Acho que “sextou”


Mercedes celebra mais uma dobradinha Hamilton-Bottas. Leclerc foi o terceiro e Vettel ficou pelo caminho, em mais um dia de conversas pelo rádio para troca de posição.

Falou pole, falou Leclerc

E o menino Leclerc parece que gostou mesmo de fazer pole position. Em Sochi, não foi diferente e ele conseguiu sua quarta pole consecutiva, a sexta na temporada.

Como tem acontecido desde o GP da Bélgica, os carros vermelhor tem dominado os finais de semana com boas performances e não foi diferente na Rússia. A briga seria até mais equilibrada se os carros da Red Bull estivessem lutando pela ponta do grid, mas tanto os carros de Verstappen e Albon, assim como os da Toro Rosso, de Gasly e Kvyat, sofreram penalizações por troca de componentes. Verstappen chegou a ser o mais rápido do dia na sexta-feira.

Sem a disputa com os carros da companhia energética, o trabalho para a Mercedes ficou um pouco mais fácil. Não sei ao certo se, por isso, os carros prateados fecharam o treino classificatório com pneus médios, o que não é comum. Mesmo assim, com pneus mais lentos que os rivais, Hamilton conseguiu um lugar na primeira fila ao lado de Leclerc. Vettel conseguiu se manter a frente de Bottas, e este herdou o quarto lugar que, na pista, foi de Verstappen.

Vettel foi mais competente na largada.

Na terceira fila, uma McLaren e uma Renault, com Sainz e Hülkenberg. Norris conseguiu a sétima colocação e Grosjean (sim, Grosjean), foi o oitavo. Devido as penalidades, Max Verstappen teve se largar apenas na nona posição, logo a frente de Ricciardo.

Sem penalidades, o meio do grid ficou com Pérez, Giovinazzi, Magnussen, Stroll e Raikkonen.
No fundo do grid, Gasly acabou largando em décimo sexto depois de ter conseguido a décima primeira posição no cronometro. Ficou a frente de George Russell e Kubica, que só não largaram na última posição porque Kvyat sequer treinou e Albon teve que largar dos boxes porque só manteve a cor do carro igual.
Hamilton chegou a dizer que os carros da Ferrari tinham um modo “jato”, de tão rápido que eles estavam nas retas. Mal sabia o que o esperava na largada.

Vettel “jet mode”

Bem que as suspeitas de Hamilton fizeram sentido na hora que o sinal vermelho apagou.

A largada de Vettel foi primorosoa, e ele não só passou por Hamilton, como também assumiu a liderança da prova na primeiroa curva, depois daquela longa reta que caracteriza o circuito soviético. Além de ter largado muito bem, vale dizer que os dois carros da Mercedes estavam com pneus médios, e isso fez bastante diferença também.

Também é preciso falar da largada do Sainz, que por alguns momentos chegou a ficar a frente de Hamilton, na terceira posição, mas teve de se acomodar atrás do inglês e a frente de Bottas, e este então seguido pela outra McLaren, de Norris.

Enquanto Albon largou dos boxes e começou a sua corrida de recuperação, Raikkonen se atrapalhou todo na largada. O finlandês se antecipou ao apagar das luzes, deu aquele famoso “pulinho” para frente e parou quando as luzes se apagaram em definitivo. Foi ultrapassado por todos e ainda tomou um drive-thru, ou seja, foi penalizado duas vezes.

Bela corrida de Pérez, apesar de discreta.

E teve gente indo mais cedo para o chuveiro, quer dizer, para o motorhome.

Quando a transmissão cortou para a câmera on board de Grosjean e mostrou o mesmo “confortavelmente” encostado na barreira de softwall, pensamentos depreciativos em relação a este piloto foram automaticamente ativados por este que escreve. Porém, conferindo no replay, pode-se ver que Grosjean foi vítima da manobra de Giovinazzi, que foi expremido pela manobra de ultrapassagem de Ricciardo, que atacava o próprio Grosjean. O francês teve que abandonar uma corrida em que largou em oitavo. Ricciardo teve um pneu furado e, consequentemente, a corrida muito comprometida. Já Giovinazzi seguiu feliz e contente com dois carimbos na lateral do carro. Safety-car para limpar a pista.

E, ainda no começo da prova, começou o programa Conversa com Binotto, ao vivo no dial da Ferrari. Os convidados eram Vettel e Leclerc, claro. O assunto era a troca de posições entre os pilotos, ainda respingando os acontecimentos do GP de Singapura em que Vettel ganhou a liderança de Leclerc ao antecipar a parada para troca de pneus, o que ficou atravessado na garganta do piloto monegasco.

Acontece que Vettel, mesmo ouvindo atentamente o que era para ser feito, mandava o pé no acelerador e fazia voltas mais rápidas seguidamente, o que o fazia abrir de Leclerc. A conversa ficou tão absurda que Vettel não poderia diminuir o ritmo porque assim traria os carros da Mercedes (Bottas já havia superado Sainz) mais perto e, como estes tinham pneus mais duros que os da Ferrari, seria praticamente entregar a corrida. Já Leclerc não conseguia tirar a diferença e continuava a reclamar no rádio, até que a equipe pediu para ele focar na corrida e que a troca ocorreria depois.

Essa novela toda foi até a volta 22, quando Leclerc fez sua parada e retornou para a pista na quarta posição. Vettel só foi parar na volta 27, ainda antes das paradas dos carros da Mercedes. E foi aí que ocorreu “naturalmente” a troca de posições entre os pilotos de Maranello.

Alex Albon foi, para mim, o cara da corrida. Largou em último e terminou na quinta posição.

Só que corrida de carros ainda tem um componente que decide o céu ou o inferno para o piloto: a quebra do equipamento. E, pela primeira vez no ano, Vettel teve que abandonar porque uma das unidades de energia do carro parou de funcionar apenas uma volta depois de ele ter retornado de seu pit-stop. A direção de prova optou pelo VSF (o virtual safety-car) e quem se aproveitou muito bem desta situação foram exatamente os carros da Mercedes, que fizeram suas paradas imediatamente.

Não bastasse isso, ainda durante o VSF (calma, já expliquei o que significa) foi a vez de George Russell escapar e acertar a barreira de proteção. Uma batida causada por uma quebra no carro que fez com que a Williams chamasse Kubica para os boxes e também abandonasse a corrida. Mais tarde, a prórpia equipe disse que esta atitude foi para economizar diante de uma provável quebra no carro do polonês também. Tio Frank está raspando o fundo do cofre.

Na Rússia, só vitórias prateadas

Para retirar o carro de Russell, a direção de prova optou pela entrada do safety-car mais uma vez.
A Ferrari, então, chamou Leclerc novamente, agora para colocar pneus macios e sair a caça dos carros prateados. Leclerc perdeu a segunda posição para Bottas, mas parecia ter mais carro e, com pneus mais rápidos, teria como atacar de maneira mais contundente os adversários.

É bom dizer que Max Verstappen já era o quarto colocado e, atrás dele Albon, já em quinto, antes de parar para troca. Albon, por sinal, fez ultrapassagens das mais diversas, mostrando talento e justificando a troca de cadeiras entre ele e Gasly.

Por falar em Gasly, a briga entre ele e Kvyat foi tremendamente dura, com direito a saída de pista, travada de roda e tal.

Na relargada, Hamilton foi embora e Bottas fez seu papel de segundo piloto, ou seja, segurou Leclerc até quando o piloto da Ferrari disse que já não tinha rendimento para acompanhar o finlandês.

Faltando poucas voltas para o final, Albon perseguia Sainz, o último dos que ele perdeu posição na sua parada. Mais uma bela ultrapassagem do tailandês que, depois de ter largado dos boxes, fez uma grande corrida de recuperação! Não foi escolhido o piloto do dia, mas na minha opinião, mereceu.

Sem muita dificuldade, Hamilton venceu e Bottas confirmou mais uma dobradinha da Mercedes na temporada depois daquele início arrasador. Leclerc, seguido de Verstappen e Albon foram os cinco primeiros. Diga-se de passagem, desde que a Fórmula 1 corre na Rússia, só tivemos vitórias da Mercedes. Foram quatro de Hamilton, uma de Bottas e uma de Rosberg (alguém lembra dele?).

Vettel, encostando.

Carlos Sainz, enfim, terminou a corrida e conseguiu um ótimo sexto lugar. Outro que fez uma corrida discreta, porém muito boa em termos de resultados, foi Sergio Pérez, que desde a largada ficou ali entre o sétimo e nono lugar. Terminou em sétimo, a frente de Lando Norris. Aliás, Norris seria o nono, mas o Magnussen, que também fez uma ótima corrida, levou uma penalidade de cinco segundos por ter cortado caminho em um dos trechos e acabou ficando em ele com a nona posição. Hülkenberg fechou na décima posição.

A vida segue tranquila para Hamilton, que além dos pontos da vitória levou também o ponto extra pela volta mais rápida da prova. E a situação é tão tranquila que, se Hamilton repetir no Japão a vitória e a melhor volta, e aliado a isso Bottas não marcar nenhum ponto, a diferença entre eles será de 99 pontos para ser tirado em quatro corridas. Ha, ha, ha.

Ao desligar dos motores…

– Eu fico imaginando o rádio de Prost e Senna, em Ímola 1989, naquela famosa ultrapassagem do brasileiro sobre o francês que foi classificada por este último como sendo quebra de acordo e fez com que a rivalidade de ambos tomasse a proporção que tomou. A Ferrari está conseguindo ser protagonista do que faz no pit-vall ao invés de se concentrar na boa fase que está atravessando depois do período de férias;

– Vettel ficou muito bravo com seu abandono. Chegou a pedir, em suas palavras, a “volta da porra dos motores V-12”. Estou com ele, mas sei que isso é quase impossível;

– A McLaren terá motores Mercedes em 2021. Já foi uma parceria vencedora no passado, mas vencedora também havia sido a parceria com a Honda, o que não se repetiu recentemente. Pior para a Renault, que ficando apenas com seu time para fornecer as unidades de força, pode sair mais uma vez da categoria;

– Raikkonen se tornou o terceiro piloto com mais participações na Fórmula 1, atrás de Rubens Barrichello e Fernando Alonso. Com contrato até o final do ano que vem, é bom Barrichello e Alonso arrumarem um cockpit para o ano que vem. Caso contrário, Raikkonen será o recordista absoluto;

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

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