Restart Button


No reinício da temporada, Button vence em Spa-Francorchamps sem maiores dificuldades, mantendo-se vivo na disputa pelo título. A ótima prova começou com queimada e boliche, mas felizmente foi de Fórmula 1, de verdade.

Chove chuva, chove sem parar

Depois de tanto tempo sem atividades, nada pior do que um temporal para adiar por mais um dia o ronco máximo dos carros da Fórmula 1. E assim foi a sexta-feira de treinos na Bélgica, em que muita gente sequer foi para a pista para evitar coisa pior. O mais rápido do dia foi Kobayashi, mas com tanta água na pista não se sabia se a Sauber voltou mais competitiva das férias ou se Kobayashi havia feito aulas de natação recentes.

Final de semana festivo para Michael Schumacher, que alcançou a marca de 300 GPs na carreira, justamente no circuito onde estreou, venceu pela primeira vez e garantiu o heptacampeonato. Quase sempre o destino é caprichoso com os grandes campeões, e com Schumacher não poderia ter sido melhor. Seria um sinal dos deuses da velocidade para um retorno do alemão ao lugar mais alto do pódium? Bom, os treinos oficiais mostraram que isso seria muito, muito difícil.

Homenagem a Schumacher pelos 300 GPs.

Rosberg por exemplo, companheiro de Schumacher, foi quem ficou pelo Q1 junto com as equipes pequenas, que chegaram com a voz mais firme, cientes de que fizeram o dever de casa nas férias mas, efetivamente, nenhum resultado digno de nota. Pior para Rosberg foi ainda ter que ficar mais para trás no grid, cinco posições, por causa da troca do câmbio do seu Mercedes. Penúltima posição para ele.

Com a pista seca no sábado, todos tiveram pouco tempo para acharem o acerto ideal. E Maldonado foi quem fechou o Q1 na frente, com os dois carros da Sauber mostrando também que estavam fortes. Raikkonen era outro que prometia um bom desempenho com as inovações aerodinâmicas do seu Renault, ou seja, o mesmo princípio usado pela Mercedes, que recolhe o ar pela asa traseira e leva até o spoiler, favorecendo o carro aerodinamicamente. Só que Button não deu chances para ninguém.

Foi só começar o Q2 que o campeão de 2009 tratou logo de fazer um tempo que lhe permitisse relaxar e deixar os demais pilotos brigando para passar para a fase final do treino. No Q2, ficaram pelo caminho Schumacher, Massa, Senna (que errou) e até mesmo Vettel. Hamilton não tinha desempenho semelhante ao de Button, mas se esforçava para ficar entre os primeiros. A Sauber levou ambos os carros para a fase final do treino e prometia “fazer barulho”.

Button então repetiu o excelente desempenho do Q2 no Q3 e garantiu sua primeira pole na McLaren, sem ter sido ameaçado em momento algum. Ao seu lado, na primeira fila, Kamui Kobayashi, deixando claro que o primeiro tempo obtido na sexta-feira debaixo de chuva não era apenas por falta de adversários na pista. Outra prova da força dos suíços foi o quinto tempo obtido por Pérez, logo atrás de Raikkonen. Quem abriu a segunda fila foi Maldonado, auxiliado pelo excelente desempenho da Williams nas retas. Alonso, dentro do possível, conseguiu um sexto tempo, com Webber logo atrás em sétimo, só que o australiano acabou caindo para a décima segunda posição por trocar o câmbio, assim como Rosberg. Hamilton herdou a sétima posição, com Grosjean logo atrás e Di Resta completando os que passaram para a super pole. Vettel, com a punição de Webber, acabou promovido para a quinta fila.

A largada prometia uma disputa muito grande logo na La Source, aquela primeira curva em forma de cotovelo, famosa pela área de escape usada como pista por muitos pilotos. Kobayashi, Maldonado, Raikkonen e Pérez, todos partiriam para cima de Button porque a chance de vitória era muito grande para todos eles. Só que Maldonado, sempre ele, foi contemplado com mais uma punição no ano, desta vez, por ter atrapalhado Kovalainen durante o Q1. Justo ou não, Maldonado acabou por cair para sexto no grid, promovendo Raikkonen, Pérez e Alonso. Mas o venezuelano queria mais, e tratou de dar o ar da graça de novo na largada. Não contava, porém, com o show de horror do franco-suíço Grosjean.

Calma meninos!

Quando você tem um Fórmula 1 nas mãos, não se pode esquecer que o bichinho chega em menos de três segundos aos 100km/h. Além disso, tem mais gente na pista na sua frente, atrás de você e, muitas vezes, do lado. Essas lições básicas, ao que parece, foram esquecidas pelo nosso amigo Romain Grosjean, que acabou por ser protagonista de um acidente forte e que poderia ter conseqüências muito graves.

Não que Maldonado, como eu disse, não tenha feito das suas. Alegando um problema na embreagem, o venezuelano queimou a largada e foi disputar a freada da primeira curva com Button e Kobayashi. No mesmo momento, Grosjean acelerou tudo que pode e jogou o carro para a linha de dentro, apertando Hamilton além do razoável, já que o inglês vinha em linha reta. O toque da roda dianteira de Hamilton na traseira de Grosjean não foi forte, só que o piloto da Lotus não conseguiu segurar o carro e decolou sobre a Ferrari de Alonso, além de atingir Pérez, Maldonado e Kobayashi. Hamilton também ficou de fora e foi tirar satisfações com Grosjean ainda na área de escape. Com isso, além dos dois carros da Sauber ficarem fora da prova, também Hamilton e o líder do campeonato, Alonso, foram mais cedo para casa. Pra recolher a bagunça das crianças, safety-car.

Dá licença que eu vou passar. Foi assim que Maldonado queimou a largada.

Depois da preocupação com Alonso, que viu a lateral do carro de Grosjean passa a centímetros de sua viseira, a corrida recomeçou com muita gente que largou bem atrás aparecendo no bloco da frente. Ainda sob a liderança de Button e com Raikkonen logo atrás, a dupla da Force India, Hülkenberg e Di Resta, brigava a frente de Schumacher, que já era quinto. Ricciardo e Vergné, da Toro Rosso, Bruno Senna, Webber e (acreditem) Kovalainen, completavam os dez primeiros. Maldonado, na relargada, achou o carro da Marússia de Timo Glock, perdeu o bico e abandonou no meio da primeira volta válida. Um alívio para os demais. Com todo mundo disposto a fazer a “corrida da vida”, começaram as boas brigas da prova.

Primeiro, foi Hülkenberg quem assumiu a segunda posição sobre Raikkonen, enquanto Schumacher deixava Di Resta para trás. Mais para o meio do pelotão, Senna segurou Webber por algumas voltas, o suficiente para Vettel se aproximar e tomar a iniciativa, ultrapassando ambos. O lugar escolhido para as duas manobras foi o mesmo, a freada da Bus Stop.

Schumacher, empolgado, assumiu a terceira posição de Raikkonen e ganhou a segunda posição de Hülkenberg pouco depois. Button, lá na frente, seguia tranqüilo, sem se preocupar com o retrovisor.

Grosjean não consegue separar arrojo de imprudência. Dá nisso…

Vettel chamava atenção porque vinha fazendo uma bela corrida de recuperação e, ao chegar em seu ídolo Schumacher, nem lembrou do pôster no quarto da adolescência ou da data festiva para o heptacampeão, e disputou roda a roda a posição, de novo, na Bus Stop. Acontece que Schumacher entraria nos boxes e cortou a frente de Vettel que quase rodou. Os comissários ficaram de julgar a manobra depois do término da prova, e não daria em nada.

A corrida seguia muito movimentada, com boas brigas. Em um dos momentos mais espetaculares, Schumacher, Raikkonen, Hulkenberg e Webber estavam próximos, em fila indiana, quando Raikkonen passou por Schumacher, mas tomou o troco logo em seguida. Na volta seguinte, o Homem de Gelo sabia que precisava de uma manobra diferente, e foi o que ele fez. Descendo a temível e adorável Eau Rouge, Raikkonen colocou de lado e mergulhou no espaço que dava, em uma manobra simplesmente espetacular. Hülkenberg também brigou com Schumacher nas voltas seguintes, tomou a posição do alemão e levou o troco, só que o Mercedes do heptacampeão precisava de novos pneus. Assim, a festa dos 300 GPs do alemão não foi tão completa.

Sete equipes diferentes nas primeiras posições

Button não precisou de uma gota de suor para vencer com tranqüilidade, de ponta a ponta, mostrando a força da McLaren neste reinício de temporada e se mantendo vivo na disputa do título da temporada. O detalhe é saber que Button foi perguntado se ajudaria Hamilton em uma eventual disputa do título pelo companheiro de equipe.

Raikkonen e Schumacher deram um show a parte.


Vettel, com a segunda posição, foi quem mais lucrou na etapa belga, pois assumiu também a segunda posição no mundial (164 x 140 em favor do espanhol), deixando Webber em terceiro (com 132). Tanto Button quanto Vettel fizeram apenas uma parada para troca de pneus. Raikkonen, com a terceira posição, ultrapassou Hamilton na classificação geral (131 x 117 para o finlandês), que aparece agora em quarto lugar.

Bruno Senna também fez boa prova, mas ficou sem pneus no final e acabou fora dos pontos por conta de um pit-stop nas últimas voltas. De consolo, fez a melhor volta da prova. Massa aproveitou a oportunidade e conseguiu uma boa quinta colocação, segurando Webber no final da prova. Sem seis postulantes aos pontos (Alonso, Hamilton, Pérez, Kobayashi, Maldonado e Grosjean), Massa não teria desculpas se deixasse de marcar pontos.

Mas é preciso também destacar a boa prova da Force India, especialmente de Hülkenberg, que ficou com uma excelente quarta posição e manteve a tradição de boa performance da equipe indiana na pista de Spa. Di Resta foi apenas o décimo, mas andou na frente por um bom tempo. Outra equipe que marcou pontos com seus dois pilotos foi a Toro Rosso, de Vergné e Ricciardo, oitavo e nono colocados respectivamente, logo atrás de Schumacher.

Vettel se recoloca bem na disputa do título com o segundo lugar na Bélgica.

Ao final da prova, já com todos sãos, os comissários resolveram suspender Romain Grosjean por uma corrida, o que significa que as chances de um acidente na primeira volta do GP da Itália caíram em 95%. Só que Maldonado entrou no pacote de punições e levou logo uma punição dupla, ou seja, perdeu cinco posições no grid de Monza por conta da largada queimada e mais cinco por ter acertado Glock na relargada. Acho que teremos uma largada tranqüila no GP da Itália.

E assim a Fórmula 1 voltou das férias com uma corrida muito interessante, que aproximou mais os postulantes ao título do líder Fernando Alonso, mostrou a força da McLaren, Red Bull e Lotus na briga contra a Ferrari. Como falamos na última coluna, cada ponto, cada resultado, pode definir os lugares nos cockpits para o ano que vem. Assim, concluo que Massa não fez nada além do que deveria, e o resultado não o tranqüiliza ainda. Maldonado, se continuar fazendo suas “Caracas”, pode se prejudicar, assim como Grosjean, que declarou que a punição o fará um piloto melhor, o que nas entrelinhas significa que vai ter que ser mais comedido. E Schumacher é esperado pela torcida, ao menos pelas faixas presentes no autódromo belga, até o seu 400º GP.

Semana que vem tem mais, no tradicionalíssimo e rápido circuito de Monza.

Monitiraremos.

Um abraço e até lá.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

8 Responses

  1. Rene Arnoux says:

    Well, parece que o Button precisa de um grande intervalo para largar e correr bem, pois foi bem em ambas as provas iniciais. É, realmente Grosjean parecia uma bola de boliche e prejudicou quem briga pelo título da temporada. Agora, qdo o Raikkonen vai chegar em 1o lugar? Essa era sua maior chance, pois sempre correu bem em Spa…Ainda aposto no Alonso como campeão, mas que ainda é cedo é fato, mas a Ferrari deverá fazer de tudo para sustentar seu Bambino até o título……

  2. Lucas Cottorello Fonseca says:

    Lauro boa noite, tudo bom? Parabéns pelas fotos ficaram ótimas eu assisti a corrida foi muito boa, confesso pra ti que fiquei com medo desse acidente mais e normal. Um abs ate uma próxima

  3. Oi Lucas, boa noite. Tudo bem.
    Você sabe que as fotos a gente procura sempre o que mais representou a corrida, além de levar em conta a plástica também.
    Já que você tocou no assunto de acidente na largada, confesso que passei alguns anos sem assistir nenhuma largada. Isso mesmo. Eu esperava o sinal vermelho (na época que tinha o verde depois), trocava de canal e só voltava alguns segundos depois da primeira curva.
    Por que? Não sei. Como começou isso? Não lembro. Quando acabou? também não marquei.
    Este acidente foi muito preocupante porque os carros levantaram. O bico mais baixo, proposto pela FIA este ano, era para evitar que o piloto fosse atingido em caso de impacto com a frente de outro carro.
    Creio que em dois ou três anos o fechamento do cockpit será definitivo, semelhante aos que existem nos aviões de caça. Entre aprovação, homologação e custos, ainda vai tempo, mas a segurança tem que ser sempre a prioridade.
    Um abraço e obrigado pelo seu comentário.

  4. Rene,

    O Raikkonen ainda tem boas chances em Monza, só que a dupla da McLaren e o bambino asturiano não vão querer deixar.
    Abraços.

  5. Em quem você aposta para substituir Romain Grosjean no GP da Itália?:
    ( ) Jerome D’ambrosio – 3o. piloto da própria Lotus
    ( ) Lucas di Grassi – piloto de testes da Pirelli
    ( ) Jaime Alguerssuari – ex-Toro Rosso
    ( ) Adrian Sutil – ex-Force India
    ( ) Rubens Barrichello – atualmente na Indy
    ( ) Sebastien Buemi – 3o. piloto da Red Bull (conhece o motor Renault)
    ( ) Tiririca – pior que tá não fica
    ( ) Outro

  6. Atualizando: A Lotus escolheu o belga Jerome D’ambrosio como substituto de Grosjean para o GP da Itália. Embora ninguém tenha votado depois do post anterior (9/3/12 – 10:40PM), valeu a intenção.

  7. Fábio Abade says:

    Laurão,

    eu iria votar no Tiririca!!

    HAHAHAHAHAHA

    Ótimo texto!! Parabéns!!

    Abração!!

    Vamo que vamo!!

  8. Mauricio Mikola says:

    Nossa, o Grosjean tirou o Alonso, o Hamilton, o Perez, me jogou para segundo no bolão…

    Só uma corrida de punição foi pouco! Ele devia ser rebaixado para a Indy!!!

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