Santo de casa fora do pódium.


Hamilton surpreende e vence o GP da Alemanha, com Alonso em segundo e Webber em terceiro. Vettel, na última volta, conseguiu apenas um quarto lugar correndo em seu país. É hora de acender o sinal amarelo?

Pneus resfriados

No revezamento com Hocheinheim como palco do GP alemão, o circuito de Nürburgring é uma pista longa, de atuais 5.148 metros (o que é pouco perto dos 28.000 metros inaugurais em 1927) e que, apesar de parecer favorável às ultrapassagens, não é exatamente assim. E o comportamento dos carros na Alemanha, com o frio que pilotos e equipes encontraram logo na chegada para os primeiros treinos livres, estava muito ligado aos pneus. Isso porque, depois do GP da Inglaterra, as equipes resolveram revogar a regra que foi utilizada naquela etapa, a de proibição do uso dos escapamentos aerodinâmicos que levam ar quente aos difusores traseiros. Sobrou para os compostos Pirelli serem responsáveis diretos pelo desempenho das máquinas. Muitos encontravam dificuldades, dentre eles os dois McLaren, que não conseguiam andar na frente com seus dois pilotos e até pareciam cartas fora do baralho. Pareciam…

No grid, a volta de um indiano. Com a ausência do veterano Narain Karthikeyan, que ficou de fora pela segunda vez ao ceder seu lugar na gloriosa Hispania para o australiano Daniel Ricciardo, coube a Karun Chandhok voltar, agora pela Lotus, ele que havia sido companheiro de Bruno Senna ano passado pela Hispania que dispensou Karthikeyan. Lotus ou Hispania são ainda “camas de pregos” para qualquer piloto, Quem saiu desta vez? O veterano italiano Jarno Trulli, que vai em um fim de carreira muito deprimente.

Carona na bolsa, quer dizer, na carenagem do canguru


Como de praxe, além de Hispania e Lotus, a Marussia Virgin também colocou seus carros no fundo do pelotão ao final do Q1, e os seis carros tiveram a companhia de Kobayashi, que teve dificuldades constantes no treino. Massa havia feito o melhor tempo no Q1, e foi logo para a pista visando garantir rapidamente um lugar no Q3, mas quem ficou com o melhor tempo no Q2 foi Hamilton. Caíram desta vez Heidfeld, Di Resta, Maldonado, Barrichello, Sergio Pérez, Buemi e Alguersuari.

Nos dez minutos finais, dos dez melhores colocados, quatro eram alemães, mas isso não foi suficiente para garantir a pole, em casa, para nenhum deles. Schumacher e Sutil ficaram em décimo e em oitavo, respectivamente, tendo entre eles o russo Petrov. Rosberg conseguiu o sexto tempo, logo a frente de Button, que andou mais de um segundo atrás de Hamilton. Por falar em Hamilton, o campeão de 2008 conseguiu a segunda posição no grid, um verdadeiro feito, levando-se em consideração que os McLaren não chegaram como favoritos. Alonso, quarto, continuou superando Massa, em quinto. E há muito tempo não se via Vettel fora da primeira fila. Isso porque coube a Webber manter a hegemonia da Red Bull em pole position na atual temporada. O australiano, Hamilton e Vettel ficaram separados por apenas 0.137s. Com uma primeira curva em descida e bem fechada, só faltava pista molhada para jogar a adrenalina lá em cima. Mas ela não veio.

Hamilton, seco e direto.

O serviço de meteorologia alemã talvez precise de alguns ajustes. Erraram feio na afirmação de que a largada seria com pista molhada, e que haveria períodos de chuva durante a etapa. Nada. Com pista seca, Hamilton pula na frente de Webber que, de novo, não fez valer o esforço da pole. Alonso também superou Vettel e, por muito pouco, Massa não conseguiu coisa melhor, vindo da quinta posição. Encaixotado do lado de fora da curva 1, Massa foi superado por Rosberg, o que lhe tiraria uma posição melhor ao final da prova. Fazia tempo também que não havia um toque na largada, e coube à Heidfeld e Di Resta se enroscarem e caírem várias posições. Ainda nas primeiras voltas, Alonso deu uma escapada e voltou atrás de Vettel, enquanto Massa colocava pressão total sobre Rosberg. O box da Ferrari foi enfático ao dizer pelo rádio que Massa tinha que ultrapassar o jovem alemão da Mercedes imediatamente para não comprometer sua prova.

Largada em que faltou só o chopp, pois sobraram fritas.


Enquanto o brasileiro não conseguia lograr êxito em sua manobra, Alonso tratou de engolir Vettel para recuperar o terceiro lugar. Vettel tão longe da ponta tem sido raro, mas também raro é o campeão acabar ficando ainda mais longe por rodar sozinho, o que não lhe custou uma posição, mas trouxe Rosberg e Massa muito próximos. Só que tinha gente se estranhando de novo lá atrás, e de novo era Heidfeld. Tentando recuperar-se do enrosco da largada, o piloto da Renault achou Buemi pela frente. O suíço da Toro Rosso resolveu diminuir o espaço para a ultrapassagem do alemão e não foi possível evitar a batida, que tirou Heidfeld da prova e obrigou à Buemi trocar um pneu furado.

Lá na frente, foi a vez de Hamilton errar, perdendo a posição para Webber, mas não por muito tempo. Mesmo tendo recebido menções de bom comportamento, Hamilton mostrou agressividade na medida certa e tomou de volta a ponta da corrida pouco mais à frente. Com isso, quem colou foi Alonso, e os três seguiram colados até a parada de Webber para sua primeira troca de pneus. Lembram da briga Massa e Rosberg? Massa, enfim, superou o alemão da Mercedes e foi pra cima de outro alemão, Vettel.

Hamilton e Alonso entram ao mesmo tempo para suas trocas de pneus. Pouco depois, entra Vettel para o seu pit. E, em um momento muito interessante da prova, Massa rasgava a reta trazendo Webber colado, ambos tomando o lado de fora para contornarem a curva ao final da reta dos boxes. Só que, do lado de dentro, na saída do pit-lane, vinham Hamilton e Alonso, também colados. Imagem para guardar na memória, sem dúvida.

Começo de prova com Hamilton, Webber, Alonso, Vettel, Rosberg e Massa


A liderança de Massa durou uma volta apenas. Quando voltou de sua parada, o brasileiro estava entre Petrov e Vettel. A sexta posição do russo foi perdida para Massa, para Vettel, para Rosberg e para Schumacher, quase que em seqüencia. O engraçado é que Schumacher também quis fazer parte do grupo de campeões que cometeram erros no GP da Alemanha, e também errou sozinho, só que acabou perdendo várias posições. Só faltou falar de Button, entre os campeões presentes na pista e, embora não tenha errado, Button precisou abandonar a prova por um problema hidráulico (aquele que ninguém explica direito qual peça quebrou mas diz que não dá pra voltar pra prova).

Fora do pódium, quatro alemães marcam pontos

Os protagonistas da prova, Webber, Hamilton e Alonso, vão para suas segundas paradas. Hamilton disputa com Webber lado a lado, quase tocando roda, em seu retorno a pista para segurar a ponta obtida no pit-stop do australiano. Dos três, Alonso chega a sair na frente de Hamilton, só que o inglês estava decidido a vencer e em outra boa disputa, superou o espanhol e voltou para a ponta.

Os três primeiros andaram juntos boa parte da prova


Os três primeiros estavam separados por apenas cinco segundos. Mais de vinte e cinco segundos atrás vinham Massa e Vettel, com o brasileiro segurando o campeão do mundo como podia. E pairava a dúvida de quem seria o primeiro a colocar pneus duros para a etapa final da prova? Afinal, os pneus duros tinham comprovadamente rendimento inferior aos macios, mas o desgaste destes últimos ao final da prova poderia equalizar os rendimentos entre eles e os duros. A cobaia foi Hamilton.

No último pit de Alonso, Hamilton contrariou a previsão e conseguiu se sustentar na frente, mesmo tendo feito o seu pit antes. Webber, último dos três, fez a sua parada e voltou na mesma terceira posição. Com o pódium definido, as atenções se voltaram para Massa e Vettel, que ainda brigavam pelo quarto lugar. Ambos teriam de fazer os seus pits e deixaram para usar pneus duros apenas na última volta. Entraram juntos, mas saíram em posições invertidas depois que um dos mecânicos não conseguiu segurar sua porca e devolveu Massa para a pista atrás do atual campeão do mundo. Erro da equipe, sim, mas Massa perdeu o quarto lugar, e talvez um lugar no pódium, nas quinze voltas em que permaneceu atrás de Rosberg no início do GP, conforme comentamos.

Massa liderando, mas recebeu a bandeirada apenas em quinto


Atrás de Massa, três alemães, com destaque para Sutil, que conquistou um bom sexto lugar a frente de Rosberg e Schumacher. Kobayashi veio de um décimo sétimo lugar no grid para marcar dois pontos com a nona posição e Petrov fechou a zona de pontos. Na volta de retorno aos boxes, Alonso foi orientado a parar seu Ferrari para deixar o mínimo de combustível regulamentar e acabou por pegar carona com Webber, lembrando a cena clássica de Senna e Mansell no GP da Inglaterra de vinte anos atrás.

Justa vitória de Hamilton


Hamilton conseguiu sua segunda vitória na temporada, mas Vettel, mesmo em um dia ruim, marcou importantes pontos para seguir firme rumo ao bi-campeonato. Webber, Hamilton, Alonso e Button vêm bem atrás, 77 pontos atrás de Vettel, mas separados entre si por apenas 30 pontos. De certo, a evolução da Ferrari e a surpresa que a McLaren aprontou para esta prova devem colocar uma “pulga atrás do chifre” dos rubrotaurinos. A resposta deve vir já na próxima semana, na Hungria, onde estaremos juntos de novo.

Um abraço e até lá!

NOTA: Na última quarta-feira, em São Paulo, faleceu Cloacyr Sidney Mosca, o Sid Mosca, designer dos capacetes dos principais pilotos brasileiros como Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna, entre tantos outros, além de Schumacher e Hakkinen. Além de criar a identificação visual dos pilotos, Sid teve seu trabalho reconhecido pela FIA que encomendou a ele os capacetes comemorativos na ocasião dos 50 anos da categoria, em 1999. Como disse o jornalista Flávio Gomes, Sid, através de seu trabalho, imortalizou na memória dos fãs do automobilismo as cores e os traços de uma época vencedora, que já não existe mais. Mesmo sem conhecê-lo, podia se notar nas entrevistas e nos depoimentos das pessoas próximas o quanto Sid era querido e amável com todos e por todos. Seu trabalho é eterno, Sid também será.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

4 Responses

  1. Lauro says:

    Ninguém gosta do Hamilton?

  2. Fernando Neto says:

    Essa corrida foi demais!! sou fã do hamilton! antes não era mto, mas tenho que admitir ele é muito fod..rsrrs até pq ele é da inglaterra e respeito mto a paixão que os ingleses tem pelo automobilismo, e como um fã de top gear, fico imaginando o fanatismo daquela gente, deve ser mto bom!

  3. Rene Arnoux says:

    A grande decepção desta corrida foi o Button, vimos as 3 forças brigando com uma desvantagem para Mclaren que ficou sem o Button nesta intensa disputa por um lugar ao pódium. Porém, muito bem representada por Hamilton, que parece ser o cara que pode azedar o chucrute de Vettel. A Ferrari parece que atravessou as cinzas, mas acredito mais por causa do talento do Dick Vigarista, Alonso, do que pela evolução do carro, onde convenhamos que foi uma sacanagem da FIA intervir no desenvolvimento dos escapamentos aerodinâmicos, os caras gastam furtunas para superar seus concorrentes na construção do carro, ai vem o tiozinho que corria de fusquinha melar tudo, os outros que corram atrás literalmente escrevendo. Hungria, circuito travado, vamos ver se pelo menos nesse nosso melhor representante no momento, Massa, surpreenda, EU ACREDITO…..!

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