O triatleta


A segunda vitória seguida de Alonso, terceira neste ano, o coloca como principal candidato ao título, mas mostrou também que Vettel não está morto. Button, por sua vez, ressuscitou.

Alonso nadou

Chuva forte em Hockenheim no final de semana da Fórmula 1 onde o campeonato chegou exatamente na sua metade. Nada melhor do que muita água para embaralhar as cartas e deixar o talento falar mais alto.

Na sexta-feira, muitas rodadas e gente se poupando para não estragar o carro. Valteri Bottas, piloto reserva da Williams que substituiu Bruno Senna no primeiro treino livre, fez o favor de danificar o carro do brasileiro. Dizem que emprestar o carro para amigo já não é bom negócio, para concorrente então, pior, afinal, se o cara vai bem acaba lhe tomando a vaga, se vai mal, pode danificar o carro. Mas contratos existem para isso. Outro que acabou batendo na sexta foi Schumacher, estragando bem o seu Mercedes, mas nada que o comprometesse para os treinos seguintes. Aliás, curiosa foi a situação do alemão Schumacher neste final de semana correndo em casa.

Liberada a pista para o treino oficial, a pista estava seca, mas a previsão era de chuva. Resultado, todo mundo para pista logo que a pista foi liberada. Passados os vinte minutos, nenhuma grande novidade na turma da degola, que teve como convidado especial das “nanicas” Jean Eric Vérgne. Mas o francês ficou a apenas 0.055s de Schumacher, que achou uma última volta à duras penas e conseguiu ir para o Q2 no susto.

A chuva chegou atrasada, mas ainda em tempo de pegar o Q2, onde a maioria tentou andar de pneus intermediários, mas não seria suficiente. Ao final dos quinze minutos, já com pneus para chuva extrema, Maldonado se destacava lá na frente juntamente com os dois carros da Force India, de Hulkenberg e Di Resta. Como Button também conseguiu vaga para o Q3, os dois carros da Sauber ficaram de fora, assim como o veloz Grosjean, que neste final de semana não estava em um bom momento. Massa, que também vinha se afirmando nas últimas provas, ficou para trás e conseguiu apenas a décima terceira posição.

Todo mundo de snorkel no Q3, porque a chuva se intensificou ainda mais. Button, que foi o primeiro a sair para a última etapa do treino, ensaiou um pedido de adiamento da sessão, assim como aconteceu na Inglaterra, mas ninguém deu ouvidos ao inglês. Até era justificável, pois os pilotos estavam virando mais de trinta segundos acima dos tempos do Q1, uma verdadeira eternidade.

Raikkonen, ao que pareceu, gostaria que a pista estivesse seca, e acabou ficando apenas com o décimo tempo. Di Resta ficou uma posição à frente, em nono. Hamilton, que vinha bem nos treinos anteriores, não passou de um oitavo lugar, logo atrás de Button, que conseguiu enfim voltar ao Q3. Maldonado e Hulkenberg largariam juntos em uma ótima terceira fila, logo atrás de Schumacher. Acontece que Webber, o terceiro no treino, foi punido com a perda de cinco posições na largada pela troca do câmbio do seu Red Bull, caindo então para oitavo lugar e promovendo Hamilton, Button, Maldonado, Hulkenberg e Schumacher. Por falar em penalizações, Rosberg, Grosjean e Pérez também foram penalizados com cinco posições na largada, sendo os dois primeiros pela mesma razão que Webber e Pérez por conduta antidesportiva.

Em casa, Vettel bem que tentou largar na pole, fez tudo que podia, mas Alonso vem fazendo cada vez mais jus ao adjetivo de melhor entre os melhores. Praticamente deslizando na pista alemã, o espanhol fez a segunda pole consecutiva no campeonato e para a Ferrari depois de um longo jejum que foi quebrado na Inglaterra duas semanas antes. Uma primeira fila forte, com líder e terceiro colocados no mundial, e que prometia muita briga já na primeira curva, principalmente se tivesse pista molhada.

Alonso pedalou

Quem resolveu aparecer no domingo foi o sol, o que fez com que os pilotos pudessem escolher os pneus de sua preferência para a largada. Sem muitas surpresas, praticamente todos escolheram os compostos macios, com exceção de três ou quatro pilotos, nenhum deles entre os dez primeiros.

Alonso tomou a primeira curva com facilidade enquanto Massa, ao fundo, já tinha problemas

Alonso parou o carro depois da volta de apresentação já virado para cima de Vettel, mas nem precisou jogar duro com o atual bicampeão do mundo. O piloto da Ferrari contornou com tranqüilidade a primeira curva, enquanto Vettel teve que segurar um Schumacher alucinado logo nas primeiras curvas, e conseguiu. Lá atrás, a seguradora já tinha três “sinistros” para verificar. Massa, Grosjean e Senna tiveram avarias na briga por posições da largada, prejudicando ainda mais suas já comprometidas corridas. E sobrou também para Hamilton, que teve um pneu furado logo na segunda volta. Começaram então as brigas por posição por todo o circuito.

Vettel conseguiu se livrar de Schumacher e começou a tirar a diferença para Alonso, mas a primeira grande disputa da prova foi entre Raikkonen e Di Resta, que duelaram roda a roda por uma sequência de curvas. No final, a vantagem foi para o finlandês, que com pista seca, estava mais a vontade. Quem também estava revitalizado era Button, já havia deixado Maldonado para trás na largada e tomou a posição de Hulkenberg logo em seguida, assumindo a quarta colocação e dando toda a pinta que tinha carro para brigar por posições melhores.

Raikkonen batalhou bastant e conseguiu uma ótima terceira posição com a punição a Vettel

Enquanto os dois carros da Sauber chegavam na zona de pontos, Button continuava atacando e fez também ultrapassagem sobre Schumacher, com direito a um chega pra lá no alemão. Lá na frente, Alonso “pedalava” como nunca para poder abrir o máximo possível enquanto os outros competidores faziam seus primeiros pit-stops. A estratégia era abrir e tentar segurar o máximo na pista, parando depois dos competidores diretos. Mas foi justamente Alonso que parou primeiro entre os líderes. A parada, ao que parece, foi a mais rápida da história, com menos de dois segundos e meio, e devolveu o espanhol em situação confortável. Vettel e Button cumpriram o protocolo logo depois.

Já de calçados novos, Schumacher e Raikkonen duelaram por posição com direito ao finlandês dar um “x” no heptacampeão. Pouco mais atrás, Di Resta e Kobayashi, Maldonado e Rosberg (que se recuperava na prova) e Pérez, Hulkenberg e Webber protagonizavam as brigas de momento da prova. Para assistir a todas as brigas, só mesmo a direção de provas.

Briga boa entre os carros da Sauber e da Force India, com vantagem para os suíços

Vettel então chegou definitivamente em Alonso, só que desta vez Button veio junto e também encostou no alemão. Exatamente na metade da corrida, volta 37, além dos três vinham Raikkonen, Schumacher, Pérez, Kobayashi, Webber, Di Resta e Maldonado marcando pontos. Já era possível reconhecer a grande corrida dos dois carros da Sauber. Os suíços vinham de uma classificação ruim e cresceram na prova, brigando diretamente com os carros da Force India, que lutavam muito para fazerem valer suas boas classificações na largada.

Alonso correu, e venceu de novo

Hamilton queria parar logo no começo da prova, depois de ter o pneu furado como dissemos, mas acabou voltando para a prova e, antes de abandonar definitivamente, apareceu logo atrás de Alonso e Vettel e andando forte. Apesar de ser o décimo oitavo, chegou a ultrapassar o alemão, que ficou irado com a ultrapassagem, mas era nítido que Hamilton era mais rápido naquele momento. O inglês ainda foi para cima de Alonso, só que o espanhol não facilitou a situação, talvez com receio que Hamilton pudesse passá-lo e diminuir o ritmo para favorecer Button e, indiretamente, Vettel.

Button quer uma segunda metade do campeonato como foi neste final de semana na Alemanha

Button, enquanto isso foi para sua segunda parada. Alonso e Vettel pararam logo na sequência, juntos, só que na volta para a pista, Button ganhou a posição de Vettel e foi para cima de Alonso. Com seus carros mais equilibrados, os pilotos da Ferrari e da McLaren começaram a abrir de Vettel, que dava várias escapadas de pista mostrando que estava andando no limite do carro. Em uma delas, um belo passeio pela terra que sujou bastante a pista.

Atenções voltadas para os líderes, que chegavam em vários retardatários mas negociavam bem as ultrapassagens. Button chegou a ouvir pelo rádio orientações para mudar a mistura de combustível e a frase motivacional “we can win this race”. A diferença era tão grande que os três primeiros andavam separados por um segundo em média, enquanto Raikkonen, o quarto, vinha treze segundos atrás dos três.

Vettel passando Button por fora da pista. Esta manobra custou a punição do alemão em 20 segundos.

Alonso tanto segurou Button que deu mais uma chance para Vettel se aproximar do inglês e, na penúltima volta, o atual bicampeão fez uma ultrapassagem polêmica, por fora, tracionando em cima da área externa da pista, enquanto Button se manteve no traçado. Se eu fosse comissário do GP, votaria em favor de Vettel, porque o alemão fez o pior traçado se comparado com Button, e não é culpa dele se a área de escape lhe deu mais tração. A punição a Vettel puniu o arrojo, que não cortou caminho e não forçou para cima de Button. Há alguns anos, Massa e Kubica fizeram o mesmo no GP da China, com vantagem para o brasileiro, em uma manobra exatamente igual.

O espanhol, que não tinha nada com isso venceu de maneira soberba, de ponta a ponta praticamente, sem dar nenhuma chance aos adversários. Com isso e com Webber chegando apenas na oitava colocação, Alonso abriu para 34 pontos a vantagem no mundial, enquanto Vettel, que foi punido com 20 segundos no tempo final, está agora a quarenta e quatro pontos do asturiano na classificação geral. Raikkonen acabou conseguindo um excelente terceiro lugar, mas deve ter lamentado não ter podido compartilhar do champagne no pódium. Atrás do finlandês chegou a frente da dupla da Sauber, com Kobayashi a frente de Pérez, mas Vettel acabou separando a dupla, deixando o mexicano no sexto lugar. Schumacher foi apenas o sétimo e, logo depois de Webber, Hulkenberg e Rosberg chegaram praticamente juntos para fechar os pilotos que chegaram na zona dos pontos.

Nem o tifosi mais fanático apostaria que Alonso seria o grande favorito ao título na metade da temporada.

Alonso foi Alonso mais uma vez, e chega na metade do campeonato liderando de maneira totalmente inimaginável quando começou a temporada. É, sem dúvida, o mais forte na disputa pelo título e, se nada de extraordinário acontecer, será tricampeão no final do ano. As ultrapassagens, a emoção, o sol e a chuva vão continuar trazendo o tempero da temporada, mas o sotaque é cada vez mais espanhol.

Semana que vem já tem mais, com o GP da Hungria e, durante as férias de verão da Fórmula 1, vamos falar um pouco do mercado de pilotos, que tem Hamilton, Schumacher e Massa na berlinda.

Um abraço e até lá!

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

3 Responses

  1. Fábio Abade says:

    Texto show Laurão!!

    “…Todo mundo de snorkel no Q3…”

    HAHAHAHAHAHA Boa !!

    E concordo com você! Os comissários foram RIDICULOS na decisão deles… exatamente como você disse, o Vettel fez o pior traçado e conseguiu a ultrapassagem… deveria ter recebido uma medalhinha na faixa de escoteiro!! hehehe

    E uma coisa que me surpreendeu foi o fato de o Hamilton, mesmo sendo retardatário, podia abrir a asa pra cima do Vettel e Alonso… muito estranho pois ele não está brigando (oficialmente) por posições…

    Vai entender essas regras mal explicadas da F1… hehehe

    E com essa punição do Vettel eu acabei perdendo 7 pontos no Bolão… Droga viu…

    Mas é isso aí…

    Vamo que vamo!!!

    Abraço!!

  2. Pois é Fabio, independente de asa ou kers, o fato é que o Hamilton quis “causar” um pouco como se diz por aí.
    Quanto ao Vettel, dizem que o problema foi ele ter colocado as quatro rodas na área de escape, aí não pode. Então vamos propor que, ao invés de asfaltar a área de escape, seja criado um campo minado, ou seja, saiu -> explodiu! Ou então uma massa gosmenta tipo matador de mosca. É cada uma…
    Vamos ver como vai ser se acontecer de novo. Isso é muito diferente de cortar a chicane ou a curva, por exemplo. Mas vamos para Hungria, já vai começar Carrossel.
    Um abraço.

  3. Fábio Abade says:

    Pois é….

    Vamo que Vamo Laurão!!

    Abraço!!

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