O que faço com a bola de cristal?


Baseando-me nos testes da pré-temporada e em análises de gente especializada, a conclusão é de que teremos mais um ano prateado no Mundial 2015. E não estamos falando apenas em velocidade, mas também em confiabilidade. Mas até quando?

Parece até que não tivemos um intervalo entre a temporada passada e estes testes da pré-temporada 2015. Pelo menos para a Mercedes. Sem menosprezar o trabalho do staff prateado, claro, porque ao que parece, eles conseguiram aprimorar o carro imbatível do ano passado. Só que será um ano cheio de novidades que a gente não pode deixar de acompanhar. A ida de Sebastian Vettel para a Ferrari e o novo carro de Maranello parece que vão dar mais alegrias ao tetracampeão e até provocaram sorrisos em Kimi Raikkonen. A Williams, que deve brigar de novo pelas primeiras posições e que não deverá ter que se preocupar muito com a Red Bull e com a McLaren, que não apresentaram força ainda. E quem sabe teremos mais um brasileiro marcando pontos, caso do estreante Felipe Nasr na Sauber. Vejamos um resumo de como foram os testes da pré-temporada equipe por equipe.

Para se manter no topo

A Mercedes fez o que qualquer time que está ganhando faz, ou seja, não mexeu. Na verdade, aperfeiçoou algumas coisas em relação ao ano passado, mexeu um pouco na aerodinâmica do carro, principalmente o bico, e parece que conseguiu um carro ainda mais confiável que o do ano passado. Quando fez simulações de corrida, aliás, foi a equipe que mais andou no período de testes, não se importou muito com os tempos de volta em si. Mesmo assim, sempre apareceu no topo da lista tanto em Jerez, quanto na Catalunha. Quando resolveu se calçar de pneus mais rápidos, ainda assim mais duros que o da concorrência, fez um temporal colocando mais de meio segundo sobre o segundo colocado. E isso só aconteceu no último período de testes, em Barcelona. Mesmo que não tenha sido, e é o que eu acredito, a Mercedes deixou a concorrência achar que dava, para realizar um verdadeiro nocaute quando achou conveniente. No geral, as equipes adversárias se entreolham e começam a acender velas, de novo. Hamilton chegou a não treinar com febre e Rosberg também esteve debilitado com dores no pescoço. Talvez seja a única maneira de parar estes carros, ou seja, apostar no componente humano como ponto fraco.

A aposta é para ela

A aposta é para ela

Ao que parece, decência.

A Ferrari começou os testes da pré-temporada como o carro a ser batido, lá em Jerez. Como equipe, dominou três dos quatro primeiros dias de treinos e como fornecedora de motor, fechou a unanimidade dos quatro dias no antigo palco da Fórmula 1 espanhola. Com a vinda de Sebastian Vettel, o time parece que realmente acetou a mão no novo carro, o que promete colocar o alemão de volta as brigas lá na frente do grid. O alemão foi só elogios ao time e até Kimi Raikkonen sorriu, dizendo que nada se compara ao carro do ano passado. Com os pés no chão, equipe técnica e comando todos reformulados e com a motivação de Vettel, a equipe italiana pode dar trabalho e fazer um belo campeonato, ainda que não consiga brigar diretamente com o Mercedes logo de início. Pelo menos, o vermelho parece não ser o de vergonha em 2015.

Melhor que no ano passado e com Vettel. Assim vem a Ferrari.

Melhor que no ano passado e com Vettel. Assim vem a Ferrari.

Quero meu espaço de volta

Brigar por vitórias. Este é o objetivo principal da equipe de Grove, que mantém a mesma estrutura do ano passado e o carro que terminou a temporada brigando lado a lado com os carros da Mercedes. O aprimoramento da parte aerodinâmica e a confiabilidade também foram trabalhadas no modelo 2015, o FW37. A dupla de pilotos é a mesma do ano passado, com Felipe Massa e Valtteri Bottas, e ambos se mostraram mais animados que no ano passado, o que pode ser um indicador de que a primeira metade do mundial pode ser ainda mais promissora que a do ano passado, e os resultados ao final do ano, melhores. A grande diferença está no bico do carro, mais baixo e semelhante ao da Mercedes. Se vai brigar pelo lugar mais alto do pódio? Sim, mas ainda em condições um tanto particulares. Em velocidade pura, como dissemos, ainda tem um caminho relativamente longo a percorrer. A boa notícia veio na última bateria de testes, encerrada hoje, onde os carros brancos do time inglês ocuparam, por duas vezes, o topo da tabela de tempos, uma vez com cada piloto. É hora de voltar a ser a equipe vencedora, e o time tem dinheiro, gente capacitada, e pilotos com certa experiência e talento para isso.

Hora de voltar a vencer.

Hora de voltar a vencer.

E o vento levou.

A expectativa em torno do novo carro da McLaren para 2015 era enorme. Não era apenas a troca de motor, com a saída da Mercedes e o retorno da Honda que animavam o time inglês. Se especulou sobre a pintura do carro, já que os tons prateados remeteriam ao time alemão. Se especulou muito também sobre os pilotos. Fernando Alonso chegando, mas quem seria o segundo piloto? Em uma decisão muito centrada, optou-se pela permanência de Jenson Button, experiente e com quem a Honda já teve alegrias em um passado não tão distante, como equipe. Tudo parecia perfeito até o carro andar. Ou melhor, tentar andar.
Sucessivos problemas que iam desde vazamentos pequenos até panes elétricas, falta de pressão disso ou daquilo, o molho shoyu azedou de vez para os lados da equipe inglesa. Nem mesmo o discurso sempre calmo de Ron Dennis, de volta com força total no comando do time, parece fazer com que alguém acredite que está tudo bem com o carro. E não está mesmo.
Para piorar, um acidente com Fernando Alonso no último dia da segunda das três sessões de treinos livres da pré-temporada, piorou ainda mais a situação. Sem uma explicação plausível do time, que se resumiu a dizer que o acidente foi normal e causado por uma rajada de vento, muitas especulações surgiram, e teorias conspiratórias também. Dizem que o espanhol chegou a perder os sentidos na batida com o muro e que ao acordar perguntava se ainda havia vaga na Mercedes. Falaram em choque no cockpit, quebra da suspensão, batida deliberada, etc. Alonso nem participou da última bateria de testes que terminou hoje. Porém, se há algo de bom, isto pode ser tirado da declaração de Jenson Button que conseguiu em um dia (apenas um) dos treinos finais, andar mais de 100 voltas e declarar que o carro é de outra categoria se comparado ao do ano passado. Pelo menos, isso.

Só problemas na pré-temporada e muitas dúvidas. Nem a pintura deve estar certa.

Só problemas na pré-temporada e muitas dúvidas. Nem a pintura deve estar certa.

Poucos motivos para sorrir.

Cheia de mistério, a Red Bull veio para os testes com uma pintura camuflada. A novidade, que poderia servir como justificativa para o time andar tão bem mesmo com a saída do tetracampeão Vettel, acabou se tornando motivo de piada. A equipe passa por um período de reformulação e este é o último carro da equipe ainda com elementos de Adrian Newey, que deixou a equipe ao final do ano passado. O que esperar então de um carro que foi medíocre nos testes? Bem, a equipe austríaca ainda conta com muita gente competente no staff e tem o que muitas queriam ter: dinheiro. Além disso, tem um piloto vencedor, no caso de Daniel Ricciado, e um jovem e rápido talento vindo de sua equipe satélite, Daniil Kvyat. Não é candidata a nada logo de cara, a não ser a reaparecer com a pintura tradicional para o primeiro GP da temporada. Ricciado chegou a andar bem, fazendo boa quilometragem e até mesmo sendo o mais rápido em uma das sessões já em Barcelona. Mas o carro ainda está longe de empolgar e de voltar a ser a referência de alguns anos atrás. Se nada de melhor acontecer, Ricciardo e Kvyat podem formar uma dupla sertaneja de sucesso: Daniel e Daniil.

Depois de testar com a pintura camuflada, a Red Bull revelou a pintura tradicional para 2015. A performance, porém, continua camuflada.

Depois de testar com a pintura camuflada, a Red Bull revelou a pintura tradicional para 2015. A performance, porém, continua camuflada.

Servimos bem para servir sempre.

Eis que a Toro Rosso se compromete a manter o papel a que foi creditada, que é servir de apoio para a equipe principal, a Red Bull, em descobrir talentos e fazer alguns experimentos. Bom, sobre o carro não se pode falar muito, dá pra ver apenas que ele é mais harmonioso ao do ano passado, principalmente no que diz respeito ao bico, mais baixo e alongado. A parceria com os motores Renault continua por mais este ano e pode ser que este venha a ser um ponto fraco desta temporada, já que os propulsores franceses equipam agora apenas a matriz austríaca e a filial italiana.
A grande atração da equipe está na nova dupla de pilotos, que conta com o jovem holandês Max Vertappen, filho do ex-piloto da categoria Jos Verstappen. O menino de 17 anos apenas será o mais jovem piloto a estrear na categoria e isso provocou uma série de discussões sobre a superlicença para “adolescentes”. O menino foi terceiro colocado na F3 Euro do ano passado, e já estreou nos treinos livres dos últimos GPs do ano passado. Nos testes, mostrou que tem potencial sim e andou bem, dentro das limitações do carro, claro. Já o espanhol Carlos Sainz Jr. foi campeão na World Series 2014, mas é “muito” mais velho que Verstappen, com 23 anos de idade.
Brigar no pelotão intermediário é o que se espera do time de Faenza, nada mais.

Vai lutar para não cair e botar quilometragem na molecada.

Vai lutar para não cair e botar quilometragem na molecada.

A dúvida e a dívida

Vijay Mallya, dono da Force India, mudou aquele ditado que diz “devo, não nego, pago quando puder”, para “devo, não pago, nego enquanto puder”. O dono do time indiano não consegue sossego no que diz respeito a dinheiro e isso comprometeu a pré-temporada do time. O carro só estreou na última sessão e andou relativamente bem também. Sergio Pérez e Nico Hülkenberg seguem sendo os pilotos da equipe e o alemão andou elogiando o carro, que é bem diferente daquele de bico sugestivo do ano passado. Mas não dá para tirar uma conclusão definitiva da equipe. Eu diria que é séria candidata a ocupar o posto que pertenceu a Lotus no ano passado, ou seja, brigar para não ser a pior equipe do mundial. Com sinceridade, espero estar muito enganado pois a dupla de pilotos merece brigar mais a frente.

Dividas e juros, mas eles vão para a pista.

Dividas e juros, mas eles vão para a pista.

Um novo empurrão

A Lotus traz duas grandes novidades este ano: a primeira é voltar para um carro tradicional, sem muitas invenções arrojadas como o bico dividido de 2014. A outra é o motor Mercedes, que empurra os carros negros e dourados. E esta diferença parece ter sido sentida já de cara, pois quando colocados na pista, os carros de Enstone andaram muito bem na segunda sessão de treinos e fizeram por três dias, dos quatro, os melhores tempos, tanto com Pastor Maldonado quanto com Romain Grosjean. Isto parecia ser um excelente prognóstico para o ano, mas o carro não repetiu resultados tão bons na última sessão. Ainda que tenham tido objetivos de testar confiabilidade ou outras coisas, não pareceu que o rendimento do carro foi tão bom quanto o de dias anteriores. Ao menos, parece que o time fez um bom trabalho aerodinâmico e o motor Mercedes casou melhor que o Renault. Não deve andar tão mal quanto ano passado e, a julgar pela pintura (a mais bonita na minha opinião), merece aparecer mais na telinha.

Um novo motor pode ajudar a Lotus a sair do fundo do grid.

Um novo motor pode ajudar a Lotus a sair do fundo do grid.

Quem sabe…

A Sauber é a equipe que parece ter tido o maior crescimento em relação ao ano passado. Parte se deve ao motor Ferrari, que empurrou Vettel e Raikkonen para as primeiras posições em Jerez com a equipe Ferrari, como dissemos anteriormente. A outra coisa é o famoso “carro bem nascido”, aquele que ao ser ligado e começar a andar mostra para o piloto que ele pode pisar sem dó. E foi isso que o estreante Felipe Nasr fez, chegando a ser o mais rápido no terceiro dia de testes em Jerez. Quando isso aconteceu, todo mundo falou em blefe, que os pneus e o combustível estavam no limite do regulamento, que foi apenas uma volta, que foi a famosa aparição para a imprensa. Só que não foi o que se viu no restante da pré-temporada. Até mesmo o companheiro de Nasr, Marcus Ericsson, ex-Caterham, fez bonito, e pode-se dizer que o maior problema que a equipe enfrentou foi o acidente entre o brasileiro e Susie Wolf, que testava pela Williams naquela manhã. Se tudo conspirar a favor, o time suíço tem tudo para brigar no meio do grid e, quem sabe, incomodar até mesmo Red Bull e McLaren. Para os brasileiros, um motivo a mais de esperança de ver um piloto nacional pontuar na Fórmula 1 e, aos poucos, começar a se acostumar com o novo Felipe.

Nascimento correto e resultados interessantes motivam o time suíço.

Nascimento correto e resultados interessantes motivam o time suíço.

Walking Dead

A equipe zumbi da Fórmula 1 nem mereceria estar no grid. Tentou até apelar ao carro do ano passado, o que foi negado por algumas de suas “parceiras”. Aí surgiu um empresário, ao que parece ele é do ramo de energia inglês, injetou dinheiro e diz que tem um carro em estágio avançado de construção. Contratou Will Stevens como um dos pilotos e ainda não anunciou o outro. Vem com o nome de Manor Marússia. É lamentável que isso aconteça, mas mais lamentável ainda é a equipe reaparecer assim. Eu e todo mundo já sabemos o que vai dar: nada.

É o que tem pra hoje.

É o que tem pra hoje.

Ainda vale dizer que…

– Os testes foram realizados em temperaturas ambiente baixas, o que não ajudou a fornecedora Pirellli a tirar melhores conclusões. Isto pode ser significativo sim, e pode mudar alguma ordem nas equipes;

– Cada equipe terá apenas 4 motores por piloto para a temporada, e a penalidade é largar no final do grid e não mais dos boxes;

– Quando for necessária a interferência do safety car, a relargada será não será mais em movimento. Os carros serão alinhados no grid para nova largada parada, que não serão realizadas caso a entrada seja nas primeiras 2 voltas da largada (ou relargada) ou então com 5 voltas ou menos para o final da corrida. Além disso, haverá o safety car virtual, assim como testado no ano passado;

Se o prognóstico prevalecer, a briga entre os ex-amigos Hamilton e Rosberg promete ser ainda mais aberta e isso pode favorecer, de cara, os pilotos da Ferrari e da Williams. Sebastian Vettel vai querer escrever também seu nome na Ferrari, que pode não começar neste ano, mas não deixem a porta aberta para o alemão que, assim como fez Lewis Hamilton quando saiu da McLaren, pode estar encaminhado mais títulos com sua ida para Maranello. Quero ver Valtteri Bottas e Daniel Ricciardo brigando entre os primeiros, pois eles são o presente-futuro da categoria. Quem sabe tenhamos boas atuações de Felipe Nasr e dos estreantes Verstappen e Sainz Jr.

Que venham as curvas, zebras, retas e bandeiradas para mais uma temporada.

Façam suas apostas.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

1 Response

  1. Glauco de F.Pereira says:

    Depois de um longo e tenebroso inverno, enfim 2015! Vamo que vamo, com diria o nosso amigo Fábio Abade!

    Quanto a bola de cristal, Lauro, tente passar pra frente ou pense em um novo uso para ela, pois parece que em se tratando de previsão, será tão útil quanto outros oráculos mais antigos… Seu uso não será tão necessário assim em 2015… Pelos menos na F1, claro.

    Será mais um ano de Mercedes contra o resto, vencendo quando, como e onde quiser. Com lampejos aqui e ali de Willians , Ferrari (com Vettel carregando o carro “nas costas”, a la Alonso…) e Raikkonen rindo (Será que mudaram o fornecedor de Vodka?)

    Quanto aos demais, meros coadjuvantes de luxo (e põe luxo nisso! Haja grana para ser coadjuvante…)

    Creio que somente quando do início da temporada européia é que teremos, se é que isto será possível, alguma mudança no status quo em que terminou o último ano.

    No mais, façam suas apostas! A sorte está lançada!

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