Só muda o acompanhamento
Mais uma dobradinha da Mercedes, mas agora quem subiu ao pódio com eles foi Romain Grosjean. Vettel seria terceiro, mas pagou o preço por apostar demais nos pneus.
Tirou onda
Como é bom tirar férias! Todo mundo gosta e todo mundo volta falando novidades, por onde andou, o que fez, etc. Das atividades “extra-classe”, ou “extra-pista”, quem mais sofreu foi Jenson Button. E não foi por ter ficado testando seu McLaren não. O inglês, junto com a esposa e alguns amigos, foram sedados por gás enquanto passavam férias em Saint Tropéz e tiveram vários pertences roubados. Que situação!
Já Hamilton curtiu todas que podia. Líder do campeonato, parecia nem se preocupar com muita coisa além de se divertir ao máximo.
Durante o período em que os times trabalham muito em suas sedes para tentarem trazer novidades efetivas para, quem sabe, tentarem uma reviravolta na segunda metade do campeonato, a expectativa dos torcedores é de que algo realmente mude. A FIA, parece que sem confiar muito que na pista as coisas mudariam, resolveu agir e, como principal mudança no procedimento de largada, direcionando ao piloto a responsabilidade de acionar os comandos de embreagem, o que gerou opiniões diferentes entre os pilotos. Vettel, por exemplo, acha que este não é o caminho para tornar a corrida mais dinâmica. Já Rosberg acha que isso será interessante. Ai Rosberg, mal sabia o que a largada lhe reservava.
Mas, afinal, o que a pausa das férias proporcionaria ao campeonato?
Rosberg começou dominando os treinos de sexta-feira, mantendo Hamilton sob controle. Mas controle mesmo ele teve que ter quando o pneu traseiro estourou logo após a Eau Rouge, em uma das sessões. A grande surpresa foi a Red Bull, andando bem com Ricciardo e Kvyat, a frente dos carros da Ferrari, e muito à frente dos carros da Williams, que começaram o final de semana decepcionando muito. As surpresas eram os carros da Force India e Lotus, se embolando com os demais na busca de uma boa colocação na largada.
Na “hora da onça beber água”, mais uma vez, deu Hamilton. Fácil, mais de meio segundo sobre o companheiro Rosberg e anos-luz na frente da concorrência. Em terceiro, em um lampejo de recuperação, a Williams colocou o carro de Bottas, ou melhor, Bottas colocou o carro da Williams na segunda fila e teve ao seu lado um surpreendente Grosjean, provando que a Lotus iria incomodar as demais em Spa. Pena que o francês teve que trocar a caixa de câmbio e perdeu cinco posições, largando em nono, e favorecendo ainda mais a outra surpresa da classificação, Sergio Pérez. O mexicano colocou a Force India, que tradicionalmente anda bem em Spa, na segunda fila, com o benefício da punição de Grosjean.
Seguindo a tendência apresentada, Ricciardo herdou a quinta posição e Massa a sexta, ambos a frente de Maldonado e Vettel, que confessou ao final do treino que não entendeu a falta de rendimento de seu Ferrari no Q3. Carlos Sainz Jr foi o décimo.
Nomes como Hulkenberg e Raikkonen, e o próprio Kvyat, acabaram não conseguindo vaga para o Q3. O caso mais sentido foi de Raikkonen, cujo carro travou no Q2 e deixou o finlandês a pé e com a décima quarta posição apenas. Hülkenberg e Kvyat foram décimo primeiro e décimo segundo respectivamente.
Os carros da Sauber ficaram para trás de novo, e tinham perspectivas de se darem bem, mas não foi nada como o esperado, de novo. E, por falar em esperado, o drama da McLaren continuou, e bravo. Apesar de ambos terem feito tempos mais rápidos que os carros da Manor (pelo menos isso), as punições de ambos, por trocarem motor, câmbio, unidades de força e de sei lá mais o que, renderam a ambos 50 e 55 penalidades em posições no grid para Button e Alonso, respectivamente. Olha que, com mais algumas posições, quem sabe é mais fácil trocar de carro e ficar duas corridas de fora. Verstappen também foi punido, mas com 10 posições apenas.
Pérez (quase) na ponta
Se Rosberg apostava que Hamilton poderia se embananar com o “desembraio” e assim pular na ponta, foi justamente ele que teve uma largada muito ruim, caindo para a quinta posição. Surpreendente foi Sergio Pérez, que ameaço tomar a ponta de Hamilton logo depois da Eau Rouge, porém, sem sucesso. E uma pena para o outro Nico, Hülkenberg, que sequer conseguiu completar três voltas, tendo provocado inclusive uma nova volta de apresentação e largada, reduzindo a corrida em uma volta. Seria corrida para o alemão pontuar, sem dúvida, mesmo vindo do meio do pelotão.
Mais uma baixa logo no começo foi o abandono de Pastor Maldonado, se bem que ele abandonando significa muitas vezes que teremos mais carros chegando ao final da prova.
Enxugado o veneno, Hamilton abria e Pérez o seguia, um pouco distante, mas não tanto assim, enquanto Rosberg já superara Bottas e tinha Ricciardo em sua alça de mira. Nesta altura, as Williams já demonstravam uma certa apatia e vinham em sexto, com Bottas, enquanto Massa era apenas o nono.
Bastou a primeira rodada de pit-stops para que Rosberg figurasse na segunda posição, reestabelecendo a ordem natural da cadeia alimentar deste ano. A única coisa que não era natural era o Williams de Bottas com três pneus macios e um médio, ou seja, três amarelos e um branco! Uma tremenda errata que custou ao finlandês apenas um drive-thru já que é proibido pelo regulamento, mas o preço mais caro foi para o time, protagonizando um dos maiores micos da história do automobilismo. Ah, e não mudou nada o rendimento da Williams.
Com as paradas, cresciam na prova Rosberg e Grosjean, ambos tirando diferença de Hamilton e Ricciardo, respectivamente. Não demorou muito para o australiano perder a posição para o piloto da Lotus, enquanto Hamilton mantinha Rosberg sob controle. Grosjean aproveitou e passou por Pérez também, assumindo a terceira posição no momento. Perdendo posições, Ricciardo abandonou de vez na metade da prova com problemas hidráulicos e deixou o carro na entrada da reta, fazendo com a direção de prova acionasse o safety-car virtual. Momento para muitos aproveitarem e fazerem suas segundas paradas.
Até o osso
Enquanto retiravam o carro de Ricciardo e o pessoal voltava de suas trocas, Vettel apareceu na terceira posição exatamente por optar em permanecer na pista com os pneus usados. O ritmo era bom, não havia motivo aparente para uma nova troca e, com um pit-stop a menos, o alemão poderia conseguir mais um pódio na temporada.
A ameaça vinha de trás e se chamava Kvyat. Além da chuva, que se aproximava do autódromo, o russo vinha em um bom último terço de prova e superou Raikkonen e Massa, para logo depois deixar também Pérez para trás. O mexicano estava com baixo rendimento e ficou embolado com Massa, que não conseguia ultrapassá-lo.
A prova foi cheia de lances interessantes no meio do pelotão, com disputas lado a lado a centenas de quilômetros por hora. Mesmo assim, não se pode dizer que o grande prêmio belga deste ano foi aquele “estouro” como costuma-se dizer. Só para Vettel.
O que parecia caminhar para uma tranquila terceira posição atrás de mais uma dobradinha da Mercedes foi por “Eau” abaixo quando o pneu traseiro direito do alemão foi pelos ares logo depois de ele completar a fascinante e perigosa curva da água vermelha. Com jeito, Vettel controlou a Ferrari e conseguiu levá-la aos boxes para a última volta, mas acabou ficando fora dos pontos. Poderia ter sido muito diferente e muito perigoso se este episódio tivesse acontecido no meio da curva. E deu muito o que falar depois da prova, uma verdadeira troca de acusações entre Ferrari e Pirelli, que não deve acabar em pizza tão facilmente.
Com imensa vantagem, os dois carros da Mercedes cruzaram a linha de chegada para mais uma dobradinha, seguidos por Romain Grosjean, que voltou ao pódio depois de muito tempo e tinha motivos para comemorar. Kvyat foi o quarto, com Pérez logo atrás dele. Massa, como não conseguiu passar o mexicano, foi apenas o sexto, exatamente a posição que largou, seguido de Raikkonen, Vertappen, e do seu companheiro de sapatos trocados Bottas. Marcus Ericsson (olha o cara ai marcando ponto de novo) fechou os dez primeiros colocados a frente de Felipe Nasr. Vettel foi apenas o décimo segundo.
Curiosa a classificação do campeonato atualizada. Mercedes, Ferrari, Williams e Red Bull colocam seus dois pilotos, nesta ordem, nas primeiras oito posições. Hamilton abriu agora 28 pontos sobre Rosberg, enquanto Vettel tem praticamente o dobro de pontos de Raikkonen. Na Williams, Massa aparece na frente de Bottas, mas o finlandês tem uma corrida a menos, lembram? Já na Red Bull, Kvyat deixa Ricciardo para trás. Grosjean e Verstappen são nono e décimo colocados. Não precisamos, portanto, falar das equipes.
Ao desligar dos motores …
– Vettel e a Ferrari reclamam que não foram avisados que os pneus estavam em estado crítico. Quem deveria dar o aviso era alguém ligado ao fabricante que estava em Spa. Um acidente poderia ser sério. Mas o risco, quem assume, é o piloto, em minha opinião. Hamilton perdeu em Mônaco por que, lembram? Então, para mim, a reclamação não procede;
– A novela Bottas na Ferrari acabou. Pelo menos para 2016. A equipe italiana renovou com Raikkonen e encerrou rumores. Nem foi novela, foi uma minissérie finlandesa;
– Button pode ser sacado da McLaren por motivos financeiros da equipe. Quem diria…;
– Rosberg vai ser papai e parece cada vez mais focado nisso. Em que se respeite a gravidez de risco de sua esposa e a atenção do alemão com ela, parece que o caminho de Hamilton para o tri está sólido (como se já não estivesse);
– Chances de Vettel para um eventual pentacampeonato? Bom, matematicamente há chances. Faltam 8 provas e a diferença é de 67 pontos. Alguém acredita nessa matemática?
– Este final de semana, em um acidente tirou a vida do ex-piloto de Fórmula 1 Justin Wilson, que disputava a Fórmula Indy atualmente. Wilson correu pela Minardi e pela Jaguar onde foi companheiro de Mark Webber. Vindo no meio do pelotão, Wilson acabou colidindo com destroços do líder da prova, que havia batido no muro segundos antes. O impacto, diretamente no capacete de Wilson, o deixou sem sentidos e ele ainda foi bater no muro de proteção do lado interno do circuito. Provavelmente, com a violência do impacto, Wilson teve morte imediata, mas ainda foi levado para o hospital onde veio a falecer no dia seguinte. A dinâmica do acidente reascende a discussão sobre proteção a cabeça dos pilotos que, neste caso, teria evitado a tragédia. Muito triste.