Contrastes que nada mudam


O GP da Índia estreou no calendário cheio de expectativas, mas nada de concreto mudou. Vettel continua quebrando recordes, Button sendo o melhor do resto e Massa e Hamilton se enroscando. Confira.

A Fórmula 1 em choque

Mais um país na lista, pista nova, choque cultural. Foi assim que a Fórmula 1 chegou pela primeira vez em Nova Déli, capital da India, para a realização da antepenúltima etapa de 2011. Além do aspecto cultural, a categoria mais importante do automobilismo ultrapassou mais uma barreira geográfica, interessada na emergente economia local e no potencial populacional de 1,2 bilhões de habitantes, ainda chocada também pelas mortes do piloto inglês Dan Wheldon, na Indy, e do italiano Marco Simoncelli, na MotoGP. Os pilotos prestaram várias homenagens para ambos ao longo de todo o final de semana.

Pilotos e dirigentes homenageiam Wheldon e Simoncelli com um minuto de silêncio

Voltando ao aspecto cultural, os pilotos se depararam com uma realidade que não estão acostumados. Os relatos, dos mais diversos, davam conta de uísque para fazer gargarejo após alimentação, uso de água mineral para escovar os dentes, e até de uma família morando onde a uma das equipes iria trabalhar. Sujeira cheiro forte também, além da presença de animais ao entorno do circuito. Destes, dois cachorros resolveram entrar na pista durante os treinos da sexta. Diz a lenda que, se completassem a volta, fariam tempos tão bons quanto os da Hispania. Tirando a maldade, ambos foram prontamente retirados pelos fiscais de pista.

A pista suja, resultado do pouco tempo de conclusão das obras e pela poluição local, deixou os carros mais “dançantes”, trazendo um desafio a mais aos pilotos. Só que nem isso fez com que as críticas fossem maiores que os elogios, pois todos consideraram a pista muito boa e desafiadora, além de veloz. Um alento à Hermann Tilke, o mesmo que projetou vários dos autódromos da temporada, quase sempre criticados.

Nacionalista, a Force India queria andar bem em casa. A Hispania até trocou o italiano Vittantonio Liuzzi pelo indiano Narain Karthikeyan, para compor o clima, mas a Lotus não quis entrar na onda indiana e não permitiu ao outro indiano da Fórmula 1 e seu piloto reserva, Karun Chandhok, participar do GP em sua terra natal, uma pena. Com tudo pronto e em seus lugares para o espetáculo, quem mostrou força foram Hamilton e Massa, que dominaram a sexta-feira. Mal sabiam que chamariam atenção no domingo também. Só que Hamilton, assim como Sergio “Ligeirinho” Perez, foram punidos cada um em três posições no grid por desrespeitarem uma bandeira amarela durante os treinos.

Quem também tinha que mostrar serviço era Petrov, que também já havia sido penalizado em cinco posições no grid pelo acidente com Schumacher na Coréia. E o russo até que terminou na frente o Q1, no que seria seus “quinze minutos de fama” ao longo do final de semana. No Q2, Petrov foi eliminado, juntamente com seu companheiro de equipe Senna. Schumacher, outro eliminado, reclamou do equilíbrio do carro, que não pode ser totalmente corrigido pela equipe por falta dos equipamentos que ficaram retidos na alfândega. Di Resta também não conseguiu levar a Force India ao Q3, causando um pouco de decepção na torcida, mas nada que fizesse faquir deitar em cama de pregos.

Quem andou bem, de novo, foram os carros da Toro Rosso. Buemi e Alguerssuari largaram respectivamente em nono e décimo, e optaram por não abrirem volta no Q3 para economizarem pneus. A outra Force India, de Sutil, conseguiu uma boa oitava colocação, mas também decepcionou um pouco a torcida quando fez a mesma opção da Toro Rosso em não abrir volta na fase final do treino. Rosberg foi o sétimo.

Lá na frente, Vettel fez a pole com facilidade e caminha para a quebra do novos recordes. Hamilton, no cronômetro, foi o segundo, mas devido à punição largaria apenas em quinto, deixando a primeira fila para a Red Bull com Webber largando ao lado de Vettel. Alonso e Button formaram a segunda fila, enquanto Massa, na sua última tentativa de melhorar a posição no Q3 e já com o cronômetro zerado, acertou uma região desnivelada além da zebra, no miolo do circuito, e quebrou a suspensão dianteira direita, não conseguindo, portanto, nada além da sexta posição no grid.

Sem sustos

Uma curiosidade da pista indiana é que não havia o lado sujo ou o lado limpo da reta na hora da largada. E, como tudo era sujeira, muita gente patinou um pouco e acabou se tocando na freada das primeiras curvas, dentre eles Barrichello, Kobayashi, Glock e Trulli. No meio da confusão, Buemi e Alguerssuari caíram algumas posições, enquanto Schumacher já aparecia em oitavo. Petrov também caiu para o fundo do pelotão.

Em nenhum GP tivemos uma fila tão indiana no começo da prova

Vettel segurou o ataque de Webber na largada e quem se aproveitou foi Button, que tomou a segunda posição do australiano. As investidas de Webber e as defesas de Button nas voltas seguintes pareciam confirmar a previsão de que a corrida seria cheia de ultrapassagens, que acabou não se confirmando.

A começar pelo próprio Vettel, que só não fazia a melhor volta da prova quando resolvia trocar de música no MP3. Button, por sua vez, chegou a se livrar de Webber, mas não o suficiente para ameaçar Vettel. Alonso tentou acompanhar Webber, só que também não conseguia se aproximar o suficiente. Massa vinha logo atrás.

Pouco mais distante, os dois carros da Toro Rosso se recuperavam na prova, superando Senna e Sutil. O alemão da Force India foi, inclusive, o primeiro a parar para troca de pneus, enquanto as primeiras brigas começavam no fundo do grid, com Di Resta, Perez e Petrov andando muito próximos, mas nada digno de nota.

Quando Alonso, Webber e Hamilton foram para a troca de pneus, voltaram embolados com Schumacher, o que acabou favorecendo o Felipe Massa que, quando fez sua parada, ganhou a posição de Alonso. O brasileiro fazia boa prova, no mesmo ritmo de Alonso e brigando por um lugar no pódium, até que surgiu em seu retrovisor ele, Lewis Hamilton.

O inglês vinha se aproximando perigosamente e chegou em definitivo na grande “reta tobogã”, só que ainda sem condições de ultrapassagem. Logo em seguida, porém, Hamilton colocou o carro lado a lado com o brasileiro, e tinha a preferência da próxima curva. Massa pensou diferente e achou que Hamilton tinha que evitar o choque. Resultado: novo toque entre ambos, com prejuízos iguais nos carros que perderam alguns pedaços, mas não o suficiente para tirá-los da prova. Já os comissários não entenderam inocência de ambos e puniram Felipe Massa com um drive-thru. Na minha visão, Massa ignorou a presença de Hamilton e foi o inglês quem, em princípio, teve maior prejuízo no carro ficando com o bico caído e tendo sua corrida prejudicada. Dizem que ambos chegaram a sorrir antes da prova, mas este novo incidente entre ambos começa a minar, em definitivo, qualquer relação mais amistosa, embora ambos neguem.

A vaca, quer dizer, a corrida de Felipe Massa (com todo respeito à religião local) foi pro brejo de vez quando o brasileiro, já com o carro recuperado, repetiu o erro do treino e acertou outra vez a região além da zebra, quebrando agora a suspensão do lado esquerdo e abandonado a prova em definitivo. Aliás, a prova teve vários abandonos. Além de Massa, Buemi, Maldonado, Kobayashi e Glock “comeram” menos poeira neste final de semana.

Massa teve um final de semana frustante na India

Por falar nisso, Petrov parecia por vezes em um rally, levantando poeira da área de escape e escorregando como nunca. Chegou a mirar Sutil e Perez na briga por pelo menos um ponto, mas teve de se contentar com a décima primeira posição, à frente se Senna que era o melhor brasileiro na prova e marcava pontos até a duas voltas do final, quando teve de obedecer o regulamento e trocar os pneus.

Alonso conseguiu mais um pódium, que já é além do limite da Ferrari

Button chegou a fazer algumas voltas mais rápidas, só que Vettel respondia sempre, o que impossibilitou qualquer briga entre ambos. Alonso foi quem conseguiu superar Webber depois da segunda parada e teve direito a champanhe no final, deixando o australiano apenas em quarto, cada vez mais distante da luta pelo vice-campeonato. Schumacher superou Rosberg e conquistou um excelente quinto lugar. Hamilton foi sétimo, Alguerssuari o oitavo, Sutil conseguiu arrancar alguns aplausos com a nona posição para a Force India e Perez, nosso “Ligeirinho”, marcou mais um ponto em seu ano de estréia.

Também no limite da máquina, Schumacher conquistou excelente quinto lugar

De quebra, mais um recorde quebrado

Vettel continua aniquilando recordes e parte para o maior número de vitórias e poles em uma só temporada. Hoje, bateu o recorde de maior número de voltas na liderança em uma só temporada, com 711, quebrando o recorde de Nigel Mansell de 692 voltas na temporada de 1992. Na carreira, Vettel já é o 12º, com 1.357 voltas na liderança na carreira. Schumacher, o recordista, tem 5.111. Será que Vettel chega lá? Tem tudo para isso.

No campeonato, Button caminha para ser o vice-campeão e Alonso mostra que com todas as dificuldades da equipe, ainda consegue, no braço, fazer a diferença. Para o campeonato, o fato dos os três primeiros colocados do campeonato serem de equipes diferentes é sempre bom para a competição.

Eu não sei se o fato da corrida ter começado mais cedo aumentou um pouco o sono de quem assistiu. De concreto, a prova em si frustrou muito quem esperava uma verdadeira festa de ultrapassagens e disputas na veloz pista de Buddh. Talvez o clima de consternação do final de semana, que teve até um minuto de silêncio em homenagem aos pilotos Dan Wheldon e Marco Simoncelli, e que citamos no começo da coluna, não fosse o mais propício mesmo para festas, mas tenho certeza que a melhor homenagem à ambos seria uma corrida cheia de lances e disputas.

Não tem problema, fica para a próxima. Em solo indiano, fica para o ano que vem, até porque o circuito indiano parece ser um daqueles que vem para ficar.

A gente se vê no lusco-fusco de Abu Dabhi.

Um abraço.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

3 Responses

  1. lsussumu says:

    Mtooo boa a matéria!!! Nao consegui assistir, mas pela matéria deu para se ter uma ideia de que…nao perdi nada.

  2. Fábio A. says:

    Felipe Massa mostando que a cada corrida ele vai se equiparando cada vez mais ao Graaande Barrichello!!

    Está cada vez mais medíocre e colocando a culpa em tudo e em todos, menos nele!!

    Tá na hora de ele sair e vir pra Stock Car e ver se consegue algo…

    E o Schumacher mais uma vez mostrou que ainda tem bala na agulha!! =)

    E o Bolão pelo jeito vai ficar bem embolado!!

    Estou ansioso pelo resultado parcial!!

    Laurão, mais uma vez, Parabéns pela ótima narrativa!!

    Abraços!!

    Vamo que vamo!!

  3. Wesley says:

    O Massa acabou depois de abrir passagem para o Alonso no ano passado.

    Já se fala na não renovação dele com a Ferrari, o que será dos brasileiros da F1?

    Abraços

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