Nem S, nem C. “Vingapura” é com V de Vettel.


A Ferrari mostrou força e a Mercedes não conseguiu levar Hamilton ao final da corrida. Resultado: vitória de Vettel, seguido por Ricciardo e Raikkonen. E o campeonato pode ter uma nova dinâmica.

Va bene.

Durante a semana que precedeu o GP de Cingapura, o assunto era apenas um: Hamilton irá igualar a marca de vitórias de Ayrton Senna com o mesmo número de GPs. O quadragésimo primeiro triunfo do inglês viria exatamente em seu centésimo sexagésimo primeiro GP (ordinalmente escrito), igualando-se ao seu maior ídolo. Mas a vida, a vida é uma caixinha de surpresas…

Superior em todos os treinos classificatórios até aqui e trazendo uma sequência de 2014, era também a chance da equipe alemã igualar o feito de 24 poles seguidas da Williams, que ocorreu nas temporadas de 1992 e 1993.
Mas, tem que combinar com todo mundo senão entra água no chopp, ou no champanhe, como queira. E o que não faltou foi gente para ter que “combinar”, porque os carros da Red Bull e especialmente os carros da Ferrari estavam rápidos como nunca. Já a Williams não ameaçava.

É com S então.

É com S então.

O problema é que os carros da Ferrari estavam tão rápidos que um carro na primeira fila já poderia ser considerado um feito para a equipe alemã. Mas nem isso deu.

O carro número cinco de Maranello andou tanto nas mãos de Vettel que a diferença dele para Hamilton, apenas o quinto colocado, foi de mais de um segundo e meio! Eu disse, um segundo e meio. E nesse um segundo e meio ainda couberam Daniel Ricciardo, Kimi Raikkonen e Daniil Kvyat. Rosberg, em sexto, ficou a um décimo de segundo de Hamilton, mostrando que o carro estava limitado sabe-se lá porque. Vettel teria ao seu lado o ex-companheiro de Red Bull, portanto.

Os dois carros da Williams conseguiram passar para o Q3, mas não conseguiram mais que uma sétima e uma nona posições. Pouco. Entre eles o intrépido Verstappen e, fechando os dez primeiros, Grosjean.

Estreando um pacote aerodinâmico novo (só agora?) e cercado de bons presságios, a Sauber não conseguiu repetir no calor Cingapuriano o que se esperava nos testes. Acabou tomando a posição da McLaren no fundo do grid, promovendo os carros de Woking para a décima segunda e décima quinta posições no grid, respectivamente com Alonso e Button. Já a Force India colocou Hülkenberg na décima primeira posição e Sérgio Pérez em décimo terceiro.

Ah, teve estréia, pela poderosa Manor. Alexander Rossi, piloto americano que costuma fazer uma ou outra participação nos treinos livres pelas equipes pequenas, disputaria então seu primeiro GP oficial. Desde 2007 a Fórmula 1 não tinha um piloto dos Estados Unidos largando. O último foi Scott Speed, de quem não se viu tanta velocidade assim. Rossi foi meio segundo mais lento que o companheiro Will Stevens com o mesmo carro, ou seja, última posição para ele com louvor.

Havia então uma expectativa de corrida muito interessante, com os carros da Mercedes vindo de trás e uma briga boa entre Ferrari e Red Bull pelo pódio.

Newton

O drama da Mercedes parecia que ia continuar. Ou melhor, parece que nem ia continuar na corrida para Rosberg. O alemão teve dificuldade para levar o carro até o grid e parecia que iria abandonar rapidamente, na presença de um autódromo lotado e também cercado de gente nos prédios mais altos, em especial no Marina Bay Sands, aquele de três torres que parece ter um barco unindo as mesmas na cobertura. E rolava uma “festinha na laje” básica ali.

Física pura.

Física pura.

As luzes se apagaram e Vettel nem tomou conhecimento dos demais. Ricciardo veio junto assim como Raikkonen, e todos eles passaram limpos pela primeira chicane, inclusive o Rosberg, de quem se achava que iria ficar parado. Quem ficou parado mesmo foi o Verstappen, que teve que ser ajudado para ter o carro tirado do grid, mas continuaria na prova.

Só mesmo um pouco de emoção quando o Sérgio Pérez quase acerta a traseira do companheiro Hülkenberg, mas não deu em nada para felicidade de Vijay Mallya. O ataque continuou pelas primeiras voltas mas sem efetividade.
Continuando a supremacia do final de semana, Vettel abriu uma avenida de diferença sobre Ricciardo logo nas três primeiras voltas. Parecia estar em ritmo de classificação. Já Raikkonen não conseguia uma aproximação mais contundente sobre Ricciardo, que lá pela décima volta começou a tirar um pouco da diferença para Vettel. Era já momento para os primeiros pit-stops.

A corrida não era tão movimentada como se esperava, até que aconteceu a visita do tão esperado safety-car, primeiro o virtual e depois o real. Eles vieram depois do enrosco entre Felipe Massa e Nico Hülkenberg quando o brasileiro saia dos boxes e o alemão vinha pela pista mais rápido. A minha opinião desde o início e também depois de ter visto vários replays é a de que foi um acidente de corrida normal explicado pela Lei de Newton, em que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo. Massa respeitou o limite da faixa branca da saída dos pits e Hülkenberg, embora mais rápido e um pouco mais a frente, ignorou o carro da Williams e acabou subindo com a roda traseira esquerda de seu carro na dianteira direita do carro branco, indo parar no guard-rail. Para os comissários, Hülk foi considerado culpado e perderá três posições no grid do GP do Japão.

Muita demora para limpar a pista, com as velhas vassouras de sempre. Me pergunto porque não se usa um aspirador ou mesmo um soprador potente para resolver isso logo. De qualquer forma, deu para todos que ainda não tinham feitos seus pit-stops o fazerem. Azar de Kvyat, que tinha parado uma volta antes e caiu da quarta para a sexta posição. Felipe Massa aproveitou e fez outro pit-stop ainda com a corrida parada, sinalizando mudança de estratégia.
Na relargada, todo mundo junto (se fosse no virtual as diferenças seriam respeitadas) com Vettel, Ricciardo e Raikkonen puxando o pelotão. Hamilton, Rosberg, Kvyat, Bottas, Pérez, Nasr e Alonso eram os que completavam os dez primeiros. Massa caiu para a décima quarta posição.

Daniel Ricciardo voltando a sorrir com uma bela corrida, ficando bem na foto de novo.

Daniel Ricciardo voltando a sorrir com uma bela corrida, ficando bem na foto de novo.

E havia uma expectativa com os carros da Mercedes pois eram eles, dos primeiros, os que tinham pneus mais duros em relação aos outros, o que também poderia fazer parte da estratégia para o final da prova.

Maluco beleza

Mas, com o carro de Hamilton, a expectativa acabou logo quando o carro 44 começou a rastejar na pista e perder muitas posições, até ser chamado para os boxes. A equipe toda pronta, com pneus inclusive, mas era pegadinha mesmo, foi abandono definitivo. Foi o primeiro problema técnico no carro de Hamilton este ano.

Massa também teve problemas, resolveu entrar nos boxes, passou direto pela equipe (ninguém entendeu) e voltou para a pista para se rastejar mais um pouco até, também, abandonar. Com isso, Alonso e Button eram nono e décimo colocados respectivamente.

Na segunda parada de Kvyat, a equipe Red Bull lhe tirou mais alguns segundos com um probleminha na roda traseira. E logo depois foi a vez de Alonso abandonar.

Poucas disputas na pista. A mais interessante delas era a de Pérez sobre Grosjean, com direito a uma bela ultrapassagem em “X” sobre o francês. Depois, o mexicano foi para cima de Verstappen, que já havia se recuperado muito bem na prova depois de ficar plantado na largada. Mas era uma posição ainda provisória porque era preciso ao menos mais uma parada para o menino, e ele foi fazer mais um pit-stop antes de disputar com Pérez a posição.

De repente, eis que surge um homem na pista, caminhando calmamente pelo canto, próximo ao muro. Parecia pensar na vida, nos problemas mundiais, ou no fora que tomou de uma gata naquela festa da laje que citei no começo. A pouca emoção da corrida parecia até mesmo refletir sobre o andarilho, que não tinha nem placas com dizeres e nem aquela energia do padre irlandês que invadiu o GP da Inglaterra em 2003 e as Olimpíadas de Atenas em 2004, lembram dele? Mais do que imediatamente, safety-car real para segurança de todos. Pelo pouco que sei das leis daquele país, não acho que nem o advogado do Fluminense queira pegar o caso do “vida loka” cingapuriano.

No meio fio.

No meio fio.

Todo mundo para os boxes e na relargada, nenhuma surpresa de novo, mas um pouco de bagunça lá atrás com todo mundo querendo chegar a zona de pontos. Neste tumulto das primeiras voltas que se seguiram depois da saída do safety-car, Button bateu na traseira de Maldonado e perdeu o bico do carro do lado direito, que subiu e quase caiu na cabeça dos que vinham atrás. Por sorte, nada de ruim aconteceu.

E o Verstappen foi o cara do final da corrida. Além de ter se recuperado muito bem na prova, ele vinha colocando pressão sobre Sérgio Pérez mas tinha seu companheiro de equipe Carlos Sainz Jr logo atrás. Dos boxes veio a ordem para o garoto ceder a posição para o espanhol, respondida sem cerimônia com um “não”. Ele é o cara do futuro da categoria, anotem. Já entrou em discussão com Massa, já falou que na equipe não é cordeirinho e, principalmente, é rápido.

Na última volta, Felipe Nasr conseguiu ultrapassar Grosjean e marcou mais um pontinho no campeonato ao conseguir a décima colocação.

E a vitória veio para quem foi mais consistente no final de semana todo, Sebastian Vettel. Se a expectativa era para a vitória de Hamilton e a igualdade em número de triunfos com Ayrton Senna, Vettel chegou a sua 42ª vitória e ultrapassou o brasileiro sendo, agora, o terceiro maior vencedor de todos os tempos, isolado. Ricciardo e Raikkonen se comportaram e subiram ao pódio. Rosberg foi apenas o quarto colocado, seguido de Bottas, Kvyat, Pérez e da dupla da Toro Rosso.

Será que Vettel vai ensaiar uma arrancada para o penta depois desta demonstração de superioridade em Cingapura? As respostas já na semana que vem, nos treinos para o GP da Japão.

Rosberg perdeu a chance de descontar mais pontos de Hamilton.

Rosberg perdeu a chance de descontar mais pontos de Hamilton.

Ao desligar dos motores…

– A Red Bull parece que vai de motor Ferrari ano que vem;

– Lewis Hamilton declarou após o abandono que tinha a corrida nas mãos. Não sei se o calor ou a tinta do cabelo está afetaram o inglês neste domingo;

– Viram a estréia de Alexander Rossi pela Manor? Nem eu;

– Há rumores de Alonso na nova Renault, que pode vir pela Lotus ou pela estreante Haas. Acho improvável, mas onde tem fumaça sem sempre é motor estourado;

– Senna foi ultrapassado em número de vitórias por Vettel e será também ultrapassado por Hamilton em algumas corridas. Vai vir mais debates pela frente;

– A Ferrari parece que está mais forte que nunca.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

2 Responses

  1. Lauro, tem algo que andei me perguntando outro dia e não encontrei nada a respeito. No GP de Monza descobriu-se que os Mercedes estavam usando a pressão dos pneus a seu favor. No GP seguinte, ou seja, Cingapura, o rendimento das Mercedes foi bem abaixo do esperado. Com isto fica minha pergunta: Estaria a Mercedes trapaceando este tempo todo? O que esperar dos próximos GPs?

    Forza Ferrari!

  2. Acho que não Guilherme. Trapaça é uma questão meio forte e acho que não é o caso da Mercedes. Em Monza, pista de alta, os carros da Ferrari andariam mais próximos sim, mas não ameaçariam a Mercedes. Acho que foi um erro, mas acho que foi sem intenção, se é que alguém faz alguma coisa sem intenção neste mundo da F1. A vantagem competitiva foi pequena e não tiraria a vitória de Hamilton, mas pelo regulamento, deveria haver exclusão.
    Já no caso de Cingapura, ai eu acho que uma série de fatores influenciaram. O calor ajuda a Ferrari da mesma forma que a chuva atrapalha a Williams. E a Mercedes deve ter tido seu dia ruim, com Vettel provando quem é de verdade.
    Não acredito que os alemães trapaceariam, afinal, eles são muito sérios. Se bem que a VW é alemã, né?
    Um abraço.

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