O iluminado


Com mais luz que a pista de Cingapura, Alonso derruba o favoritismo da Red Bull, vence de ponta a ponta a prova noturna do calendário e chega à vice-liderança do mundial embalado para as últimas quatro etapas. A Ferrari, agora, me parece ter acertado na Alemanha.

Vermelho nos extremos

A Red Bull dominou os treinos livres no espetacular circuito noturno de Cingapura, mas na hora da decisão, mais iluminado ainda foi Fernando Alonso. Tudo bem que Vettel cometeu um pequeno erro na volta rápida e isso ajudou muito o espanhol a cravar a pole no sábado, mas a diferença nos treinos livres chegou à mais de um segundo para a Ferrari. Alonso apenas andou forte o tempo todo do treino, exigindo de Vettel talvez aquele algo mais que o jovem alemão ainda não tem na hora da pressão.

Sempre na primeira fila mas apático no treino oficial, Mark Webber conseguiu apenas o quinto tempo e ficou atrás dos McLaren de Hamilton e Button, que apresentavam um rendimento abaixo do esperado. Atrás dos cinco postulantes ao título deste ano, muito bem posicionado ficou Rubens Barrichello, que ficou com o sexto tempo à frente de Rosberg, Kubica (sempre ele), Schumacher (em sua primeira corrida noturna da carreira) e Kobayashi da Sauber.

Por falar em Sauber, Kobayashi tinha um novo companheiro de equipe à partir de Cingapura. O espanhol Pedro de La Rosa foi substituído pelo alemão Nick Heidfeld, que depois de passar um tempo na reserva da Mercedes e de testar para a Pirelli, nova fornecedora da categoria para 2011. Assim, a Alemanha teve sete representantes na prova, igualando o recorde da França em 94 (e a França sequer tem um representante este ano na categoria). Outro que retornou foi Christian Klien, no lugar de Sakon Yamamoto da Hispania, mas ao que tudo indica foi só para esta etapa, a não ser que a indisposição estomacal do japonês dure até o meio de novembro.

A maior baixa do treino foi Felipe Massa, que não conseguiu sequer abrir a volta de classificação por causa de um problema eletrônico no cambio de sua Ferrari e acabou em último no grid, despedindo-se em definitivo de qualquer chance de título nesta temporada, o que já era esperado.

Animação no pelotão intermediário

Alonso largou decidido a não deixar escapar a vitória e foi diminuindo o espaço para uma possível ação de Vettel, contornando a primeira curva na frente. Dentre os primeiros, Barrichello largou mal e caiu para o oitavo lugar. Enquanto isso, Massa tentava uma estratégia diferente e já foi para os boxes na primeira volta, cumprindo o regulamento de fazer um pit-stop e apostando na possibilidade de entrada de um safety-car, que não demorou muito a aparecer na prova. Foi na terceira volta, quando o Force India de Liuzzi encontrou o muro e quebrou o eixo traseiro.

Foi a vez de Webber tentar o pulo do gato. Juntamente com Hulkenberg e os pilotos do pelotão do fundo, Webber fez a troca de pneus obrigatória, voltou em 11º, e apostava na melhora de sua posição quando os demais tivessem que fazer suas paradas.

Muitas disputas no pelotão intermediário, toques, etc. Massa já era 14º e Webber deixava Schumacher para trás e partia para cima de Barrichello. Neste momento, um instante curioso. Timo Glock, com seu Virgin, andava em 11º. Apesar de um bom rendimento mas ainda muito abaixo da maioria, Glock era a locomotiva de um trem com sete carros (seis vagões) que desfilou pelo circuito cingapuriano por várias voltas.

Enquanto Alonso e Vettel, ainda antes da metade da prova, seguiam abrindo dos demais alternando voltas mais rápidas entre si, Webber não conseguia superar Barrichello e, por muito pouco, não encontrou o muro e deu adeus à corrida ao errar uma freada.

Hamilton entra nos boxes quando ocupava a terceira posição e voltou atrás de Webber, o que mostrava que o australiano tinha optado por uma estratégia inteligente e que estava funcionando. Mas se Webber usou bem a estratégia, o mesmo não se pode dizer de Vettel, que parou nos boxes simultaneamente a Alonso. Talvez fosse melhor para Vettel permanecer na pista mais algumas voltas e tentar assim voltar na frente de Alonso, mas a Red Bull não optou por isso.

Kobayashi fazia uma boa prova, já tinha forçado uma ultrapassagem sobre Schumacher que jogou o alemão para a barreira de pneus, mas abusou e foi parar no muro, no mesmo ponto em que Webber quase bateu. Sem conseguir evitar o choque, Bruno Senna encontra o Sauber parado e também abandona a prova. Dois carros parados em uma curva fechada é sinal de novo safety-car.

Na re-largada, Hamilton força a ultrapassagem sobre Webber, ambos se tocam e mais uma vez sobra para o inglês que é obrigado a abandonar a prova, assim como aconteceu em Monza. Dois abandonos seguidos, na reta final do campeonato, podem significar o fim do sonho do bi-campeonato. Uma disputa natural de posição que mostrou ao mesmo tempo a vontade de Hamilton e a sorte de Webber, que nada sofreu no carro e pode continuar na prova.

Pode vir quente que eu estou fervendo

Com muitos alemães na pista, era natural que alguns deles se achassem pelo caminho. E não deu outra: Schumacher e Heidfeld se tocam e o heptacampeão tem o bico do Mercedes avariado, dando praticamente uma volta inteira soltando faísca e causando um belo efeito visual aos espectadores.

E mais uma vez, no meio do pelotão, era a vez de Sutil segurar Hülkenberg, Massa, Petrov, Buemi e Alguerssuari. Logo na seqüência, depois de ser obrigado a fazer mais uma parada, Kubica encosta neste pelotão e mostra porque se especula tanto seu nome na Ferrari para o ano que vem, o que é improvável e desmentido a todo tempo, mas o polonês deu uma prova definitiva de que, se tivesse um carro de ponta, estaria na luta pelo título deste ano. A ultrapassagem sobre Sutil, por fora, demonstrou isso.

Vettel vinha ameaçando se aproximar de Alonso, mas quem botou fogo na corrida, literalmente, foi Kovalainen, que calmamente parou o Lotus em chamas na reta dos boxes depois de andar por vários metros com fogo no carro. Desceu com toda a calma, pediu um extintor, e se encarregou de mostrar que pode fazer parte de qualquer brigada de incêndio.

Alonso administrou a vantagem e cruzou apenas 0,2s na frente de Vettel, o suficiente para garantir a 25ª vitória na carreira, essa extremamente importante no campeonato e que o coloca a apenas 11 pontos do ainda líder, Mark Webber, que fez valer a estratégia e subiu ao pódium mais uma vez. Button, discreto, foi quarto. Rosberg, Barrichello, Kubica, Sutil, Hülkenberg e Massa completaram os dez primeiros.

Depois da Hungria, eu disse que não se poderia descartar Alonso da briga do título, e independente das polêmicas do passado e desta temporada, o espanhol parece decidido a conquistar o tri-campeonato logo no ano de estréia na Ferrari, o que seria um feito não só pelas dificuldades apresentadas na primeira metade do campeonato, mas também por ter vencido na sua primeira corrida pela equipe italiana e também no templo sagrado de Monza. Sobre a Alemanha… Bom, sobre a Alemanha talvez eu tenha que reconhecer que a Ferrari estava certa, mas reafirmo que quem carregará o maior ônus daquele episódio é Felipe Massa. Se o espanhol for campeão então…

Quatro provas para o final e 25 pontos (uma vitória) separam os cinco líderes do mundial, que deve se definir em Abu Dahbi, talvez, na última curva.

Um abraço à todos e até a próxima!

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

4 Responses

  1. João Henrique says:

    Uma coisa te eu digo! Essa RBR parece mais um tanque! Nada para esse carro! Vibrei quando o Hamilton se deu mal!

  2. Red Bull te dá asas

  3. Lauro, meu amigo, fiquei contente em ler as suas palavras. Não é todo jornalista que passa essa autenticidade e demonstra ser correto como vc o faz diariamente.

    Posso apenas comemorar as últimas vitórias da Ferrari e lamentar o problema com Massa. Momentos de maior sorte virão. Ainda em relação à polêmica “tedesca”, posso apenas repetir as minhas palavras no post da época: “Os últimos campeonatos foram decididos em detalhes e não tenho dúvidas que esses 7 pontos farão diferença para Alonso e para a Ferrari”. Que o(s) melhor(es) vença(m) ao final!

    Abraços!

    PS: Segue mais uma opinião de alguém que deve ser respeitado no Mundo da F1: http://globoesporte.globo.com/videos/formula-1/v/emerson-fittipaldi-se-diz-favoravel-ao-jogo-de-equipe-na-formula-1/1335572/

  4. RTP says:

    O texto impecavel como sempre… gosto dos toques de humor. Qnt ao campeonato, acredito que teremos um final emocionante como em 2008. Pena não ter o Massa nessa… mas teremos Ferrari.

    Parabéns Lauro!
    Abraço!!!

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *