Fórmula 1 – Procissão sim, mas com alguma emoção.


Vettel vence, Webber sai ileso de um grave acidente, mas é a McLaren que sai mais feliz da monotonia que foi o GP da Europa.

O circuito de rua de Valência é realmente um lugar belíssimo, mas isso não ajuda muito quando o assunto é emoção e competitividade para a Fórmula 1. Como já dissemos em outras oportunidades, o circuito usado para a temporada de Fórmula 1 não é o mesmo dos testes da pré-temporada, mas a coincidência entre ambos foi a demonstração de força da Ferrari, que veio com mudanças na parte traseira de seus carros e conseguiu colocar Alonso e Massa na quarta e quinta posições do grid. A Red Bull voltou a dominar a primeira fila e Vettel a superar Webber. Hamilton conseguiu colocar seu McLaren entre as duas equipes e prometia uma corrida agressiva como sempre. Button foi apenas o sétimo, superado pelos representantes da Ferrari, como dissemos, e por Kubica. Outra equipe que mostrou evolução foi a Williams, que trouxe seus dois pilotos, Hülkenberg e Barrichello, nesta ordem, em oitavo e nono lugares, com a curiosidade de ambos terem feito exatamente o mesmo tempo nos treinos. A outra Renault, de Petrov, fechava os dez melhores colocados no grid. Faltas sentidas dos dois carros da Force India e da Mercedes.

Com um dia ensolarado, como foi este domingo em Valência, se esperava uma corrida monótona, uma procissão de carros. Mas com o grid citado anteriormente, pelo menos uns cinco desses carros queriam pular na frente deste cortejo. E assim que o sinal vermelho se apagou, a corrida até que começou quente.

Hamilton, Alonso e Massa partiram para cima de Vettel tentando tirar do alemão a liderança já nas primeiras curvas. Hamilton chegou a tocar em Vettel, mas este controlou o Red Bull e seguiu em frente. Webber caiu demais na primeira volta e passou apenas na nona posição. Mas o que já era trágico não foi nada comparado a quase tragédia que viveu o australiano nesta corrida. Na tentativa de recuperar a péssima largada, Webber foi o primeiro a fazer seu pit-stop, talvez na esperança de que algo pudesse lhe recolocar nas primeiras posições, como um safety-car por exemplo. Mas não sabia que ele seria o causador do mesmo.

Voltando nas últimas posições do grid, Webber encontrou o Lotus de Heikki Kovalainen e numa briga pela 19ª posição entre carros de performance tão diferentes, Webber acabou chegando muito rápido e colidiu na traseira de Kovalainen, com direito a decolagem e um giro no ar. Por sorte, o Red Bull tocou em uma placa de publicidade e, ao retornar ao chão, ainda de cabeça para baixo, desvirou-se no memento seguinte e foi ao encontro da barreira de pneus com muita velocidade. Batida forte, muito forte, mas que mostrou que os carros de Fórmula 1 estão bastante seguros. Vale lembrar que além da parte estrutural, os carros ainda tinham muito combustível e nada de mais grave aconteceu. Webber saiu caminhando e agora vai participar de uma renegociação salarial solicitada pelo seu anjo da guarda.

Hora e vez do safety-car e da polêmica da corrida. Vettel, que já abria de Hamilton cerca de meio segundo por volta, passou na reta dos boxes antes da entrada do safety-car e foi embora. Quando foi a vez de Hamilton passar, trazendo os dois carros da Ferrari colados logo atrás, o inglês forçou a ultrapassagem sobre os carros de segurança e médico, deixando os representantes de Maranelo encaixotados. Isso iria acabar com qualquer plano de recuperação da escuderia italiana.

Quase todos vão para os boxes. No reposicionamento para a nova largada, na volta 12, a ordem era Vettel, Hamilton, Kobayashi, Button, Barrichello, Kubica, Buemi, Sutil, Hülkenberg e Alonso. Massa caiu para 18º porque entrou junto com Alonso e aguardou a parada do espanhol. Quem tentava de tudo era Schumacher, que durante o safety-car trocou de pneu duas vezes.

Na re-largada, na volta 14, Vettel quase perde a liderança para Hamilton ao errar a freada na entrada da reta dos boxes. E a prova passa a se resumir a ambos. Tanto que, em poucas voltas, Vettel e Hamilton abrem dez segundos sobre Kobayashi, que não havia feito a troca de pneus.

Mas Hamilton ainda seria punido pela manobra sobre o safety-car com um drive-thru. Avisado, o inglês passa a acelerar tudo que pode e quando resolve pagar a penalidade já tinha tempo suficiente para voltar na mesma segunda posição. Pela vantagem que Hamilton obteve por passar pelo safety-car de forma irregular, Alonso reclamou muito após o término da prova. O espanhol entendeu que terminou a corrida muito atrás do inglês simplesmente porque cumpriu as regras, afinal, estava a apenas um metro de Hamilton no momento em que o safety-car foi acionado.

Mas outro incidente, de menores proporções, chamaria a atenção de todos. Nada mais que uma garrafa aparece na pista, criando a expectativa de um novo safety-car. Mas depois de algumas voltas de indecisão, eis que surge um fiscal de pista que deixou Usain Bolt mais cauteloso e retirou o objeto da pista sem que a prova fosse interrompida (parece que ultrapassou um carro da Hispania, inclusive).

Por falar em equipe estreante, na briga entre o Hispania de Senna e o Virgin de Glock, quase que os ponteiros perderam pontos preciosos. Glock tocou no spoiler de Senna e, como ambos quase fecharam a pista, Kobayashi e Button, que vinham imediatamente atrás dos retardatários, quase se enroscaram. Na seqüência, Glock perderia o controle do carro (que teve um pneu traseiro furado no toque com Senna) e quase coloca Barrichello e Kubica para fora.

Outro que fazia ótima prova era Sutil. Apesar de não ter conseguido boa classificação no sábado, o alemão da Force India se recuperou na prova e fez a ultrapassagem mais arrojada da corrida, sobre Buemi, na luta pelo sétimo lugar.

Schumacher fez mais um pit-stop e chegou a marcar a melhor volta da prova em determinado momento, mas o mais rápido da prova foi Button, que obteve a marca faltando três voltas para o final.

Assim, Vettel, Hamilton e Kobayashi subiriam ao pódium, certo? Errado. Kobayashi ainda precisava fazer a troca de pneus obrigatória pelo regulamento e reservou um excelente final de corrida para os fãs do automobilismo. Voltou dos boxes em nono e em três voltas ultrapassou Alonso e Buemi, completando em sétimo.

Vettel voltou a vencer este ano depois de seis etapas e embolou o mundial novamente. Hamilton também pode se considerar vencedor porque, apesar da segunda posição, aumentou a vantagem na liderança do campeonato. E, por falar em vencedores, a McLaren também abre na liderança do campeonato de construtores por ter colocado seus carros prateados no pódium de Valência. Acho que Webber também pode se considerar vencedor por tudo que passou. Outra nota a ser registrada é sobre Barrichello que, com o excelente quarto lugar, ultrapassou ninguém menos que Ayrton Senna em número de pontos absolutos na história e agora é, coincidentemente, o quarto colocado neste critério.

Depois da prova, nada menos que oito pilotos foram punidos por não respeitarem a velocidade permitida durante a presença do safety-car. Com isso, Alonso ganhou a posição de Buemi e foi oitavo, muito pouco para quem poderia ter subido ao pódium correndo em casa pela segunda vez este ano.

Metade do campeonato cumprido e os dois pilotos da McLaren aparecem na frente dos pilotos da Red Bull. Alonso é quinto e Massa apenas o oitavo, tendo entre eles Kubica e Rosberg. Schumacher é apenas o nono no campeonato. Nenhuma estreante marcou pontos. O campeonato deve ficar entre os pilotos ingleses da McLaren e a dupla da Red Bull. Alonso corre por fora, mas pode se recuperar se a Ferrari mostrar evolução. Pela constância, a McLaren deve levar o título de construtores. Prato cheio para o GP da Inglaterra, próxima etapa do mundial dia 11 de julho. Até lá.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

4 Responses

  1. Fernando says:

    WEBBER DIZ: Red Bull te da asas!

  2. Olá Lauro e pessoal!

    Quanto aos treinos, esse impressionante empate de tempos – até a 3ª casa decimal – não foi inédito, mas talvez tenha sido a primeira vez que ocorre com 2 pilotos da mesma equipe. Porém, tem gente quem vai dizer que até empatando, o Rubinho fica em 2º. Me desculpem pela brincadeira, não sou de fazer pouco-caso do nosso querido Barrichello, mas não pude deixar essa passar em branco.

    Quanto à corrida, concordo que o circuito pode não ter proporcionado muita competição e ultrapassagens entre os 24 carros – e pilotos – mas no meu modo de ver a emoção foi altíssima. Infelizmente, negativamente falando. Pois ficou toda concentrada na forma de ira e indignação provocada pela INJUSTIÇA cometida pela FIA e/ou direção de prova contra a equipe Ferrari, ao vivo e após o término da prova. A palhaçada foi tão grande, que nem a Globo percebeu, ou conseguiu perceber. A coisa se desenrolou de uma forma tão grotesca e incompreensível que Galvão – na África, literalmente – não tinha se quer idéia do que estava se passando, enquanto Burti e Reginaldo – no Brasil, presumo – tentavam cegamente entender o motivo da punição dada a Hamilton: um singelo drive-through (“seria pelo toque em Vettel após a largada?” Não!). E com um agravante, já que 7.425 km separavam o primeiro locutor dos outros dois (sim, eu pesquisei a distância aérea): ficou evidente através do esclarecedor delay de ~3s que Galvão nada mais é que um ‘Galvao’ (os usuários do twitter, e eu não sou um deles, me entenderão), um papagaio, uma matraca, uma ave-quase-extinta que só sabe repetir o que foi dito anteriormente, nesse caso por Burti e Reginaldo.

    Mas pior do que esse fato que tornou a transmissão brasileira patética, teve a fatídica entrada do “Safety Car” que deveria se chamar Divisor de Águas, ou Quebra-Mar, ou Linha de Empedimento, ou Obstáculo Móvel Esportivo, ou algo que faça jus à sua ralentante função nesse famigerado GP. Talvez não estaria tão revoltado caso tivesse assistido toda a corrida na Globo, mas simultaneamente estava acompanhando na RAI e não pude deixar de compreender quão desvantajosas (existe isso ou seria “prejudiciais”?) para a Ferrari eram a sequência de acontecimentos e “punições” neste GP. Claro que os jornalistas italianos torcem pela Ferrari, assim como nós torcemos por Massa e os anfitriões torciam pelo Alonso, mas a cobertura durante e depois o GP deu um show e fez muitas das perguntas que talvez jamais serão respondidas. Adiciono abaixo as minhas perguntas após essa PATAQUADA.

    Porque o SC entrou tanto tempo depois do acidente de Webber (e da “colocação” de bandeiras amarelas em todo o circuito) mas logo antes de Hamilton (o 2º colocado), em vez de antes (e existira folga suficiente) do 1º colocado na prova até o momento? Porque Hamilton pôde ultrapassar o SC e ser penalizado apenas com um drive-through considerando que o tempo de perda nessa penalização deve ser inferior ao tempo ganho numa volta sem tráfego e livre do SC, como foi o caso de Hamilton? Sendo assim, os 2 pilotos da Ferrari seriam menos prejudicados caso decidissem ultrpassar – ilegal, mas sabiamente – o SC e adiantar a parada nos boxes? Vettel não teria sido beneficiado com essa subjetividade quanto à hora “certa” do SC entrar em pista (apesar de sabermos que o regulamento não prevê um momento exato para tal)? Porque a demora de 15 voltas em analisar e punir Hamilton, tornando a penalização ineficaz e não incentivando o cumprimento das regras através de uma punição exemplar (até porque, não é a primeira que esse garoto resolve ultrapassar o Carro de Segurança e a punição é sempre branda!)? Novamente, a penalização de apenas 5s nos tempos dos outros 8 pilotos foi suficiente e eficaz, visto que esses podem ter feito a volta muito mais rápidos do que o permitido no contexto? Porque penalizar esses pilotos somente após o término da prova, já que esses pilotos se colocam muitas vezes em situações de risco lutando por pontos e depois se torna um risco em vão já que alguns pontos podem ser sumariamente anulados? O Safety Car é/foi seguro ou promove a insegurança total e generalizada?

    Sem mais.

  3. Lauro says:

    Grande Eduardo,

    Demorei um pouco para responder o seu comentário mas acho que não foi por acaso. Seu comentário, aliás, muito completo. Mas tenho uma maneira de ver um pouco diferente sobre o que ocorreu em Valência. Primeiramente, quando se olha sob a ótica de favorecimento, eu tenho a certeza de que se isso fosse ocorrer, o intuito era beneficiar Vettel, pois esse foi o único que, teoricamente, teve a vantagem de seguir antes da entrada do safety car. Todos os outros seriam, portanto, prejudicados.
    Mas isso também cai por terra quando observamos que as trocas de posições ocorreram pela opção do pit-stop feita pela grande maioria dos pilotos neste momento. Kobayashi, por exemplo, foi exceção. Schumacher tentou duas trocas durante o safety car. Enfim, as circunstâncias de cada GP faz com que um time de estrategistas pense na melhor solução. Mais ainda. Eu disse que Vettel seria o maior beneficiado quando, na verdade, o safety car sempre tira a vantagem daqueles que conseguiram abrir tempo na pista em relação aos demais. Hamilton foi apenas esperto, como todos os grandes campeões já foram por algumas vezes. Não estou defendendo piloto algum. Estou dizendo apenas que existem regras e gente que, teoricamente, entende das mesmas e de corridas para julá-las. Falando especificamente de Hamilton, se a punição fosse um stop and go de 10s seria mais justa? E se os pilotos punidos depois do GP tivessem levado 30s e não apenas 5s? Não sei.
    E a demora na resposta me faz comparar este momento da Fórmula 1 com a Copa do Mundo (até que enfim vou falar dela). No jogo da sexta-feira entre Uruguai e Gana, o centroavante uruguaio salvou um gol certo da equipe de Gana no último minuto da prorrogação, ou seja, a vitória certa do time africano e a vaga nas semi-finais da Copa. A regra puniu a seleção uruguaia com a penalidade máxima e expulsão de seu jogador faltoso, mas não com o gol como deveria ter acontecido. Injustiça? Não sei. Posso julgar apenas como falta de competência do atleta de Gana ao bater o penalty decisivo.
    O olhar apaixonado pode distorcer um pouco a visão dos fatos, mas é certo que sempre se espera justiça em todos os seguimentos do esporte, da sociedade, etc. Vamos continuar torcendo.
    Um abraço.

  4. JONAS BATISTA DOS SANTOS JUNIOR says:

    Quando vi isso sai da frente da tv na hora, simplesmente uma vergonha o que faz a ferrari, pra mim envergonha a marca, os italianos , como desonestos e trapaceiros, humilha o piloto (Massa).Tira a glória de poder figurar na história, um piloto, uma família , um pais.
    Ainda que realmete tivesse problemas com pneus de fato , deveria lutar até o fim pela posição e com certeza conseguiria.
    Temos que boicotar a marca o esporte, assim como o futebol hipócrita que não aceita o uso da tecnologia, pra facilitar a corrupção e a injustiça de milhos e alimentar o desanimo geral.fazendo que até vitórias sejam maculadas pela injustiça, e percam em muito sua honra e glória.É nojento !!!!

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