Massa e dobradinha no menu.


Interlagos mostrou que mesmo um dos melhores circuitos do calendário, e a torcida provou isso. Não houve decisão do título desta vez, mas houve uma invasão da torcida como não se via há mais de duas décadas.

Diga 33.

Não fazemos nenhuma consulta médica por aqui, mas infelizmente anunciamos o óbito da equipe Marussia na semana que antecedeu ao GP do Brasil. Havia a esperança de que os carros tricolores alinhassem ao menos para a última etapa, em Abu Dhabi, mas o time foi vítima de endividamento generalizado e não teve forças para se recuperar.

Infelizmente, era uma morte anunciada de uma equipe que nunca teve uma evolução técnica significativa e que neste ano contrastou a alegria de conseguir seus primeiros pontos com a tragédia de ter visto seu piloto sofrer um dos piores acidentes da categoria em todos os tempos. Sem contar o acidente com a piloto de testes Maria de Villota, em julho de 2012 durante testes aerodinâmicos, que levou a morte da mesma pouco mais de um ano depois.

A Caterham, também mal demais das pernas, só não terá o mesmo destino este ano se conseguir arrecadar dinheiro através de doações de fãs, a famosa “vaquinha”. Também é, para mim, questão de tempo, porque acho que a vaca aqui também já foi pro brejo. E saber que Rubens Barrichello poderia ainda ter corrido mais três corridas este ano pela equipe esmeraldina, ampliando seu recorde e fazendo uma despedida oficial perante a sua torcida.

Chega de falar de assunto extra pista, pois o que vale mesmo é quando o carro acelera.

E aí todo mundo sabe que não tem pra ninguém este ano, mas que a disputa nos treinos foi de arrepiar, isso foi. Desta vez, porém, Nico Rosberg mostrou superioridade perante seu companheiro de equipe Lewis Hamilton. O finlandês foi superior todo o final de semana, e nos últimos minutos do treino oficial, bateu o tempo do líder do campeonato por duas vezes e ficou com a posição de honra do grid. A diferença? Apenas 33 milésimos de segundo! É muito equilíbrio entre ambos, e Rosberg tenta a todo custo desestabilizar o companheiro para poder conquistar o título inédito.

Mas a torcida tinha olhos para Felipe Massa, que fez um excelente treinamento em todas as oportunidades, e conseguiu a “pole do resto”, para alegria do torcedor presente no autódromo. Massa foi o que mais se aproximou do time prateado, menos de dois décimos de segundo, mas, se não conseguiu o que era praticamente impossível, pelo menos o brasileiro se colocou a frente de Valtteri Bottas, por diferença também apertada de apenas 52 milésimos.
E as pequenas diferenças não pararam por aí. Para se ter uma ideia, os seis outros pilotos presentes na super-pole ficaram separados por 0.169. Começando por Jenson Button, que vem fazendo um excelente final de campeonato e superando o companheiro Kevin Magnussen. Desta vez, entre eles, a presença de Sebastian Vettel, que também está andando mais que Daniel Ricciardo neste final de campeonato. Alonso foi o sétimo, e apenas entre estes quatro, um equilíbrio de 0.047s! Daniel Ricciardo e Kimi Raikkonen fecharam os dez primeiros colocados.

O ronco não é o mesmo, uma pena.

O ronco não é o mesmo, uma pena.

A diferença e o recorde da pista batido por Nico Rosberg este ano se deve ao novo asfalto do circuito paulista, que foi muito elogiado por pilotos e por quem esteve no autódromo. Além disso, a nova entrada dos boxes trouxe maior segurança no ponto que era considerado extremamente perigoso. Outra melhoria foi na segunda perna do S do Senna, que teve sua área de escape aumentada. Vida longa a Interlagos!

Bem comportados

Ninguém usou a nova área de escape na descida do S logo após a largada, e a largada foi limpa, mas muito disputada. Os cinco primeiros se mantiveram em suas posições, e foi Vettel quem perdeu mais posições entre os primeiros depois de uma escapadinha que abriu a porta para Magnussen e Alonso. Os pilotos da Mercedes começavam uma disputa muito próxima, em que Rosberg abria e Hamilton descontava a diferença.

O asfalto novo trouxe logo os carros para a primeira parada, cabendo ao piloto da casa a honra de inaugurar os serviços. Foi tão rápido que tomou uma penalidade de 5s a ser cumprida na próxima parada. Rosberg, Bottas, Vettel, Alonso, Magnussen, Hamilton. Todos eles pararam nas três voltas seguintes, e na nova ordem, Button colocava pressão sobre Bottas, embora ambos tenham entrado e saído dos boxes juntos.

Era incrível como, mesmo após a parada, os pneus já se desgastavam em demasia.

Coadjuvantes de luxo.

Coadjuvantes de luxo.

A segunda parada, ainda na volta de 26 de 71, também com Felipe Massa puxando a fila e, desta vez, pagando os 5s de punição, o que lhe devolveria atrás do companheiro Bottas, mas um problema no cinto de segurança do finlandês fez com que sua parada fosse muito longa e ele perdeu segundos preciosos na briga não só com Massa, mas com Button e Alonso também.

Rosberg já havia parado e Hamilton resolveu então fazer aquelas voltas voadoras para poder tirar a diferença para o alemão. Mas foi exatamente ai que Hamilton passou do ponto, na descida do lago, e escapou da pista, controlando o carro, mas perdendo um tempo muito grande. Box, box, box pelo rádio do inglês.

Alonso e Ricciardo faziam uma bela briga, mas era apenas pelo décimo lugar neste momento. Uma pena dois talentos brigarem apenas pelo ponto de honra. Com a saída eminente da Ferrari para a McLaren, Alonso nem parecia se importar muito com o fato de Raikkonen estar, neste momento, em terceiro. Só que a Ferrari resolveu aprontar no pit-stop como não se via já algum tempo e desceram o carro de Raikkonen sem a roda dianteira direita colocada. Isso proporcionou, mais tarde, um lance muito aguardado.

Na briga para escalar o pelotão, Vettel e Kvyat, atual e futuro piloto da Red Bull, fizeram uma disputa de milímetros na reta dos boxes, com vantagem para o tetracampeão mundial que, ao que parece, vai passar o ano sem vitórias depois de ganhar quase tudo nos últimos campeonatos. Chegaria a frente do companheiro, pois Ricciardo teve a suspensão quebrada e foi obrigado a se retirar mais cedo desta vez.

Boa prova de Massa, e em casa. Era tudo que a torcida precisava.

Boa prova de Massa, e em casa. Era tudo que a torcida precisava.

Enquanto Hamilton tirava a diferença de maneira consistente, Hülkenberg e Bottas acabaram se enroscando e Kimi Raikkonen tirou proveito da situação e saiu na frente do compatriota. Uma aula do veterano finlandês sobre o excelente piloto da Williams. E o que se viu em Interlagos foi o quanto o campeonato perdeu com o desequilíbrio na disputa de Alonso e Raikkonen este ano, na briga mais aguardada entre companheiros de equipe. Alonso, em sua batalha com Magnussen pelo sexto lugar, também deu um show, deixando o pequeno dinamarquês de debatendo de um lado para o outro como peixe fora d’água até sacramentar a ultrapassagem com a tranquilidade e talento que lhe são peculiares.

O alicate

Hamilton tirava a diferença para Rosberg e parecia que ia alcançar o alemão. Foi neste momento, faltando vinte voltas para o final, que Rosberg decidiu por sua última parada. Na mesma volta entrou Massa e Button, e não é que o brasileiro ia parando no box da outra equipe inglesa? Os mecânicos abriram e deram passagem, mas se quisessem sacanear, era só suspender o carro e sair para tomar um café, de preferência lá Curva do Café. Claro que Massa perdeu tempo, mas não influenciou em seu resultado final.

Mais uma volta e Hamilton também faz a sua última parada e volta ainda mais próximo de Rosberg, o que parecia levar para um final épico. Massa dava conta de se recuperar e assumia a terceira posição sobre Hülkenberg, que vinha com uma parada a menos. Aliás, bela estratégia do time indiano para seu piloto.

Quando Rosberg chegou em três retardatários, dava pinta que ali Hamilton iria usar de sua maior astucia para, enfim, passar pelo companheiro. Só que Rosberg mostrou muita decisão e segurança para poder prosseguir na frente. Mais atrás, a briga era feroz entre Button, Raikkonen, Vettel e Alonso. Os campeões do mundo davam verdadeiro show de disputa, limpa mas aguerrida, que proporcionou ao final uma disputa linda entre Raikkonen e Alonso. O finlandês vendeu muito caro a posição para Alonso, mostrou frieza para segurar o espanhol e lealdade para não colocá-lo além dos limites do asfalto. Esta briga dos pilotos da Ferrari, para mim, valeu o ingresso.

Na briga pela vitória, Rosberg conseguiu, enfim, segurar a gana de Hamilton e venceu o GP do Brasil de 2014, com Hamilton colado a 1.4s de diferença. Meio dia depois chegou Massa, mas não importava a diferença para os carros da Mercedes. O público foi a loucura com o resultado de “vitória” sobre os demais competidores (exceto as imbatíveis Mercedes). E a festa estava apenas começando.

De perto, Hamilton viu Rosberg vencer, mas parece seguro.

De perto, Hamilton viu Rosberg vencer, mas parece seguro.

Button foi o quarto colocado com louvor, seguido de Vettel. Alonso e Raikkonen chegaram também muito próximos, e se não fosse o pit desastroso, Raikkonen chegaria a frente, sem dúvida. Hülkenberg chegou colado nos carros da Ferrari, seguido de Magnussen e Bottas.

E a festa em Interlagos teve a participação de um convidado muito especial: um alicate. A torcida abriu um buraco no alambrado na direção da entrada dos boxes e invadiu o asfalto para chegar mais perto do herói do dia, Felipe Massa. Uma alegria que se opunha a um clima descrito por algumas pessoas como triste e confuso pelos problemas financeiros das equipes como descrito no início, pela saída de Vettel da Red Bull e o clima pesado na equipe, pela tristeza que ainda paira sobre o acidente com Jules Bianchi, enfim, muita coisa ruim que, pelo menos por um momento, ficaram de lado pela aproximação do público com seus ídolos, ainda com os motores aquecidos. Não teve segurança que desse jeito.

Em Abu Dahbi, Rosberg pode ser campeão vencendo a prova desde que Hamilton não chegue em segundo, dentre outros resultados possíveis. E é ai que Vettel, Bottas, Ricciardo, Alonso, e até mesmo Felipe Massa podem ter participação decisiva na briga entre os ex-amigos de infância. É tempero mais que suficiente para não perder a última etapa deste ano.

Palpitando…

– Felipe Nasr foi confirmado piloto da equipe Sauber para 2015, e terá como companheiro o endinheirado Marcus Ericsson, ex-Caterham. É a transição que a torcida brasileira precisava para não ficar órfã de uma vez. Felipes na pista em 2015, eu me pergunto; o que virá depois?;

– A Fórmula 1 precisa de dinheiro, ou de baixa brutal nos custos. Parece que vão anunciar o maior contrato da história para Fernando Alonso na McLaren ano que vem. Eu não entendo…;

– Nelson Piquet roubou a cena brincando com Niki Lauda nos boxes e despertando o ciúme de Hamilton no pódio ao perguntar onde estava sua namorada. Nelson, Piquet como sempre;

– Button fica, e Magnussen vai para a reserva. É o que eu acho (e torço).

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

3 Responses

  1. Glauco de F.Pereira says:

    Acho que a McLaren estará dando um tiro no pé ao colocar Alonso/Magnussen como sua dupla titular. Se é para economizar para pagar “Dom” Alonso, é só aparecer uma oportunidade melhor para ele deixar a desenvolvimento do novo motor Honda pela metade…

    A pagar o que se diz para Alonso, ele, que já se acha o rei da cocada preta, irá massacrar Magnussen, coisa que não aconteceria com Button. Além disso, pela sua tocada limpa, acredito que Button teria muito mais a oferecer a dupla Honda/McLaren no próximo ano que será eminentemente de desenvolvimento, talvez sem perspectiva de bons resultados.

    Mas como tem que economizar para pagar a “Prima Dona” Alonso…

    Esperemos até a primeira crise no relacionamento Alonso/Ron Denis para saber até aonde vai o topete de Alonso. Todos sabem o que aconteceu quando estavam juntos Alonso/Hamilton na McLaren em passado recente…

    Basta Magnussen ou até mesmo Button, se for o caso, apresentarem resultados melhores do que Alonso para que comecem os bicos e outras coisas mais em que Alonso é mestre em fazer, ainda mais sendo uma pessoa “agregadora” como é…

  2. Sei que Alonso não é flor que se cheire no que diz respeito a relacionamento, mas ele é um excelente piloto. Errou nas escolhas e paga o preço de ter metade dos títulos de Vettel hoje em dia, e acho Vettel um pilotaço também.
    Para a Fórmula 1, prefiro Button na McLaren e Magnussen em uma equipe mais modesta, mas parece que isso não vai acontecer, porque as vagas de Force India e Sauber já estão fechadas.
    A opinião e a tocada de Button ainda são importantes para a categoria.
    E quero ver o que vai dar Alonso/Denis. Se será “x” ou “&”.

  3. Torço para que o Felipe reencontre a vontade de vencer corridas e para que o Nasr tenha uma ótima performance . Quem sabe se num futuro próximo, ele possa pilotar um carro de uma equipe de ponta. Aliás, faz tempo que nós brasileiros não temos emoções nos domingos de F1!

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