidades para ser campeão agora?

Michael Schumacher. Bem, voltar não é fácil, a idade pesa, a re-adaptação é necessária, mas se o carro Mercedes corresponder, já vou logo perguntando: alguém acha que o maior de todos os tempos (na minha opinião) veio para brincar?

E dentro das equipes favoritas, Mark Webber da Red Bull deve estar indo para sua última temporada, mas com certeza vai querer se despedir com ao menos mais uma vitória, já que sentiu o gostinho de chegar em primeiro pelas duas primeiras vezes exatamente no ano passado. Nico Rosberg, se não for atropelado por Schumacher, pode se dar por satisfeito se vencer sua primeira prova na carreira e quem sabe depois disso ascender na categoria.

Dos veteranos, destaque para Rubens Barrichello, que deverá ultrapassar a incrível marca de 300 GPs. Sem desprezar a marca histórica, Barrichello diz que vai atrás do inédito título de campeão. Se conseguir (o que acho improvável) vai repetir Nigel Mansell, campeão uma única vez aos 38 anos de idade. Outro “vovô” do grid será o espanhol Pedro de La Rosa, que volta a disputar uma temporada regular pela BMW Sauber depois de sete anos como test-driver da McLaren.

As duplas da Toro Rosso, Sebastian Buemi e Jaime Alguerssuari, e da Force India, Adrian Sutil e Vitantonio Liuzzi, prometem freqüentar a zona de pontuação e quem sabe surpreenderem vez ou outra. Outro que entra nesta lista é Kamui Kobayashi, companheiro de De La Rosa, aquele japonês que precisou de duas corridas no final da temporada passada pela extinta Toyota para deixar ótima impressão e abrir os olhos não só dos compatriotas mas também de todo o circo.

Vida difícil mesmo devem ter o polonês Robert Kubica, da Renault, o alemão Timo Glock, da Virgin, e a dupla da Lotus Jarno Trulli e Heikki Kovalainen. Pontos serão bem-vindos para este grupo que, com exceção de Glock, já tevem várias corridas na carreira e até vitórias, inclusive. Paciência deve ser a palavra de ordem para eles.

E tem os calouros. O alemão Nico Hülkenberg (Williams) é o atual campeão da GP2, principal categoria de acesso à Fórmula 1, e já vem de dois anos como piloto de testes do time inglês. O vice-campeão e o terceiro colocados na GP2 também chegam como titulares em 2010. São respectivamente o primeiro russo da categoria, Vitaly Petrov (Renault) e mais um brasileiro (acho que o trigésimo), Lucas di Grassi (Virgin). Curiosamente, Di Grassi já foi piloto de testes da Renault por dois anos, mas decidiu por estrear como titular em outro time. Se ser estreante já é difícil, imagine numa equipe também estreante. Esse é o caso do brasileiro Bruno Senna e do indiano Karun Chandhok, que vão para a pista com a Hispania Racing. A Hispania é a Campos-Meta, que só apresentou o carro na semana passada, sem sequer um quilômetro de teste. Senna vem de um vice-campeonato na GP2, mas isso foi em 2008, e tinha Chandhok como companheiro de equipe, mas este foi apenas 10º na ocasião, e pior ainda ano passado, quando foi 18º no geral.

Ambições diferentes, desejos diferentes, expectativas diferentes. Adicione a isso um novo regulamento, novas estratégias, frustrações, surpresas e reviravoltas que cada uma das curvas do campeonato pode apresentar. É hora de apertar o cinto, baixar a viseira e pisar no “da direita”, para delírio dos fãs espalhados pelo planeta.

Agora eu quero o seu palpite, amigo leitor. Quem serão os três primeiros na etapa de abertura no Bahrein, próximo domingo? Vamos fazer assim para toda a temporada? Eu aguardo seus comentários e volto para contar como foi a primeira etapa do mundial.

Um abraço a todos e boa corrida.

NOTAS

1- O Eduardo Rimoli me perguntou sobre a origem das equipes da atual temporada. Resumidamente, das 12 equipes, três são tradicionais e sempre foram elas mesmas desde o nascimento, que são a Ferrari, a Williams e a McLaren. A Mercedes comprou a Brawn, que tinha comprado a Honda, que surgiu da BAR. A Renault, que competiu nos anos 70 e 80, voltou no início da década passada depois de comprar a Benetton, que era Toleman. A Sauber nasceu Sauber e usava motores Mercedes, foi vendida para a BMW e agora volta ao seu antigo dono Peter Sauber. A Force India um dia já foi Jordan, que depois seria Midland, que viraria Spyker antes de ser indiana. A Red Bull é a antiga Jaguar, que já havia sido Stweart. A Toro Rosso comprou a antiga Minardi. Virgin e Hispania são novas e a Lotus pertence ao grupo malaio Próton, que detém a marca, mas não é aquela Lotus que faz parte das estatísticas.

2- Ontem em São Paulo tivemos o lançamento do anuário AutoMotor Esporte 2009/2010 do jornalista e comentarista de Fórmula 1 Reginaldo Leme. Reginaldo dispensa comentários, não só pela competência conhecida como também pela extrema simpatia com seus admiradores. O anuário traz uma retrospectiva das principais categorias do esporte a motor no Brasil e no mundo, com destaque, claro, para a Fórmula 1. Pilotos, jornalistas e amigos estiveram presentes. Na foto, o mestre, o aprendiz de colunista e, quem sabe, a futura geração do automobilismo nacional.