Correndo bastante, mas dormindo tranquilo.


A trigésima vitória de Vettel foi a primeira em casa, segurando os dois carros da Lotus e fazendo sua poupança para o tetra campeonato.

Manual do proprietário

Uma semana de muitas justificativas e de muitas teorias sobre os motivos que levaram a tantos problemas de pneus no GP da Inglaterra, semana passada. Acusaram até as zebras da pista inglesa e, segundo uma matéria que assisti de um repórter local (desculpem não lembrar a fonte), até que poderia ter fundamento a argumentação de que algumas zebras estavam com sua construção de maneira a favorecer possíveis cortes nos compostos. Mas nem por isso a fornecedora de pneus deixou de agir e tomou providências.

A mais importante delas foi substituir a malha de aço interna dos pneus por uma fibra sintética, o kevlar, que já é utilizado no tanque de combustível dos carros da Fórmula 1 para evitar perfurações, já que este material é de uma resistência incrível. Só que nem tudo são flores, e o aquecimento dos pneus, fundamental para o desempenho dos carros, ficou comprometido, já que o kevlar não tem a mesma performance da malha de aço. Além disso, a Pirelli solto um documento em que obrigou que as equipes utilizassem de pressão, cambagem e montagem recomendadas por ela apenas. Ou seja, ninguém estava livre para fazer o que quisesse, o que muitas vezes é o pulo do gato para ganhar os décimos necessários para vencer. E o que poderia acontecer nos treinos, primeiro contato com o “pneu a prova de balas”?

Não mudou muita coisa na ordem de forças das equipes, especialmente por causa dos pneus, mas algumas surpresas durante a tomada de tempo oficial puderam dar uma dica do que seria a corrida.

No Q1, o de sempre. Jules Bianchi, da Marussia, perdeu de novo para Charles Pic, da Caterham, o título de melhor do resto, e já está limitado pelo carro. E, infelizmente, a Williams é a equipe que está mais próxima do quarteto que fecha o grid. Maldonado, reclamando muito, ficou atrás de Bottas de novo. Talvez por isso haja rumores do venezuelano na Lotus, no lugar de Raikkonen, caso o homem de gelo decida pela vaga de Webber na Red Bull. Verdade ou não, se Maldonado sair da Williams e levar consigo o patrocínio da PDVSA, a petroleira venezuelana, vai ser muito difícil para o time de Frank Williams conseguir sair do fundo do poço, e do grid. Oficialmente, KERS foi o problema.

A Mercedes conseguiu mais uma pole, agora com Hamilton.

A Mercedes conseguiu mais uma pole, agora com Hamilton.

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No Q2, os dois carros da Force India acabaram ficando pelo caminho, o que não vinha acontecendo. E foi a única equipe que ficou completa na segunda etapa do treino. Isso porque, desta vez, Toro Rosso, McLaren, Sauber e Mercedes, tiveram um de seus pilotos eliminado antes da super pole. Sim, você não leu errado; a Mercedes marcou o pelotão do meio com Nico Rosberg, que foi do céu ao inferno em uma semana apenas.
Pérez, Gutiérrez e Vérgne, não fizeram um treino tão acentuado quanto seus nomes e também ficaram pelo caminho, mas Rosberg, foi a grande surpresa. Rosberg não fez uma volta “limpa” por causa do erro na primeira curva, mas o erro maior foi da equipe, pois o tempo do alemão era muito próximo da chamada “linha de corte” e o risco era grande de ficar de fora dos dez melhores, mas não voltou para a pista para nova tentativa e teve que assistir aos dez minutos finais de treino pelo monitor.

Foi na última parte do treino que veio mais uma surpresa, uma aposta na verdade. Com a Red Bull e a Lotus demonstrando força, a Ferrari optou por ir para o último ato com os pneus mais duros, contrariando quase todos os demais. Eu disse quase porque Button, por exemplo, optou pelo mesmo raciocínio e a tentativa era a de ter um jogo de pneus macios para o último trecho da prova. Tanto que Button e Hülkenberg nem foram para a pista no Q3. Massa se classificou na frente de Alonso de novo, em sétimo, e tinha a esperança de fazer uma ótima corrida. Daniel Ricciardo, mesmo que indiretamente, mostrou que já é quase tão rápido quanto Webber, e conseguiu se classificar em sexto. Para os cinco primeiros lugares, a briga ficou com a favorita Red Bull, a surpreendente Lotus, e o azarão Hamilton.

É bom que se explique que Hamilton era o azarão aqui, apesar das poles conquistadas pela Mercedes ao longo da temporada, porque Vettel havia colocado quase meio segundo sobre Rosberg no terceiro treino livre e porque Hamilton reclamava muito do acerto do carro.

Grosjean fez o quinto tempo, atrás do companheiro Raikkonen. Webber conseguiu apenas a terceira colocação e Vettel tinha a pole garantida até Hamilton fechar a volta, já com o cronômetro zerado e vibrar muito com a pole que também significou o recorde da pista de Nürburgring. Foi espetacular e ele próprio, Hamilton, admitiu que não se achava em condições de lutar pela primeira fila, mas tirou tudo que podia do carro prateado e garantiu a sexta pole para a equipe alemã em nove corridas.

A corrida, então, prometia bastante, com Rosberg vindo de trás, os dois carros da Ferrari com tática de pneus diferentes dos ponteiros, Hamilton tentando se segurar na pole, Vettel atrás de sua primeira vitória em casa.

Roda solta

Os dois carros da Red Bull na frente logo na largada.

Os dois carros da Red Bull na frente logo na largada.

Luzes vermelhas apagadas e Hamilton já teve que enfrentar os touros bravos, caindo para a terceira posição. Webber chegou a estar na frente, mas pela preferência na sequencia de curvas logo depois da reta, deu Vettel na frente. Outro que largou como um foguete foi Pérez, que já aparecia brigando com Button pela décima posição. Button deve ter pesadelos com o mexicano, porque tomou um chega pra lá e ficou para trás, de novo, e isso acontece em toda corrida praticamente. Só que era apenas a segunda volta, havia tempo para ver quem riria por último e melhor.
Felipe Massa, desta vez, não havia batido no treino, mas ainda na quarta volta errou a freada do final da reta dos boxes e foi obrigado a abandonar. A decepção foi tão grande que Massa chegou ao motorhome ainda de capacete, sem fazer nenhuma declaração.

A dúvida era quanto tempo durariam os pneus moles. Muitos falavam em seis voltas, os mais otimistas em dez. Di Resta resolveu parar logo na quinta volta, e quase acerta a Toro Rosso de Jean Eric-Vérgne, que estava chegando para a sua parada. Hamilton, já enfrentando dificuldades, parou na sétima volta e Vettel na volta seguinte. Na vez de Webber, um grande susto.

A troca foi desastrosa e o pneu traseiro direito não foi fixado devidamente. Resultado, assim que acelerou Webber teve a roda do carro solta e por pouco não se presenciou uma tragédia. Em movimento, a roda passou pelo box da Lotus, sem atingir ninguém, mas um cinegrafista da FOM (Formula One Management), que estava de costas, não viu a aproximação da roda e, por azar, a mesma ainda topou com um dispositivo no chão e tomou altura, atingindo em cheio o cinegrafista na altura do pescoço. O cinegrafista teve concussão cerebral, fratura de clavícula e algumas costelas trincadas, mas passa bem segundo o último boletim médico. Webber conseguiu até voltar para a prova, em último, e a Red Bull foi multada apenas, depois da corrida.

Neste momento da prova, Grosjean fazia as melhores voltas enquanto o pessoal do pneu macio ia fazendo seus pits. Mas Grosjean também tinha pneus macios e resistiu bem até a décima quarta volta, e começava a despontar como um dos favoritos para o GP. Já tinha até pedido passagem sobre Raikkonen para a equipe, em uma clara demonstração de que não engoliu esta mesma atitude da equipe no GP da Inglaterra. Até Alonso já tinha mudado de ideia em relação a ficar na pista por mais voltas e fez a parada uma volta antes de Grosjean.

Button e Hülkenberg eram terceiro e quarto colocados, respectivamente, sem parada ainda, mas se destacando por levarem suas equipes e seus problemas para a frente do pelotão, mesmo que provisoriamente. Quando Hülkenberg foi para a sua parada, atrás dele estavam Hamilton, Raikkonen e Alonso, colados, em briga direta. O finlandês tratou logo de passar por Hamilton e buscar Grosjean deixando a encrenca para Alonso. E que encrenca! Alonso e Hamilton duelaram como grandes campeões que são e sem nenhum ato desleal. Era muito evidente que Hamilton tinha problemas de equilíbrio e foi para mais uma troca, deixando o caminho mais tranquilo para o espanhol. Durante a briga de Hamilton e Alonso, Button também fez sua parada.

E lá veio outro grande susto na prova.

Carro solto

Bianchi tem o motor de sua Marussia estourado na reta que antecede a entrada dos boxes e encosta rapidamente o carro. As grandes labaredas que saíram da carenagem do motor já seriam suficientes para assustar qualquer um, mas a tensão veio depois que o francês desceu do carro. Como o trecho do circuito é em aclive, a Marussia começou a descer, em ré, e cruzou a pista vagarosamente, vindo a parar totalmente apenas quando derrubou uma das placas de publicidade. Por sorte, nenhuma disputa acontecia neste que era exatamente um dos trechos em que a asa móvel era liberada. Poderia ter ocorrido um sério acidente.

Marussia com fogo e cruzada de pista sem piloto. Perigo!

Marussia com fogo e cruzada de pista sem piloto. Perigo!

Por causa deste incidente, a direção de prova resolveu acionar o safety-car. Sinceramente, achei que o tempo de permanência do mesmo na pista foi muito grande. Deu tempo de muitos entrarem nos boxes para fazerem mais uma parada e de Webber voltar para o fundo do grid e descontar a volta em atraso pela parada em que a roda escapou. Webber conseguiu fazer a volta mais rápida com o safety-car (!), algo que o regulamento não permite, mas parece que ninguém tomou ou vai tomar providência. A ordem era Vettel, Grosjean, Raikkonen, Alonso, Button, Hülkenberg, Maldonado, Pérez e Sutil nas dez primeiras posições. Ricciardo e Di Resta vinham na sequência e Rosberg era apenas o décimo terceiro.

A prova recomeça e os dois carros da Lotus começam a alternar a melhor volta enquanto Vettel tentava escapar. A pressão sobre o alemão era muito forte, mas ele resistiu bravamente. Pérez vai com tudo e ultrapassa Maldonado, que aparecia em oitavo, mesmo com todos os problemas do final de semana.

Grosjean então vai para mais uma parada, sua última, e volta na sexta posição. Vettel, talvez por garantia, faz sua última parada na volta seguinte e conseguiu voltar a frente de Grosjean, mas o francês vinha fazendo a volta mais rápida da prova e ameaçou a posição de Vettel. Para piorar, ambos chegam em Hamilton, que não alivia para nenhum deles. Ambos acabam passando, e Hamilton opta por mais uma parada.

Na frente, Raikkonen tinha a liderança e parecia sem problemas com os pneus. Alonso, em quarto, tinha pneus duros e resistia mais tempo para poder então utilizar os compostos macios para o último trecho da prova. Sua diferença para Raikkonen era de quatro segundos e meio.

A McLaren, com Button, estava em terceiro, se segurando na pista como dava para fazer uma parada a menos. Vettel e Grosjean se aproximam e o inglês resolve ir para sua última parada. Raikkonen e Alonso também param, na mesma volta, e colocam os pneus macios. No caso de Raikkonen, usados, e no caso de Alonso, novinhos. Era a aposta, ao menos da Ferrari, para conseguir uma boa colocação na prova e ainda havia doze voltas para a bandeirada.
Button também fez o mesmo e colocou pneus macios e, de quebra, encontrou Pérez pela frente. Desta vez, o britânico mostrou ao companheiro como se faz um “x” e assumiu o quinto lugar.

Faltando dez voltas, Vettel se segurava na ponta, Grosjean recebia pelo rádio a informação que Raikkonen vinha mais rápido mas dizia que não conseguia entender, que o sinal estava fraco, interferência, etc. Alonso tirava tudo que podia buscando um lugar importante no pódio. Mas foi apenas Raikkonen quem conseguiu a ultrapassagem sobre seu companheiro Grosjean e até tentou alcançar Vettel nas últimas voltas, mas não conseguiu. É bem verdade que chegou perto, ficou a menos de um segundo por alguns momentos, mas nada pode fazer sobre o alemão que, finalmente, venceu em casa pela primeira vez na carreira.

Alonso também não conseguiu superar Grosjean e ficou fora do pódio, mas não se pode dizer que isto foi ruim para quem largou na oitava posição e arriscou na estratégia. Hamilton, apesar do carro totalmente desequilibrado, conseguiu uma boa quinta colocação, mas não ficou nenhum pouco satisfeito. Button em sexto com uma excelente prova, Webber recuperando-se bem para fechar em sétimo, Pérez em oitavo, Rosberg em nono e Hülkenberg em décimo foram os pilotos que completaram a prova na zona de pontuação.

Vettel segura o ímpeto de Raikkonen e vence em casa, finalmente.

Vettel segura o ímpeto de Raikkonen e vence em casa, finalmente.

O campeonato agora tem Vettel com 34 pontos de vantagem sobre Alonso e 41 sobre Raikkonen, seus rivais diretos. Hamilton é o quarto colocado, longe, mas o campeonato ainda não está na metade. No campeonato de construtores, a Red Bull dispara e é a Mercedes que aparece em segundo, porque Massa e Grosjean estão com desempenho muito aquém do esperado nestas primeiras nove etapas.

Uma corrida interessante, com boas brigas, e que coloca Vettel favoritíssimo para erguer pela quarta vez, e seguidamente, o troféu de campeão do mundo. Será que é questão de tempo? Veremos…

Palpitando …

– Pode ser coincidência, mas os carros da Mercedes não se adaptaram com os pneus modificados. Talvez a temperatura não subiu como deveria, mas Hamilton vai se encarregar de fazer isso dentro da equipe.

– Maldonado na Lotus, Hülkenberg na Lotus, Massa na Lotus. E o cockpit vazio, por enquanto, é o da Red Bull.

– Se o carro da McLaren fosse um pouquinho melhor, Button já teria beliscado alguns pódios, mas isso só deve acontecer no ano que vem pois o time inglês jogou a toalha e já trabalha no carro de 2014.

– Interlagos surge como pista ideal para os testes de pneus da próxima temporada, o que significa que o GP do Brasil, que encerra a temporada, pode ficar um pouco mais longo para os apaixonados pela velocidade.

– A Sauber precisa de ajuda financeira urgente.

Massa teve um final de semana para esquecer.

Massa teve um final de semana para esquecer.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

2 Responses

  1. Vitor Gregório says:

    Belíssima corrida, com muitas alternativas. A salientar, a incontestável vitória de Vettel (que ele mesmo admitiu, com bom humor, que não teria sido possível se a corrida tivesse, ao invés de 60 voltas, 61); o 600o GP de uma Willians que parece cada vez mais perdida em seus próprios problemas de falta de verba e cada vez mais longe dos seus áureos anos; e mais um fim de semana pra lá de problemático de Felipe Massa, que parece fadado a um ostracismo pouco honroso no circo.

    Os pneus, dessa vez, não deram sustos em ninguém, e a Mercedes voltou a ser o enigma que sempre foi: imbatível em voltas de classificação (apesar da incompreensível trapalhada com Rosberg que lhe custou a classificação para o Q3) e incrivelmente pouco competitiva ao longo das corridas. Será que apenas os pneus explicam essa montanha russa em termos de performance?

    Finalmente, assustam os rumores cada vez mais concretos de seríssimos problemas financeiros na equipe Sauber, que teria até liberado Hulkenberg de seu vínculo contratual devido a atrasos no pagamento de salários. Será o segundo fim para a simpática equipe de Peter Sauber?

    Quanto à McLaren… Mais um erro clamoroso de estratégia por parte do time de Woking, que já está se especializando em jogar temporadas inteiras pelo ralo logo nas primeiras semanas do ano. De onde esses caras tiraram que poderiam tirar um carro inteiramente novo da prancheta e competir em igualdade de condições com projetos que já contam com alguns anos de evolução constante, semana a semana (quatro anos no caso da Red Bull, três no caso da Mercedes, e dois no caso da Ferrari, que ainda paga um preço alto demais por seus novos conceitos de suspensão introduzidos no ano passado)? Que saudades sinto quando comparo Whitmarsh com Ron Dennis…

  2. Victor Ferraz says:

    Vou dizer uma coisa… Sempre fui torcedor fiel do Felipe Massa, achando sempre uma justificativa para o seu insucesso, entendendo sempre a sua situação difícil e defendendo-o sempre dos insultos e das críticas injustas… Mas dessa vez digo que, se eu fosse a Ferrari, ele estaria demitido.
    Não que uma travada de roda traseira seja um erro inaceitável, mas vindo de vários erros em vários outros GPs, torna-se inaceitável sim para um piloto de ponta cometer tantos erros seguidamente… Confesso que oficialmente parei de torcer, porque pra mim agora ele passou de piloto injustiçado a piloto incompetente. Em meio a tantas críticas e insultos contra os quais eu já o defendi, agora concordo com quem diz que chegou a hora dele sair da F1…
    Tenho certeza que ele seria muito bem sucedido em outras categorias. Meu conselho agora é que ele siga o Mark Webber e libere um lugar na equipe mais desejada da F1.

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