Secos e molhados


Webber achou a pole, enquanto Vettel achou Button pelo caminho, Alonso achou o muro e Hamilton encontrou mais uma vitória na temporada e assim assumiu a ponta do campeonato. O que eu achei? Uma corrida de verdade.

Guarda chuva ou guarda sol?

Depois de quase um mês sem o ronco dos motores, nada melhor do que para a Fórmula 1 voltar em grande estilo no autódromo belga de Spa-Francorchamps, com suas longas retas, pontos de ultrapassagens, a impressionante curva Eau Rouge e a constante instabilidade do tempo. Um prato cheio para emoções, e que já começaram nos treinos livres e no treino oficial. Na sexta-feira, deu a impressão que a Ferrari viria forte para a corrida, com Alonso e Massa ficando sempre entre os primeiros, assim como a McLaren também mostrava sua força empurrada pelo motor Mercedes. Aliás, o motor Mercedes fez a Force India, que sempre anda bem em Spa, ressurgir na briga pelos pontos. Apesar do ótimo motor, ironicamente, a situação dos prateados alemães era de pouca perspectiva uma vez que Schumacher já havia sido punido por aquela manobra sobre Barrichello na corrida da Hungria e Rosberg perdeu cinco posições no grid por trocar o câmbio. Quem não parecia tão imbatível como em outras oportunidades eram os carros da Red Bull, e a pista traiçoeira entre o seco e o molhado parecia que não iria favorecer os foguetes azuis.

Como todos sabem, todo campeão precisa de sorte e competência para alcançar a tão sonhada taça. E a sorte apareceu para Mark Webber, que aproveitou sua pilotagem estável para, no momento mais favorável da pista, cravar a pole. Ao seu lado, no entanto, Hamilton parecia decidido a fazer do cenário belga o lugar ideal para sua reação na luta pelo bi. Kubica marcou um excelente terceiro lugar e só depois apareciam os companheiros da primeira fila, Vettel e Button, nesta ordem. Massa fez um ótimo sexto tempo enquanto Alonso decepcionava com o décimo posto apenas. Entre eles, o homenageado do fim de semana e agora presidente da a Associação de Pilotos (GPDA) Barrichello, seguido da Force India de Sutil e da outra Williams, de Hülkenberg.

Depois da sorte, a competência

Assim como Barrichello no ano passado, Webber fez uma péssima largada e perdeu cinco posições, deixando o caminho livre para Hamilton. Tão certo quanto a instabilidade do tempo no circuito belga são alguns toques e bicos espalhados na primeira curva, que é fechadíssima, ou algumas disputas mais acirradas depois da Eau Rouge. Mas se por estes trechos todo mundo se comportou bem, na chicane antes da entrada da reta e logo na primeira volta começaram alguns pingos momentos antes da chegada dos líderes. O resultado foi um passeio de quase todos pela área de escape. Barrichello, que vinha defendendo o lado interno da pista dos ataques de Rosberg (em grande recuperação) simplesmente não conseguiu parar a Williams e acertou Alonso quando o espanhol voltava para a pista, frustrando assim uma possível comemoração com pontos em seu GP de número 300. Como o incidente foi logo na entrada dos boxes, Alonso aproveitou para arriscar pneus intermediários no momento da entrada do safety-car. Button também já havia superado Kubica. Na saída do safety-car, na volta seguinte, foi a vez de Vettel superar Kubica e ir para cima de Button.

A chuva, que tinha ficado na ameaça apenas, praticamente minou as chances de Alonso na prova, enquanto Rosberg, Schumacher e Petrov já apareciam no meio do pelotão apesar de terem largado no fundo do grid.

Hamilton era o mais rápido e abria de Button, que segurava Vettel, Kubica, Webber e Massa. Aí foi a vez de Vettel se enroscar com Button praticamente no mesmo lugar que Barrichello bateu em Alonso na primeira volta. Ao colocar o Red Bull ao lado do McLaren de Button, Vettel perdeu o equilíbrio do carro na frada e atingiu a lateral do carro do inglês, exatamente onde fica o radiador. Resultado, Button fora da prova e Vettel nos boxes para trocar a asa dianteira. O estrago maior foi o fato de ser penalizado com um drive-thru por ter ocasionado a batida. A penalidade, na minha opinião, injusta, pois foi apenas um incidente de corrida. Mas nada impede de Vettel lançar, ao final da temporada, um jogo de como perder o campeonato em 7 erros (ou mais).

Depois das paradas dos líderes, a ordem era Hamilton, Webber que já havia se recuperado bem na prova, Kubica e Massa. Sutil já ocupava a quinta posição. Como não haviam parado para a troca de pneus ainda, Schumacher e Rosberg já vinham em sexto e sétimo, brigando entre si com direito até de toque e faísca, literalmente, entre os dois.

Mas toque mesmo quem deu foi Vettel em Liuzzi. Na tentativa de recuperar posições, o alemão teve o pneu traseiro furado e se arrastou por quase uma volta até conseguir retornar aos boxes para a troca. Apesar da luta, lhe restaria ao final da prova apenas um 15º lugar. Alonso, combativo como sempre, fazia uma boa briga com Kobayashi pelo oitavo lugar e ali estava quando, mas as nuvens negras reservaram um pouco mais de água para o final da prova.

Escorregadio demais para Alonso

Faltando pouco menos de dez voltas, a chuva voltou para trazer um pouco mais de imprevisibilidade. E quase que Hamilton deixa a vitória escorrer pelos dedos. Por muito pouco o inglês não acabou na caixa de brita ou na proteção de pneus depois de uma escapada. Mas foi Alonso que acabou por rodar, bater e deixar a Ferrari atravessada no meio da pista, forçando assim nova entrada do safety-car. Mas com todos alinhados e a pista liberada faltando quatro voltas, a única mudança foi a de Rosberg retomando a posição de Schumacher, fazendo com que as flechas de prata terminassem em sexto e sétimo respectivamente, principalmente por retardar ao máximo a troca de pneus. Kobayashi também fez boa corrida e foi premiado com o oitavo lugar. Alguerssuari também garantiu um ponto e Petrov, que largou em último, conseguiu um bom nono lugar pelas circunstâncias. Sutil em quinto e Massa em quarto fizeram também ótimas corridas. Mas todos os méritos para Hamilton, que venceu praticamente de ponta a ponta, Webber que soube se manter frio e se recuperar da largada desastrosa, e Kubica, excelente mais uma vez.

Agora é Hamilton que lidera o Mundial, seguido de perto por Webber. Vettel e Button não marcaram pontos e dependem de uma recuperação urgente para se manterem vivos na disputa. Alonso praticamente sai da disputa pelo tri, e que pode até ter o cenário mais complicado dependendo do resultado do julgamento da FIA sobre a manobra da Ferrari na Alemanha. Só que a próxima corrida é em Monza e tanto Alonso quanto Massa vão querer vencer na presença da torcida.

Enquanto os pilotos da McLaren lutam pelos seus bi campeonatos, os pilotos da Red Bull tentam suas conquistas inéditas. Isso quer dizer que, praticamente, teremos cinco campeões na pista em 2011 (saudades do Raikkonen) ou dois bi campeões. O play-off entre os quatro deve ser de arrepiar.

Até a próxima!

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

4 Responses

  1. RTP says:

    Putz…me senti o Mick Jagger nessa rodado do bolão. Apostei no Alonso em segundo e o Rubinho faz aquela besteira. Mas tarde o cara sai de vez.
    Button em terceiro e o Vettel pega e da uma chifrada com seu touro no carro dele. Pelo menos Webber chegou ao fim. Em segundo mas está bom.

    Abraços galera! Boa semana a todos!

  2. Belo texto Lauro…como sempre…

    como eu não pude assistir a corrida inteira (o sono e a exaustão não deixaram)…é sempre bom poder contar com uma coluna completa e perfeita como essa…nunca deixe de postar…nem sempre comento…mas estou sempre lendo…

    é simplesmente a melhor coluna sobre F1 da internet na minha opinião…a mais completa e com alguns toques de humor bem sutis…

    Abraços!

  3. Lauro says:

    Grande Pedro,

    Obrigado pelos elogios mais uma vez. Ainda temos espaço para melhorar e pode ter certeza que enquanto o Guilherme quiser e continuarmos com um número aceitável de acessos, vamos continuar postanto sim.
    Embora lisonjeado, não acho que seja a melhor coluna sobre F1 da internet, mas eu vou tentar chegar, ao menos, entre os 10, 15 melhores. Tem muita gente boa que escreve e conhece tanto ou mais que eu.
    E humor, para mim, é necessário. Sem ser agressivo, preconceituoso, mas com o objetivo de deixar a leitura mais suave.
    E vale pra você e para toda a equipe: eu também acesso com frequencia o blog e o trabalho fotográfico de vocês todos é de alto nível, tanto na minha opinião quanto na de pessoas conhecidas minhas que por aqui passam. Quase nunca comento porque sou lento para escrever e, no caso das fotos, uma das mãos está sempre segurando o meu queixo.
    Parabéns para todos!

  1. 30/08/2010

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