Parece que vamos ter um tri, legal?

Vettel reinou soberano em Suzuka e dividiu o pódium com Felipe Massa e Kamui Kobayashi, depois de ver Alonso abandonar na primeira curva. Cada um, agora, vai atrás do seu tricampeonato.

Hamilton, Pérez e Schumacher mudam de endereço

Do apagar das luzes na festiva noite de Cingapura até chegar ao Japão, coisas importantes aconteceram envolvendo os cockpits de duas das principais equipes para a próxima temporada. Lewis Hamilton, depois de muito desgaste na McLaren, assinou contrato com a Mercedes para formar dupla com Nico Rosberg em 2013. Já a vaga aberta por ele na McLaren foi rapidamente preenchida pelo mexicano Sergio Pérez, que muito se especulava na Ferrari, mas que acabou tomando o rumo da Inglaterra.

Com a vaga ocupada por Hamilton na Mercedes, todos se perguntaram sobre Michael Schumacher, o famoso “pára ou continua?”. Uma ida para o lugar do próprio Pérez, na Sauber, ou um retorno para uma temporada de despedida na Ferrari eram as alternativas mais comentadas, mas, antes mesmo de começarem os treinos para a prova do Japão, Schumacher resolveu por fim às especulações e anunciou a segunda aposentadoria da Fórmula 1, agora, a definitiva. Estas mudanças, e outras que deverão ocorrer, merecem uma coluna à parte, claro, e por isso não vou me estender demais agora, mas reflexos das mudanças já serão sentidos ainda este ano. Vamos falar então dos treinos já com os estes cockpits marcados para 2013.

Schumacher andou batendo nos treinos livres, mas desta vez não acertou ninguém. A punição de dez posições no grid pelo acidente com Vérgne em Cingapura já o deixavam, no mínimo, na sexta fila do grid em Suzuka. E a contagem regressiva de Schumacher rumo a nova aposentadoria começou na última fila, ao lado da HRT de Karthikeyan (não consigo escrever o nome dele sem uma colinha). Como consolo, Rosberg também não conseguiu nada além de um décimo quinto lugar, mas acabou ficando com o décimo terceiro que era de Schumacher pela punição do prórpio e de outro Nico, o Hülkenberg, tudo resolvido com uma rodada de chopp & eisben entre os três.

Quem chegou com boas expectativas para o grande prêmio era a dupla da Williams, Senna e Maldonado, mas os treinos dos carros do Tio Frank não foram encorajadores. Maldonado foi discreto e ficou pelo meio do grid. Pior ainda foi para Bruno Senna, que nem passou para o Q3, mas o resultado ruim foi totalmente explicado pela lamentável trapalhada de Vérgne, que ficou a frente de Senna na entrada da chicane antes da reta, prejudicando totalmente a volta rápida do brasileiro. Punição para o francês e decepção para o brasileiro que, diz a boca pequena, foi procurar por Schumacher para aprender como, da próxima vez, também acertar o piloto da Toro Rosso (maldade).

A Force India conseguiu ir para o Q3, desta vez apenas com Hülkenberg, mas uma troca de câmbio o colocou em décimo quinto apenas, deixando Felipe Massa com um lugar na quinta fila. Para a disputa da super-pole, além de Hülkenberg, Alonso e os dois carros de Sauber, McLaren, Lotus e Red Bull.

Os McLaren não eram tão imbatíveis para a pole como em corridas anteriores, e Button já contava com a perda de cinco posições também por conta da troca do câmbio. Ainda assim, andavam sempre se revezando com os dois carros da Red Bull nas quatro primeiras posições. A Lotus, forte com Grosjean e Raikkonen, andava flertando com as primeiras filas, mas a Sauber era a terceira força em Suzuka. Assim, Vettel e Webber sobraram e garantiram a primeira fila. Em terceiro havia ficado Button, que largou em oitavo por conta da punição citada antes e cedeu o lugar para Kobayashi, para alegria do torcedor japonês presente no autódromo. Pérez conseguiu a quinta posição e Grosjean se colocou entre os dois carros suíços.

Com a pole nas mãos de Vettel, os outros postulantes ao título ainda tentavam melhorar suas posições nos instantes finais quando Raikkonen rodou e provocou bandeira amarela localizada na curva Spoon, prejudicando as tentativas finais de Alonso e Hamilton, que acabaram respectivamente em sexto e nono lugares. Desenhava-se uma corrida dominada pela Red Bull, com Sauber e Lotus brigando por um lugar no pódium e Alonso segurando os carros da McLaren. Desenhava-se, mas o desenho borrou antes mesmo da primeira curva.

O fator Lotus e o maníaco da primeira volta

Embolados, os carros seguiram para a primeira curva, muito próximos. Dentre os que se aproximaram mais, Alonso tentou ganhar posição sobre Pérez e foi apertando Raikkonen, até que o finlandês, já com duas rodas fora do asfalto, manteve sua linha e o espanhol teve seu pneu traseiro esquerdo cortado pelo spoiler da Lotus do finlandês, que parecia ser feito de lâminas Ginsu (alguém lembra delas?). Alonso rodou perigosamente e voltou para a pista, mas o maior prejuízo foi mesmo o abandono precoce. O curioso é que Raikkonen conseguiu influenciar o resultado do piloto da Ferrari nos últimos segundos do Q3 e nos primeiros segundos da corrida. Se ele se importou? Monossilabicamente, como sempre, não.

Só que seu companheiro de equipe, Grosjean, não se fez de rogado e como tem mais “experiência“ neste assunto, também quis tirar alguém da prova. Desta vez, a vítima do “maníaco da primeira volta” foi Mark Webber, que foi acertado por trás, rodou, e batizou o franco-suíço com este apelido engraçado, mas apropriado. O australiano voltou para a prova, mas lá atrás. E como confusão pouca é bobagem, Senna e Rosberg acabaram se esbarrando também na confusão da primeira curva, e o alemão voltou para o chopp mais cedo, enquanto Senna teve que trocar o bico. Muita confusão significa safety-car, certo? E foi o que aconteceu.

Alguns pilotos, porém, não tinham do que reclamar da agitada largada. Kobayashi assumiu a segunda posição, passando limpo pela rusga entre Webber e Grosjean e deixando a torcida de olhos arregalados. Button, como em um passe de mágica, recuperou a terceira posição que lhe era de direito no treino. Logo atrás dos três primeiros, apareceu Felipe Massa, que tinha então sua melhor oportunidade na temporada para ajudar Alonso na briga pelo campeonato, atrapalhando os adversários e, quem sabe, ajudando na renovação de seu contrato.

Na relargada, Vettel usa a boa experiência de quem mesmo jovem já a tem e deixa o bloco para trás. Pérez já tentava a ultrapassagem sobre Raikkonen, mas o finlandês foi e Pérez sai da pista, mas perdeu a posição apenas para Hamilton, a qual recuperaria nas voltas seguintes. Hülkenberg e Maldonado se intrometiam na turma dos pontos, figurando em oitavo e nono respectivamente. Enquanto isso, (Cid Moreira, por favor) “o maníaco da primeira volta” Grosjean é punido pela lambança da largada com um stop and go de dez segundos. Se continuar assim, da próxima vez vai tomar só um stop.

Vettel abriu confortáveis segundos para Kobayashi, que tentava por sua vez conter as ações de Button e Massa. Por falar em Button, ele, Di Resta e Raikkonen abriram a primeira rodada de pit-stops na mesma volta, a décima quarta. Kobayashi veio logo na volta seguinte e, quando o japonês da Sauber voltou para a pista para reencontrar Button, ambos se depararam com Daniel Ricciardo da Toro Rosso, naquela altura o quinto colocado na prova, e tiveram dificuldades para ultrapassá-lo. Os dois carros da “Red Bull B”, aliás, eram os que tinham as maiores velocidades finais, e não havia asa aberta que ajudasse os adversários a superá-los. Tanto perderam tempo, que a Ferrari tratou de trabalhar bem e devolveu Felipe Massa na segunda posição depois do pit. Com tantas trocas, Raikkonen se viu ultrapassando Kovalainen (!) na briga pela nona colocação.

No rearranjo das posições, Raikkonen, Hamilton e Pérez aparecem colados, e o mexicano tentando recuperar a posição sobre o novo piloto da Mercedes, perdida na troca de pneus. Não só não recuperou a posição como também teve de abandonar a prova depois de tirar o carro para a direita ao ver a traseira do McLaren crescer demais a sua frente. Dizem que não quis estragar seu próximo brinquedo, mas já anotou a necessidade de trocar as lâmpadas do brake light para o time de Woking.

Já era quase metade da prova e os brasileiros viviam momentos opostos. Enquanto Massa fazia as melhores voltas e esboçava uma ameaça a Vettel, Senna, que vinha se recuperando, foi punido com um drive-thru pelo incidente com Rosberg na primeira volta. Definitivamente, um final de semana muito conturbado para o brasileiro da Williams, que segue procurando vaga para 2013.

Vettel distante. Massa, Kobayashi e Button próximos entre si. Raikkonen, Hamilton e Hülkenberg pouco mais atrás, também embolados. Maldonado, Webber e Ricciardo completavam os dez primeiros.

Vettel vibra, Massa se reencontra e Kobayashi troca o saque pelo champanhe

A prova ficou de certa forma monótona até que veio a segunda rodada de pits. Hamilton, no retorno à pista, viu o carro de Raikkonen (que já tinha feito a segunda parada) rasgar a reta e até chegar a ultrapassá-lo antes da curva do final da reta, mas o inglês segurou a posição por dentro, na marra, com os dois quase se tocando. No bloco da frente, Massa, Kobayashi e Button estavam ainda mais próximos depois do retorno da segunda parada. O brasileiro da Ferrari não tinha como tirar a diferença para Vettel, e foi beneficiado pela disputa entre Kobayashi e Button pelo último lugar no pódium para se manter em segundo.

Button, mesmo com problemas de câmbio, chegou perigosamente e tirou mais de quatro segundos para o japonês, ficando a menos de um segundo de distância. Aí, Button deve ter se lembrado de sua passagem pela finada Honda, de sua noiva japonesa, do Ultraseven e do Spectroman da infância, e acabou por não ultrapassar Kobayashi, para delírio total dos torcedores nas arquibancadas, que empurraram o piloto nativo para seu primeiro pódium na carreira.

Vettel, sem ser incomodado, alcançou sua 24ª vitória na carreira e agora está entre os dez maiores vencedores da história da categoria. No pódium, além da presença inédita de Kobayashi, a volta de Felipe Massa depois de dois anos de abstinência alcoólica. Massa chegou até a tropeçar na garrafa de champanhe, de tão desacostumado com a comemoração. É óbvio que Felipe Massa teria ajudado mais Alonso se vencesse a prova, mas é preciso reconhecer que o brasileiro fez uma ótima corrida, sem erros, e que a Red Bull era quase imbatível neste final de semana. Como o dia permite a piada, digamos que Massa ainda não foi eleito para o cockpit vermelho em 2013, mas está no segundo turno.

Button e Hamilton, em quarto e quinto, não tinham motivos para comemorar. Dizem que Button até parou de seguir Hamilton no Twitter, com alegação que agora é ele que tem que ser seguido, pelo menos na pista. Raikkonen, Hülkenberg, Maldonado e Webber, separados por apenas quatro segundos, receberam a bandeirada a frente de Ricciardo, que segurou o ímpeto de Schumacher nas últimas voltas e não deixou ao alemão nenhum pontinho.

Assim sendo, a análise agora é a seguinte: faltando apenas cinco etapas, a diferença de Alonso para Vettel é de míseros quatro pontos (194 x 190) e ambos devem travar uma verdadeira caça um ao outro nas etapas finais do mundial. Raikkonen, o “sem-vitória” é o terceiro colocado, cinco pontos a frente de Hamilton, mas 37 atrás de Alonso. Webber e Button, com 134 e 131 respectivamente, estão matematicamente na disputa, mas talvez na próxima etapa já estejam também eliminados pela mesma ciência. Some-se a isso o fato da McLaren não trabalhar para Hamilton como poderia, afinal, ele é passado na equipe inglesa, e de a Lotus ainda não ser um carro vencedor e ter um “maníaco” no carro número 10, a briga deverá ficar entre Vettel e Alonso mesmo, e até o último GP do ano, no Brasil. Hoje, o pneu furou para Alonso,e é bom a Ferrari acender o farol, como diria Tim Maia.

A temporada de 2012 parece não dar chance a um título inédito (só se fosse de Webber) e nem de bicampeonato (de Raikkonen, Button ou Hamilton). Deverá surgir um novo tricampeão do mundo, e nós vamos testemunhar cada quilômetro.

Um abraço e até a Coréia, já na próxima semana.

Até lá!