Superação

Hamilton supera Vettel e um dramático vazamento de combustível para vencer na China, em mais uma etapa cheia de alternativas e ultrapassagens, de tirar o sono e fôlego de todo mundo.

Novos ventos

Parecia meio que um prenúncio de que algo de diferente estava para acontecer em Xangai que, já na sexta-feira, viu a gloriosa Hispania a frente da Marussia-Virgin. Nada que chamasse atenção de todos, mas comecei a achar que algo diferente poderia vir do oriente.

E quando acabou o Q1 no sábado, mais mudanças. Rosberg tinha o melhor tempo, seguido de Petrov, Alonso, Massa e Schumacher. Nada da Red Bull humilhando a concorrência. Pior; Webber fora do Q2 por problemas com os pneus duros e superaquecimento do KERS. O australiano foi apenas o 18º, melhor somente que o “trio parada dura” das pequenas Lotus, Marussia e Hispania, esta última voltando para seu habitat natural. Menção honrosa, porém, para a Lotus, que parece evoluir pouco a pouco, como já pressentíamos antes do início da temporada. Outra equipe que se comporta bem em circuitos de alta velocidade como na China é a Force India, que voltou ao pelotão da frente com o estreante Paul di Resta sempre na frente de Adrian Sutil.

Além da Mercedes e da Ferrari, a McLaren mostrava força e liderava o Q2. A Lotus Renault, por sua vez, não conseguiu repetir o desempenho da Malásia. Estava até conseguindo com Petrov, que estava com o 4º tempo, enquanto Heidfeld não conseguia passagem para o Q3. Mas o bom final de semana do russo se foi faltando dois minutos para o final do Q2, que com pane na transmissão, não só abandonou o carro no meio da pista como ficou sem equipamento para o Q3, tendo que se contentar com o 10º lugar no grid.

Mas ainda tinham dois minutos e uma fila de carros se formou na saída dos boxes. Afinal, todo mundo queria pista livre para marcar seu tempo e subir para o Q3, mas só alguns conseguiriam. E quando o cronometro zerou, Heidfeld confirmou o baixo desempenho e realmente ficou fora da última fase do treino. Com ele, Schumacher, os dois carros da Sauber e da lenta Williams, além de Sutil.

Nestas alturas, já se podia apostar em uma pole-position da McLaren, mas nem tudo muda tão de repente, não é mesmo? Vettel nem se importou em não dominar os treinos até ali. Enfiou sete décimos sobre a concorrência prateada (pela ordem, Button, Hamilton e Rosberg) e vermelha (com Alonso a frente de Massa por dois míseros centésimos). Alguerssuari e Buemi tiveram a presença de Di Resta entre eles que, juntamente com o “sem-carro” Petrov, formavam um bom de primeiro pelotão.

Mas os ventos da mudança continuavam no ar, e sopraram fortes logo na largada.

Haja fôlego

Antes do apagar das luzes vermelhas, porém, Hamilton viveu um drama. Um enorme vazamento de combustível quando o carro ainda estava na garagem fez com que o campeão de 2008 quase perdesse os boxes abertos para ir à pista, o que poderia tê-lo feito largar do pit-lane. A tensão era visível na escuderia inglesa. Como ficaria o carro de Hamilton durante a corrida? E os riscos de um vazamento e possível incêndio com o tanque cheio? Mas Hamilton demonstrou extrema frieza e alinhou assim mesmo.

Como de praxe, os dez primeiros colocados de pneus macios enquanto Webber tentava uma estratégia diferente, vindo lá de trás com os pneus duros. Ao ser dada a largada, Vettel se preocupou demais com Hamilton, deixando caminho livre para Button pular para a ponta. Hamilton também superou Vettel nas curvas seguintes e, por muito pouco, Rosberg também não superou atual campeão do mundo. Massa conseguiu superar Alonso na briga pela quinta posição. Sem acidentes, todos entraram pela primeira volta na maior reta da Fórmula 1 atual.

Daí para frente, o que se viu foi uma das mais disputadas corridas dos últimos tempos. Schumacher ultrapassando e ganhando várias posições, mas com Kobayashi de novo atrás dele, como na Malásia. Os dois Force India andando logo atrás dos McLaren, dos Ferrari, de Vettel e de Rosberg. Os dois carros da Toro Rosso trazendo Heidfeld, Webber, Barrichello e Perez como em um carrossel. Disputas por todos os pelotões e desgaste para os pneus, que levaram Alguerssuari, da Toro Rosso, a inaugurar a série de pit-stops. Só que depois de tanto trabalho na Malásia, os mecânicos estafados da equipe filial da Red Bull apertam mal a roda traseira direita que se desprende rapidamente duas curvas após a saída dos pits, o que resultou até em multa para a equipe após a corrida, além do abandono do jovem espanhol.

Lá na frente, dois segundos separavam Button e Vettel, com Hamilton entre eles. Enquanto isso, a Mercedes mostrava que dava pra prender bem as quatro rodas e ainda economizar quase dois segundos nas paradas de Rosberg e Schumacher. Abrindo caminho, Webber vinha engolindo o asfalto e marcando as melhores voltas enquanto seu companheiro Vettel também começou o que parecia ser sua reação tão esperada, superando primeiramente Hamilton. Logo na seqüência, o alemão encostou em Button, mas este decidiu levar a briga para dentro dos boxes. Só que os campeões também cometem erros incríveis, típicos de principiantes. Não é que Button resolveu parar nos boxes da Red Bull? Ao perceber logo o erro, Button se encaminhou para o próximo pit, o da McLaren, antes que os mecânicos da Red Bull resolvessem levantar o McLaren e saíssem para comerem um espetinho de escorpião. O resultado dessa presepada foi a perda de posição para Vettel ainda nos boxes.

Com a boa corrida que vinha fazendo, Massa superou Hamilton e foi para a ponta, mas antes mesmo de completar a volta em primeiro, decidiu ir para os boxes e foi seguido por inglês, deixando caminho livre para Alonso liderar. Só que após a primeira rodada de pits, era Rosberg que puxava a fila com cinco segundos de vantagem para o segundo colocado!

Mais e mais brigas, já na metade da prova. A da vez era entre Alonso e Schumacher, e o espanhol aplicou um lindo “x” no alemão heptacampeão. Depois, Hamilton brigou com Button e levou a melhor. Mais algumas voltas e Webber superou Schumacher, ambos fazendo belas corridas de recuperação. Realmente, disputas de encherem os olhos e feitas de maneira leal, na pista. Só uma tentativa de ultrapassagem foi mais desastrosa. Sergio Perez, nosso “Speed Gonzalez”, vai “demasiado arriba” de Sutil e deixa o carro escorregar além do asfalto, levando o “amigo” alemão a uma volta na brita e tirando um pedaço da Force India. Mas ainda era preciso fôlego para acompanhar as últimas voltas.

Hamilton, sem vazamentos

Rosberg decide pela terceira parada e volta em terceiro, ameaçado pelos dois carros da McLaren. As ultrapassagens de Hamilton e Button vieram quando Maldonado voltou para a pista depois de seu pit-stop e atrapalhou Rosberg, que virou presa fácil. Hamilton então vai para cima de Massa, Webber para cima de Alonso. Mais algumas voltas e Button também atacou Massa, enquanto Hamilton voava para arrancar a vitória de Vettel. Faltavam menos de cinco voltas para o final, e foi em um trecho mais sinuoso que Hamilton surpreendeu Vettel e assumiu a ponta sem precisar de asa traseira aberta ou até mesmo do KERS. O único benefício que Hamilton usou e abusou foi a melhor estado de seus pneus, ainda em boas condições depois da terceira parada, enquanto Vettel havia feito apenas duas.

Acabou? Que nada! Ainda houve tempo para Webber atacar e passar Rosberg e depois Button, sendo que com o inglês a disputa chegou a toque entre os pneus de ambos os carros mas, como em todas as disputas da prova (exceto a sutileza de Perez), sem deslealdade ou prejuízo definitivo para os competidores. Com tanta sede, coube a Webber a melhor volta da prova.

Como na semana passada, uma corrida de muitas ultrapassagens, estratégias e freadas lado a lado, e que teve em um trabalho de equipe da McLaren e na perseverança e show de pilotagem de Hamilton, seus maiores vencedores. Não que Webber não tenha sido também espetacular, pois chegou apenas 3 segundos atrás de Vettel vindo de 18º. Não que Massa não tenha feito ótima prova e superado Alonso por quinze segundos. Não que Rosberg não tenha, pela primeira vez na Mercedes, sentido a possibilidade uma vitória, para ele, a primeira na categoria. A Fórmula 1 venceu na China, e provou que, em circuitos com pontos de ultrapassagens e retas relativamente longas, o show está de volta, movido pelas engenhocas móveis e pelo KERS, mas principalmente pelo “temperamental” pneu Pirelli, que proporciona muita sujeira na pista, mas uma imprevisibilidade ainda maior.

Vai ser difícil esperar três semanas pela Turquia, mas o certo é que nós estaremos lá!