Fórmula 1 – Domingo sim, domingo também.


Bastaram dois domingos seguidos para Mark Webber virar líder do campeonato e, com a mesma pontuação de Sebastian Vettel, trazer a realidade da pista para a tabela de classificação de pilotos e construtores.

E vencer em Mônaco é sempre especial para qualquer piloto. Como todos sabem, largar na frente nas estreitas ruas do principado ajuda, e muito. Mas se largar na pole não é certeza de vitória, em último também não é sinônimo de tragédia total. Que o diga Fernando Alonso, que nos treinos livres de sábado bateu forte e a equipe não poderia consertar o carro. A penalidade para quem troca de chassis é largar dos boxes e Alonso, assim como um espectador comum, viu mais uma vez a demonstração de superioridade dos carros da Red Bull em treinos oficiais. Mark Webber marcou mais uma vez a pole-position, empatando neste quesito com o companheiro Sebastian Vettel e colocando a Red Bull em todas as poles da temporada até agora. Mas o dono da segunda posição no grid não era Vettel, e sim Kubica, que dispensa comentários sobre o trabalho que vem realizando na Renault. A Ferrari mostrou uma pequena reação, colocando Massa na segunda fila, seguido de Hamilton, dos dois carros Mercedes (com vantagem de novo para Schumacher) e do líder do campeonato Jenson Button, que vinha apenas na oitava posição.

Ao apagar dos sinais vermelhos, Webber manteve a ponta e, largando do lado mais limpo na pista, Vettel já tomava o segundo lugar de Kubica. No meio, Barrichello pulou do nono lugar para o sexto, se aproveitando da briga entre Schumacher, Rosberg e Button.

Mas logo na primeira volta entra mais um carro prateado na pista; o safety-car. Nico Hulkenberg, companheiro de Rubens Barrichello na Williams, se esfrega no muro na saída do túnel e deixa a pista cheia de detritos. Alonso então decide entrar nos boxes e antecipa assim a única parada para troca de pneus prevista para a corrida, uma vez que a fornecedora dos compostos garantia que era possível fazer toda a prova com um único jogo de pneus.

E foi durante o safety-car que já se sabia que o campeonato teria novo líder pois Jenson Button abandonou a prova por um superaquecimento do motor provocado pelo esquecimento de uma cobertura em uma das entradas de ar que refrigeram o mesmo. Falar o quê?

Na volta de número 6, o safety-car deixa a pista e Alonso já era o 20º colocado. Mas quando encontrou a Virgin de Lucas Di Grassi, perdeu muito tempo atrás do brasileiro que não aliviou na disputa, embora tivesse um carro muito inferior.

Webber neste momento deveria estar pensando em instalar um “sonzinho” na Red Bull para se entreter um pouco. Seguia soberano na ponta, abrindo de Vettel.

Na 18ª volta, Hamilton vai para a sua troca de pneus e voltaria imediatamente na frente de Alonso, o que demonstrava que o espanhol, se os pneus não o traíssem, entraria na zona de pontuação até com certa facilidade. Duas voltas depois foi a vez de Schumacher e Barrichello entrarem juntos e o alemão ganhou a posição do brasileiro pelo trabalho mais eficiente dos alemães da Mercedes. Neste instante, Rosberg começava a virar mais rápido e fazia as voltas mais rápidas da prova, tentando recuperar posições quando fosse seu momento de ir aos boxes.

Por falar em parada para troca de pneus, quando a Red Bull trabalhou para Vettel, a troca dos quatro pneus foi feita em assombrosos 3.9s apenas. Nesta altura, dos líderes, apenas Webber e Rosberg seguiam sem fazer a troca, com o piloto da Mercedes continuando a virar muito rápido. Webber então fez a troca e Rosberg erradamente se manteve na pista por mais algumas voltas, perdendo tempo precioso atrás de carros mais lentos. E mesmo a Mercedes repetindo o excelente tempo da Red Bull de 3.9s para a troca de Rosberg, este voltou atrás de Schumacher como estava no início da prova.

E o safety-car é obrigado a entrar de novo, agora para auxiliar na retirada do carro de Rubens Barrichello, que bateu forte em um trecho de aceleração plena em direção ao Cassino, depois que a suspensão traseira do Williams se quebrou. Barrichello bateu nos guard-rails de ambos os lados da pista e ficou parado perigosamente de frente para os outros carros, mas saiu ileso.

Metade da prova e a ordem era Webber, Vettel, Kubica, Massa, Hamilton, Alonso, Schumacher, Rosberg, Sutil e Liuzzi. Nesta altura já eram sete os abandonos.

Parecia tudo tranqüilo quando a direção de prova resolve mandar o safety-car pela terceira vez para a pista e sem nenhum acidente entre os carros. O motivo? Uma tampa de bueiro que se soltou e precisou ser recolocada. Corrida de rua tem dessas coisas…

Faltando pouco menos de trinta voltas para o final, parecia que tudo se assentaria com os dez primeiros já citados pontuando, seguidos pelos carros da Toro Rosso, pela Renault de Petrov e pelas estreantes Lotus e Hispania, ambas com suas duplas de pilotos valentemente na pista. Mas foi mais atrás, na briga pelas últimas posições e depois dos abandonos de Senna e Kovalainen, que Trulli, da Lotus, resolveu ultrapassar Chandhok, da Hispania, numa das curvas mais fechadas de Mônaco (por mais redundante que isso possa parecer). Resultado: a Lotus de Trulli voou sobre a Hispania de Chandhok e por muito pouco os carros não bloquearam a pista, o que seria no mínimo curioso pois, logo atrás, vinham os ponteiros com Vettel marcando a melhor volta da prova nesta passagem.

Ao que me pareceu, sem muito esforço por parte dos fiscais os carros foram retirados lentamente (embora esta curva não dispusesse de um guindaste como em outros pontos do circuito) e parecia que a corrida de encerraria com o safety-car na pista. Eis então que este deixa a pista antes da bandeirada e, numa “rabeada” na hora de tracionar para entrar na reta, Alonso abre espaço para a ultrapassagem de Schumacher na última curva e por pouco o espanhol também não perdeu lugar para Rosberg. Mas a manobra de Schumacher foi em vão, visto que o regulamento diz que os carros não podem ultrapassar antes da linha que completa a volta, que neste caso completava a corrida também. A Mercedes vai para a Corte de Apelações tentar validar a manobra, mas ao que parece, é de Alonso o sexto lugar no GP de Mônaco.

Com a segunda dobradinha na temporada, agora em favor de Webber, a Red Bull assume a ponta do campeonato de construtores e ambos dividem a liderança dos pilotos empatados em 78 pontos, com vantagem para o australiano por ter uma vitória a mais que Vettel. Alonso, apesar do sábado ruim, sai do principado na terceira posição do campeonato, seguido de Button e Massa. Com o terceiro lugar, Kubica já supera Hamilton e Rosberg na classificação, o que é justíssimo pelo excelente trabalho que o polonês faz até aqui.

Com um terço do campeonato cumprido, Webber não deixa de ser uma surpresa na ponta da tabela, mas é preciso dizer que o australiano vem fazendo por merecer. Vettel, assim como acontece com Hamilton, são muito mais agressivos na condução dos carros e isto tem lhes custado pontos preciosos na briga direta com seus companheiros de equipe. Pode ser que o prejuízo para o campeonato de Vettel seja ainda maior se a superioridade da Red Bull continuar e Weber permanecer mais tempo nesta ótima fase. Em tempo, o último representante da terra dos cangurus a levar o título mundial foi Alan Jones, em 1980.

P.S.: Nesta semana, no dia 13 de maio, a Fórmula 1 completou 60 anos de sua história. Foi na Inglaterra, circuito de Silverstone, a primeira corrida organizada como campeonato mundial da categoria, e vencida pelo italiano Giuseppe Farina com uma Alfa Romeo. De lá pra cá, a Fórmula 1 teve capítulos de alegria e tristeza, “saúde” e “doença”, mas continua amada e respeita por milhões de admiradores no mundo inteiro. Parabéns à Fórmula 1!

Agradeço também ao blogueiro que tanto nos ajuda, Eduardo Rimoli, por contar um pouco da história do GP de Mônaco no post de apostas do Bolão F1 No Trânsito deste blog. Valeu Eduardo!

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

9 Responses

  1. Fábio A. says:

    Lauro, ótima narrativa sobre a corrida.

    Segue informação do site oficial da F1 sobre a penalização do Schumacher:

    Article 40.13 of the Sporting Regulations, which states that:

    “If the race ends while the safety car is deployed it will enter the pit lane at the end of the last lap and the cars will take the chequered flag as normal without overtaking.”

    Article 40.13 da Regulamentação do esporte (F1), que determina que:

    “Se a corrida termina enquanto o safety car está “na pista”, este entrará no Pit Lane no fim da última volta e os carros receberão a bandeira quadriculada como de costume, mas sem ultrapassagens”

    Mas foi muito boa a ultrapassagem, pro Alonso ficar mais esperto, pois se tivesse uma volta a mais, a manobra do Schumacher valeria sim, pois após o Webber ter cruzado a linha, as ultrapassagens estariam liberadas.

    Agora, o Rubens Barrichelo deveria sim, ao contrário do que os puxa-sacos dele da Globo falaram, ser penalizado por ter jogado o volante na pista. Ele poderia facilmente ter colocado o volante sobre o carro para poder sair, assim como todos os outros pilotos sempre fizeram! Ele por ser o mais velho na F1, deve ser exemplo de conduta – não de condução (rsrs) – aos demais.

    E vamos para a Turquia, onde o Felipe Massa pode renascer no campeonato.

    Abraços!

  2. Alexandre A. Ctba Pr says:

    Show de bola hem, a cada corrida, o “pega” aqui no bolão fica mais emocionante :D, agora só falta a atualização do resultado Parcial do Bolão, e vamo que vamo em busca dessa Miniatura. só uma Pergunta, o Ganhador vai poder escolher da equipe ( na miniatura ) ? abraço a todos.

  3. Lauro says:

    Grande Fabio!
    Obrigado por ter postado o artigo que fala sobre o safety-car. Quanto a Rubens Barrichello, até entendo que deveria ter uma punição por não recolocar o volante após ter saído do carro conforme as regras, mas ficar parado no meio da pista, de frente para todo mundo, num trecho sinuoso e em aclive, não sei não, acho que eu também sairia o mais rápido possível.
    Um abraço.

    Alexandre,
    Sobre a miniatura, ainda existe um impasse quanto ao modelo, carro, etc. Pode ter certeza que estamos procurando um modelo que agrade, se não todos, a maioria. Assim que definirmos, divulgaremos, ok?
    Um abraço.

  4. Fábio A. says:

    Sir Lauro,

    Por nada!

    Concordo que o local que ele estava era perigoso, mas, não precisava nem recolocar o volante no local, era só não ter jogado.

    Do mais a corrida foi boa, principalmente na tentativa do Trulli de passar por baixo do Chandok. (rs rs rs)

    Abraços!

  5. Nossa Lauro, nem esperava os seus agradecimentos, foi só um comentário rápido sugerindo o race edit da corrida do ano passado, que tá muito característico mostrando os bastidores de Monaco… algo que nenhum outro GP pode se equiparar.

    Fábio A., concordo que o Alonso tinha que tá acordado naquele momento da prova, mas mesmo que houvesse mais voltas, a ultrapassagem seria passível de penalização, ao meu ver, já que os carros podem acelerar à vontade após o safety car entrar nos boxes, mas não ultrapassar o da frente antes da linha de chegada. Certo?

    Se vcs lembrarem bem, o Hamilton já foi punido uma ou duas vezes por peripécias nesses momentos de safety-car. Numa colocou o carro muito a frente do safety-car sendo flagrado por um espectador e usuário do Youtube, na outra forçou um piloto que estava atrás a ultrapassá-lo… sempre com riscos de acidente.

    Quanto a coluna, como sempre, completíssima Lauro! Parabéns companheiro…

  6. Fábio A. says:

    Caro Eduardo Rimoli,

    é meio confusa a interpretação da regra à primeira vista. Mas pelo jeito até a Mercedes GP deve ter entendido corretamente.

    Segue parte da regra:

    40.7 All competing cars must then reduce speed and form up in line behind the safety car no more than ten car lengths apart. In order to ensure that drivers reduce speed sufficiently, from the time at which the “SAFETY CAR DEPLOYED” message is shown on the timing monitors until the time that each car crosses the first safety car line for the first time, drivers must stay above the minimum time set by the FIA ECU.
    With the following exceptions, overtaking is forbidden until the cars reach the first safety car line after the safety car has returned to the pits. Overtaking will only be permitted under the following circumstances :
    – if a car is signalled to do so from the safety car ;
    – under 40.14 below ;
    – any car entering the pits may pass another car or the safety car remaining on the track after it has crossed the first safety car line ;
    – any car leaving the pits may be overtaken by another car on the track before it crosses the second safety car line ;
    – when the safety car is returning to the pits it may be overtaken by cars on the track once it has crossed the first safety car line ;
    – any car stopping in its designated garage area whilst the safety car is using the pit lane (see 40.10 below) may be overtaken ;
    – if any car slows with an obvious problem.

    Traduzindo:

    40.7 Todos os carros que estiverem competindo devem então reduzir a velocidade e formar uma linha atrás do Safety Car, de no maximo 10 carros de distância. Para assegurar que os pilotos diminuiram a velocidade o suficiente, do momento que a mensagem “SAFETY CAR DEPLOYED” é mostrada nos monitores até o momento em que cada carro passar pela primeira vez pela linha de chegada após o Safety Car, os pilotos devem estar abaixo do tempo estipulado pela FIA.

    Com as seguintes excessões, as ultrapassagens estão proibidas até que os carros ultrapassem a primeira linha de chegada após o Safety Car ter retornado para os boxes. As ultrapassagens somente serão permitidas sob as devidas circunstancias:
    – se um carro é requisitado à fazê-la pelo safety car ;

    – qualquer carro entrando nos boxes, pode passar outro carro ou o safety car que ainda estejam na pista após ter passado a linha de chegada após a saida do Safety car;
    – qualquer carro que esteja deixando os boxes pode ser ultrapassado por outro carro que esteja na pista antes que esse passe pela 2a volta após o safety car;
    – quando o Safety Car estiver retornando para os boxes, este pode ser ultrapassado pelos carro na pista uma vez que esses tenham passado pela linha de chegada após a “saída” do safety car;
    – qualquer carro parado em sua area de box enquanto o Safety Car estiver usando o Pit Lane pode ser ultrapassado;
    – se algum carro fica lento por um problema obvio.

    Bom, tem muito mais coisas, mas isso aí é a maior parte sobre as regras do Safety Car.

  7. Fabio A, me desculpe, mas não entendi. Se sob tais condições “as ultrapassagens estão proibidas” em qual das exceções listadas a Mercedes poderia se encaixar para fazer valer a ultrapassagem do Schumacher?

    O que não ficou claro para mim, nas regras em inglês, foi o termo “the first safety car line” que ao meu ver não seria a linha de chegada. Me parece que é o ponto da volta em que o primeiro dos carros se coloca atrás do safety car. E antes disso, os carros estariam com pista livre para acelerar, mas ao receber a mensagem de “safety car deployed” deveriam adequar o tempo de volta para um X seguro, determinado pela direção de prova.

    De qualquer forma, a regra que se aplica ao caso do Alonso x Schumacher é a 40.13 que vc bem colocou anteriormente.

    Abraços!

  8. Fábio A. says:

    Eduardo, no começo do meu texto, foi o que eu quis dizer:

    A regra é meio confusa em alguns pontos na primeira vez que você lê, mas depois de um releitura boa, fica fácil de entender.

    O que quis dizer é que até a Mercedes GP percebeu que interpretou mal as regras, e por isso desistiu de apelar pelo punimento do Schumacher.

    First Safety Car line: É a linha de chegada ultrapassada pela primeira vez após a saída do Safety Car.

    Abraço!

  1. 16/05/2010

    […] This post was mentioned on Twitter by No Trânsito. No Trânsito said: Fórmula 1 – Domingo sim, domingo também. http://bit.ly/bwusbl […]

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