Todos os ventos a favor.


Vettel fica com a mão na taça em uma corrida que teve até ameaça de tufão, mas os ventos continuaram soprando na mesma direção para ele.

Controle total

Quando um competidor, em qualquer categoria, começa a vencer de maneira dominante, normalmente ele cria dois sentimentos: reverência e inveja. Normal do ser humano. Se a categoria for competitiva ao extremo, isso só se acentua. Foi assim que aconteceu com Vettel quando saiu de Cingapura depois de ter esmagado os adversários. Foram vaias no pódio e uma declaração de que seus mecânicos trabalhavam mais que os das outras equipes. Os termos que ele usou foram mais pesados, o que provocou a revolta de Rosberg, que respondeu no mesmo tom. Apareceu um boato, uma suspeita, de que a Red Bull estaria usando um controle de tração, o que explicaria tamanha distância das rivais. Pois bem…

Lewis Hamilton tratou de mostrar que era possível bater Vettel e dominou a sexta-feira no circuito coreano, trazendo Rosberg muito próximo. Vettel ficou entre os primeiros, e ao ser perguntado se dava pra bater o tempo de Hamilton, disse que era “só ligar o controle de tração”. No sábado, a situação voltou a normalidade no terceiro treino livre, com os dois carros da Red Bull tomando a primeira fila, seguidos dos carros da Mercedes.

Na hora do treino oficial, nada de muito surpreendente.

Vettel ficou com a pole, fácil, de novo, só que ao seu lado não estava Mark Webber. Na verdade não estaria mesmo porque o australiano estava penalizado com 10 posições no grid pela carona que pegou no carro de Alonso no GP de Cingapura. Com a terceira melhor marca do treino, Webber foi largar lá na décima terceira posição apenas. Hamilton foi quem conseguiu um lugar na primeira fila, o que poderia ser considerado um excelente resultado. Grosjean herdou a terceira posição de Webber, assim como todos os demais na sequência. Rosberg foi o quarto, logo a frente dos dois carros da Ferrari, com Alonso na frente de Massa. A boa surpresa veio do time da Sauber, que colocou o ótimo Hülkenberg em sétimo e Gutiérrez em oitavo.

Aqui vale um comentário sobre a Sauber. Nico Hülkenberg está com um pé fora da equipe e Esteban Gutiérrez precisa mostrar talento para continuar. Notícias ou boatos sobre Rubens Barrichello não procedem, caso alguém tenha lido na semana passada. Hülkenberg tem se consolidado e Gutiérrez, pela segunda vez seguida, passou para o Q3 e fez um ótimo oitavo tempo, a frente de Raikkonen inclusive, que chegou a bater nos treinos livre e deu trabalho para o seu pessoal de box.
Com os dois carros da Sauber a frente, sobrou para a McLaren ficar de fora do Q3, com Pérez na frente de Button desta vez. Coube ao mexicano fechar a quinta fila com a penalização de Webber e, assim, o México teve seus dois pilotos largando entre os dez primeiros.

Force India e Toro Rosso no meio do grid e Williams se juntando ao pessoal da Marússia e Caterham lá no final. Depois de quatorze etapas, a equipe inglesa de Frank Williams tem apenas um ponto no mundial de construtores, situação muito decepcionante.
Quadragésima segunda pole position de Sebastian Vettel, isso é sério.

Massa, Massa…

Vettel se segura na pole e vai embora. Rotineiro.

Vettel vai embora. Rotineiro.

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Não deu pra ninguém, nem mesmo para Hamilton tentar tomar a pole de Vettel logo na largada. Mas tinha o retão oposta, que com certeza era uma chance de ouro para todos tentarem algo melhor, mesmo sem a possibilidade de utilização da asa ainda na primeira volta.

Claro que todo mundo chegando junto a mais de trezentos por hora na freada ia dar confusão, nem que fosse uma travadinha de roda para dar uma lixada no asfalto. Só não podia acontecer com quem procura emprego como foi o caso de Felipe Massa. Uma rodada sozinho colocou o brasileiro na última posição da prova e por pouco não tirou o companheiro Alonso logo de cara. Pouco antes disso, Grosjean, com toda a bravura que tem direito, deixou Hamilton para trás na mesma freada.

Outros destaques da primeira volta eram Ricciardo, que ocupava a sétima posição, e Maldonado, que fechou o primeiro giro em nono, a frente dos dois carros da McLaren, que mais uma vez se encontravam brigando na pista. Coube a Webber separar a briga dos mclarianos e se colocar entre os carros prateados, a frente de Pérez.

Hamilton resolveu atacar Grosjean e tentar retomar a posição, mas Grosjean vinha sólido. Raikkonen era quem subia no grid, deixando Ricciardo para trás com a velha frieza de sempre, por fora, no melhor estilo “se me tirar da prova, vai junto”.

Rosberg passa Hamilton, literalmente esmerilhando.

Rosberg passa Hamilton, literalmente esmerilhando.

Button, por causa daquele incidente da primeira volta na curva 3, acabou indo para os boxes para trocar o bico e resolveu por trocar também os pneus, mesmo com menos de cinco voltas. Na pista, Webber teve um pouquinho de trabalho com Maldonado, mas continuava a se recuperar na prova.

Lá na frente, Hülkenberg segurando Alonso e Raikkonen se aproximando. Era nítido que o acerto da Sauber favorecia que o carro abrisse distância suficiente no retão e não fosse ameaçado por quem quer que viesse com asa aberta. Alonso bem que tentava, mas não conseguia a ultrapassagem, e este set-up do carro de Hülkenberg iria ser muito importante mais a frente. Como não se definia em relação a Hülkenberg, Alonso viu Raikkonen crescer no retrovisor e não conseguiu segurar o futuro companheiro de equipe.

Bastante disputa nas dez primeiras voltas, e Grosjean seguia firme atrás de Vettel, não deixando que o alemão abrisse mais de 3,5 segundos de vantagem. E era hora dos ponteiros fazerem suas paradas para a primeira troca de pneus. Hamilton e Alonso foram os primeiros . Grosjean e Rosberg na volta seguinte. Hamilton, quando saiu dos boxes, voltou embutido toda vida atrás de Grosjean e tinha de novo opção de ultrapassagem. E o inglês bem que tentou, no retão. Abriu, não deu. Tentou de novo na saída da curva três e tomou uma trancada de porta de respeito. Este é o novo Grosjean, evoluindo ao longo do ano e fazendo por merecer uma das vagas da Lotus para o ano que vem.

Vettel e Raikkonen vão para suas respectivas paradas para troca de pneus. Vettel voltou a frente de Grosjean, como esperado, mas a distância caiu. E Hamilton não sossegava em relação ao francês, fazendo as melhores voltas e tentando se aproximar a todo custo, o que custou um desgaste pouco maior de seus pneus. Raikkonen, que perdeu a posição para Alonso nos boxes, vinha atrás do espanhol de novo e trazia com ele Webber. Neste momento, Ricciardo era o quarto colocado, sem fazer a sua parada ainda.
O circuito da Coréia proporciona uma coisa interessante para a competição. Se no trecho das duas retas, a dos boxes e a oposta, aquele que tiver melhor conjunto potência x aerodinâmica prevalece, na parte mista e estreita, cercada por muros, o equilíbrio era o que fazia a diferença e, com isso, a diferença para o oponente era mantida e o desgaste de pneus menor. Era isso que acontecia entre Hülkenberg, o sexto neste momento, e seus seguidores Alonso, Raikkonen e Webber, que vinham na mesma balada, separados por dois míseros segundos. Um belo pega, sem dúvida.

Hora e vez de Rosberg começar a voar na pista. A primeira vítima foi Ricciardo, já de pneus gastos e que foi para os boxes depois de ter sido ultrapassado pelo filho de Keke. Voando, mais algumas voltas e o alemão chegaria no companheiro Hamilton. Tirando dois segundos por volta em média, Rosberg chegava e Hamilton reclamava que precisava parar, já que seus pneus estavam parecendo brigadeiro de aniversário, tamanha a quantidade de granulados grudados no mesmo. Enquanto os pilotos da Mercedes se aproximavam na pista, Di Resta se aproximou muito foi do muro e acabou abandonando a prova.

Estranhou o safety-car. Pois é, não é ele.

Estranhou o safety-car? Pois é, não é ele.


Nossa!

Kimi Raikkonen fez a segunda parada, Hülkenberg na volta seguinte. Ambos trocariam de posição devido a isto. Fernando Alonso, por sua vez, cometeu um pequeno erro e viu Webber deixa-lo para trás. Aí veio o primeiro momento “nossa!” do GP.

Alguns no paddock dizem que Rosberg tem o nariz muito empinado. Não o conheço, mas sei que se isso for verdade, seu Mercedes provou que não é igual. Aliás, foi o contrário qua aconteceu na volta 28. Colado na traseira de Hamilton, Rosberg abriu para a ultrapassagem e o bico do carro prateado não aguentou o golpe de ar e acabou quebrando, não o suficiente para se desprender, mas para deixar o alemão literalmente esmerilhando o asfalto do circuito de Yeongam. Sorte que o bico não saiu, o que poderia ter causado sérios problemas. Assim, Rosberg conseguiu levar o carro até os boxes e trocar o bico, mas com dificuldade porque a peça não queria sair por nada deste mundo. Seu companheiro Hamilton teve, então, que se arrastar com os pneus gastos por mais uma volta.

Mark Webber era o cara errado na hora errada. Após fazer a segunda, Webber vinha contornando a saída dos boxes enquanto na curva do final da reta dos mesmos, Sergio Pérez ensinava a todos como fritar um pneu como gente grande. Uma travada violenta do pneus dianteiro direito, o mais solicitado na pista sul coreano, causou o segundo momento “nossa!”. Ao entrar na reta oposta, o pneu estourou e perdeu a camada superficial, exatamente como ocorre com os caminhões nas estradas. Dizem que Pérez recebeu convite para entrar no Clube Irmão Caminhoneiro, mas não pode aceitar por causa da fornecedora de combustível que patrocina o clube e que não é a mesma da McLaren.

Quem vinha atrás? Webber. O australiano até chegou a desviar, mas pegou alguns detritos do McLaren do mexicano e teve que parar nos boxes de novo. Safety-car para limpar a pista, e uma demora incomum para isto, quase cinco voltas.

Na relargada, a ordem era Vettel, Grosjean, Raikkonen, Hamilton, Hülkenberg, Alonso, Button, Rosberg, Maldonado e Ricciardo, os dez primeiros. Webber era o décimo primeiro e, de novo, no lugar errado na hora errada, para presenciar o terceiro e último momento “nossa!” da prova.

Quando todos chegaram juntos na freada da famosa curva três, Adrian Sutil errou a freada e, rodando, acertou o carro de Webber na lateral. Parecia que ia dar para continuar, mas Webber sentiu que a temperatura estava aumentando, sem precisar daquela câmera térmica. É que o Red Bull pegava fogo na lateral atingida e não dava mais para o australiano, que abandonou também o GP da Coréia, como aconteceu em Cingapura.

Bela corrida da Lotus, que colocou seus dois pilotos no pódio.

Bela corrida da Lotus, que colocou seus dois pilotos no pódio.

O mais estranho é que enquanto o carro do australiano queimava, a temperatura subia mesmo na briga interna da Lotus, com Raikkonen voando para cima de Grosjean, que até tentou fechar a porta, mas vale lembrar o estilo do finlandês “não vou sozinho…”, e passou o companheiro para assumir a segunda posição. Isto aconteceu na reta dos boxes, quase a volta completa do acidente de Webber e, ao entrarem na reta oposta, os carros dão de cara com uma pick-up de socorro antes da oficialização do segundo safety-car. Papelão da organização da prova e dos bombeiros, que deixavam o touro queimando, enquanto Webber orientava com toda a paciência para onde apontar os extintores. Por falar em Webber, este resolveu pegar carona para os boxes em uma moto para evitar outra punição e salvar material para o filme “Webber pede carona”, em breve, nos cinemas.

Fernando Alonso chegou a ameaçar a posição de Hamilton, ambos chegaram a disputar curvas lado a lado, mas Hamilton se segurou na quinta posição. E era ele quem iria pra cima de Hülkenberg mais tarde.
E tinha mais briga no pelotão de meio. Quem puxava era Maldonado, seguido de Gutiérrez, Pérez e Massa. Por muito pouco não teve mais um momento “nossa!” ou um safety-car. Os quatro quase chegaram a se tocar nos vários emparelhamentos que as curvas de baixa ofereciam. Quem se deu bem foi Felipe Massa, que se aproveitou do ímpeto dos garotos e deixou os três para trás.

Mais a frente, Hamilton queria de todo jeito a posição de Hülkenberg, que se segurava como um veterano. Alonso encostou e deveria estar torcendo para um toque entre ambos. A hora “H” de Hamilton e Hülkenberg veio quando o inglês chegou a passar o alemão mas era dia de Hülk, que retomou a posição para não mais perder. Alonso chegou então em definitivo e tentou roubar a posição de Hamilton com uma sequência de três xises (nunca achei que iria escrever o plural de x) mas não foi suficiente. Hamilton em quinto e Alonso em sexto até a bandeirada. A última troca de posição da prova ficou entre Rosberg e Button, e o piloto da Mercedes levou a melhor, fechando na sétima posição. Massa foi nono e Pérez, do Clube dos Caminhoneiros, em décimo.

Que prova de Hülkenberg! Quarto lugar com louvor e maturidade, mostrando ser um bom investimento para Lotus ou McLaren, já que uma delas deve ser seu destino em 2014. Os dois carros da Lotus completaram o pódio, com Raikkonen em segundo e Grosjean em terceiro e uma certa polêmica que o rádio da equipe deixou escapar na transmissão, pedindo para o francês ficar onde estava e sorrir no pódio.

Ah, ia me esquecendo de Vettel. Trigésima quarta vitória na carreira, e isso é muito sério.

Com a mão na taça, Vettel se despede da Coréia do Sul, para onde talvez não volte, mas sentirá saudades.

Com a mão na taça, Vettel se despede da Coréia do Sul, para onde talvez não volte, mas sentirá saudades.

Palpitando…

– Vettel pode ser campeão no Japão, onde grandes nomes se consagraram com suas conquistas, mas é provável que consiga o título no GP da Índia. Em termos de tradição, nenhuma, mas o touro pode se tornar sagrado por lá também.

– Se o campeonato se decidir no Japão, as etapas de Abu Dhabi, Estados Unidos e Brasil devem ser muito interessantes. O descompromisso pode trazer surpresas, e eu particularmente gosto quando os pilotos correm sem pressão demasiada.

– Os pilotos estão brigando com a balança porque ano que vem os carros serão mais pesados e os que mais tiverem físico de jóquei devem se sair melhor. Dá pra acreditar que esta pode ser o critério para a McLaren descartar Hülkenberg para a próxima temporada?

– Depois de quatro corridas por lá, a Coréia do Sul deve ficar fora do calendário mundial já no ano que vem. Não deve deixar muitas saudades, a não ser para Vettel, que venceu três das quatro etapas.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

6 Responses

  1. lsussumu says:

    Não acredito que perdi esse GP, o sono foi mais forte =/ Se o Hülkenberg for para a Lotus, o Massa irá pra onde? Mclaren? Prefiro o Massa na Lotus, como 1 piloto, do que na Mclaren disputando com Button.

  2. Glauco de F. Pereira says:

    A continuar o domínio simplesmente absoluto de Vettel, resta somente uma solução para maior “emoção” nas demais provas:

    Quem sabe se “Tio” Bernie convidar a “Quadrilha de Morte”, do desenho “Corrida Maluca”, para participar das últimas provas da temporada? Pelo menos, um pouco mais de diversão iremos ter, com as tentativas amalucadas de vencer as provas… Porque, por vias naturais, tá meio difícil!

    Agora, falando sério, observem como a mudança de composto de pneus mudou toda a história do campeonato, claro, com as exceções de sempre…

    Ferrari e Force Índia andaram para trás (como se fosse possível no caso de Ferrari…), enquanto a Sauber tem feito boas provas, acompanhada dos “dragster” Mercedes.

    Talvez a chave para o restante do campeonato esteja nos pneus e a adaptação aos mesmos nas próximas provas. Porque, investimento pesados nos carros não devem acontecer, afinal, o campeonato de 2014 partirá do zero, não fazendo sentido investir para carros que irão para o museu em pouco tempo.

    • Lauro says:

      Muito interessante o artigo do Jalopnik, mas sinceramente, não sei o que pensar.
      A Red Bull fez um carro fantástico. Se o segredo for este, não perdurará muito tempo, porque já “saiu na gazeta” como se diz no popular, e ainda por cima, não é ilegal.
      O que me causa mais estranheza no link é o seguinte: o ronco do motor não é o melhor lugar para se guardar segredo, não é? Então, será que ninguém viu, ou melhor, ouviu? Ainda mais quando o carro do Webber, aparentemente, faz um barulho diferente? Estranho não é?
      Se as outras equipes descobriram e não apresentam nenhuma reclamação, é porque já se deram conta da legalidade da situação, e aí, porque a Red Bull esconderia algo?
      O que eu sei é que os engenheiros das equipes, os projetistas, e todo o time técnico trabalha a exaustão para ganhar 0,1s, com todas as restrições que os regulamento impõe.
      Eu acho que Vettel faz a diferença, e que em Cingapura ele realmente estava com um equilíbrio acima do normal, mas não sei se ilegal.
      Valeu muito pelo post.
      Abraço!

      • lsussumu says:

        É muito estranho ninguém ter percebido isso. Mas é de ficar espantado, que com todas as regras os engenheiros encontraram uma forma de criar esse sistema, é genial, eu li um comentário no jalopnik nessa matéria que o cara falava “Vai ver era por isso que o Kers da RBR dava problema no passado”. Eu estou curioso para saber como vai ser ano que vem.

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