Tendência confirmada


Rosberg venceu em casa com Bottas (de novo) em segundo em uma corrida cheia de ultrapassagens. Hamilton teve trabalho mas também garantiu um lugar no pódio.

Hamilton fora no Q3

No embalo do quarto título mundial da seleção alemã de futebol, Nico Rosberg teve vida fácil em casa. Hamilton até provocou, disse que Rosberg não tem nada de alemão por ser filho de finlandês e por ter morado a vida toda em Mônaco, que nem chopp bebe. Não adiantou nada. Apesar dos dois terem travado uma boa disputa até o segundo treino livre, o muro de Berlim começou a cair na cabeça do inglês no terceiro treino livre, quando Rosberg colocou 0.6s de vantagem e mostrou o tamanho do problema que Hamilton teria que lidar. Havia ainda a ameaça dos carros da Williams, cada vez mais próximas da equipe prateada. Mas o problema de Hamilton foi muito maior que isso.

Já no Q1, uma batida forte causada por um problema no freio, que travou a roda dianteira esquerda do Mercedes #44, resultou em uma rodada logo após a entrada do trecho do estádio no circuito de Hockenheim e tirou o inglês de combate.

Pior que Hamilton, só mesmo Marcus Ericsson, da Caterham, que nem conseguiu classificação por ter ficado com o tempo acima do mínimo exigido, os famosos 107% do tempo da pole.

O Q2 não teve muita surpresa não. Raikkonen ficou de novo ali na décima segunda posição, atrás de Jenson Button, o “pressionado” do momento. A julgar pelo puxão de orelha de Ron Dennis e pelo resultado do companheiro, Button não foi bem.

Hamilton facilitou a vida de Rosberg no sábado.

Hamilton facilitou a vida de Rosberg no sábado.

Quem foi até o Q3, foram os dois carros da Force India, que ficaram com a quinta fila, imediatamente atrás de Daniil Kvyat, o russinho que não se amedrontou com o tamanho da Fórmula 1. Também estavam no Q3 os dois carros da Red Bull, e o Ricciardo andou mais rápido que Vettel outra vez, mas isso já virou rotina. Alonso conseguiu um honroso sétimo lugar logo atrás dos rubrotaurinos.

Nas duas primeiras filas, todos de motor Mercedes. Kevin Magnussen ficou com o quarto lugar, (bem a frente de Button, certo?) e fez as honras da McLaren. Mas audacioso mesmo estava Valteri Bottas, da Williams, que embora não tenha chegado a ameaçar de verdade a pole de Rosberg, ficou a pouco mais de 0.2s do primeiro lugar no grid, mas fez o suficiente para ficar a frente do companheiro de equipe, Felipe Massa, outra vez, mas isso já virou rotina (segunda vez que escrevo isso).

Com este cenário, era só mandar trazer mais chopp e continuar a comemoração.

A vida de Massa está de ponta cabeça.

Nico Rosberg fez o seu trabalho, ou seja, largou na frente e se livrou de uma bela confusão. Isso porque logo na primeira curva mais um capotamento este ano. Desta vez, aparentemente com receio de perder a posição para Magnussen e deixar Bottas escapar, o brasileiro fez a tomada da curva e encontrou o dinamarquês por dentro, sem disposição para manter o quanto lugar do grid. O inevitável toque catapultou Massa, deu um friozinho da espinha dos presentes e de quem assistia, e provocou um safety-car. Ricciardo escapou por pouco.

Massa e o abandono na primeira volta, como na Inglaterra.

Massa e o abandono na primeira volta, como na Inglaterra.

Culpar um ou outro pelo acidente pode ser injusto, mas se ambos tem culpa, é verdade que Massa tem também uma urucubaca danada para resolver. Acidentes no Canadá, Silverstone e hoje, além de ter feito a pole na Áustria mas nem sequer ter subido ao pódio, demonstram que o renascimento do brasileiro na categoria passa por um crivo daqueles.

Depois da relargada, começou talvez aquela que tenha sido a melhor corrida do ano até aqui.
O primeiro embate foi entre Hülkenberg e Button, bem dispostos a brigar, e já chamava atenção Hamilton, escalando o grid rapidamente, como esperado.

Pérez e Kvyat estavam travando também uma bela briga pela oitava posição, mas o jovem russo, desta vez, se precipitou e tentou colocar o carro por fora em um ponto complicado e acabou tocando e rodando, mas conseguiu retornar a pista perdendo várias posições.

Briga feia por espaço, mesmo com a pista larga.

Briga feia por espaço, mesmo com a pista larga.

Depois de ter escapado do acidente na largada, Ricciardo vinha recuperando posições e atrás dele já estava Hamilton. Por algumas voltas, o australiano parecia estar “guinchando” Hamilton porque ambos superavam seus oponentes quase ao mesmo tempo. Já apareciam na zona de pontos quando Ricciardo deixou Raikkonen para trás e largou Hamilton por algumas voltas. A vingança do piloto da Mercedes veio forte e, voando como era de se esperar, o inglês passou por Raikkonen e Ricciardo de uma só vez, com direito a um esbarrão aqui e outro ali. Devido alguns pit-stops que já haviam se iniciado desde a volta 13 com Alonso, Hamilton assumiu então a quinta. E mais gente foi para os boxes, embolando a disputa.

Pistas largas como a da Alemanha proporcionam disputas interessantes. Raikkonen que o diga. Depois de ter virado “recheio” na briga com Hamilton e Ricciardo, o finlandês se viu de novo na mesma situação com o companheiro Alonso e com Vettel agora, e de novo com direito a chega pra lá de tudo que é lado, mas sempre dentro da lealdade. Ficou para trás de novo, reclamando dos pneus pelo rádio.

Quando Rosberg fez sua parada, Hamilton apareceu a apenas 7s do companheiro e já se falava em uma possível estratégia de uma parada a menos para o inglês, que se segurava mais na pista e mantinha um bom rendimento. Neste momento, Bottas era o mais rápido da pista, também já de calçados novos, e não tardou muito para chegar e passar como quis por Hamilton, já com os pneus desgastados e que só seriam trocados na volta 27.

Era uma corrida tranquila demais para Rosberg, enquanto seu companheiro Hamilton continuava alucinado.
Em mais um embate na pista, Hamilton se precipitou um pouco ao tentar a ultrapassagem sobre o ex-companheiro Button e perdeu um pedaço da asa dianteira. Na volta seguinte, com mais calma, Hamilton faz a ultrapassagem com mais segurança e até pede desculpas a Button, um fair play digno de nota. No entanto, a agressividade do piloto da Mercedes não diminuiu e ele foi para cima de Sergio Pérez para assumir a quinta posição, ainda antes da metade da prova.

Safety-car: quando usá-lo?

Na segunda rodada de pit-stops, mais uma emboladinha inevitável. Quando Vettel voltou a pista, ainda estava a frente de Alonso, mas o espanhol logo tratou de se aproveitar dos pneus mais frios do tetracampeão para recuperar mais uma posição. Vettel, no entanto, não ficou para trás e acompanhou Alonso até ambos chegarem em Pérez, que também foi vítima de uma ultrapassagem dupla na prova.

Kvyat mostrou agilidade para sair do carro. Melhor assim.

Kvyat mostrou agilidade para sair do carro. Melhor assim.

Já era praticamente certa a vitória de Rosberg, que foi chamado para sua segunda parada. Hamilton, desta vez, fez também seu segundo pit com pouca diferença em voltas para Rosberg, só que colocou pneus supermacios e foi orientado a voar na pista, mesmo que para isso tivesse que economizar um pouco do novo jogo no final da prova.
Briga em praticamente todos os pontos do circuito. Button e Ricciardo quase se tocam e dão outro show de pilotagem, mas quem põe fogo na corrida, literalmente, foi Kvyat. O russo vinha se recuperando da bobagem do início da prova e tentava chegar na zona de pontos quando o carro começo a pegar fogo rapidamente. Ainda mais rápido, o piloto saltou do carro antes que fosse lambido por alguma labareda.

Por falar em fogo, Hamilton vinha também queimando o asfalto e tirava em média 1,5s dos que iam a sua frente. Aí aconteceu uma situação que levantou algumas perguntas sobre o comportamento da direção de prova e sua possível influência no resultado de uma corrida.

Adrian Sutil entrou na reta dos boxes e rodou, ficando no sentido oposto, mas fora do traçado ideal. Quando tentou voltar, o cavalo de pau habitual que todos fazem foi apenas um pônei nas mãos do piloto alemão, que ficou atravessado na pista, ainda assim fora do traçado ideal, mas uma situação atualmente comum para um safety-car. No entanto, houve hesitação por parte da direção de prova em paralisar a corrida neste momento e o carro ficou ali, sem que ninguém se aproximasse dele, apenas com as bandeiras amarelas agitadas pelos ficais.

Pensando que o safety-car viria, Hamilton fez mais uma parada, voltando na quarta posição e voando ainda mais para tentar uma dobradinha improvável. Como o carro de Sutil foi retirado pelos fiscais, Hamilton tinha 12 voltas e 7s de desvantagem para Bottas na briga já pela segunda posição.

Mais duas brigas, no final da prova, fizeram o público ficar em pé. Primeiro foi Ricciardo para cima de Button, com Alonso chegando no dois. Ricciardo deu um drible em Button como nos tempos antigos, onde o piloto ameaçava de um lado e, quando o que ia a frente tentava fechar a porta, o outro já tinha meio carro na tangência da próxima curva. Lindo, lindo.

Alonso vinha logo atrás e se aproveitou do péssimo estado dos pneus de Button para também ultrapassá-lo e chegar em Ricciardo, em uma última briga de tirar o fôlego. Lado a lado na sequência de curvas do miolo, Alonso e Ricciado alternaram posições com milímetros de diferença entre os carros, até que o espanhol levou a melhor em definitivo.

Não faltou briga nem toques, mas todos leais.

Não faltou briga nem toques, mas todos leais.

A briga que prometia entre Hamilton e Bottas acabou não acontecendo. O inglês chegou a menos de um segundo do finlandês mas, como ambos os carros usam o mesmo motor e o de Hamilton tinha uma avaria no bico, a ultrapassagem ficou complicada e o campeão de 2008, inteligentemente, preferiu garantir o terceiro lugar a tentar algo que o pudesse fazer perder pontos preciosos.

Rosberg cruzou com em primeiro sem ameaça alguma, com Bottas repetindo o pódio de Silverstone e Hamilton fazendo uma corrida de recuperação espetacular. Atrás deles vieram Vettel, Alonso, Ricciardo, seguidos do constante Nico Hülkenberg, da dupla da McLaren Button e Magnussen e de Sérgio Pérez.

Palpitando…

– Se a direção de prova tivesse entrado com o safety-car para a retirada do carro de Sutil, o resultado poderia ter sido influenciado sim. Há de se ter um critério claro para que esta decisão não interfira na disputa do Mundial;

– A Williams passou a Ferrari na classificação do Mundial de Construtores. Se o desempenho de Massa fosse melhor, a equipe já estaria ameaçando o segundo posto da Red Bull. Bela recuperação se comparado ao resultado do ano passado;

– Nico Rosberg se casou e renovou contrato esta semana. Saiu de prova com vantagem ainda maior para Hamilton. Felicidade é pouco;

– No entanto, Rosberg é um cara sem carisma ainda. Vettel foi muito celebrado no autódromo e mesmo correndo por uma equipe alemã, o menino do carro #6 ainda está longe de ter seu nome gritado pela torcida;

– Falando em ídolos, senti falta de manifestações e declarações sobre Michael Schumacher;

– Para esta prova foi proibido o uso do FRIC, que é um sistema de suspensão interligado cuja função é manter o carro o mais equilibrado possível. Disseram que foi retirado para ver se a Mercedes teria o mesmo problema de desgaste de pneus que enfrentava ano passado, lembram? Pois não surtiu nenhum efeito, para nenhuma equipe é verdade. Portanto, que se utilize disso para reduzir custos de desenvolvimento e peças.

A próxima etapa será já no próximo final de semana, na Hungria, antes do recesso.

Nos vemos lá!

Um abraço

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

1 Response

  1. Fábio Abade says:

    Ótima resenha Laurão!

    Mais uma vez o Massa – que não é “massa” em nada – se mostrou medíocre, moleque e prepotente.

    Se for pra ter representante do nosso país desse tipo nos esportes, é preferível que não haja nenhum!!

    E o Hamilton hein… botou a faca nos dentes e mostrou como que devem ser feitas as ultrapassagens hoje em dia…

    “Excuse me, Sir. Would you mind if I push you out of the track a little…”

    HEHEHEHEHE

    E o Ra Ra Ra Ra Raikonnen pelo jeito deixou todo o talento lá na Lotus…

    Vamo que Vamo!!

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