Quem ri em segundo, ri melhor.


Na dança húngara, Button celebra sua segunda vitória na temporada e ainda se mantém vivo na disputa pelo campeonato, o vice, claro.

Hegemonia de poles, mas por muito pouco.

A falta de guard-rails praticamente é o que diferencia o circuito de Hungaroring de circuitos de rua de baixa velocidade, como o de Mônaco por exemplo. Só que baixa velocidade nem sempre é sinônimo de pouca emoção. E assim foi o final de semana na Hungria, que começou com uma bela disputa no treino classificatório.

Aniversariante na sexta-feira, Alonso e a Ferrari se mostravam fortes de novo, mas a vitória na Alemanha parece que revigorou as forças do time inglês da McLaren, com Hamilton se mantendo entre os primeiros e Button não tão distante quanto em corridas anteriores. Massa andava mais discreto do que Alonso, como de costume, mas embolado sempre entre os seis primeiros que, claro, tinham também os dois carros da Red Bull.

E os serviços meteorológicos ao redor do mundo não andam lá essas coisas. Do calor acima dos 30°C previsto, temperaturas na casa dos vinte e alguma coisa e muito, muito vento. Quem não precisa de vento para cair para o fundo do grid são as equipes pequenas, que desta vez foram acompanhadas por Sébastien Buemi, da Toro Rosso, que além de ter conseguido apenas o 18º tempo, ainda foi punido com a perda de cinco posições pelo acidente com Nick Heidfeld, da Renault, em Nürburgring.

No Q2, Pastor Maldonado, da Williams, nem quis marcar tempo, tamanha a “confiança” em se classificar por último neste segundo round do treino. Seu companheiro Barrichello não foi além de um décimo quinto lugar, deixando Jaime Alguerssuari, da Toro Rosso, entre ambos. Os dois Lotus Renault, de Petrov e Heidfeld, não conseguiram mostrar bom desempenho e ficaram apenas em 12º e 14º apenas (vale dizer que Bruno Senna andou na sexta-feira no lugar de Heidfeld, cuja batata começa a assar). A Force India e a Sauber, que ficaram contidas com Paul Di Resta e Kamui Kobayashi intercalados entre os Lotus Renault, sorriram com Adrian Sutil e Sergio “Ligeirinho” Pérez, oitavo e décimo colocados no grid. Mercedes? Ah, claro, Rosberg na frente de Schumacher, como sempre.

E a briga dos seis primeiros foi muito, muito boa. Alonso foi o melhor no Q1 e no Q2, seguido sempre de perto por Hamilton e Button. Os dois carros da Red Bull, discretos, se alternavam com Massa na terceira fila. No Q3, todos deixaram para o final para saírem juntos dos boxes, enfileirados. Era quase certo que a pole ficaria com Alonso ou Hamilton, o que quebraria a hegemonia de dez poles da Red Bull este ano, já que Webber não passou mesmo do sexto lugar. Hamilton tinha a pole até poucos segundos do final do treino, quando Alonso sequer igualou os tempos do Q2. Mas Vettel tinha um pouco mais a oferecer, e com 0.163s de vantagem, deixou o inglês para trás e garantiu mais uma pole para si e para a Red Bull. Button melhorou e conseguiu o terceiro tempo e, pela primeira vez neste ano, Massa foi mais rápido que Alonso na classificação, ainda que por insignificantes quinze milésimos. A briga entre eles estava apenas começando.

Quer dançar comigo?

A pista da Hungria já fica bem suja normalmente, o que se agrava se chover apenas um pouquinho. E foi o que aconteceu. A largada, dada com pista molhada, fez com que todos decidissem pelos pneus intermediários. Vettel e Hamilton dividiram a primeira curva de forma limpa, com Button logo atrás. Alonso aproveitou o lado limpo de sua quinta posição no grid para passar por Massa sem esforço. Webber, no mesmo lado sujo de Massa, também ficou um pouco e já era pressionado por Rosberg e Schumacher. E todo mundo fazendo drift, no verdadeiro sabão em que se encontrava a pista húngara.

Largada com pista úmida e muito escorregadia

Hamilton era pressão total sobre Vettel, e ambos estiveram por várias voltas se arriscando ao toque por dividirem curvas lado a lado, sempre balançando muito. Briga de gente grande que tinha um espectador de luxo, Button, que mantinha distância segura da dupla de garotos. Rosberg já aparecia em quinto e se beneficiou de uma escapada de Alonso para subir para quarto. Logo em seguida, foi a vez de Vettel também escorregar e deixar para Hamilton pista livre, que o inglês aproveita bem nesta parte da prova.

Hamilton contou com o erro de Vettel para assumir a ponta, mas também errou depois

Alonso escapa de novo (ai se fosse Mônaco) e perde posição para Massa, mas se recupera sobre o companheiro de equipe na passagem seguinte pela reta dos boxes. O espanhol, nitidamente andando além do carro, ainda ganharia a posição de Rosberg nas voltas seguintes. O molho de Massa azeda de vez quando o brasileiro escapa e tem um pedaço da asa traseira avariado, mas volta para a pista, em nono. Tudo isso com pouco mais de dez voltas das setenta previstas era eletrizante.

Massa teve a corrida comprometida com a rodada e quebra da asa traseira

Como não chovia o suficiente, o trilho seco inspirou Webber e Massa a trocarem os compostos intermediários pelos super-macios. Button, depois Hamilton e Vettel, e finalmente Alonso, fazem o mesmo, o que permite à Schumacher liderar por alguns metros.

Heidfeld dá um salto em sua carreira de piloto

Button voltou com mais ação e ganhou a posição de Vettel, enquanto Webber ultrapassou Alonso e ficou com a quarta posição. Com os pneus aquecidos, no entanto, Alonso volta para cima de Webber enquanto Massa e Schumacher brigavam pela oitava posição. Disputas acirradas por posições e, de repente, as atenções se voltam para Nick Heidfeld. A batata do alemão, que já dissemos estar assando, queimou mais um pouco, literalmente, depois que o piloto deixou os boxes com um princípio de incêndio no carro, algo estranho em tempos sem reabastecimento. Ao parar o carro logo na saída dos boxes, Heidfeld foi rápido o suficiente para não sair queimado da terra húngara. Antes ainda do controle total das chamas, houve uma pequena explosão que chegou a ferir um dos bombeiros. Além de lentos em conter o fogo, os fiscais ainda conseguiram a proeza de arrastar o carro de Heidfeld para dentro dos boxes pela saída, estreitando a pista e, evidentemente, podendo causar um acidente totalmente tosco.

Chama acesa, só a do piromaníaco.

Pneus, eles foram usados ao extremo nas oitenta e cinco paradas para troca que aconteceram em Budapeste, recorde que deixou o sindicato dos “pistoleiros e piruliteiros” em alerta novamente, reivindicando aumento. Até porque coube aos pneus e seus respectivos trocadores a estratégia de subir ou cair nas posições de pista. Enquanto Hamilton, Alonso e Massa estavam calçados com os super-macios, Button, Vettel e Webber rodavam com os compostos macios, que apesar de mais duros, estavam com melhor desempenho. Isso fez com que Vettel ultrapassasse Alonso enquanto Button se aproximava de Hamilton.

Belas disputas durante a prova, como esta entre Webber e Schumacher

E palmas para a McLaren, de novo. A equipe inglesa deixou Button e Hamilton brigarem livremente, com direito a divisão de curvas e tudo mais. Sem interferir na pista, coube a Hamilton o erro que deu a liderança à Button na volta 47. A chuva voltou bem leve, mas o suficiente para o campeão de 2008 rodar sozinho e ver Button pular para a ponta. E desistir é um verbo que realmente não existe no dicionário de Hamilton, que ultrapassa novamente Button, que devolve para cima de Hamilton que, finalmente, deixa Button para trás.

A chuva leve provocou mais paradas nos boxes para adequação do calçado ao piso. Dentre tantos pits, um foi dantesco. Jerome D’Ambrosio conseguiu rodar dentro do pit-lane ao buscar os freios para entrar na posição adequada para a troca. A cena dos mecânicos correndo, como não foi trágica, foi digna de pastelão. Hamilton e Webber colocam pneus intermediários, mas a pista nem chega a molhar direito e ambos se vêem obrigados a mais uma troca. Para piorar a situação de Hamilton, o inglês foi punido com um drive-thru por girar o carro na pista de maneira perigosa quando perdeu a posição para Button.

Button foi quem melhor teve controle do carro em condições adversas

Assim como em sua primeira vitória na carreira, exatamente na Hungria, Button se manteve na ponta quase sem cometer erros e venceu em seu 200º grande prêmio da carreira com a postura de sempre. Alonso conseguiu uma ótima terceira posição e Hamilton chegou apenas em quarto. Webber roubou a seqüencia de quintos lugares de Massa, e deixou o brasileiro em sexto apenas, com o consolo de ter conseguido a melhor volta da prova. Paul Di Resta conseguiu um excelente sétimo lugar, assim como excelente foi o oitavo posto de Buemi, que largou em penúltimo. Rosberg e Alguerssuari completaram os dez primeiros.

Ah, esqueci de Vettel. Na verdade, deixei o alemão e seu segundo lugar na corrida para comentar por último. Como alguém pode achar que, faltando apenas oito etapas, alguém vai superar o atual campeão na sua briga pelo bicampeonato? A vantagem de Vettel para Webber, vice-líder, depois do GP da Alemanha, era de 77 pontos. Vettel sai da Hungria com 85 pontos sobre Webber, 88 sobre Hamilton, 89 sobre Alonso e 100 a mais que Button. Considerando que Vettel vença mais uma ou duas corridas, no mínimo, das oito restantes, Webber, Alonso, Hamilton e Button começam já na próxima etapa, na Bélgica, a luta acirrada pelo vice-campeonato. Será que algum deles ainda sonha com o campeonato? Duvido. Só se pegaram o telefone do piromaníaco da Lotus-Renault.

Vettel pode ter dado o passo definitivo em busca do bicampeonato

A gente se vê no Spa mais próximo, no final de agosto. Um abraço e até lá!

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

4 Responses

  1. Rene Arnoux says:

    É desta vez, o Hamilton deu uma de Mansell o grande trapalhão da F1, resolveu trocar pneus e depois se arrependeu, tomou punição, que no meu entender não merecia, pois não provocou nenhum acidente em seu zerinho perfeito. O Cara que parecia ser o adversário do Vettel na briga pelo título, parece que ficou pelo caminho…..!

  2. Obrigado Rene Arnoux !
    Espero que você nos visite com assiduidade.
    O zerinho do Hamilton realmente foi perfeito, mas a regra é clara.

    Abraço!

  3. A corrida foi um show de drifts mesmo, pura pilotagem, coisa bonita de se ver!

    Este é o verdadeiro espirito da competição…

  4. Mauricio Mikola says:

    É em uma prova dessas que se entende por quê a F1 é tão emocionante. Pode se esperar de tudo, e ainda assim, se surpreender.

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