Sebastian e seu touro adorado


Na India, Vettel consegue a quinta vitória na temporada, a quarta seguida e, de novo, faz carinho no touro vermelho da carenagem do Red Bull número 1.Com folga sobre Alonso, segundo colocado na pista e no mundial, o campeonato já pode ser decidido por antecipação.

Sem imprevistos

Na prática, a Ferrari trouxe inovações para Alonso, usadas no carro de Massa na Coréia e testadas em um treino meio secreto neste intervalo entre as corridas. Palavras de confiança, demonstrações de otimismo, e aí chega a hora de ir para a pista, comparar com a rival Red Bull e demonstrar a força necessária para reagir. Pois é…

Sem a intenção de blasfemar sobre a religião hindu ou sobre Shiva, por favor, mas Alonso e companhia viram, já nos treinos livres, que a vaca tinha ido pro brejo e a passos largos. Afinal, ninguém seria páreo para os carros da equipe do touro vermelho no circuito de Buddh.

Com a ausência de Jean-Eric Vérgne e dos seis carros da “sub-F1”, o Q2 mostrou que Grosjean não quer interferir na luta pelo título mundial e resolveu largar apenas na décima primeira posição, no meio do grid é verdade, mas longe dos postulantes ao título. Logo atrás dele, correndo em casa, surgiu o primeiro carro da Force India com Nico Hülkenberg, que confessou que esperava passar para o Q3, mas entendia as dificuldades do time já que seu companheiro Paul Di Resta ficou apenas com a décima sexta colocação. A force India, aliás, foi a única equipe que ficou com os dois carros no Q2. Bruno Senna, da Willimas, foi o décimo terceiro, seguido do Mercedes de Schumacher e do Toro Rosso de Daniel Ricciardo. Em décimo sétimo ficou Kobayashi e seu carro Sauber.

O fato curioso do Q3 ficou com a formação das três primeiras filas. Enquanto os representantes avulsos de Williams, Sauber, Mercedes e Lotus ficavam com as duas últimas filas, Red Bull, Ferrari e McLaren dominaram as três primeiras, não necessariamente nesta ordem.

Kimi Raikkonen demonstrou que conhece bem os limites de seu carro e a capacidade dos adversários. Antes do treino, cravou que ficaria a 0,700s da pole. Acabou por ficar a 0,953s,mas isso não mudou sua sétima posição no grid, pouco a frente de Sergio Pérez. Maldonado foi quem ficou com a nona posição, até porque Rosberg não abriu volta na parte final do treino.

A briga pelo campeonato ficou mais dramática para a Ferrari que, além de ver os dois carros da Red Bull inalcançáveis, ainda precisou engolir os dois McLarens a sua frente, com Hamilton em terceiro e Button em quarto. Massa conseguiu o sexto tempo, reclamando de si próprio por um erro na tentativa final, mas também conformado com a posição obtida.

E a pouca distância entre o grid e a primeira curva parecia ser mesmo a única chance dos adversários tentarem algo sobre os dois carros da Red Bull, mas nem isso foi suficiente, como vamos ver em seguida.

Sem imprevistos II

Largada agitada mas limpa na India. Webber chegou a ameaçar, mas Vettel fez valer a pole

Largando do lado externo da pista, porém o mais limpo, Vettel chegou a ficar ameaçado por Webber na primeira curva, mas o australiano acabou recolhendo e evitando uma tragédia caseira como ocorreu na Turquia em 2010. Mesmo o traçado com três curvas em seqüência antes da enorme reta não foi suficiente para causar nenhuma grande confusão, apenas uma de fato, envolvendo Vérgne e Schumacher. O saldo do toque entre ambos foi um bico avariado para o francês e um pneu furado para o alemão, que teve de dar praticamente uma volta completa limitado a três pneus.

Na grande reta tobogã, o lance mais bonito da prova. Enquanto Button tentava a ultrapassagem sobre Hamilton, Alonso abriu e chegou a ultrapassar os dois carros da McLaren por alguns segundos. Em seguida, acabou segurando para não bater, no entanto, assim como Button, ganhou a posição de Hamilton e pulou para quarto.
Mais algumas poucas voltas e Alonso, já se utilizando da asa móvel, ultrapassou também Button, que logo depois foi também ultrapassado por Hamilton, caindo para a quinta posição.

Vettel, Webber, e mais atrás Alonso entre os dois McLarens. Era tudo ou nada para o espanhol.

Em dez voltas, Vettel já tinha 8.2s de vantagem para Alonso, e ainda contava com o escudeiro Webber entre ele e Alonso. Briga boa mesmo estava acontecendo mais atrás, entre Rosberg, Maldonado, Grosjean e Senna, todos muito próximos, atacando e se defendendo com as asas abertas. Quem também brigava bonito eram Pérez e Hülkenberg, até que o piloto da Force India, para alegria do público de noventa mil pessoas, ultrapassou o mexicano que foi para o box em seguida, de maneira prematura. Digo que Hülkenberg era a alegria dos locais porque não era possível se alegrar com Narain Karthikeyan, o indiano legítimo, mesmo com ele a frente de Schumacher nesta altura da prova por causa do pneu furado do alemão no começo.

As melhores voltas da prova eram alternadas entre Vettel e Webber, em uma demonstração de força capaz de intimidar qualquer piloto, judiando da concorrência. Só que Fernando Alonso não é qualquer piloto, e chegou a descontar a vantagem para Webber aos poucos, ainda que sem muita esperança de brigar mais próximo.
Lembram da briga entre Rosberg, Maldonado, Grosjean e Senna? Pois bem: Grosjean forçou a ultrapassagem sobre o venezuelano e Senna, muito inteligentemente, se aproveitou do momento e também ganhou a posição do companheiro de equipe. Pouco depois Grosjean também foi ganhar a posição de Rosberg, só que o alemão resistiu mais ao ataque do brasileiro.

A estratégia da maioria era de uma parada apenas, o que causou estranheza na parada de Pérez com apenas quinze voltas. O problema é que o mexicano, na ânsia de se recuperar, tentou uma ultrapassagem por fora sobre Ricciardo e acabou tocando a roda traseira direita no bico da Toro Rosso, cortando o pneu do seu Sauber. A volta de retorno aos boxes acabaria por forçá-lo a abandonar a prova por prejudicar a suspensão traseira.
E era o dia das “navalhadas”. O outro pneu furado do dia foi o de Maldonado em tentativa de ultrapassagem deste sobre Kobayashi.

Sem imprevistos III (exceto por Webber)

Hamilton, entre os primeiros, foi quem mais se segurou na pista até a troca de pneus. O que chamou a atenção durante o pit-stop do piloto inglês foi que, além dos pneus, Hamilton também trocou o volante, e sem perder tempo. Um verdadeiro plug and play, que demonstra claramente que mesmo com tanta responsabilidade que lhe é imposta pelos botões e informações, o volante não é insubstituível.
Terço final da prova e De La Rosa deu uma escapada e deixou a corrida em bandeira amarela justamente no final da grande reta, fazendo com que os pilotos não pudessem ultrapassar naquele trecho. Só que as atenções estavam no trabalho árduo de Alonso em se aproximar de Webber. Alonso vinha tirando a diferença de maneira modesta, até que Webber manifestou pelo rádio problemas com o KERS e foi perdendo rendimento suficiente para Alonso se aproximar e, em mais uma manobra espetacular, por fora, ultrapassou o escudeiro da Red Bull assumindo a segunda posição.

Alonso se livrou rápido dos McLarens, o que foi decisivo para o segundo lugar.

Massa, em sexto, segurava como podia Raikkonen. O finlandês admitiu um acerto equivocado para a pista indiana que o fazia apenas seis ou sete km/h mais rápido que Massa mesmo com a asa aberta no retão, impossibilitando a ultrapassagem.

Nas últimas voltas, os dois carros da McLaren rendiam muito bem, e Hamilton era incentivado a ir para cima de Webber enquanto Button fazia a melhor volta da prova. De repente, um momento de apreensão para a Red Bull. O assoalho do carro de Vettel começa a soltar faíscas e o tempo de volta aumentou um pouco. Durante uma volta e meia, um pouco de pirotecnia e respiração presa para saber se Alonso voltaria com a sorte habitual e herdaria a primeira posição, revirando o campeonato. Nada disso.

Vettel teve o problema aparentemente resolvido e controlou a prova até a bandeirada final, com Alonso em segundo e Webber chegando com Hamilton a apenas 0.7s de seu carro, praticamente a mesma diferença entre Massa e Raikkonen, sexto e sétimo colocados. Button ficou em quinto, Hülkenberg em oitavo, Grosjean em nono e Bruno Senna em décimo, depois de outra ótima ultrapassagem sobre Nico Rosberg na penúltima volta.

Momento em que Senna dá o bote sobre o companheiro Maldonado logo após este ter sido ultrapassado por Grosjean. Bela corrida do brasileiro.

De novo, Vettel desceu do carro e foi acariciar o touro vermelho impresso na tampa do motor, demonstração clara de que a foca está com ele. Abre assim 13 pontos de vantagem para Alonso e dá indícios de que pode decidir o campeonato até mesmo na prova dos Estados Unidos, penúltima etapa do mundial. Para isto, basta que Vettel abra mais doze pontos sobre Alonso, o que pode ser conseguido com mais dois resultados iguais a este na India, por exemplo. Kimi Raikkonen continua em terceiro no campeonato, mas apenas seis pontos a frente de Webber e oito a frente de Hamilton, seus dois adversários mais diretos. A Red Bull abriu 91 pontos de vantagem para a Ferrari no mundial de construtores, e 101 pontos sobre a McLaren.

Se Vettel larga na frente, dificilmente perde a corrida, mesmo que o ritmo de prova da Red Bull seja inferior ao dos adversários. Assim como fazia Schumacher nos seus áureos tempos, Vettel precisa apenas de um carro veloz no treino para impor a pole position e deixar a responsabilidade com os outros em alcançá-lo, o que dificilmente acontece. Alonso fez mais do que poderia, ultrapassou três adversários e mostra força, mas ainda insuficiente para virar o jogo. Por falar em jogo, curiosa a frase de Vettel, depois do treino oficial, quando disse aos jornalistas que não se ganha pontos no sábado, diminuindo a importância da pole. É um jogador nato.

Alonso em pose de O Grito, de Edvard Munch. No caso dele, o grito deve ser de socorro.

A gente se vê em Abu Dhabi, semana que vem.

Um abraço e até lá!

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

3 Responses

  1. lsussumu says:

    hahahaha a cara do Alonso na ultima foto mó tensa. Esse campeonato ta muito disputado, espero que ele seje assim até o Brasil. Ele conseguir passar as 2 Mclarens foi um grande feito. Vettel é um piloto que não tem o que falar. Lauro o Bruno Senna, vc acha ele um grande piloto?

    • Sussomo, sem medo de errar, Bruno Senna é um piloto mediano e olhe lá. Ainda que pese a ele a curta carreira e a abreviação das etapas normais que um piloto deve ter para sua formação, Bruno Senna está longe de ser um grande piloto.
      Em treinos ele não é rápido, comete erros que ele próprio assume e que prejudicam todo seu final se semana. Em corridas, alterna boas provas como aconteceu na India, com outras onde passa absolutamente despercebido.
      Não é o piloto que eu gostaria para minha equipe, caso eu pudesse escolher.
      Deixo claro que esta é a minha opinião apenas, respeitando quem pensa diferente.
      Um abraço.

  2. lsussumu says:

    Concordo com você, ele não consegue manter um ritmo. As vezes ele comete uns erros que não da para entender. Agora um piloto que ultimamente está voltando aos poucos é o Massa. Após o acidente ele não foi mais o mesmo, eu to muito curioso para saber como ele vai se sair ano que vem, e como vai ser o carro que a Ferrari ta preparando, por que o carro atual deles é horrivel!!! E mesmo sendo horrivel é incrivel o que o Alonso consegue fazer. Que venha Domingo!!!

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