Mistério…

Esse é o clima que vive a Fórmula 1 às vésperas de mais uma temporada, e que começará a ser desvendado no próximo dia 27 na Austrália. E a gente, claro, vai dar uns palpites.

E é palpite mesmo. Das últimas três pré-temporadas, essa é a mais enigmática de todas, a julgar pelo simples olhar dos resultados obtidos nos testes. Soma-se a isso a ansiedade da primeira prova e o tempo maior de possíveis desenvolvimentos que aconteceram pelo cancelamento temporário (que pode virar definitivo) do GP do Bahrein. E muito disso se deve aos fatores pneu, asa traseira e KERS. Vamos falar um pouco de cada um desses fatores.

Seguindo as mudanças

Como é sabido, a Pirelli volta à fornecer pneus para a Fórmula 1 depois de 19 anos de ausência. Essa mudança, além de significar um projeto totalmente diferente de todas as equipes do grid para se adaptarem ao aquecimento, ao atrito e, principalmente, ao desgaste dos novos compostos da fábrica italiana, deve significar também mais pit-stops durante as provas. O interessante é que a solicitação para que o desgaste dos pneus fosse mais acentuado foi da própria FIA. Assim, pensam os “entendidos” do esporte, haverá mais ultrapassagens, busca constante da categoria. O lado positivo é que as corridas serão mais movimentadas, já que alguns pilotos apostam justamente no aumento do número de pit-stops. O lado ruim é que os pilotos precisarão contar mais ainda com o trabalho rápido das equipes, e isso pode custar o campeonato, além de aumentar a probabilidade de acidentes tanto na pista como dentro dos boxes. Seria mais fácil, em minha opinião, estabelecer o mínimo de três pit-stops obrigatórios com o uso de pelo menos dois compostos diferentes, deixando a critério das equipes a melhor estratégia. Neste quesito, acho que vamos ter apenas mais pit-stops e mais trapalhadas das equipes.

Quem está de volta também é o KERS (abreviação de Kinetic Energy Recovering System, ou Sistema de Recuperação de Energia Cinética). Incluído no regulamento em 2009 mas usado apenas por algumas das equipes na ocasião, o KERS permite que a energia gerada pela desaceleração do carro seja transformada em potência para o motor e o piloto pode usá-la por determinadas vezes durante cada volta através do acionamento da engenhoca por um botão no volante. Com a introdução do mesmo, o peso mínimo dos carros aumentou, além de alguns terem até aumentado também o comprimento para comportar todo o sistema uma vez que, em 2009, ainda era permitido o reabastecimento e o volume dos tanques eram bem menores. Seu uso não é obrigatório.

E a maior novidade é a polêmica asa traseira móvel. Também optativa, a asa traseira agora pode mudar de ângulo e gerar menos resistência aerodinâmica aos carros. Seu uso em treinos de classificação é ilimitado. Mas, para a corrida, a asa só pode ser acionada quando o piloto que estiver disputando posição com o que vai a sua frente estiver a menos de um segundo de distância. Neste caso, ainda terá de obedecer à determinados trechos da pista onde esta condição será permitida. Para o piloto saber se pode ou não “recolher” a asa, um sistema sensorial vai acender uma luz no painel indicando a possibilidade e acionamento será por (mais) um botão no volante. Fácil, não é? Ou seja, é assobiar e chupar cana ao mesmo tempo. E isso tem um lado sério no que diz respeito à segurança. Afinal, a diferença de velocidade entre os carros deve ser grande na mesma freada. Isso sem contar uma provável falha no sistema ao longo da prova, e que provavelmente vai acabar com a corrida de quem tiver o problema.

Tudo isso para aumentar o número de ultrapassagens. Sem falar que o jogo de equipe está liberado. Ai, ai, ai. O segredo de uma prova com ultrapassagens é a combinação de acerto do carro, condução do piloto e um circuito que permita ultrapassagens, entre outras coisas. Botões de “push”, flaps como em aviões, pneus que se desmancham em pouco tempo, não sei não. E não é que o Bernie Ecclestone sugeriu até chuva artificial?! Pode parar! Embora eu tenha quase certeza de que isso não passou de uma jogada (outra) para chamar a atenção, é bom não ventilar este tipo de idéia para alguns conselheiros da FIA, senão, desenhos como a Corrida Maluca e Speed Racer serão revisitados.

As últimas impressões

A Fórmula 1 foi para Barcelona para a terceira sessão de treinos já apontando para uma quarta sessão que substituiria a de Sakhir, no Bahrein, devido aos problemas políticos locais que culminaram inclusive com o cancelamento da etapa de abertura do mundial como dissemos no começo da coluna. E parece que os últimos acontecimentos mostram que não será tão fácil acontecer a etapa bahrenita em 2011 com a decretação de estado de emergência local para os próximos noventa dias. Eu aposto no cancelamento, mas pode ser que surja (acho que nunca havia escrito a palavra surja) uma nova etapa, nem que seja para manter o número de 20 etapas pela primeira vez na história da Fórmula 1 (não é, Bernie?!).

Na terceira sessão de três dias, ainda em fevereiro, Vettel mostrou logo de cara porque é campeão, deixando a concorrência para trás logo no primeiro dia. Rosberg e Massa fizeram o mesmo nos dias seguintes. As notas positivas foram para o bom desempenho da Toro Rosso, da Lotus-Renault, já com Nick Heidfeld definido para o lugar de Kubica, e para a Lotus (a verde) que mostrou evolução consistente se comparada ao ano passado. Não vai lutar por vitórias, mas parece decidida a “embolar o meio-campo”. Enquanto isso, na McLaren, nenhuma amostra de evolução concreta e já se começou a especular o projeto.

Enquanto a terça-feira de Carnaval rolava no Brasil, os carros voltaram para Barcelona para a última bateria de testes. Sem Ferrari e Mercedes, a McLaren andou bem, tentando tirar a má impressão. Mas a ponta, de novo, com a Red Bull, pilotada por Webber naquele dia. No dia seguinte, Vettel. E como touro ta na moda, Toro Rosso de novo no segundo dia em segundo lugar. Até Petrov andou bem e deixou McLaren e Ferrari para trás.

Aí apareceu o estreante Sergio “Ligeirinho” Perez, com a Sauber com um provável “cheiro” de gasolina apenas no tanque, o que o projetou para a ponta. Apesar do provável jogo de marketing, a Sauber garante que o resultado é real e que tem um bom carro para disputar posições intermediárias. Concordo com a segunda afirmação apenas. Neste mesmo dia, Felipe Massa fez ótimo treino, assim como Webber e até Barrichello.

Nos últimos dias, tivemos uma pequena surpresa; a Mercedes. Depois de praticamente descartar a briga por vitórias, as atualizações aerodinâmicas nos carros da equipe deram a Schumacher a possibilidade de voltar a ser o mais rápido, ainda que apenas em testes. A prova da evolução ficou por conta da terceira posição do seu companheiro Rosberg naquele mesmo sábado, ou seja, em condições iguais de temperatura e pressão. Entre eles, Alonso. E o sábado foi praticamente o último dia de atividades já que no domingo choveu muito em Barcelona e apenas três pilotos marcaram tempo. Só para satisfazer a curiosidade, o mais rápido foi Rosberg.

A bola de cristal diz o seguinte:

A Red Bull continua forte e é de novo a Ferrari que vai no seu encalço. Se por um lado Vettel foi o mais rápido por mais vezes, foi Mark Webber quem mais testou o carro rubro-taurino. Aliás, vale a pena mostrar a importância da experiência de um piloto. Red Bull, Mercedes e Williams fizeram respectivamente Webber, Schumacher e Barrichello andarem mais de 3200km cada um em média, como prova da confiança no desenvolvimento. Na Ferrari, que foi a equipe que mais testou, Massa andou até um pouco mais que Alonso sendo ambos na casa de 3500km cada, numa igualdade de tratamento que deve ser destacada. Chateados mesmo ficaram os pilotos da gloriosa Hispania, Karthikeyan e Liuzzi, que não andaram um metro com o novo carro da equipe espanhola. Haja videogame para os dois, já que nem simulador eles tem.

No que vai valer mesmo, além de Red Bull e Ferrari, a Mercedes e a Lotus-Renault devem andar na frente da McLaren logo de início, e a equipe inglesa precisará se cuidar para que Toro Rosso e Sauber também não a deixem para trás. A Williams deve entrar nesse bolo também. Melhores desempenhos em relação ao ano passado devem ter os carros da outra Lotus, deixando a Marussia Virgin mais para o fundo do grid, mas ambas devem se distanciar ainda mais da Hispania. A Force India também parece mais lenta em relação a concorrência.

Parece tudo muito semelhante ao final do campeonato passado, não é mesmo? Aí você pode estar me perguntando; afinal, qual é o mistério, ou os mistérios de 2011? Pelo que pude acompanhar, existem ainda algumas perguntas sem resposta como qual será a real força da Red Bull, que pareceu às vezes esconder o jogo? A Mercedes vai, enfim, andar na frente? A McLaren é tão lenta quanto parece? Quem vai se entender melhor com os pneus Pirelli? E com as asas móveis? Qual dos estreantes se sairá melhor? E o maior mistério de todos: se o carro da Hispania realmente anda, será que ele chega ao final da temporada?

Brincadeiras à parte, um campeonato longo, com agora 19 etapas confirmadas, vai permitir muitas variações e, embora não sejam permitidos testes, as evoluções aparecerão sempre. Tenho a impressão positiva de que teremos um campeonato bastante disputado e espero que não falte emoção para ninguém, dentro ou fora da pista.

Um abraço e até lá!