Será a nova era do gelo?


Uma estratégia simples e eficiente de uma parada a menos que os favoritos e um carro equilibrado levaram Kimi Raikkonen a vitória na abertura da temporada. E quem vence na Austrália, pela estatística recente, vai brigar pelo campeonato

Só não teve peixe

Todo mundo aguardando o treino oficial para ver se a pole ficaria com Vettel, com Alonso, com Hamilton, mas quem poderia ter feito a pole, se lá estivesse, seria Noé.

Um verdadeiro dilúvio caiu sobre o circuito de Albert Park antes do início do Q2, o que fez a direção de prova tentar adiar o andamento do treino ao máximo, até que a iluminação natural se tornou muito escassa. A decisão ficou então para o próprio domingo, horário local, seis horas antes da corrida.

Chuva no parque, sem peixe, mas com patos para assistir o treino que não aconteceu no sábado

Com a pista em condições ainda úmidas, foi a vez dos mais preparados mostrarem seus talentos. Mas nesta altura do treino, o nome de Sergio Pérez já não aparecia entre os dez mais bem colocados, e a ausência pode ser atribuída tanto a inexperiência quanto a pouca competitividade dos carros da McLaren, muito aquém do que se esperava deles na primeira prova do ano.

Que o diga Jenson Button, que passou para o Q3 “na bacia das almas”. Só que o inglês ainda tinha ao seu lado o histórico positivo em terras australianas e nestas condições de pista meio seca-meio molhada. E Button foi o primeiro a sair dos boxes com os pneus supermacios, escolha feita enquanto todos viravam ainda com os pneus intermediários. Mas o resultado não foi o esperado, pelo menos para o campeão de 2009, que não conseguiu nada além de um discreto décimo lugar.

Di Resta era o outro “filho único” de equipe no Q3, e fez um bom nono lugar. Os demais, representantes de Red Bull, Ferrari, Mercedes e Lotus, protagonizaram uma bela briga ao final do primeiro treino da temporada. Só um deles destoou dos demais; Sebastian Vettel.

Sem dar chances, o tricampeão do mundo foi espetacular e fez uma volta voadora, deixando-o como grande favorito da prova, tamanha a supremacia imposta por ele e por Mark Webber, seu companheiro de equipe e piloto da casa na abertura do mundial. Comprovada então a teoria de que a Red Bull tinha uma carta na manga.

Outra comprovação foi a de que a Mercedes está forte para este início de mundial. Hamilton conseguiu se colocar em uma excelente terceira posição, e Rosberg, apesar do ótimo sexto lugar, já percebeu que o companheiro de equipe é osso duro de roer. Rosberg ficou a frente de Raikkonen e Grosjean, sétimo e oitavo colocados respectivamente.

E mais uma comprovação veio da excelente performance de Massa, que andou quase sempre a frente de Alonso e conseguiu, nos milésimos, um tempo melhor que de Fernando Alonso, mostrando que a fase é tão boa como do segundo semestre do ano passado.
Tudo isso para ser colocado à prova ao apagar das luzes vermelhas e com muita expectativa de chuva. E foi assim…

Briga de pista e de estratégia

Mark Webber deve ter largado em segunda marcha, porque a partida do número 2 da Red Bull foi bisonha, caindo da segunda para a sétima posição antes da primeira curva. E não adianta dizer que era o lado sujo da pista, pois Massa, que largou logo atrás de Webber, pulou para o segundo lugar e foi seguido de muito perto por Alonso, no primeiro grande “pega” da prova. Alonso atacou Massa por algumas vezes, chegou a colocar meio carro ao lado do brasileiro, mas desta vez a disposição de Massa em brigar pela segunda posição era maior, muito maior.

Massa se mostrou muito confiante e rápido, assim como o carro, mas a estratégia continua gerando polêmica.

Logo em seguida, foi a vez de Raikkonen brigar com Hamilton e conquistar a quarta posição. Raikkonen foi outro piloto que largou muito bem e isso acabou sendo decisivo para a fase final da prova.
Com poucas voltas completadas, quatro para ser mais exato, começou o festival de paradas nos boxes do primeiro pelotão, já que todos haviam partido com pneus supermacios, e a honra de desbravar o pit-lane coube a Button, numa clara tentativa de usar a estratégia de 3 paradas para a corrida, uma a mais do que a fornecedora de pneus havia previsto para o GP.

Vettel, liderando, também não demorou para trocar os pneus já desgastados pois os dois carros da Ferrari se aproximaram perigosamente, com Massa sempre a frente de Alonso.Nas sucessão de paradas, primeiro foi a Mercedes, com Hamilton e Rosberg, a sentir o gostinho da liderança quando os ponteiros já estavam com os pneus médios. Pouco depois, foi a vez de Sutil, com a Force India, liderar a prova por várias voltas, uma vez que o alemão que re-estreava na categoria já estava calçado com pneus médios desde a largada. A surpresa era tanta que até o sol apareceu para espiar o que estava acontecendo, justo ele que não era esperado em todo o final de semana.

Outro que parecia mostrar sinais de recuperação era Sergio Pérez, que diferentemente de seu companheiro Button, largou de pneus médios, na 15ª posição apenas, mas já aparecia entre os primeiros. No entanto, não havia milagres a fazer, e Pérez fez sua parada quando os compostos de seu carro já davam sinais de esgotamento. Antes, porém, o mexicano já estava perdendoalgumas posições para quem já havia parado antes.

Hamilton estreou pela Mercedes com um terceiro lugar no grid e uma quinta posição na prova. Promete.

Era um início de prova e de campeonato um tanto surpreendente para as expectativas da corrida, o que prendia a atenção de todos para ver, por que não, uma vitória de algum azarão.

Acabou ficando fácil

Foi na segunda rodada de pit-stops que Felipe Massa viu seu castelinho de areia começar a desmoronar como em outras vezes. Permanecendo na pista por mais tempo que Alonso, por estratégia da equipe (aí você interprete a versão oficial da maneira que lhe convier), Massa perdeu tempo nas voltas que deua mais que Alonso e acabou voltando atrás de espanhol e de Vettel, em posições mais intermediárias devido a parada. O fato curioso é que a parada de Massa foi melhor do que a de todos adversários diretos, mas…

Em uma prova acostumada a ter a entrada do safety-car por alguma vezes, ninguém queria ter a honra de ser o primeiro a chama-lo. Maldonado teve até a chance, mas quando escapou sozinho, acabou parando em uma posição que não oferecia tanto perigo, deixando o pessoal do safety-car sossegado para mais um café. Rosberg, logo depois e por problemas no equipamento, abandonou também a prova.

Mas tinha briga boa na pista. Alonso chegou em Hamilton e não queria perder tempo atrás do inglês que ainda não havia feito sua última parada. Só que Hamilton é carne de pescoço com os e diz na gíria, e fez questão de levantar fumaça dos pneus em uma freada extremamente forçada para não deixar Alonso ultrapassar. O espanhol, sabiamente, evitou a colisão e logo na sequência de curvas seguinte conseguiu deixar o ex-companheiro de McLaren para trás.

Kimi Raikkonen era o líder quando foi para sua segunda parada. Ele entrou no páreo pela vitória porque todos já haviam identificado que, com apenas duas paradas, o finlandês teria vantagem para administrar no final caso sofresse o ataque de alguém. Com isso, Sutil voltou para a liderança, mostrando uma competitividade muito robusta da Force India e deixando seu companheiro Di Resta com o alerta ligado.

A ameaça de chuva e alguns pingos d’água nas câmeras onboard dos pilotos davam o contorno de drama para o final da prova, só que achuva não deu as caras no domingo cinzento de Melbourne.

Mas a tarde era mesmo de Kimi Raikkonen, que soube usar como nenhum outro a estratégia de duas paradas apenas e, como dissemos no início, se aproveitou de uma ótima largada que fez para voltar de sua segunda parada com vantagem confortável para Alonso, que acabou até por aumentar ao final da prova. Sutil ainda tentou uma cartada decisiva faltando cinco voltas para o final quando fez sua segunda parada e colocou os supermacios para tentar voar e recuperar posições, mas ainda assim acabou perdendo a quinta e sexta posições para Hamilton e Webber respectivamente.

Alonso e Vettel completaram o podium e Massa, mesmo fazendo excelentes dois terços de prova em termos de rendimento, acabou ficando apenas com a quarta posição. Hamilton garantiu um bom quinto lugar e Webber pagou o preço da péssima largada para fechar entre os seis primeiros. Além de Sutil em sétimo, Di Resta, Button e Grosjean também marcaram pontos. Pérez chegou a praticamente meio segundo de Grosjean, mas vai ter que esperar mais um pouco para marcar seus primeiros pontos pela equipe inglesa.

Palpitando…

A Ferrari e a Red Bull se mostraram velozes, sendo a equipe italiana melhor em corrida do que em treino e a equipe austríaca o inverso disso. A Mercedes se mostrou muito bem, mas ainda não no mesmo nível das duas anteriores. A Lotus se mostrou um carro muito bem equilibrado, e Raikkonen disse que esta foi uma vitória fácil, o que mostra uma confiança grande no que pode vir logo na sequência de provas.

Surpresa para muitos, fácil para ele. O homem de gelo sai na frente na disputa do mundial de 2013

Se a McLaren decepcionou, a Force India se mostrou também um ótimo carro para surpreender de vez em quando, e Sutil se mostrou o mesmo Sutil veloz de dois anos atrás, e que o hiato de uma temporada fora da Fórmula 1 não lhe afetou em nada. Não que Jules Bianchi, seu rival na vaga da equipe indiana não tenha feito uma boa prova, afinal, colocou a Marussia uma volta a frente dos dois carros da Caterham e de seu companheiro de equipe, um feito consideradas as proporções e o fato da corrida não ter tido nenhuma intercorrência incomum.

Para finalizar, as posições de Vérgne, Gutierrez e Bottas, únicos representantes de suas equipes a completarem a prova, demonstram que a ordem no pelotão intermediário deve ser esta mesmo por enquanto, com a Toro Rosso a frente da Sauber e a Willimas devendo muito ainda.

Neste próximo final de semana, o calor e a possível chuva da Malásia podem embolar ainda mais este início de campeonato, e nós vamos conferir juntos aqui.

Um grande abraço e até lá.

P.S.: Esta coluna é dedicada a Wilson Fittipaldi, o Barão, pai de Wilsinho e Emerson, avô de Christian, bisavô de Pietro, todos pilotos. Wilson foi uma figura importantíssima do esporte a motor nacional. Um incentivador, um apaixonado, um dos nossos.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

4 Responses

  1. lsussumu says:

    Nossa muito bom o primeiro texto da temporada, estava esperando ele, antes de começar a ver outras noticias. Pqp que largada foi essa ahahahaha Webber consegue fazer cada coisa. Pelo Jeito o Kimi ganhou por competencia e sorte. E a force India, que isso, a cada temporada está se posicionando entre as primeiras. Ela é uma equipe que vem surpreendendo muito. E parabens para o piloto Jules Bianchi da Marussia, fazer o que ele fez é um feito enorme!!!! Que venha esse fds. Parabens Lauro!!!!

  2. Cristiano says:

    Pena Massa, coisas de Ferrari ou de(falta) sorte?

  3. Rene Arnoux says:

    É Lauroviski, o Massa vai ter que andar pelo menos uns 10″ na frente do Alonso, se não a equipe vai dar um jeito de inverter as posições, mas gostei que ele se defendeu bem dos ataques do companheiro. Agora, tá ficando complicado palpitar, o que é muito bom, pois o que queremos é ver mais pilotos disputando o título. E, o Hamilton pode ser a grata surpresa no meio dos favoritos deste ano. Parabéns pela coluna, Abs.

  4. Victor Ferraz says:

    Eu achava que o Felipe era o azarado da F1… Mas o Webber tomou o posto kkkk… Desde as últimas do ano passado que o cara mal consegue terminar uma corrida!…

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