Fácil, extremamente fácil

O que tem de mal um jovem alemão passeando em um parque tranquilamente em uma tarde de domingo ensolarada na Austrália? Quer saber? Pergunte aos seus adversários.

Asas e pneus

A tão aguardada temporada 2011 da Fórmula 1 começou quase que do mesmo jeito que terminou ano passado. E isso já dava pra se ter idéia logo que os carros foram para a pista na sexta-feira de treinos livres. No sábado, quando a coisa foi pra valer, com direito a pneus coloridos (veja o quadro abaixo) e asas móveis, poucas surpresas. A maior delas foi o desempenho ruim de ambos os carros da Ferrari. Alonso foi mal e Massa foi sofrível na primeira parte do treino, o que já mostrava que os resultados da pré-temporada estavam um pouco diferentes.

E com tantos estreantes na pista, foi justamente o piloto mais experiente do grid que cometeu um erro de principiante. Barrichello, que tinha feito um ótimo treino na sexta e vinha animado para o final de semana, errou uma das freadas do circuito de Albert Park e deixou o treino prematuramente, atolado na brita. E seu novo companheiro de Williams, Pastor Maldonado, já começou a deixar o presidente Chavez preocupado, ficando lá para trás no grid. A Sauber se garantiu no Q3 com Kobayashi, assim como a Lotus Renault com Petrov e a Toro Rosso com Buemi, surpreendendo favoritos como Schumacher, que foi apenas o 11º colocado na classificação.

Um Q3 de pneus macios e de praticamente apenas uma volta lançada para cada piloto, como fizeram as Ferrari, mostrou que Felipe Massa vai precisar de mais banhos de sal grosso e que a tática da mesma cueca no sábado e domingo deve ser repensada. Um erro grosseiro na saída dos boxes para a volta de aquecimento de pneus culminou em uma rodada e o adeus pela luta das primeiras filas, deixando o brasileiro apenas em oitavo lugar,a frente apenas de Kobayashi da Sauber e Buemi da Toro Rosso.

Mas a primeira fila não teve a dobradinha rubro-taurina como se esperava. O “intrometido” entre eles foi Lewis Hamilton e logo atrás de Webber estava Button, mostrando que a McLaren fez mudanças a tempo para alinhar seus carros prateados em melhores posições no grid. Alonso foi apenas o quinto. Petrov, “amigo” de Alonso, fazia companhia ao espanhol na terceira fila. Rosberg salvou a honra da Mercedes. Só faltava o apagar das luzes vermelhas.

Liberado para passear

Quando isso aconteceu, Vettel saiu para o seu passeio enquanto os outros brigavam por um lugar na primeira curva. Alonso escolheu o lado de fora e Button espremeu o espanhol fazendo-o perder várias posições. Petrov assumiu o quarto lugar e Massa pulou para quinto. Lá atrás, Barrichello deu uma escapada mas conseguiu voltar, e o mesmo aconteceu com Alguerssuari e Schumacher, que se tocaram. Até aí, tudo normal para um circuito de rua. Anormal foi Vettel abrir 2,5 segundos, em uma volta apenas, para o segundo colocado Hamilton. E não era porque a McLaren estava com pouco rendimento não. Massa que o diga. O brasileiro teve enorme trabalho para segurar um Button alucinado. Depois de diversas tentativas de tirar o fôlego de Button e bem defendidas por Massa, o inglês se viu obrigado a cortar caminho para evitar um acidente, o que lhe custou a penalidade de um drive-thru. Mas a manobra de Button fez com que Massa perdesse posição também para Alonso.

Vettel estabilizou a diferença para Hamilton em 3,5s, mas depois de 10 voltas, já era nítido o desgaste de pneus de alguns carros. E, enquanto Hamilton começava a diminuir a distância para Vettel, Webber já fazia a troca de pneus, colocando o composto mais duro. Assim como no ano passado, vale a regra de usar ao menos dois compostos diferentes durante o GP.

Começou então o festival de troca de pneus. Na vez de Vettel, o atual campeão voltou logo atrás de Button (que ainda não tinha realizado o drive-thru) e simplesmente engoliu o inglês usando toda a pista e mais um pouco em uma seqüencia de curvas. Button deve ter se arrependido de não ter pago o drive-thru antes.

De repente, aparece o nosso Sergio “Ligeirinho” Perez em sétimo lugar, e sempre a frente de Kobayashi na corrida. Tudo bem que tinha gente que precisava fazer a troca de pneus, mas Perez ultrapassou adversários e fez uma corrida sem erros e foi, para mim, o melhor dos estreantes. Estrante, aliás, é sinônimo de inexperiência, certo? Pois é, mas não é que Barrichello errou de novo? O brasileiro fazia excelente corrida de recuperação, mas ao chegar em Rosberg na luta pelo oitavo lugar, Barrichello forçou demais a ultrapassagem e acabou acertando a lateral do carro prateado do alemão, o que acabou forçando o abandono prematuro de Nico. Na mesma volta, Schumacher também abandonou por problemas mecânicos. Barrichello ainda levou um drive-thru pela desastrada manobra, mas atribuiu a culpa ao desgaste dos pneus.

E o Petrov, hein? Apareceu em terceiro depois que Webber entrou para mais uma parada para troca de pneus. Atrás dele, o “amigo do peito” Alonso, que deve ter pensado nos momentos prazerosos das mil e uma noites de Abu-Dahbi 2010 com o russo. Alonso resolveu abdicar da luta e fazer mais uma troca de pneus. Petrov se segurou firme até o final. E podia ter ido mais longe quando Hamilton saiu da pista e danificou bastante o assoalho do McLaren, mas ambos se seguraram no pódium junto de Vettel.

Deu tempo ainda para Alonso ganhar a posição de Webber nos boxes. Explico: Webber fez a terceira troca e, quando voltou para a pista, cometeu um erro que lhe custou segundos preciosos para que quando Alonso também fizesse sua terceira parada conseguisse voltar a frente do australiano. Webber ainda tentou recuperar a posição mas, como a Red Bull optou por não usar o KERS durante a corrida, não deu para o corredor da casa melhorar a posição.

Outro que também caiu no final foi Massa, que desta vez perdeu o duelo com Button de maneira lícita. Perez também passou o brasileiro que só conseguiu recuperar a posição perdida para Buemi nas voltas finais, marcando inclusive a melhor volta da prova. Terminaria na nona posição mas, ao final da prova, os dois carros da Sauber foram desclassificados por irregularidades no design da asa traseira, mas nada a ver com a mobilidade e com o dimensional das mesmas.

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Uma prova de rua sem safety-car, sem acidentes fortes e até sem muitas emoções. Foi assim que a Fórmula 1 conheceu a sua nova cara de 2011. Os pneus Pirelli realmente desgastam mais e deixam os carros mais instáveis, mas nada tão desastroso e preocupante como se mostravam os testes. Já a utilização da asa móvel é interessante, mas não demonstrou a eficiência necessária para viabilizar mais ultrapassagens. De qualquer forma, ainda é cedo para julgar o dispositivo, principalmente em um circuito de rua e que permitia apenas a reta dos boxes como trecho a ser usado na corrida.

A surpresa positiva de Petrov, primeiro russo a subir no pódium de uma corrida de Fórmula 1, contratou muito com a fraca atuação de Heidfeld. O alemão contratado para substituir Kubica nem pontuou e foi o final de semana inteiro superado por Petrov. Assim como Heidfeld, Button, Massa, e principalmente Webber, saíram da Austrália com desvantagem para seus companheiros de equipe. Button foi combativo e mostrou que destes é o mais próximo de seu companheiro de equipe. Massa foi inconstante e Webber nem parecia ter um Red Bull nas mãos, talvez ainda sentindo o peso da perda do campeonato de 2010.

Como previsto também, a Sauber parece que vai dar trabalho mesmo. A jovem dupla Perez-Kobayashi deve trazer bons momentos para o patrão Peter. A Mercedes ainda ficou na incógnita já que ambos abandonaram e não fizeram bons treinos como se previa.

Com ares de déjàvu, o menino Vettel agradece e já pode começar a sonhar com outra taça. Ah Lauro, ainda é muito cedo para isso, podem dizer. Sim, eu concordo que hoje ainda não arriscaria meus poucos proventos nele, mas, é inegável que o título lhe fez bem e, além disso, a Red Bull parece que voltou ainda mais a frente dos adversários. É cedo sim, mas quando o campeão do ano passado começa com uma vitória fácil logo na abertura do mundial, os adversários já coçam a cabeça. Ah, e ele é alemão como outro tal que levou sete canecos. Será que estamos presenciando o começo da reedição do mesmo fenômeno? Por enquanto, só mais um mistério…

Nos vemos na Malásia, no calor que promete judiar dos compostos Pirelli. Até lá.