Enfim, Nico!


Brilhante nos treinos e na estratégia de uma parada a menos, Nico Rosberg desencantou na Fórmula 1 em um final de semana todo prateado, que ratificou a força da Mercedes em 2012, mesmo com o abandono de Schumacher por um erro no pit-stop.

Pole com sobras

Nas três semanas que separaram o GP da Malásia do GP da China, praticamente todas as atenções estavam no que ainda vai acontecer, se acontecer, no GP do Bahrein. Dos pilotos, quem menos aproveitou o período de recesso foi Felipe Massa, que se viu massacrado pela imprensa italiana na primeira semana após o GP malaio. O brasileiro foi para Maranello trabalhar com a equipe para tentar melhorar seu desempenho já na China. A Ferrari trouxe vária atualizações aerodinâmicas para tentar resolver o problema se velocidade em reta, seu maior problema atualmente.

A Red Bull também trabalhou para tentar voltar a primeira fila do grid, e trabalhou nos carros de Vettel e Webber de maneira diferente; enquanto o bicampeão foi para a pista com o escapamento usado na Malásia, Webber utilizou uma configuração diferente.

E são os times prateados que parecem mesmo em estado de graça. A McLaren com seu bico tradicional e a Mercedes com um sistema de dutos do aerofólio dianteiro que realmente é de engenharia pura. Na prática, o que o time alemão realizou é a inversão do tradicional fluxo de ar da frente para a traseira do carro, fazendo com que seja aberta uma entrada de ar simultaneamente a abertura da asa traseira, e este fluxo de ar, que passa pela abertura da asa traseira, é conduzido até a asa dianteira por dutos internos, diminuindo o arrasto aerodinâmico por praticamente anular o downforce na asa dianteira. Esses engenheiros…

Michael Schumacher agora não precisa mais se preocupar em esconder a parte debaixo do bico do carro como fez na Austrália, já que a FIA aprovou o sistema, e o heptacampeão sabe, como poucos, usar de uma vantagem competitiva na pista. Os treinos livres foram dominados por ele, tendo sempre Hamilton por perto. Hamilton, contudo, perderia cinco posições no grid por causa de uma troca do câmbio e largaria, na melhor das hipóteses, em sexto. O inglês bem que tentou, mas com o segundo melhor tempo do treino oficial, Hamilton largou apenas em sétimo. Melhor para Webber (sexto), Button (quinto) e Raikkonen (quarto).

Para confirmar a boa fase da Sauber, Kobayashi colocou o carro suíço na terceira posição do grid, logo atrás de Schumacher. Até este último, todos favorecidos pela punição de Hamilton. Só que quando se faz a primeira pole position da carreira, ela tem que ser legítima, certo? Pois foi assim, com legitimidade, que Nico Rosberg conseguiu superar a todos, até com certa facilidade, em seu 110º GP e colocar a Mercedes na pole depois de mais de cinco décadas. Um feito e tanto e, provavelmente, a primeira fila mais germânica de todos os tempos. Era de se esperar Vettel nesta disputa, mas o escapamento velho o deixou apenas na 11ª posição, fora do Q3. Perez, Maldonado e Alonso completaram os dez peimeiros, enquanto Massa, ao que parece, não trabalhou o suficiente ou na coisa certa, ficando apenas em 12º.

Rosberg e Schumacher na primeira fila, Kobayashi e Raikkonen na segunda, Vettel fora do primeiro pelotão e promessa de uma grande corrida.

Hoje ninguém me pega

Disposto a vencer e sem demonstrar sentir-se pressionado, Rosberg largou muito bem e foi embora, enquanto Button pulou para a terceira posição. Kobayashi não conseguiu se segurar na frente e caiu para sexto. Alonso e Massa ganharam algumas posições. Massa foi ate tocado por Senna, que teve o bico da Williams um pouco danificado, mas sem grandes prejuízos para ambos. Quem ficou ainda mais para trás foi Vettel, caindo para décimo quarto na primeira volta.

1-Nico Rosberg largou muito bem e deixou o problema para Schumacher segurar os carros da McLaren

Mais algumas voltas e Pérez já aparecia na frente do companheiro Kobayashi, e as câmeras de TV já focavam o mexicano na espera de uma repetição do que aconteceu na Malásia, mesmo sem chuva.

Com apenas sete voltas completadas, Webber abre os serviços de pit-stop, e logo demonstra que com sua estratégia não era tão ruim, já que começou girar muito rápido. Neste momento, Rosberg tinha mais de três segundos a frente de Schumacher e este parecia um verdadeiro escudeiro, segurando todo um pelotão. A parada mais disputada foi entre Hamilton e Raikkonen, que entraram juntos e saíram lado a lado no pit lane, com vantagem para o inglês que saiu a frente e ainda deixou Webber entre ele e Raikkonen logo na sequencia, em um retorno a pista super disputado.

Tudo ia bem para a Mercedes quando Schumacher fez sua parada para troca de pneus, primeiro que Rosberg, inclusive. O pneu dianteiro direito foi trocado, assim como os demais, mas o “homem da pistola” não se entendeu com o “homem do pirulito” e este último liberou o alemão antes do aperto da porca. Schumacher abandonou logo no retorno a pista, fechando com “chave de roda” seu final de semana, típico de um segundo piloto.

Voltadas as atenções para a pista e sem fazer sua parada, era Perez quem liderava a prova, mostrando bom equilíbrio da Sauber, e quando o mexicano foi para os boxes, a liderança caiu no colo de Massa, só que mesmo retardando a parada, Massa foi alcançado por Rosberg, já de calçados novos, e foi ultrapassado com facilidade.

Button, mesmo largando mais atrás, era apontado como favorito, mas o segundo lugar também foi ótimo para o campeonato

Uma briga intensa entre Raikkonen e Alonso se travava enquanto Vettel vinha recuperando posições de forma consistente. Já era momento de uma segunda rodada de pit stops e as brigas se espalhavam pela pista. Button contra Maldonado, Massa segurando Hamilton e Webber, depois Button contra Vettel, Perez lutando muito com Hamilton e Webber, enfim, brigas que tornaram a prova disputadíssima depois de um inicio bem monótono. E Button era o grande favorito neste momento, pois girava mais rápido que Rosberg e se as estratégias fossem as mesmas, venceria ate com certa facilidade.

Massa segue sem pontuar, e desta vez chegou até a liderar a prova

As brigas continuavam, com Pérez segurando Hamilton o quanto podia, mesmo a custa de muitas fritadas de pneus. E Massa, nesta altura em quinto, segurava uma fila com Raikkonen, Kobayashi, Vettel e Grosjean.

No momento mais tenso da prova, Webber erra a entrada da grande reta, sai da pista, e ao tocar na zebra toma um grande susto quando a frente do Red Bull levanta de maneira muito perigosa, quase levantando vôo literalmente. Não passou de um frio na espinha apenas e Webber continuou na prova sem maiores problemas.

Os bens da Mercedes

Button então vai para sua terceira parada e a equipe se atrapalha com o pneu traseiro esquerdo. O inglês perde mais de seis preciosos segundos, e volta pra pista disposta a recuperar terreno. Com a parada de seu principal oponente, Rosberg voltava para a ponta enquanto atrás dele vinham, em um bloco único, Raikkonen, Vettel, Button, Grosjean, Webber, Senna, Hamilton, Maldonado e Alonso. Obviamente, muita briga ainda era esperada, e começou com Alonso tentando para cima de Maldonado e saindo da pista, voltando perigosamente a frente de Pérez, mas o mexicano não quis nem saber em tirar o pé e passou Alonso. Quando todos chegaram em Grosjean, a briga entre eles teve direito a faísca e tudo.

Vettel ainda não foi nem ao pódium em 2012, mas mostrou que segue competitivo

Raikkonen era segundo, com apenas duas paradas assim como Rosberg e Vettel, por exemplo, e já faltavam poucas voltas para o final. Só que quando se anda nestas condições, qualquer vacilo pode significar muito, e foi o que aconteceu. Vettel e Button passaram no erro do finlandês, que depois foi caindo, caindo, caindo, até chegar em um insignificante décimo quarto lugar.

E o que esperar de uma briga entre Perez e Kobayashi então? Ambos desceram a grande reta se espremendo, quase se tocaram na parte suja (aliás, põe sujeira nisso) mas o japonês mostrou o arrojo de seu cartão de visitas de anos atrás e passou Pérez.

Menos desastroso que Raikkonen, quem também não segurou a estratégia de duas paradas foi Vettel, que perdeu rendimento no final da prova e acabou ficando apenas com a quinta posição.

Brigas intensas durante a prova. Nesta, Alonso era o recheio

Mas o dia era mesmo de Rosberg. Com uma parada a menos que Button, o alemão venceu na base da estratégia e do equilíbrio da Mercedes. Sua primeira vitoria em seu 111º GP na carreira. Os pilotos da McLaren, Button e Hamilton, completaram o pódium da Mercedes, para alegria do diretor esportivo da marca alemã Norbert Haug. Webber e Vettel vieram logo atrás.

Destaque também para as excelentes provas de Grosjean, Senna e Maldonado, que marcaram importantes pontos para suas equipes. Grosjean, enfim, conseguiu tirar um pouco da pressão sobre os ombros com este resultado, valorizado pela queda de rendimento de seu companheiro Raikkonen no final já que ambos fizeram a mesma estratégia de duas paradas. Alonso foi o nono e Kobayashi completou os dez primeiros a frente se seu companheiro Pérez.

Mesmo com este pequeno erro, Bruno Senna vem se consolidando na equipe e começa a pegar gosto por pontuar

A Mercedes venceu depois de 57 anos, e desde que assumiu o carro da equipe alemã, Rosberg foi constantemente superior a Schumacher. Mesmo voltando de aposentadoria, o heptacampeão era sempre esperado brigando por vitórias, mas Rosberg nunca baixou sua guarda e foi superior todo este tempo. É verdade, que Rosberg venceu sem Schumacher na pista, exatamente em um momento em que ele, Schumacher, se mostra mais acostumado ao carro e melhor preparado para brigar na frente, mas isso é o de menos. De uma vez só, Rosberg pôs fim ao jejum de poles e escreveu seu nome na galeria dos vencedores. Prometeu que esta será apenas a primeira de muitas, mas pode até sonhar mais alto se lembrar que seu pai, Keke Rosberg, quando foi campeão em 1982, venceu apenas uma etapa do campeonato. Isso, pelo menos, Rosberg já fez.

A Fórmula 1 tem agora Lewis Hamilton na liderança do campeonato com seus três terceiros lugares, seguido de Jenson Button e Fernando Alonso. Logo depois vem a dupla da Red Bull, com Webber a frente de Vettel e só então aparece Rosberg, em sexto.

No Bahrein, todas as atenções para a que a tensão política que vive o país não produza nada de negativo para os profissionais que lá trabalharão. Para mim, uma decisão equivocada da FIA, pois a Fórmula 1 só tem a perder com isso. De qualquer forma, que as brigas fiquem dentro da pista apenas.

Um abraço e até lá!

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

4 Responses

  1. Fernando Neto says:

    Foi um boa corrida, a estratégia do massa quase funcionou…mas é muito estranho ver a ferrari tão mal! Eu não aposto nela até a temporada ir pra europa. Que venham o gps pela manhã, eu preciso dormir!! 🙂

  2. Dormir será um ganho daqui para frente, pelo menos por um bom tempo.

  3. Alexandre A. ctba pr says:

    Que corrida mais “fulera” eu nem devia ter apostado no bolão afff…. Ótimo texto como sempre, só meio grande de mais hehehe, sorte que eu tava sem nada pra fazer ;D, no mais, Parabéns.

  4. Olá Alexandre, bom vê-lo por aqui novamente. Sei que o texto é um pouco grande sim, estou tentando melhorar meu poder de síntese e comentários como o seu vão nos ajudar nisso. Quando escrevo, às vezes penso até que estou sendo muito breve em algumas coisas. Obrigado pela ajuda e venha mais vezes aqui na coluna, ok?
    Um abraço.

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