E chega de não-me-toque


Hamilton arrisca ultrapassagem na última volta, mas Rosberg não evita o acidente e acaba fora do pódio. Verstappen e Raikkonen voltam ao pódio, enquanto Vettel lamenta o pneu estourado.

As zebras de Spielberg*

Em uma pista em que veados às vezes atravessam de um lado para o outro sem usar faixa de pedestres, o destaque do final de semana na Áustria foram as zebras altas que fizeram algumas vítimas, especialmente nas curvas que antecedem a reta dos boxes, o que gerou muitas críticas por parte da maioria dos pilotos.

Dentre as vítimas, a que mais teve penalidade foi Daniil Kvyat, que saiu forte no Q3 e provocou bandeira vermelha no final da primeira parte dos treinos. O russo tentava melhorar o tempo e pular para o Q2, o que não aconteceu. Outro que teve falha na suspensão de seu bólido foi Sérgio Pérez, que ofuscou o bom resultado do mexicano na corrida passada, de Baku.

E a Force India realmente estava andando bem na Áustria, assim como a Manor, empurrada pelo motor Mercedes. Quer dizer, pelo menos a Manor de Pascal Wehrlein, já que Rio Haryanto não conseguiu resultado muito significativo e ficou na companhia de Renault e Sauber no fundo do grid. No Q2, depois de ter conseguido o nono tempo no Q1, Wehrlein conseguiu cravar o décimo segundo tempo, o que já era um baita resultado.

E foi no Q2 que ficaram também os carros da Haas, Fernando Alonso e o outro carro da Toro Rosso, de Sainz Jr, também por problemas mecânicos. No caso do espanhol, o motivo foi o motor, que fumou bonito quando saia dos boxes para fazer sua volta.

Mas o Q3 foi de arrepiar por causa da precipitação atmosférica suave que ocorreu logo ao final do Q2. Os favoritos, sempre os carros da Mercedes para os quais não tem tempo ruim mesmo, mas a Ferrari também mostrou vontade de primeira fila, principalmente depois da dobradinha no terceiro treino livre.

Kvyat foi um dos que tiveram problemas com as zebras.

Kvyat foi um dos que tiveram problemas com as zebras.

Todo mundo de pneus intermediários e Vettel anotou primeiro o melhor tempo. Depois veio Ricciardo e, quanto mais os carros rodavam, mais a pista secava e a confiança em colocar pneus para seco começou a voltar. E foi com pouco mais de três minutos para o final do treino que todos resolveram apostar tudo nos slicks e foram para a pista para o tudo ou nada.

Hülkenberg deu toda a pinta que a pole ficaria com ele, anotou o melhor tempo já com pneus supermacios e, mesmo batido por Felipe Massa, voltou para a ponta com o cronometro zerado. Mas faltavam os demais pilotos completarem voltas lançadas e Lewis Hamilton foi quem acabou com a posição de honra do grid. O segundo tempo ficou com Nico Rosberg, mas o alemão teve que pagar uma punição de quatro posições (eram cinco inicialmente) pela troca de câmbio forçada pela batida no terceiro treino livre.

Desta forma, o outro Nico alemão, o Hülkenberg, largaria na segunda posição. Em terceiro, surpreendente, Jenson Button, com a McLaren gastando todas as fichas para desenvolvimento dos motores Honda, literalmente falando.
Vettel seria o quarto, posição que ficou com Raikkonen porque também foi punido por troca do câmbio, mas no caso dele, foram cinco posições, que é o normal. Ricciardo em quinto, Bottas em sexto, Max Verstappen em oitavo e em décimo Felipe Massa, só que o brasileiro largaria dos boxes por causa de um problema no bico do carro.
Final de classificação alucinante e dando uma bagunçada geral no grid, prometendo um GP de arrepiar.


Circuito legal, corrida legal

Hamilton segura a ponta. No pit-lane, Massa e Kvyat.

Hamilton segura a ponta. No pit-lane, Massa e Kvyat.


Pista seca no domingo para ver quem tinha mais garrada vazia para vender.

E o Pascal Wehrlein quase põe tudo a perder por um erro tolo. Logo após a volta de apresentação, Wehrlein, que estava imediatamente atrás de Felipe Massa no grid, ia alinhando o carro na décima posição ao invés da décima segunda. Por sorte, percebeu e, antes dos carros terminarem o alinhamento, consegui voltar de ré para sua posição de direito e, assim, não ser punido. Ainda bem que não esqueceu de engatar a primeira marcha ao apagar das luzes vermelhas.

Hamilton largou bem e segurou a posição, mas ao olhar pelo retrovisor já não via mais Nico nenhum. Quem aparecia era Button, com Raikkonen em terceiro. Hülkenberg caiu para quarto e Rosberg já pulava para a quinta posição. E não demorou para que os Nicos duelassem, com vantagem adivinha para quem? Rosberg, claro.

Daniil Kvyat nem teve tempo de aquecer o assento e abandonou logo de cara.

Com pneus supermacios, as primeiras paradas de box não deveriam demorar. Só que a corrida estava muito boa e ainda deu tempo de Raikkonen assumir a segunda posição de um combativo Jenson Button, que acabaria por perder também a posição para Rosberg.

O alemão da Mercedes foi um dos primeiros a fazer a parada e, quando foi a vez de Hamilton, a equipe se atrapalhou um pouco e devolveu o atual tricampeão atrás de Rosberg na pista. Em seguida, Raikkonen também parou e caiu para sexto depois de liderar por algum tempo. Assim, quem puxava o pelotão era Sebastian Vettel, sem fazer ainda seu pit-stop e andando de forma razoável.

Hülkenberg, coitado, já havia feito duas paradas e nada de Vettel vir para os boxes, até que o pneu traseiro do carro #5 da Ferrari estourou em plena reta dos boxes. Nada que Vettel pudesse fazer para evitar a batida da dianteira no guard-rail e se ver obrigado a abandonar a prova de maneira precoce. Rosberg já estava chegando em Vettel, conseguiu passar ileso ao lado da Ferrari, e Rio Haryanto teve que segurar um pouco para evitar um choque com o carro vermelho que terminava de parar ainda meio atravessado na pista.

Presentão para Vettel no seu aniversário.

Presentão para Vettel no seu aniversário.

Com a entrada do safety-car, teve início a procissão pelos boxes, inclusive com o mesmo puxando a fila pelo pit-lane para poder favorecer a limpeza da pista. Quem não entrou foi Felipe Nasr, que fazia uma corrida de apenas uma parada e, mesmo largando em último, chegou a figurar na oitava posição, segurando Button, Alonso e outros. Tem que fazer isso mesmo, aparecer na TV, e aproveitar que seu companheiro de equipe estava muito apagado.

Vaias, já ouvimos isso

No reinicio de prova, Rosberg conseguiu segurar a liderança e abriu um pouco. Hamilton não se fez de rogado e respondeu com a melhor volta da prova, ao que Rosberg fez a tréplica. Ambos protagonizavam as atenções de todos, e a distância entre eles variava um pouco, até que Rosberg deu uma erradinha e Hamilton colou de novo.

De repente, parecia que o embate não aconteceria porque com menos de um segundo entre eles, Hamilton vai para a sua última parada para troca de pneus e volta com pneus macios. Ainda dá uma pequena errada e vê Ricciado encostar perigosamente.

Na volta seguinte foi a vez de Rosberg, que voltou para a pista com pneus ultramacios usados, gerando até uma reclamação de Hamilton pelo rádio. O engenheiro respondeu claramente que era para ele pilotar que estava tudo no controle. Mais tarde, Hamilton não se arrependeria do pneu que calçava seu Mercedes nas voltas finais.

Rosberg, a curva é pra lá menino.

Rosberg, a curva é pra lá menino.

E a vitória, cairia no colo de Max Verstappen, que nesta altura era o líder da prova? Nada disso.

Rosberg chegava rápido no holandês, mas o Hamilton chegava rápido também em Rosberg. Ambos tiveram que negociar a ultrapassagem sobre o piloto holandês, com vantagem para Rosberg, que conseguiu deixar Verstappen entre ele e o companheiro de equipe. Quando o inglês conseguiu assumir a segunda posição, faltavam sete voltas e a diferença entre ambos era de 1.4s apenas.

O final da prova prometia uma briga forte pela vitória. Não sei se por isso, alguns pilotos resolveram assistir de camarote. Massa, Alonso e Hülkenberg abandonaram a poucas voltas do final.

Última volta e Hamilton chega de vez em Rosberg. A manobra foi na curva 2, com o alemão fechando o lado de dentro, mas Hamilton estava muito mais rápido e colocou por fora. Só que Rosberg “se esqueceu” de fazer a curva e tocou no carro de Hamilton, que chegou a sair da pista, mas voltou e se deparou com o carro de Rosberg soltando todas as faíscas do mundo com o bico avariado.

Na última metade da volta, Rosberg ainda perdeu o direito de beber champanhe (e de se atracar com Hamilton no pódio) ao ser ultrapassado por Verstappen e Raikkonen. Que final eletrizante, digno de NBA, que fez jus a uma corrida bem legal e que teve ainda dois outros destaques: Button e Wehrlein.

Button chegou em sexto lugar, logo atrás de Ricciardo. Fez um corridão e deixou Alonso cantando Dominó (tô P da vida…). E o outro grande nome foi Wehrlein, que marcou um ponto com a Manor, sem contar com quase nenhuma ajuda. Quase nenhuma porque Pérez teve, de novo, suspensão quebrada e abandonou na última volta, possibilitando o ponto do alemão.

Grosjean foi sétimo, uma boa corrida também, e foi seguido por Carlos Sainz Jr. e Valtteri Bottas.

No pódio, Hamilton foi vaiado, ao que respondeu na entrevista ainda lá de cima e em alto e bom som, que estava ali para vencer. O público o considerou culpado pelo acidente, mas claramente foi Rosberg quem forçou a batida, tanto que foi penalizado com acréscimo de 10s no seu tempo de prova e uma reprimenda dos comissários.
O campeonato embola de vez e semana que vem já tem corrida. E na casa de Hamilton.

Talhando o nome na categoria.

Talhando o nome na categoria.

Ao desligar dos motores…

– Carlos Sainz Jr renovou com a Toro Rosso, acabando com as especulações de seu nome na Renault ou na Ferrari para 2017;

– Felipe Massa parece que não tem mesmo mais lugar na Williams, mas se mostra tranquilo quanto ao seu futuro. Pode até ser na Fórmula E;

– Por falar em Fórmula E, os dois ex-pilotos da Fórmula 1 Sebastian Buemi e Lucas de Grassi, disputaram em Londres o título da temporada da categoria 2015-2016. A prova teve um acidente entre ambos na primeira curva e, com ambos empatados em pontos no campeonato, mas sem muitas chances de pontuar na prova, o título foi decidido em favor do suíço pois o mesmo marcou a volta mais rápida da prova, o que vale dois pontos. Acho estranho um campeonato ser decidido por uma melhor volta, mas…;

– Para o campeonato, a vitória de Hamilton traz mais interesse. Mas a Mercedes não gostou de como ambos conduziram a disputa. Mercedes, por favor, deixem os meninos brigarem;

– Vettel recusou uma camisa da seleção italiana, oferecida por uma repórter também italiana, depois do treino de sábado. O alemão disse para ela guardar para enxugar as lágrimas, referindo-se ao jogo das quartas de final da Eurocopa entre Itália e Alemanha. Era seu aniversário neste final de semana, mas ele não esperava mesmo era o presente que a Pirelli lhe deu. Surpresa!

*colaborou Marcelo Schaalmann

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *