A grama de Hamilton


Lewis Hamilton mostrou que, no seu jardim, a grama é mais verde. Bateu Rosberg no treino com uma volta incrível e segurou o amigo com pneus inferiores no final da prova. Agora líder, quem segura rapaz?

Falta atrito? Os prateados voam

Três semanas e voltamos com a temporada europeia da Fórmula 1 com uma série de novidades. Quase todo mundo teve tempo para mexer nos carros, teve gente que conseguiu mudar a aerodinâmica, reduzir até o peso do chassis, calibrar a suspensão, mas… Bom, vamos deixar os resultados para lá agora e vamos focar no treino primeiro.

Não me lembro bem qual dos treinos livres, mas sei que foi na sexta-feira, em que o carro se revoltou com o piloto. Explico: Sergio Pérez vinha com sua Force India pelo treino quando o retrovisor esquerdo se soltou, ficando preso apenas pelo cabo de aço que é obrigatório por segurança. Aí, com o vento, o retrovisor pegava impulso e dava cada “catiripapo” na mão do mexicano que ele teve que reduzir a velocidade para dirigir com uma das mãos apenas, enquanto a outra domava o aparato revoltado. Hilário, e deve ter doído.

Outros dois casos dignos de nota. Um, que rendeu até penalidade, foi a roda que se soltou da Toro Rosso de Jean-Eric Vérgne durante o treino, sem atingir ninguém, e dando ao francês a oportunidade de largar dez posições mais atrás. O outro, Vettel, que enfrentou problemas sérios na sexta-feira e quase não andou.

Todo mundo já havia notado a pista um tanto escorregadia e criticado a escolha da fornecedora de pneus para os compostos do final de semana. O desempenho que mais chamou a atenção foi o de Fernando Alonso no terceiro treino livre, quando conseguiu ficar a menos de maio segundo de uma das Mercedes, o que lhe deu o terceiro lugar na ocasião.

Valendo o Q1, bastaram cinco minutos para que o Pastor não conseguisse controlar o rebanho e acertasse o Lotus #13 no muro, encerrando sua tomada de tempo. Além dele, Adrian Sutil é outro que vem se tornando figurinha fácil das últimas posições, a frente apenas do “quarteto em ré”.

Grosjean quase teve uma recaída.

No Q2, Vérgne acabou nem fazendo tempo, já que não via bons tempos por parte do companheiro Kvyat e, como perderia dez posições, acabou deixando pra lá. O curioso é que, com o 16º tempo, Vérgne ainda fica devendo 4 posições para pagar no próximo GP, que será em Mônaco. Acho, particularmente, que não foi um bom negócio. Assim, os dois Toro Rosso ficaram na segunda parte do treino, juntamente com Esteban Gutiérrez, Kevin Magnussen e os dois carros da Force India, Pérez e Hülkenberg.

Alguma dúvida sobre de quem seria a pole?

Bom, Rosberg, a exceção do primeiro treino livre, foi quem deu as cartas na pista espanhola até a hora do Q3. E os adversários, a exceção do companheiro Hamilton, não ameaçavam. Um deles, Vettel, acabou ameaçando menos ainda, sendo forçado a abandonar a fase final do treino com a quebra de câmbio do Red Bull. Com a troca do componente, mais cinco posições de penalização, ou seja, um décimo quinto lugar e só.

Massa e Bottas pareciam ter chances reais de ficaram entre os cinco mais rápidos. Bottas conseguiu o quarto tempo, mas Massa errou na última volta cronometrada e acabou ficando com o nono lugar, atrás de Button. Todo mundo esperava Fernando Alonso em terceiro, mas o espanhol, dentro de sua própria casa, ficou atrás de Raikkonen, em sétimo lugar. Em terceiro ficou Ricciardo, afinal, alguém tinha que fazer as honras da Red Bull. Mas, então, quem foi o quinto? Surpresa geral (ou não mais), Romain Grosjean se infiltrou entre os grandes e o carro de bico dividido começou a dar sinais de recuperação nas mãos do francês.

A pole, como tem acontecido, veio em tons de prata, mas com uma disputa muito acirrada, e que mostrou que Lewis Hamilton é mesmo o cara mais rápido do grid hoje. Não que Rosberg não tenha rivalizado a altura, mas a velocidade pura do inglês foi mais uma vez decisiva. Nico até fez a pole uma vez, Hamilton foi lá e baixou o tempo. Rosberg então fez uma volta incrível, 1’25’’400, mas ainda faltava Hamilton fechar a volta. E, por 168 milésimos, o inglês fez a pole mais uma vez, o que, aparentemente, abateu Rosberg.

Falta emoção? Os prateados não perceberam

Rosberg sabia que teria que fazer uma largada impecável e tentar reverter a vantagem de Hamilton logo de cara, mas ninguém combinou isso com o inglês, que pulou na frente sem dificuldades. Rosberg se manteve em segundo e Bottas conseguiu ganhar a posição de Ricciardo. Para segurar a quinta posição, Grosjean fritou os quatro pneus e quase fez lembrar o maluco da primeira volta de outros tempos, mas se manteve firme e não tocou em ninguém. Massa também conseguiu ganhar uma posição. Maldonado, nem completou a primeira volta e já tinha acertado uma Caterham, ao que o julgamento dos comissários entendeu valer 5 segundos a mais nos boxes durante uma eventual parada.

Ricciardo e Bottas era a briga que chamava a atenção enquanto a diferença entre os líderes, já anos-luz da Williams e da Red Bull, variava entre dois e três segundos. Alonso continuava atrás de Raikkonen e ambos atrás de Grosjean.

Ricciardo volta ao pódio, sem desclassificação desta vez.

Ricciardo volta ao pódio, sem desclassificação desta vez.

Vettel foi quem abriu os trabalhos de box parando na volta de número #13 ainda lá atrás, em décimo segundo. Voltou em último. Ricciardo, o companheiro sorridente e rápido parou três voltas depois ainda sem ter conseguido recuperar a terceira posição sobre Bottas. Grosjean e Massa pararam na volta seguinte ao australiano. Mas o que mais chamava a atenção era que, na volta dezesseis, a diferença de Rosberg, o segundo colocado, para o terceiro, Bottas, era de vinte e um segundos, e para Raikkonen, o quarto então, trinta segundos. É chão, como se diz popularmente.

Tudo ia se mantendo igual e todos queriam saber se Hamilton pararia primeiro que Rosberg, como era de se esperar. E foi o que aconteceu; Hamilton parou, tomou um suco, deu uma olhada na primeira página de notícias da internet e voltou ainda em segundo. Só que Rosberg fazia, na pista, a melhor volta da prova. Além disso, o alemão ficou mais tempo na pista e quando foi para os boxes optou pelo composto mais duro, deixando os pneus médios e mais velozes para o final, uma tática diferente de Hamilton. Só não deu para voltar a frente como gostaria, mas pelo menos a distância se manteve na casa dos três segundos.

Ricciardo recuperou o terceiro lugar quando Bottas fez a sua parada e Vettel já era o nono colocado com um terço da prova percorrido.

Raikkonen, ainda a frente de Alonso, tenta a ultrapassagem sobre Grosjean, mas o menino estava muito bem hoje e não facilitou a ultrapassagem, se mantendo a frente naquele momento. Raikkonen tentou de novo, na volta seguinte, e aí conseguiu ultrapassar a Lotus #8. Alonso, já impaciente e caçando o finlandês, fez o mesmo rapidamente.

Ainda antes da metade da prova, Massa era o único que já tinha feito duas paradas, tentando uma mudança de estratégia que pudesse o levar a somar mais pontos. Bottas seguia firme na quarta posição, e isso dava a dimensão de quão dura estava sendo a prova do brasileiro.

Faltam adversários? Os prateados não se importam

Quando começaram as segundas paradas da maioria dos pilotos, Grosjean já não tinha o mesmo rendimento e começou a cair na classificação. Raikkonen seguia na frente de Alonso, e já era Vettel quem aparecia na cola de ambos. Na vez da segunda parada de Hamilton, de novo Rosberg tentou tirar a diferença na pista, mas o trunfo do alemão seria mesmo contar com os pneus mais macios para o último trecho. E assim foi.

Faltavam ainda mais de quinze voltas e Rosberg tinha um rendimento melhor que Hamilton e fazia de novo as melhores voltas da prova. A diferença, que chegou a subir para mais de quatro segundos, baixou para a casa dos três e vinha caindo. Parecia que o final da prova seria como no Bahrein, com ambos colados e trocando ultrapassagens.

Antes disso, ainda foi possível ver Vettel subir de posição deixando os dois carros da Ferrari para trás. Ah, Alonso, também com estratégia de uma parada a mais do que Raikkonen, conseguiu se recuperar no final e deixou o finlandês para trás. Só que Vettel é Vettel, tetracampeão, e queria mais que o quinto lugar. Mais um pouco e tratou de deixar Bottas no chinelo (trocadilho horrível) e chegar ao limite do dia, logo atrás dos que tomam champanhe.

Últimas voltas e Rosberg chegou a diminuir para menos de um segundo a diferença para Hamilton. O inglês parecia que tinha uma reserva e voltava a abrir. Rosberg não desistia, baixava o tempo de novo, mas Hamilton mantinha uma distância segura e, auxiliado pelos retardatários, seguia firme para a vitória. Nas três derradeiras voltas, caminho livre entre os dois mas, desta vez, não foi igual no Bahrein como gostaríamos de ver.

Hamilton venceu a quarta corrida seguida, seis míseros décimos de diferença de Rosberg, mas o suficiente para atrapalhar bem a cabeça do amigo e rival alemão. Depois deles, com o “dia escurecendo”, cruzaram Ricciardo, Vettel, Bottas e Alonso. A noite, (entenda-se uma volta atrás), cruzaram Raikkonen, Grosjean, Pérez e Hülkenberg, estes últimos até protagonizaram uma boa disputa durante toda a prova e Pérez deu trabalho ao queridinho de 2013. Massa foi apenas o décimo terceiro, atrás dos carros da McLaren.

Hamilton foi cruel com Rosberg.

Hamilton foi cruel com Rosberg.

Com este resultado, Hamilton tirou os 25 pontos que tinha de desvantagem para Rosberg e ainda abriu mais três, compostos pelas 4 dobradinhas em que bateu o companheiro multiplicada pelos sete pontos que separam a pontuação do vencedor e do segundo colocado. Ambos, somam avassaladores 197 pontos para a Mercedes, uma diferença de 113 para a Red Bull, a segunda colocada no momento. Mas, nem Vettel e nem Ricciardo estão em terceiro no mundial de pilotos, e sim, Alonso, com quase metade dos pontos de Hamilton.

Palpitando:

– Nico Rosberg precisa tentar desestabilizar Hamilton psicologicamente, mas como fazer isso se ele é um bom moço e amigo do adversário? Neste quesito, Nelson Piquet poderia ser seu consultor;

– A Force India correu com novo patrocínio no carro, de uma marca de vodca. Somado ao patrocínio da Williams, torço para que Kimi Raikkonen não tenha uma recaída, porque se depender da oferta…;
– Vettel fez um corridaço hoje, mas foi legal ver a corrida de Grosjean também, que mais limitado em termos de equipamento (e de talento), fez um honroso oitavo lugar e marcou os primeiros pontos para a Lotus neste ano;

– Ricciardo, depois do terceiro lugar desclassificado da Austrália, abandono na Malásia e dois quartos lugares seguidos (Bahrein e China), voltou ao pódio. Cinco corridas, quatro ótimos resultados e um abandono por falha mecânica. Bem melhor do que o esperado, não?
– A disputa Alonso x Raikkonen só deu o ar da graça hoje, e Alonso levou vantagem. Mas Raikkonen deve se acertar mais ainda com o carro até o meio do campeonato. O problema para ele é que, até lá, Alonso deve estar longe na classificação;

– A Williams não andou para trás, Massa sim. Pelo menos neste final de semana;

– Por falar em Williams e em Felipe, o piloto reserva da Williams, Felipe Nasr venceu sua primeira corrida na GP2 este final de semana. Para os torcedores brasileiros da Fórmula 1, é preciso uma transição entre a saída de um Felipe e a chegada de outro, e esta vitória foi muito importante para que isso comece acontecer com naturalidade;

– A Mercedes aumentou a diferença para as demais equipes em pontos, mas foi em desempenho que o abismo se tornou buraco negro. Para as demais, como buscar motivação para mais 14 etapas?

Vem agora um GP atípico, o de Mônaco, com suas joias e riquezas, histórias e guard-rails. Será que a série de recordes da Mercedes vai ser ampliada ou vamos ter gente diferente nos primeiros degraus do pódio? Na minha opinião, só por ser Mônaco, já vale a pena acompanhar.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

2 Responses

  1. Glauco de F. Pereira says:

    Alguém duvida de Hamilton em Mônaco? Difícil…

  2. lsussumu says:

    Esse ano a Mercedes está dominando, ano que vem será que o dominio será da McLaren??? A unica coisa que falta esse ano é o ronco do motor. Como sempre um otimo texto Lauro! Esse ano vai ter encontro no salão do automovel?

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *