Mark bem, Webber vem aí


O australiano vence mais uma no ano, diminui para doze pontos a diferença para o líder do campeonato Fernando Alonso, e se candidata ao título da temporada mais imprevisível de todos os tempos. Alguém aposta no australiano?

Água para esquentar

A Fórmula 1 ainda estava chocada com o acidente da piloto de testes da Marussia, Maria de Villota, ocorrido durante a semana dos primeiros treinos em Silverstone. De Villota, que não pode substituir o adoecido Timo Glock em Valência por não possuir a super-licença para correr, testava componentes aerodinâmicos para a Marussia em uma pista reta, quando, ao voltar com o carro para a área de box, teve um problema repentino. O carro acelerou sem explicação aparente e acabou por bater na traseira do caminhão que transportava o próprio carro da equipe. A piloto teve sérias lesões na cabeça e acabou perdendo a vista direita neste acidente tolo e ao mesmo tempo terrível. De Villota segue em recuperação, sem previsão de alta.

Deixando o clima pesado um pouco de lado, o primeiro treino livre da sexta-feira teve a presença da chuva e alguns pilotos nem foi para a pista. Mas a volta do fator clima era a condição ideal para aquecer a disputa pelo campeonato. Pena que Grosjean não escolheu ir para a pista com o Batmóvel. Explico: a Lotus veio com uma ação de marketing para divulgar o novo filme do homem morcego, e seus carros e capacetes dos pilotos tinham menções sobre Batman. Grosjean até posou para fotos ao lado do Batmóvel. Raikkonen? Uma charada…

Pista molhada também na hora do treino oficial, mas ainda “navegável” para o Q1. Button foi muito mal novamente e continua sua fase bem mais difícil do que previa. Saiu no Q1 com o décimo oitavo tempo e foi favorecido depois por duas punições que lhe colocaram na décima sexta colocação. E veio muito mais água no Q2, tanto que a direção de prova interrompeu o treino faltando pouco mais de seis minutos para o encerramento desta segunda parte.

Conversas e mais conversas com São Pedro e, uma hora e meia depois da paralisação, os carros voltaram para a pista. Os dois carros da Sauber e mais o de Raikkonnen vieram com pneus intermediários, mas a escolha certa eram os pneus de chuva intensa. Caíram nesta etapa Pérez, Kobayashi, Rosberg, Ricciardo e Bruno Senna, além de Paul di Resta, mas o piloto da Force India foi beneficiado com a punição ao seu companheiro Hülkenberg, que caiu para a décima quarta posição. Kobayashi também foi punido e acabou largando em décimo sétimo.

Grosjean foi para o Q3, mas por causa de uma rodada no final do Q2, teve que se contentar com o nono tempo. Hamilton conquistou a oitava posição apenas, muito aquém da expectativa, mas consolado pela péssima atuação de Button, como dissemos anteriormente.

Maldonado foi quem conseguiu colocar uma das Williams entre os dez primeiros, mais especificamente na sétima posição do grid, atrás de um veloz Raikkonen, sempre ali nas primeiras filas. Nas cinco primeiras posições, os dois carros da Ferrari cercavam os dois da Red Bull e ainda tinha uma Mercedes no meio. Alonso mostrou que a fase é ótima mesmo e que em circunstâncias adversas é com ele mesmo, ou seja, pole position para o espanhol. Massa conseguiu um bom quinto lugar e estava ansioso para um ótimo final de semana enfim, mas os dois carros da Red Bull também confirmaram que vem evoluindo de maneira sólida. Webber, que gosta muito do circuito inglês, tratou de garantir um lugar na primeira fila ao lado de Alonso e deixou a encrenca toda para Vettel, que acabou perdendo a terceira posição para Schumacher, ainda empolgado com o pódium de Valência.

Apenas para constar, Jean Eric Vergné e Charles Pic também foram punidos e largaram na última fila. Nada que vá mudar a cotação do euro ou a crise na Grécia, mas é bom citar, afinal, vai que um dia o grid inverte, nunca se sabe…

Seco para apostar

Com a falta da chuva no domingo, os pilotos puderam escolher o pneu de sua preferência para a largada, já que todos treinaram com pneus de chuva e a obrigatoriedade de manter o mesmo composto do sábado não era aplicável no ensolarado domingo em Silverstone, embora as nuvens negras também estavam presentes na hora do apagar das luzes vermelhas, prontas para soltar o choro a qualquer momento.

Alonso vai embora e deixa todo mundo embolado na largada

Alonso, então, optou pelos pneus duros, mesma estratégia de Hamilton, os únicos aliás entre os dez primeiros a apostarem que o primeiro stint seria melhor desta forma. E pareciam ter feito a escolha certa, ao menos no início. Com o apagar das luzes vermelhas, Alonso, que largou um pouco mais lento que Webber, jogou o carro para cima do australiano para segurar a ponta e abrir do pelotão. Massa, com a outra Ferrari, também fez boa largada e ganhou a posição de Vettel, assumindo a quarta posição.

Apesar da pista larga, a sequência de curvas rápida logo após a largada fizeram com que alguns se tocassem, como quase sempre acontece. Vettel mesmo chegou a perder uma pequena peça do bico do carro quando Massa o ultrapassou, e este componente já entrou para a lista de redução de custos da Red Bull pois aparentemente em nada afetou o desempenho do carro durante a prova. Na lista de encontrões da primeira volta, Grosjean e Di Resta se aproximaram demais. Pior para o escocês, que teve um pneu furado e mesmo com a troca, acabou tendo que abandonar por problemas na suspensão traseira. Grosjean trocou bico e pneus e, assim, caiu para as últimas posições do grid (se tivesse escolhido o Batmóvel, nenhum dano teria sido acusado, com certeza).

Hamilton (foto) e Button não conseguiram um bom resultado em casa, e começam a se distanciarem da luta pelo título

Bruno Senna e Sergio Pérez vieram respectivamente da décima quarta e décima quinta posições para assumirem o oitavo e o nono lugar logo na primeira volta. E o que mais se viu nas primeiras voltas foram carros lado a lado buscando posicionamento, ultrapassando e sendo ultrapassados, num verdadeiro show. Isso ainda sem a liberação da asa móvel.

O normal acontecia, com Alonso abrindo um pouco para Webber, este abrindo um pouco para Schumacher. O heptacampeão estava segurando um Massa cheio de vontade e, jogando duro como sempre, Schumacher segurou o brasileiro por algumas voltas. Com isso, Vettel, Raikkonen, Maldonado, Hamilton e Pérez (que já tinha superado Bruno Senna), formavam a fila indiana do momento.

Enquanto Vettel já fazia a sua primeira troca de pneus, Massa precisava se definir na corrida e foi com tudo para cima de Schumacher em um ponto em que não era possível o uso da asa móvel. Passou com louvor sobre o alemão.

Maldonado e Pérez perderam boas chances de marcarem pontos. O venezuelano foi multado e advertido apenas

Aí aconteceu um momento de união entre os latinos Maldonado e Pérez. Ambos entraram nos boxes juntos para a troca de pneus, saíram juntos e algumas curvas depois saíram da pista juntos quando o mexicano fazia a ultrapassagem sobre o venezuelano. De novo, em minha opinião, Maldonado forçou demais a barra e acertou o carro de Pérez no meio, terminando com os dois rodando. Pérez teve que aceitar o abandono (da prova) enquanto Maldonado ainda conseguiu conduzir o carro com pneu traseiro furado até os boxes e voltar para a prova.

Quando Alonso foi para os boxes, veio um lampejo de alegria para os britânicos que viram Hamilton, sem ainda ter feito sua parada naquele momento, assumir a ponta por alguns momentos. Mas o desempenho da McLaren era tão ruim que Fernando Alonso, que voltou em segundo após a parada, alcançou e ultrapassou Hamilton na pista. Não foi fácil, Hamilton chegou a retomar a posição de Alonso em uma manobra ousada, mas a diferença de rendimento entre eles era notória. Logo depois, Hamilton foi para sua troca de pneus e voltou em sétimo, atrás de Raikkonen e Schumacher. Não demorou muito, porém, o finlandês e o inglês passaram pelo heptacampeão.

Massa fez uma corrida consistente e mostrou que pode ainda brigar na frente

Em uma corrida de recuperação, Grosjean já era oitavo antes da metade da prova, mostrando que a Lotus continua velocíssima, mas seus pilotos ainda precisam de mais do que a ajuda do homem morcego para vencerem em 2012. O francês, ou franco-suíco, foi então para sua segunda parada nos boxes, ainda na oitava posição, e a corrida chegou na metade com Alonso, Webber, Vettel, Massa, Raikkonen, Hamilton, Schumacher, Kobayashi (outro que fazia ótima recuperação) e Hulkenberg, tentando salvar o dia da Force India.

Hamilton então surpreendeu e faz duas paradas em menos de cinco voltas, colocando pneus macios e voltando para os duros logo em seguida, mostrando-se muito desapontado com o rendimento do carro com os compostos mais moles. Mesmo voltando atrás de Button, ele e Grosjean ultrapassaram o campeão de 2009 sem muita dificuldade. Pouco depois foi a vez do piloto da Lotus deixar Hamilton para trás.

Kobayashi e Schumacher lutavam pela sexta posição, sempre com uma disposição acima do comum, mas, algumas travadas de roda depois, Schumacher decidiu ir para nova troca de pneus, acabando com a esperança dos fiscais de pista para levarem pedaços de carro para casa depois do final da prova, como recordação.

Dois a dois

Lá na frente, Alonso tinha confortáveis vinte segundos de vantagem sobre Webber, mas o australiano ainda tinha um carro que permitia sonhar com a vitória, principalmente pelo fato de que o espanhol ainda tinha mais uma parada a fazer e colocaria os pneus macios obrigatoriamente, já que tinha utilizado apenas os duros até então. E foi o que aconteceu.

A Ferrari se preparou bem e Alonso ainda foi devolvido para a ponta após a parada porque, além do ótimo trabalho da equipe, a entrada dos boxes permitia um “atalho” que poupava preciosos segundos dos concorrentes. Mas a corrida ainda não estava garantida, já que Webber tirava a diferença e qualquer vacilo poderia ser decisivo.

Kobayashi quase foi causador de uma tragédia por causa de uma barbeiragem nos boxes

Quem também tentou ganhar tempo nos boxes foi Kobayashi, mas de um jeito que é só seu. Deixou para frear no último instante e, com o carro desalinhado, travou as rodas e promoveu um verdadeiro strike dos mecânicos, que ainda tentaram pular do ataque do japonês, mas sem sucesso. Ao que parece, um dos mecânicos ficou ferido, mas sem gravidade. Rosberg também teve problemas na sua última parada, mas o final de semana do alemão mais novo da Mercedes já estava comprometido.

Foi então que três brigas monopolizaram o final da prova. Lá na frente, Webber ultrapassou Alonso por fora faltando seis voltas para o final, sem dar chance ao espanhol de tentar dar o troco. No meio do pelotão, Schumacher ganhou a posição de Hamilton e, mais atrás, na última volta foi a vez de Bruno Senna e Button ultrapassarem Hulkenberg que, nos metros finais, ainda perdeu o lugar para Kobayashi também, ficando em décimo segundo.

Raikkonen fez a melhor volta e Grosjean uma bela recuperação. Santa Lotus, Batman!

Webber venceu pela segunda vez no ano, assim como havia feito em Mônaco, e reafirmou a evolução que a Red Bull apresentou já em Valência, mesmo não tendo vencido naquela oportunidade. Webber é, hoje, o segundo colocado na classificação geral, atrás apenas de Alonso, a quem bateu hoje. O bicampeão espanhol, por sua vez, tem sabido como poucos somar pontos importantes e quer o título pela Ferrari, para consagração definitiva. Vettel, terceiro apenas na corrida e mas agora também na classificação, está de olho no no tri, e se o carro realmente evoluiu, é candidato muito sério ao título. Massa teve um desempenho convincente hoje, que já havia apresentado também em Valência, mas desta vez não teve o azar de ter a corrida interrompida prematuramente. A dupla da McLaren é que não tem muito que comemorar, com desempenhos muito discretos. Correndo em casa, um oitavo e um décimo lugar apenas é um resultado de tirar o humor até do Mr. Bean.

Com mais uma etapa o campeonato chegará a sua metade, ou seja, ainda existe espaço para muita gente melhorar e sonhar com uma colocação melhor na tabela de classificação, até com vitórias, mas o campeonato começa a se afunilar para Alonso e a dupla da Red Bull, com Hamilton correndo por fora, e Button, praticamente fora.

E o mercado de pilotos começa a se mexer para 2013.

A gente se vê na Alemnaha.

Um abraço e até lá.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

5 Responses

  1. Rene Arnoux says:

    O Príncipe das Asturias, F. Alonso, continua com sua tocada rumo ao título da temporada. Agora a decepção é o Button, para um campeão que corre em uma equipe de ponta ele está muito aquém do que se eperava dele. Iniciou bem e pelo jeito vai acabar mal. E o Raikkonen qdo vai descer do muro???

  2. Fábio Abade says:

    Bem comentado Rene…

    e eu fiquei impressionado com o mal desempenho do Hamilton na Qualificação e na Corrida…. (visto que ele foi bem nos treinos…)

    Agora, o engenheiro do Alonso está sendo bem infeliz nas estratégias de paradas e pneus…

    E o Schumacher tá voltando!! 🙂

    E o Laurão hein?? Mais um texto Fodástico!! \o/

    Valeu Laurão!!

    Abraços!!

    Vamo que vamo!!

  3. Fleires says:

    Parabéns pelo comentarios e uma visão mais ampla sobre a corrida , pois eu sou apenas uma simples pessoa que ve corrida , sendo que agora vou ser mais critico com suas colocações e observações de uma fanatico pelo esporte.
    Parabéns pelo texto !

    È nois Lauro !

    Abrçs

  4. Emery says:

    Lauro,

    Parabéns pelo texto!
    A clareza de detalhes aliada a irreverência de seus comentários dá ao texto uma agradável leitura, perfeito para quem perdeu a transmissão ou quer recordar a corrida.
    Excelentes fotos!!
    Sucesso sempre!
    E continuo torcendo pelos nossos ‘brazucas’….

  5. Comentando o que o Rene disse, acho mesmo que a grande decepção da temporada é Jenson Button. Massa também não está totalmente “salvo” de críticas, mas Button vinha guiando de maneira espetacular algumas vezes.
    Obrigado pelos posts sobre a coluna.
    Um grande abraço.

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