O jovem de milhões de watts


Vettel só não saiu de Cingapura com o título matematicamente decidido por falta de um ponto apenas. Na pista, ele passeou, Button foi ótimo, Hamilton voltou a ser Hamilton e até Schumacher voou, literalmente. Confira.

Ataque em pares

Sebastian Vettel pisou na pista de Cingapura tentando evitar o favoritismo, mas não conseguiu. Enquanto os jornalistas alardeavam a festa programada pela Red Bull, tiravam seu companheiro Mark Webber do sério com perguntas desnecessárias, e ainda insistiam em dizer que Ferrari e McLaren já tinham jogado a toalha, Vettel foi para a pista iluminada fazer o que mais sabe, que é acelerar.

O alemão não teve o mínimo trabalho para conquistar mais uma pole na temporada. Nem deve ter prestado atenção nas zebras que se soltavam pela pista, com a sujeira ou com os muros que a cada volta tinham mais intimidade com os compostos Pirelli. Foi simplesmente arrasador e colocou diferença confortável sobre Webber. O australiano conseguiu, ao menos no treino oficial, mostrar que quer brigar pelo vice-campeonato, esperando uma certa ajudinha da equipe (leia-se Vettel).

McLarens em terceiro e quarto lugares, desta vez com Button sendo mais eficiente que Hamilton e abrindo a segunda fila. O emparelhamento das equipes seguiu com Alonso e Massa na terceira fila, com o asturiano superando o brasileiro em quase um segundo. Os dois Mercedes logo atrás, sempre com Rosberg na frente de Schumacher. E para fechar os dez primeiros, os dois carros da Force India, com Sutil e Di Resta prometendo marcar pontos.

As cinco primeiras filas com suas duplas de pilotos lado a lado, evidenciando o fator equipamento na ordem das equipes e o fator talento na ordem de cada uma, com seus pilotos em melhor fase superando seus companheiros de equipe. De destaque mesmo, apenas o vôo de Kamui Kobayashi sobre a zebra tirando quase todas as rodas do chão e batendo na proteção na sequência, ficando com uma modesta 17ª posição no grid. Seu companheiro Sergio “Ligeirinho” Peréz, só como comparação, conseguiu um ótimo 11º lugar, a frente de Rubens Barrichello da Williams.

Desta vez, promessa de temporal no domingo na hora da largada, e isso mudaria tudo. Havia até uma possibilidade de suspender a corrida em caso de chuva forte, pois a visibilidade seria muito pequena com o brilho dos holofotes.

Apenas uma ronda noturna

Apesar da elevadíssima umidade e do calor, não avisaram São Pedro em tempo e as torneiras celestes não foram abertas no domingo. Resultado: Vettel só precisou se preocupar em contornar a primeira curva na frente para deixar a briga entre os demais. E foi o que ele fez.

Vettel vai embora na largada

Na estreita pista cingapuriana, passar ileso na chicane ao final da reta dos boxes é quase impossível. Rosberg, por exemplo, foi lá fora e voltou na frente de Massa, mas a direção de prova entendeu como manobra limpa do alemão mais novo da Mercedes, que não precisou devolver a posição. Webber e Hamilton largaram muito mal. Webber, na verdade, ficou para trás em relação a Button e segurou Hamilton que vinha logo atrás, fazendo o inglês cair para a oitava posição. Por falar em Hamilton, o inglês foi um dos protagonistas da prova, e não por suas ultrapassagens apenas. Hamilton tinha melhorado o comportamento do início da temporada, mas na Bélgica já tinha se precipitado com Maldonado nos treinos e com Kobayashi na corrida. Na Itália, foi aquela disputa acirrada com Schumacher. Mas Hamilton teve nova recaída. Nos treinos já havia demonstrado impaciência com Massa e ultrapassou o brasileiro na volta lenta, sem muita justificativa. Bradou aos quatro cantos que não estava na Fórmula 1 para fazer número, e sim para vencer apenas, citando inclusive que não queria ficar como Barrichello, por exemplo.

Caindo para oitavo, justamente atrás de Schumacher (de novo), Hamilton desta vez não precisou de muito esforço para ultrapassar o alemão, se valendo da abertura da asa traseira. Em seguida, foi a vez de Hamilton ultrapassar Rosberg, já assumindo assim a 6ª posição. Pouco mais à frente, Button, Alonso, Webber e Massa começavam a se embolar na pista, mas era Hamilton que vinha atrás de pelotão e parecia naqueles seus dias de showman. Na verdade, quase isso.

Massa e Hamilton esquentaram ainda mais o clima de Cingapura

Logo após a ultrapassagem de Webber sobre Alonso, o espanhol foi para os boxes e logo atrás vieram Massa e Hamilton juntos. Na volta para a pista, porém, Hamilton tentou onde não dava e acabou tocando o lado esquerdo do bico do McLaren no pneu traseiro direito de Massa. Bico quebrado pra um, pneu furado para outro. Comprometimento certo para a prova de ambos. Com uma volta de pneu furado com sua Ferrari, Massa perdeu muito. Hamilton teve que trocar o bico e foi penalizado com um drive-thru. Ao final da prova… Bem, ao final da prova eu conto o que aconteceu.

Uma briga aqui, outra ali, e a classificação da prova mostrava Paul Di Resta com a sua Force India na terceira posição. Ainda que sem fazer nenhum pit-stop até aquele momento, Di Resta mostrava que a Force India vem se desenvolvendo bem, no entanto, sem milagres. Tanto que Alonso, após seu pit-stop, chegou e passou por Di Resta sem nenhuma dificuldade, até porque o escocês foi o único entre os dez primeiros do grid a largar com pneus macios, e não os super macios como os demais top ten. Mark Webber tomou o terceiro lugar de Fernando Alonso, pois os carros vermelhos estavam sentindo muito o desgaste de pneus. E Schumacher vinha em boa corrida, de novo. Andou em quinto, chegou a fazer até a melhor volta em determinado momento, estava voando, e voou, literalmente. Tudo porque Rosberg, que atacava Sutil, foi na sujeira e acabou tomando uma ultrapassagem de Pérez, só que Rosberg não se deu por vencido e jogou duro para retomar a posição, chegando a tocar roda com o mexicano que teve que sair da pista. Ao retornar, Pérez virou presa fácil para o velho Schumacher, só que o alemão errou na aproximação ao carro da Sauber e o toque roda com roda fez com que Schumacher decolasse e acabasse no muro, provocando a entrada do safety-car.

Schumacher aterrisou com segurança após voar quando tentava ultrapassar Pérez

Era metade da corrida e mais da metade do grid já tinha tomado uma volta de Vettel.

A entrada do safety-car provocou várias idas aos boxes. Webber, por exemplo, havia perdido a posição para Alonso, mas conseguiu retomar seu lugar no pódium sem muita dificuldade. E uma briga interessante, entre Di Resta, Rosberg, Sutil, Hamilton e Pérez. Hamilton estava agora pilotando como gente grande, tentando se redimir da besteira do começo, e foi passando um por um até assumir a quinta posição.

Entre uma briga e outra, Kobayashi também tomou um drive-thru, sem afetar em nada a cotação do dólar. Assim, nada poderia tirar a vitória de Vettel, mas sempre tem um homem do pirulito no meio do caminho para trazer emoção para a prova.

Com Button, Webber, Alonso e Hamilton fazendo mais uma parada para troca de pneus, Vettel fez o mesmo para evitar surpresas, só que teve uma. Lá na saída dos boxes, onde ficam as equipes pequenas, estava Jarno Trulli e sua Lotus sendo liberados para voltar à pista e, por pouco, Trulli não acerta o carro de Vettel. Sem culpa para o italiano, mas o responsável pelo pirulito quase se torna peça chave na decisão do título deste ano.

Button fez outra excelente prova e agora é o vice líder do mundial

A vantagem de Vettel era suficiente para que o alemão ligasse o ar condicionado do seu Red Bull para enfrentar o calor de Cingapura. Talvez por isso Button começou a tirar a diferença nas últimas sete voltas. A tensão aumenta quando Vettel chega em três retardatários, e ainda teve Alguerssuari no muro nas últimas voltas, mas a noite era tranqüila para o (quase) bicampeão do mundo. Porém, vale destacar a excelente prova de Button e seu segundo lugar. O inglês está sendo constante e rápido o suficiente para se manter na vice-liderança da competição e hoje foi o responsável por estragar a festa completa de Vettel. Webber completou o pódium. Alonso chegou em quarto muito atrás, quase um minuto depois de Vettel. Destaque para os carros da Force India, com o sexto lugar de Di Resta e o oitavo lugar de Sutil. Rosberg foi sétimo, Massa ficou em nono e Pérez completou em décimo.

Ótima corrida da Force India, com Di Resta (foto) em sexto e Sutil em oitavo

Resta um

Os dois assuntos ao final da corrida: a briga pelo vice-campeonato e a briga entre Hamilton e Massa. Briga porque Massa estava furioso e foi tirar satisfações com Hamilton enquanto o inglês dava entrevistas. Os tapinhas (fortes) no braço do inglês e o sinal de positivo com a frase “good job” foram ríspidas, o que mostra que o brasileiro não engoliu o toque do inglês na briga do início da prova. Aliás, a briga começou no sábado, como dissemos. Mas não dá pra tirar o mérito do inglês no restante da prova. Hamilton teve uma parada para trocar o bico e um drive thru contra si. Massa teve que se arrastar com o pneu furado até os boxes. Quando ambos estavam com suas devidas mecânicas e funilarias em dia, Massa estava duas posições à frente de Hamilton, que era apenas o décimo nono. Ao final, Massa foi nono, Hamilton quinto. Deixo as conclusões para vocês.

Festa do pódium, com show pirotécnico

Na briga pelo vice-campeonato, Button, Alonso e Webber com respectivos 185, 184 e 182 pontos, ainda vão longe nesta disputa. Hamilton está com 168 pontos e pode almejar posição melhor que o quinto lugar no campeonato. Méritos, todos aqui tem. Button por mostrar que mesmo com um carro inferior aos da Red Bull, não vê em Mark Webber um problema. Alonso por tirar mais que a Ferrari pode lhe dar. Webber, que precisa melhorar as largadas, por ser o único a bater em três oportunidades este ano.

Agora só falta um ponto para o bi de Vettel

Para Vettel ser o mais jovem bi-campeão da história da Fórmula 1, resta apenas um ponto. Isto significa que Button tem que vencer todas as próximas cinco etapas do mundial e Vettel não pode marcar mais nenhum ponto, que na prática quer dizer não chegar entre os dez primeiros nas mesmas cinco etapas restantes. O Japão, portanto, deverá ser palco da consagração do jovem monstro do automobilismo mundial, que o destino achou por bem adiar em duas semanas, só pra não ser ainda mais precoce.

Nós estaremos atentos, madrugada à dentro, para testemunhar tudo, mesmo que à distância.
Até lá!

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

2 Responses

  1. Fábio A. says:

    Maldita chuva que não veio e estragou minha estratégia!!!! heheheeheheee

    E pra mim, o Massa já é substituto garantido para o lugar do Rubinho….está se tornando medíocre e tirando da responsa dele os motivos de não conseguir brigar pelo campeonato!!

    E como não seria diferente, Ótima coluna Laurão!!!!!!!!!! =)

    Vamo que vamo!!

    Até o Japão!!

    Abcs!!

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *