A importância do contra ataque


Hamilton vence em seu país e equilibra de novo o campeonato. Rosberg abandona pela primeira vez, Bottas vai pro pódio pela segunda vez e Raikkonen assusta com acidente.

Cadê a moça do tempo?

Estava faltando um agito na Fórmula 1, algo que pudesse mexer um pouco com o grid, bagunçar o paddock, enfim, seguindo o que a primeira fila do GP da Áustria e a vitória de Daniel Ricciardo no Canadá fizeram. Nada que vá tirar o título da Mercedes, acho que não dá mais. Mas também não estou me referindo ao que Sergio Pérez falou sobre Susie Wolff, a piloto reserva da Williams que andou no primeiro treino livre com o carro de Bottas. Foram quatro voltas apenas e uma falha no motor, mas ainda antes disso, Pérez havia dito que lugar de mulher é na cozinha.

Mesmo com esta polêmica, os carros prateados continuavam dominando os treinos até que o tempo fechou na manhã de sábado durante a realização do terceiro treino livre e aí o tal de Sebastian Vettel voltou a liderar algo na Fórmula 1, ainda que não fosse o treino oficial. O resultado foi tão inusitado que Ricciardo completou a dobradinha, com os dois pilotos da Lotus, Maldonado e Grosjean (sim!) logo atrás, além de Sutil, da Sauber, em quinto. Uma utopia, mas como era previsto mais chuva no treino oficial, parecia que alguma coisa iria acontecer.

Além da chuva, mais atrativos para o final de semana. Dentre eles, o ducentésimo (consegui escrever 200º por extenso) GP de Felipe Massa. Vindo de uma pole improvável e ao mesmo tempo com a decepção de quem não conseguiu subir ao pódio na corrida anterior, Massa queria a continuidade dos bons resultados, só que já no primeiro treino livre, acabou batendo. E não seria só isso. Mudando um pouco de clima, Jenson Button prestou uma bonita homenagem ao seu pai, John, falecido no começo do ano, com uma pintura rosa de seu capacete, cor da camisa que seu pai usava com frequência no paddock. O público acatou e parte da torcida veio vestida assim.

De olho nas informações meteorológicas, os carros foram para os primeiros minutos do Q1 e a pista começou a secar. Só que “Saint Peter” é quem manda na água que cai e manda ela quando quer. Foi aí que quem havia feito um bom tempo na primeira saída tinha que voltar o mais rápido possível antes que as condições mudassem. E como mudaram.

Ao final do Q1, uma apertadinha na chuva e uma bandeira amarela provocada por Adrian Sutil deixou os carros da Caterham fora do Q2. Sem novidades, certo? Só que, com eles, ficaram também os dois carros da Ferrari e da Williams, que demoraram muito para voltar a pista e encontraram mais dificuldades que os demais. Para se ter uma ideia, os dois carros da Marussia fecharam entre os seis primeiros.
No Q2, considerando os que ficaram, as surpresas foram menores, com destaque, de novo, para os carros da Marussia, que ficaram em décimo segundo e décimo terceiro lugares, com Bianchi e Chilton respectivamente. A coincidência foi que os segundos finais também foram sob bandeira amarela, causada pela outra Sauber, a de Esteban Gutiérrez, aumentando o prejuízo da equipe.

A largada que valeu foi com safety-car.

A largada que valeu foi com safety-car.

Para o Q1, a expectativa era que a briga seria, no mínimo, mais apertada pelas primeiras posições. Eis que, faltando dois minutos para o fim, o chove-não-molha resolveu mudar o grid que parecia ter Hamilton como pole position. Naquele momento, o inglês era soberano e parecia não ser ameaçado por mais ninguém quando, já nas últimas curvas e com a volta ainda valendo para quem a tivesse aberto antes do cronômetro zerado, Vettel superou o tempo de Hamilton de maneira improvável, porque as duas primeiras parciais não sinalizavam isso. Em seguida veio Rosberg e garantiu a pole de maneira implacável. Pior para Hamilton foi que outros três pilotos, Button, Hülkenberg e Magnussen ainda ficaram a frente do inglês, visivelmente decepcionado após o treino.

Raikkonen precisando de gelo no tornozelo.

Felipe Massa definitivamente poderia comemorar seu ducentésimo (olha a palavra aí de novo) grande prêmio na Alemanha, a próxima etapa. Ao apagar das luzes vermelhas, o brasileiro, que havia ficado com a décima quinta posição no grid devido as punições de Gutiérrez, Chilton e Maldonado, ficou quase parado e caiu para a última posição. Enquanto isso, Rosberg escapava com tranquilidade e os dois carros da McLaren já haviam deixado Vettel para trás, assim como Hamilton, que veio cheio de sede e chegou a tocar no tetracampeão antes de concretizar a ultrapassagem. Só que aí veio um grande susto.
Raikkonen vinha ganhando algumas posições no terço final do grid quando foi dividir uma curva com a Sauber de Gutiérrez e acabou indo para a área de escape, bem dimensionadas no circuito inglês. A volta a pista parecia ser natural e foi o que aconteceu, só que no ponto em que Raikkonen voltou a pista havia um desnível muito grande. A Ferrari do finlandês saltou e, na tentativa de controlar o carro, Raikkonen acabou indo em direção ao guard rail e batendo muito forte com o bico do carro.

Ainda mais assustador foi a volta para o meio da pista do carro rodando e os pilotos tentando desviar. Dentre eles, Kobayashi tirou o carro no milímetro final, mas Felipe Massa não teve a mesma sorte e acertou o carro de Raikkonen lateralmente. Há de se reconhecer o esforço e visão de Massa em evitar uma batida em “T”, que poderia trazer consequências mais graves. Raikkonen saiu mancando mas apesar das imagens fortes, tudo bem com o nórdico.

Com os destroços espalhados e a necessidade de reparar o guard rail danificado, a corrida ficou parada por mais de uma hora, ajudando aqueles que gostam de acordar um pouco mais tarde no domingo.
Relargada em movimento e Rosberg se mantém, seguido por Button, Magnussen, Hamilton, Vettel, Hülkenberg, Ricciardo, Kvyat, Bottas e Bianchi nas dez primeiras posições. Ainda com menos de cinco voltas já se especulava sobre as estratégias de cada piloto no que dizia respeito aos pneus. Para quem não se lembra, ano passado foi um festival de borracha voando pela pista e isso mudou os compostos usados na categoria desde então. Apenas os carros da Red Bull e Lotus, além de Pérez, optaram por largar com os pneus duros.

Olha eles se divertindo de novo.

Olha eles se divertindo de novo.

Hamilton não demorou muito para superar os carros de Magnussen (em um erro do dinamarquês) e Button e se colocou a cinco segundos de Rosberg. O outro nome da prova era Bottas, que vinha abrindo caminho como ninguém e já era sexto. E tinha mais brigas interessantes acontecendo por todo o grid. Uma delas aconteceu entre Hülkenberg, Ricciardo e Alonso, que vinha mais atrás. Enquanto os pilotos da Force India e Red Bull discutiam suas diferenças, Alonso encostou em ambos e aproveitou um vacilo de Ricciardo para superar o australiano. Nem meia volta depois, Hülkenberg também foi superado pelo espanhol, que também perderia a posição para Ricciardo.

O que costuma acontecer quando se tem uma Lotus e uma Sauber por perto? E se for um mexicano e um venezuelano? Já viu este filme este ano? É praticamente uma briga de rua. Desta vez, Gutiérrez forçou passagem sobre Maldonado e, no toque entre ambos, o carro do venezuelano chegou a dar uma decoladinha. Nada grave, mas que estes caras gostam de um atrito, gostam.

Foi Vettel o primeiro a parar na volta onze, mostrando que a estratégia de pneus duros talvez não fosse a mais acertada. E no momento em que começariam as paradas de box, surge uma punição para Fernando Alonso por ter largado fora de posição no grid, na largada parada. A TV mostrou que Alonso, digamos, pegou duas vagas no shopping. A penalidade foi de cinco segundos durante o seu pit-stop, cumprida posteriormente. Antes disso, porém, Alonso ainda havia ganho na pista a posição de Magnussen e Button, assim como Bottas já havia também superado o inglês da McLaren e já aparecia em terceiro, mais de trinta segundos dos líderes, mas em terceiro, ou seja, o melhor do resto, mesmo tendo largado em décimo quarto.

Na Mercedes, Rosberg reclamou de perda de rendimento e, quando a diferença entre ele e Hamilton caiu para menos de três segundos, o alemão resolveu parar para a troca de pneus e mostrou que teria de fazer outra pois escolheu o mesmo composto macio com que largou. Hamilton não parou imediatamente após, mostrando que poderia sim fazer uma parada a menos e surpreender o companheiro.

Pouco mais da metade da prova e Rosberg tem o câmbio travado em quarta marcha, depois em ponto morto, depois em sexta, e assim foi dando adeus ao GP inglês. Ele ainda encostou o carro, tentou uma reza, um control+alt+del, uma limpadinha no platinado, mas nada disso conseguiu tirar o alemão da grama. Foi o primeiro abandono de Rosberg no ano, para explosão da torcida inglesa que tinha agora Hamilton na ponta.

Button. Só faltou o pódio para a homenagem ficar completa.

Button. Só faltou o pódio para a homenagem ficar completa.

Em casa, pra alegria da galera

Valtteri Bottas era o nome da prova e conseguiu levar a Williams até a volta trinta e dois sem parada para troca dos pneus macios. Na volta a pista, mesmo sabendo que Vettel teria mais uma parada pela frente, Bottas não quis saber e recuperou a posição na pista. Parando logo em seguida de ser ultrapassado, Vettel retornou a pista com pneus mais frios e foi superado por Fernando Alonso, que também fazia grande prova de recuperação das melhores. Magnussen vinha logo atrás dos dois e, quando se esperava que Vettel também perderia posição para o piloto da McLaren, o que se viu foi a disputa mais intensa do domingo entre os pilotos da Ferrari e Red Bull.

A diferença de rendimento entre os carros em diferentes setores dava a tônica da disputa. Alonso era agressivo e não deixava Vettel passar de jeito nenhum. Em minha opinião, uma disputa arriscada e muito perigosa, mas ao mesmo tempo sensacional e limpa. Vettel tentou uma, duas, três vezes, e Alonso conseguia se segurar a frente. Neste período, reclamações de ambos pelo rádio, com acusações de parte a parte de irregularidades. A ultrapassagem acabou acontecendo, mas depois de ambos percorrerem a antiga reta dos boxes lado a lado, encaixados lateralmente. Se você lembra da disputa Senna x Mansell no GP da Espanha de 1991, pode ter certeza que a distância aqui foi menor ainda entre os carros. Valeu o ingresso.

Hamilton ainda faria uma segunda parada por luxo apenas, porque a vitória estava assegurada. Uma vitória muito importante para o inglês depois de um treino decepcionante e que o trouxe de novo praticamente em igualdade de pontos com Rosberg na luta pelo mundial. Bottas, depois de ser terceiro na Áustria, subiu mais um degrauzinho e foi segundo com uma corrida sólida, sem erros. Ricciardo foi de novo ao pódio, estragando um pouquinho a homenagem de Button ao seu pai que seria ainda mais completa com um pódio, mas era algo muito difícil de acontecer. Vettel, Alonso, Magnussen, Hülkenberg, Kvyat e Vèrgne fecharam os dez primeiros colocados.

Mesmo sem a chuva do sábado, a corrida não deixou de ser emocionante e trouxe mais interesse ainda para a próxima etapa, já que saímos da casa de Hamilton e vamos para a casa de Rosberg em duas semanas.

Vencer em casa foi fundamental e na hora certa para Hamilton.

Vencer em casa foi fundamental e na hora certa para Hamilton.

Palpitando:

– Bottas desperta interesses de outras equipes. Não poderia ser diferente;

– Onde Massa teria deixado a miniatura do Neymar, que lhe deu sorte na pole na corrida passada? Ou será que ele perdeu o encanto?;

– A movimentação de patrocinadores por causa dos motores tem sido intensa pelo que eu tenho lido. A Lotus vai vir de motor Mercedes ano que vem, por exemplo, e podem acontecer algumas mudanças interessantes;

– A Caterham, ao que parece, foi vendida em definitivo;

– Alonso e Vettel estão entre os dois melhores pilotos do grid. Sim, é isso mesmo que eu quero dizer;

– Hamilton se recuperou na hora certa.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

1 Response

  1. Glauco de F. Pereira says:

    Massa, com o passar dos anos, estaria a virar um “leão de treino”, como dizem sobre aqueles jogadores de futebol que “comem” a bola na hora do treino, e, no jogo, não fazem nada?

    Do jeito que as coisas seguem, independente de seu histórico, será relegado ao posto de 2º piloto da Willians, atrás de Bottas, coisa que a pontuação já deixa bem claro!

    Ou troca a “mãe-de-santo”, ou providencia um bom banho de pipoca e tudo mais para “abrir os caminhos”, senão o estoque de desculpas terminará e será mais um piloto a abrilhantar a Stock Car por aqui (trocadilho infame este…).

    Quanto as demais disputas, imaginem só se a Ferrari desse um carro ao menos de mediano para bom a Alonso. Teríamos uma disputa entre Hamilton, Rosberg e Alonso, com aparições de Riccardo e sua arcada dentária gigantesca, a acabar com as duas categorias hoje existentes: a Formula Mercedes e a digamos, divisão de acesso, com os demais pilotos.

    Veremos qual será a resposta na Alemanha. É bem claro que Rosberg esperava uma espécie de consagração frente a seu público na próxima prova mas, diante do resultado, a disputa estará mais quente do que nunca no verão europeu!

    Votos que Hamilton ponha sua cabeça no lugar, agora que ambos se encontram em pé de igualdade, e a disputa seja somente dentro da pista, sem jogadas e privilégios dentro da equipe Mercedes.

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