Só no karaokê


Rosberg desperdiçou a chance de um melhor resultado já na primeira curva e Hamilton voltou a vencer, disparando no mundial. Vettel foi terceiro, mas o destaque mesmo foi o chilique de Alonso.

Esses meninos…

Cingapura deixou uma pulga atrás da orelha da Mercedes a respeito do desempenho da Ferrari na corrida noturna. Qual era a verdadeira força do time de Maranello? Será que a evolução apresentada era definitiva e ameaçaria o título de Hamilton (ou de Rosberg)?.

O suspense ficou para o segundo treino livre, já que no primeiro foi marcado pela chuva e uma improvável primeira fila que ficaria com Carlos Sainz Jr, da Toro Rosso, e o russo Daniil Kvyat, da Red Bull. Veio então o segundo treino livre, ainda com pista úmida, e Daniil Kvyat foi o mais rápido, seguido pelas Mercedes, enquanto os dois carros da Ferrari estariam apenas em uma terceira fila.

Veio então o terceiro treino livre e nada da Ferrari mostrar a mesma performance da pista cingapuriana. A Mercedes, por sua vez, voltou a dar as cartas, e desta vez com Rosberg fazendo o melhor tempo. A Ferrari caiu ainda mais, isso porque a Williams, que havia começado mal o final de semana por causa da água, melhorou muito. É que o apelido de Cascão não combina com um carro branquinho daquele jeito, mas o temor pela água parece ser o mesmo.

Parece que não haveria surpresa, apesar dos meninos Verstappen e Kvyat estarem muito lépidos. Só que Kvyat, que vinha mostrando ótimo desempenho nos treinos mais uma vez, acabou rodando e ficou atravessado no meio da pista, o que lhe rendeu uma punição de lugares no grid por não seguir o protocolo de segurança da categoria, caindo no grid. Isso beneficiou os carros da Sauber, que se juntaram aos carros da Manor lá atrás, de novo.

Jenson Button também caiu no Q1. O inglês foi muito assediado pela imprensa neste final de semana porque, dizem nos bastidores, está encerrando sua carreira na Fórmula 1 no final deste ano. Iria confirmar na entrevista coletiva mas não o fez. Iria anunciar durante os treinos, mas também não. Ele está cansado de ficar lá atrás.

Daniil Kvyat estava fazendo um bom treino, até que deu nisso.

Daniil Kvyat estava fazendo um bom treino, até que deu nisso.

Não menos cansado, Fernando Alonso também não conseguiu nada de bom, ficando apenas uma posição a frente de Button, mas a diferença em tempo foi muito grande.

Ficaram pelo meio do caminho no Q2 Carlos Sainz Jr, Pastor Maldonado e Nico Hülkenberg, e este último ainda sofreu aquela punição pelo acidente com Felipe Massa no último GP. Após ver o vídeo, assumiu que errou e ficou bem na foto. Se a moda pega, sempre vai ter aquele discurso do “eu fui na bola e acertei a perna dele depois, e o juiz exagerou na minha punição”.

Na última parte do treino, Rosberg vinha se firmando na pole position, mantendo Hamilton em segundo sob controle. A Ferrari brigava com a Williams pela segunda fila, e quando todos iam para suas voltas finais, veio um grande susto, com Daniil Kvyat.

Com todos em volta rápida, o russo perdeu o controle da sua Red Bull, escapou e foi escorregando até atingir a proteção de pneus com violência e acabou capotando, dando um giro completo em seu eixo, mas caindo com o assoalho no chão. Saiu andando e, mais tarde, admitindo que estava mais desapontado que dolorido. Acabou ficando com a décima posição apenas, atrás de Sérgio Pérez, que também não havia marcado tempo no Q3 até então.

Daniel Riciardo e Romain Grosjean fizeram por onde dividir a quarta fila. Bom resultado para ambos. Nas três primeiras filas, Mercedes, Ferrari e Williams se acertaram, com a equipe prateada voltando ao controle da primeira fial, só que agora com Rosberg, como dissemos. Valteri Bottas voltou a incomodar e teve a honra de ser o melhor do resto, a frente de Vettel, apenas o quarto desta vez. Massa e Raikkonen, separados por 10 milésimos, ficaram com a terceira fila.

Estabilidade de Hamilton em jogo? Uma parada a menos para a Ferrari? Chuva? Perguntas respondidas a seguir.

Hamilton foge cedo

A primeira coisa que se pode observar foi a falta da chuva. Vamos combinar que, se ela tiver que cair no final de semana de um GP, que seja no domingo, porque diverte mais que no treino.

Largar nunca é um bom negócio. Ser atingido só torna as coisas piores.

Largar nunca é um bom negócio. Ser atingido só torna as coisas piores.

Em Suzuka, pista antiga, tradicional, você espera que a largada seja tranquila, um ou outro perca posição e que se forme o “trenzinho” antes da sequência de curvas em “S” logo a frente. Se é para acontecer alguma coisa, tem circuitos mais propensos para isso. No entanto, a largada no Japão foi tumultuada e deixou alguns protagonistas bem para trás.

As duas maiores vítimas da largada foram Massa e Ricciardo. O brasileiro largou mal e já perderia posições importantes mesmo se não fosse tocado. Acontece que o piloto da Red Bull vinha com mais ação, e quando já ultrapassava o carro da Williams, houve um pequeno atrito entre ambos, furando imediatamente um pneu de cada, o dianteiro direito do carro de Massa e o traseiro esquerdo de Ricciardo. Massa começou a se arrastar ainda pela reta, soltando faísca por todos os lados, esmerilhando o assoalho, enquanto Ricciardo conseguiu se arrastar mais rapidamente para os boxes. Conseguiram voltar para a prova, só que o brasileiro perdeu uma volta completa em relação aos demais e voltou em último, distante do pelotão.

Mas ainda teve um outro enrosco entre Sergio Pérez e Carlos Sainz, que provocou a escapada de pista do mexicano, só que sem prejuízos funcionais aos carros. O pneu do carro da Toro Rosso ficou praticamente sem o nome do fabricante.

Lá na frente, Hamilton mostrou em uma manobra apenas, toda sua superioridade sobre Rosberg. Largando melhor, o piloto do carro #44 emparelhou com o companheiro e foi contornado as duas pernas da primeira curva sem deixar espaço para Rosberg que, espremido, saiu do traçado e foi ultrapassado de uma só vez por Vettel e Bottas. Sim, Vettel já na frente de Bottas também. Alonso, e em especial Hülkenberg, fizeram ótimas largadas e já foram para a nona e oitava posições respectivamente.

Depois de algumas voltas, a primeira briga entre conterrâneos: Carlos Sainz Jr deixou Alonso para trás na reta dos boxes, enquanto seu companheiro de equipe travava uma bela disputa contra Nasr e Button. Essa disputa rendeu um dos melhores momentos da corrida, quando ambos chegaram em Button na reta e cada um dos meninos foi para um dos lados, deixando Button no meio. Melhor para Nasr, que conseguiu não só ultrapassar o inglês, como também se defender do ataque de jovem holandês. Aliás, este foi o maior trabalho de Nasr no começo da corrida, pois o oponente estava alucinado (como sempre) logo atrás. Me chamou a atenção como o carro de Verstappen anda no limite o tempo todo, porque balança bastante a cada reaceleração e troca de marcha.

Pouco mais a frente de ambos, o companheiro de Nasr, Marcus Ericsson, rodou sozinho na curva Spon, mesmo lugar em que também escapou no treino, e permitiu a aproximação e ultrapassagem do brasileiro, que foi para os boxes junto com Button logo em seguida.

Dos ponteiros, quem parou para troca de pneus primeiro foi Bottas. Kvyat, que vinha com o carro todo arrumadinho depois da capotagem do sábado, já havia parado antes (voltou para colocar mais um pedacinho de durex que faltou, acho).

Hamilton e seus passeios dominicais.

Hamilton e seus passeios dominicais.

Vettel, Raikkonen, Rosberg e Hamilton também fizeram suas paradas nas voltas seguintes. Rosberg voltou mais próximo de Bottas e conseguiu a ultrapassagem na freada da famosa chicane que antecede a reta dos boxes, onde dois grandes se enroscaram um dia, um foi empurrado, o outro virou campeão, e etc, etc, etc… Na minha opinião, vacilo total de Bottas, que deixou a porta aberta.

Em outro encontro de conterrâneos algumas voltas depois, foi a vez de Raikkonen chegar em Bottas, mas o piloto da Ferrari não conseguiu a ultrapassagem logo de cara. Parecia meio afoito atrás de Bottas, permitindo que o piloto da Williams se sustentasse por mais tempo, e só conseguiu efetivamente ganhar a posição quando da segunda parada cada um.

Desdém

Max Verstappen era o mesmo cara aguerrido de sempre. Prestes a completar dezoito anos por estes dias, o menino atacava Alonso sem dó. Com experiência, Alonso segurava o ímpeto do garoto até que, quando conseguiu acertar a entrada da reta dos boxes mais colado no espanhol, Vertappen realizou uma bela ultrapassagem por fora na curva 1. Ai, Alonso foi a loucura e, pelo rádio, disse em alto e bom som, em tom de desabafo, que seu carro tinha motor de GP2. Na casa da Honda, isso deve render um monte para esta semana. Caso pensado, como sempre, e nem o samurai que tem tatuado em suas costas deve amenizar o insulto que cometeu ao menosprezar o equipamento. Ele não mentiu, de fato, mas sempre existem formas e formas de se falar algo assim grave e é sabido que Alonso gosta de “jogar para a torcida”. Pior que isso, só desafinar no karaokê.

O esculacho de Alonso trouxe assunto para a corrida que seguia meio monótona. O outro espanhol, Carlos Sainz, até que tentou fazer algo para também mexer com a corrida, atropelando um cone na entrada dos boxes e jogando detritos na pista. Isso poderia provocar um safety-car, como pediam alguns pilotos pelo rádio, mas os bravos fiscais japoneses realizaram a limpeza sem que ninguém notasse, a não ser o público que estava de frente ao ocorrido e que, educadamente, aplaudiu a coragem dos mesmos. Como eu sei disso se não mostrou na TV? Ora, temos internet, instagram, twitter, facebook e tantos outros meios de comunicação que não é difícil ter algum espectador na arquibancada nos informando.

Vettel foi para a segunda parada e entrou travando tudo para não perder um milésimo de segundo, apesar que uma punição poderia estragar a corrida de maneira ainda pior. Entregou os pneus recém lixados mas mesmo com um excelente trabalho da equipe acabou voltando na terceira posição atrás de Rosberg.

Recuperado na corrida mas muito longe de Hamilton, Rosberg contabilizava sete pontos de prejuízo. A situação poderia ter sido ainda pior se o alemão tivesse perdido tempo atrás de uma fila de seis carros retardatários da qual se aproximava, trazendo Vettel logo atrás. Nas negociações, nenhuma surpresa, e Rosberg conseguiu segurar a posição com tranquilidade.

Molecagem para cima de Fernando Alonso, mas o desabafo dele foi mal educado.

Molecagem para cima de Fernando Alonso, mas o desabafo dele foi mal educado.

Faltando poucas voltas para o final, parecia que um ninja tinha entrado na pista e, para não ser pego como o torcedor que fez isso em Cingapura, resolveu sumir em meio a uma cortina de fumaça. Na verdade, a tal cortina de fumaça foi fruto de uma rodada perigosíssima de Will Stevens, da Manor. O carro escapou na curva 130R (gosto desse nome, forte, como é a própria) e o inglês, na tentativa de segurar o carro acabou ficando por alguns instantes atravessado na pista, quase sendo acertado em cheio e em “T”, pelo próprio companheiro de equipe Alexander Rossi. Seria muito perigoso e de consequências possivelmente graves. Nenhum circuito merece dois anos seguidos de tragédia e, felizmente, ambos seguiram, lá atrás, até o final.

Na luta pelos pontos, Verstappen acabou ultrapassando o companheiro Carlos Sainz Jr e assumiu a nona posição para não mais perder, deixando seu companheiro com o “ponto de honra” do dia. Quando pede para ultrapassar, o Sainz ouve um “não”, quando está na frente, toma um passão. Vida dura para o espanhol tendo como companheiro de equipe o um cara como Verstappen.

Ao final, Felipe Nasr foi o único piloto a abandonar o GP depois de ter tido um começo de prova muito bom, mas cair de rendimento a partir dos pit-stops.

Com a vitória, Hamilton igualou a marca de 41 êxitos de seu ídolo Ayrton Senna e divide com ele o posto de quarto maior vencedor da categoria. Rosberg foi o segundo depois de um começo de prova medonho e só o conseguiu porque tem o melhor equipamento, senão não daria. Vettel tirou tudo que deu da Ferrari e chegou em terceiro apenas 2 segundos atrás de Nico. Raikkonen e Bottas vieram logo atrás.

Menção honrosa para Nico Hülkenberg que conseguiu um excelente sexto lugar depois de ter largado apenas em décimo terceiro, com punição e tudo. Sabe das coisas, sem dúvida. Atrás dele chegaram os dois carros da Lotus, Grosjean e Maldonado, que desta vez não fez mal para ninguém.

Melhoraram um pouco o troféu.

Melhoraram um pouco o troféu.

Ao desligar dos motores…

– O cicuito japonês não teve dois trechos para os pilotos abrirem a asa móvel porque a grande reta antecede justamente a curve 130R, onde Stevens rodou. Com a asa aberta, os comissários entenderam a probabilidade de acidente seria muito maior. Essa atitude dificultou as ultrapassagens na corrida;

– Alonso pode estar de malas prontas para outra equipe. Qual? Não sei. Na Fórmula 1? Também não sei. Mas com a contundência que ele disse o que disse, não deve ficar na McLaren. Ele foi contratado para um ano difícil, não para passar vergonha, mas falar o que falou foi forte;

– Queria Hülkenberg na Mercedes;

– A pergunta agora é onde Hamilton será campeão. Pode ser no Brasil, penúltima corrida da temporada e onde conquistou seu primeiro título. Seria especial para ele como fã de Ayrton Senna;

– A Ferrari pode fornecer motores para a Red Bull, mas essa quer os de primeira linha do time italiano. Foi ventilada a disposição do time ajudar Vettel na conquista do título este ano. Muita pretensão ou desespero mesmo?;

– Carlos Sainz Jr perguntou se poderia ir a festa de 18 anos do companheiro Max Verstappen. O que ele ouviu? NÃO, claro.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

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