A hora H


Hamilton se torna o sétimo vencedor diferente na temporada e sai do Canadá como líder do campeonato, em uma prova que teve Grosjean e Pérez completando o pódium. A imprevisibilidade virou a marca de 2012.

Vettel conquista a pole

Depois da etapa de Mônaco, a aposta de um grande prêmio cheio de emoções no Canadá era quase uma barbada, e começou sob protestos. Não me refiro aos protestos estudantis locais, que causaram reforço na segurança local, mas sim ao das equipes em relação aos furos no assoalho dos carros da Red Bull, vencedora da etapa de Monte Carlo. A FIA considerou que tais furos eram ilegais, e mesmo sem anular a vitória de Webber, a Red Bull teve que fazer uma funilariazinha nos carros 1 e 2.

Eu acho o circuito do Canadá extremamente interessante e desafiador. Trechos de aceleração plena, freadas fortes, muros passando muito perto de vez em quando, ou seja, técnica pura. Erros podem ser definitivos, e na hora de buscar o limite do carro, alguns exageram um pouco. Nos treinos livres foi Bruno Senna quem acertou o chamado “Muro dos Campeões”, na entrada da reta dos boxes, danificando muito seu Williams, que não apresentou um bom rendimento durante todo o final de semana. Seu companheiro, Maldonado, andava no meio do grid, mas na hora do treino oficial foi ele quem acertou o mesmo muro e, como conseqüência, teve a necessidade da troca de câmbio de seu carro, largando em 22º apenas, ou seja, na frente apenas da Hispânia, certo? Errado.

O espanhol Pedro de La Rosa, além de ficar na frente de seu companheiro Karthykeyan (ainda aprendo a escrever o nome dele sem consultar), também colocou tempo em cima dos dois carros da Marussia, de Glock e Pic. A Toro Rosso, com Vergné, deixou a desejar, e ficou atrás inclusive da Caterham de Kovalainen.

Mas o que importa mesmo é lá na frente, e o brasileiro Massa fez excelentes treinos, chegando a fechar na terceira posição o último treino livre. No treino oficial, conseguiu um ótimo sexto lugar, sua melhor posição de largada este ano e estava com muita motivação depois da boa corrida em Mônaco. Não conseguiu superar Alonso, é verdade, e ainda teve os carros de Rosberg e Webber entre ele e o espanhol, mas a sentia-se que Massa era outro.

Grosjean foi, mais uma vez, melhor que Raikkonen e conseguiu a sétima posição no grid, logo a frente do ótimo Paul Di Resta, que se classificou em oitavo, a frente de Schumacher e Button. Fazendo um parêntese no treino classificatório, Di Resta é um dos nomes cotados para assumir a vaga de Schumacher na próxima temporada. Lembrando que Di Resta corria pela Mercedes na DTM e corre com o motor da fábrica alemã em sua Force India. Ainda é um pouco prematuro falar na dança de cadeiras, mas a vaga da Mercedes é muito cobiçada, tanto que Hamilton foi especulado por lá também. E o que poderia tirar Hamilton da sua “casa”, a McLaren? Falta de desempenho, de perspectiva, de chance de título? E que tal uma pole para deixar o assunto para depois?

Se não deu para Hamilton conquistar a pole, pelo menos o lugar na primeira fila já estava de bom tamanho, principalmente se comparado ao desempenho ruim seu companheiro Button, com muita dificuldade de relacionamento com sua máquina. O lugar de honra no grid ficou com o atual bicampeão Vettel, que bateu duas vezes o seu tempo. Lembram daquela “funilariazinha”? Pois é, nem era necessária.

Dos dez primeiros, apenas Button e Webber largaram com pneus macios, pois todos os demais estavam calçados com os supermacios. Todos sabiam que a estratégia de pit-stops poderia ser decisiva durante a corrida, e mesmo com a maioria largando com o mesmo tipo de pneu, a ordem e o número de voltas de cada parada era muito estudada, e para complicar, o sol veio forte na hora da corrida, ao contrário do que havia ocorrido nos treinos.

Massa desanda

Logo após a primeira curva, o circuito canadense possui uma outra curva em forma de grampo, que costuma trazer uma “intimidade” maior entre os carros. Desta vez, ninguém precisou ir mais cedo para o motorhome. Vettel, Hamilton, Alonso, e uma briga ótima entre Webber e Rosberg deixaram os cinco primeiros na mesma ordem da largada. Massa também se manteve, e apenas Grosjean perdeu a posição.

Largada comportada em Montreal, com Vettel a frente

Como dissemos, Massa estava com tanta vontade de mostrar resultado que sequer esperou a liberação da abertura da asa móvel para passar por Rosberg, ainda na segunda volta da prova. Di Resta também ganhou a posição de Rosberg na seqüência. A única coisa que não poderia acontecer para Massa era um erro, mas errar é humano, e o brasileiro rodou sozinho na entrada do grampo, mas conseguiu voltar, em 12º. Uma pena a rodada de Massa, que tinha bom ritmo e apetite. Foi Massa também o primeiro a fazer o pit-stop. Na frente, Hamilton tirava diferença para Vettel e Alonso acompanhava um pouco mais distante.

Button, Raikkonen, Kobayashi e Pérez disputavam uma posição na zona de pontos e, na hora que o finlandês passava por Button, Pérez quase acerta Kobayashi na freada do final do retão e quase enfarta o patrão Peter Sauber. A equipe suíça tinha boas chances de pontuar e quase fica de fora logo no começo. Só um susto.

Massa e Rosberg começaram bem mas acabaram com resultados discretos

Hamilton se aproximou perigosamente de Vettel mas o alemão entrou para sua troca de pneus. Na volta seguinte foi a vez de Hamilton, que conseguiu voltar a frente de Vettel. Na pista, Alonso retardou o seu pit em mais uma volta, apostando que voltaria na frente de ambos, Hamilton e Vettel, e estava certo. A corrida começava e se desenhar entre os três.

Hamilton, ainda na volta em que Alonso retornou dos boxes, passou como quis pelo espanhol, sem piedade. Vettel não conseguiu o mesmo e se mantinha atrás de Alonso. Logo atrás dos líderes vinham Raikkonen, Kobayashi e Pérez, que não haviam feito suas paradas ainda e tentavam se colocar melhor na prova já que largaram na segunda metade do pelotão. Kobayashi foi, dos três, quem fez a troca de pneus antes, e saiu da briga direta pelo podium. Button, coitado, ia para sua segunda parada, irreconhecível.

Hamilton no ataque sobre Alonso

Mais um pouco e o rendimento de Raikkonen, que era de meio segundo mais lento que Vettel, estabilizou-se em dois décimos mais lento apenas, com Pérez atrás e Webber se aproximando com perigo. Rosberg era quem fazia a melhor volta, decide pela sua segunda parada e deixa Grosjean se aproximar de Webber, principalmente depois que o australiano cometeu um pequeno erro. A corrida, sem muitas ultrapassagens na pista até este momento, começou a tomar contornos de um gran finale quando Raikkonen e Pérez finalmente fazem suas paradas e voltam com pneus supermacios. Todos se perguntavam se, a menos de trinta voltas para o final, ambos teriam pneus para alcançar os líderes.

Hamilton mantém o revezamento

O que acontece com Schumacher? Depois de sentir o gosto da pole na corrida anterior, Schumacher não foi sombra para Rosberg em nenhum momento durante o final de semana. Digno de nota, apenas a briga com Kobayashi em alguns momentos do GP canadense, mas uma falha mecânica impedia que a asa móvel se fechasse automaticamente, como prevê o regulamento. Na tentativa de arrumar a peça, o que chamou a atenção foi a “delicadeza” do pessoal do box, esmurrando a pobre asa, sem sucesso, obrigando o heptacampeão a abandonar a prova. Ainda bem que o problema de Schumacher não foi na viseira…

4-Pérez quase fez bobagem, mas o pódium valoriza ainda mais o seu passe

O rendimento de Hamilton caía e o inglês opta pela segunda parada. Assim como na primeira, uma certa demora durante a troca, mas Hamilton volta decidido a descontar na pista seus problemas no box e começa a fazer as melhores voltas da prova. Informado pelo rádio de que talvez Alonso e Vettel não parariam mais, Hamilton passou a andar com tudo que tinha direito.

Pouco mais atrás, Massa tentava ganhar posição sobre Rosberg, com Pérez logo atrás. Na tentativa de defesa, Rosberg corta a chicane e, quando abre para Massa retomar a posição, Pérez se aproveita e também passa pelo alemão. Mais uma volta, Pérez passa por Massa também, que vai para os boxes em seguida. Rosberg ainda consegue ultrapassar Webber.

Schumacher e sua asa quebrada. Assim o alemão não pode voar

A corrida se encaminhava para as últimas dez voltas. Alonso se arrastava na liderança enquanto Hamilton descontava mais de um segundo por volta de Vettel. Sem chances de segurar a posição, Vettel não oferece resistência para um alucinado Hamilton, que em duas voltas mais chegou e passou também por Alonso. Vettel então surpreende e decido por mais uma parada, enquanto Alonso fica na pista, como já disse, se arrastando totalmente sem pneus.

Quem aparece para tomar a posição de Alonso é Grosjean, que também fez apenas uma parada e tinha pneus suficientes para passar e abrir do espanhol. Mais um pouco e Pérez, com os pneus supermacios, descontava mais de dois segundos por volta e assumiu a terceira posição sobre Alonso, faltando duas voltas para o final. Ainda deu tempo de Vettel fazer a melhor volta da prova e passar por Alonso, que caiu para a quinta colocação.

Grosjean se alterna entre o céu e o inferno. O Canadá foi o céu

Fosse Hamilton, Grosjean ou Pérez a vencer, o sétimo piloto a conquistar a vitória no mundial de 2012 era uma questão de tempo, faltando duas voltas para o final e, na estratégia, deu Hamilton pela primeira vez no ano e de maneira brilhante, seguido dos novatos que já vão se acostumando ao gosto do champanhe, já que Grosjean e Pérez conquistaram o segundo podium em sete provas. Rosberg conseguiu um sexto lugar, pouco pelo que apresentou durante a prova, e foi seguido de Webber, Raikkonen, e Kobayashi (lembram da preocupação do “Seu” Peter?). Massa, como consolação, conseguiu um ponto com o décimo lugar.

O campeão de 2008 sai do Canadá como líder do mundial, com 88 pontos. Alonso aparece em segundo com 86 pontos e Vettel tem 85. Mais atrás, Webber tem 79 pontos, Rosberg tem 67 e Raikkonen 55. Seis pilotos, cinco equipes diferentes.

Bandeira inglesa em punho, Hamilton é recebido com muita festa nos boxes

Dá pra apostar em um oitavo vencedor diferente logo na oitava corrida do ano? A resposta é sim, embora isto seja bem difícil, até estatisticamente falando. Se você pudesse escolher um piloto para ser o oitavo a vencer este ano já na próxima etapa, o GP da Europa, quem você escolheria? Raikkonen ou Grosjean (a primeira vitória da Lotus)? Massa? Schumacher? Pérez? Di Resta? Independente de sua aposta, vale a pena acompanhar este campeonato, inédito, surpreendente, uma verdadeira degustação de champanhe.

Um abraço e até a próxima!

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

2 Responses

  1. André Luiz says:

    Caro Lauro,

    Parabéns pela excelente análise, agora ao invés de perguntar no caso para mim, que não entendo nada, que tal dar sua opinião de quem será o 9º vencedor da próxima prova.

    Abç.,

    André Luiz

  2. Obrigado André pela leitura e pelos elogios.
    Quanto ao 9º vencedor, é difícil, afinal, estatisticamente temos 16 carros com chances de vitória, no que excluo obviamente Marussia, HRT, Caterham e Toro Rosso. Dos 16, 8 já venceram, ou seja, é 50% de chance de se repetir o vencedor. Se fizermos por performance, a chances devem chegar a 80% (não calculei, ok?!).
    Prefiro dizer que torço por Raikkonen vencer, mas Grosjean está melhor e pode surpreender. Seria muito bacana ver Pérez ou mesmo Kobayashi vencerem e trazerem a Sauber para o primeiro pelotão em definitivo. Schumacher seria a redenção, historicamente um evento e tanto. A Force India seria a zebra das zebras, e acho que em Valência não vai dar, se fosse SPA Francochamps, talvez…
    Como bom político, falei, falei e não disse nada, então vamos lá: torço por Raikkonen, mas acho que dá Alonso.
    Um abraço!

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *