Safety mode


A temporada fecha com dobradinha da Mercedes, Ferrari no pódio, Williams se atrapalhando nos boxes e Verstappen ultrapassando de tudo que é jeito. Um bom retrato do que foi 2015.

Rosberg embalado

Se não fosse a besteira que a Ferrari fez se atrapalhar para mandar Vettel para a pista de Abu Dahbi no Q3, o treino da última corrida do ano seria mais do mesmo.

No caso do piloto alemão, que nem foi para o Q2 e acabou amargando um décimo sexto lugar, a corrida teria que ser de recuperação com uma estratégia de pneus mais ousada.

Ousadia que coube então para Sérgio Pérez, que colocou a Force India na segunda fila, ao lado de Raikkonen, que fez o papel de “o melhor do resto” desta vez. O companheiro de Pérez, Hülkenberg, conseguiu a sétima posição, ficando atrás de Ricciardo e Bottas, e logo a frente de Massa. A Williams parecia ter conseguido, enfim, um acerto mais condizente com a expectativa, visto que nos treinos livres estas posições seriam improváveis.

Daniil Kvyat e Carlos Sainz Jr fecharam os dez primeiros no grid.

Sergio Perez (MEX) Sahara Force India F1 VJM08. Abu Dhabi Grand Prix, Saturday 28th November 2015. Yas Marina Circuit, Abu Dhabi, UAE.

Sergio Perez (MEX) Sahara Force India F1 VJM08.
Abu Dhabi Grand Prix, Saturday 28th November 2015. Yas Marina Circuit, Abu Dhabi, UAE.

Se podemos falar algo da McLaren, foi a boa classificação de Button com a décima segunda posição, bem à frente de Fernando Alonso. Acho que a McLaren era a equipe que mais desejava o final da temporada, a pior de sua história.
A Sauber foi outra equipe que mostrou que a falta de dinheiro e de desenvolvimento não seguram ninguém na frente na Fórmula 1. Felipe Nasr conseguiu ir para o Q2, seu companheiro Ericsson nem isso.

Mas não dá para ficar indiferente a sexta pole seguida de Rosberg. Desde o Japão, só deu ele. Rola brincadeira que ele deveria ser piloto de safety-car, pois só lidera quando não vale. Seja pelo relaxamento de Hamilton ou pelo aumento de sua concentração, Rosberg tem sido mais rápido com o mesmo carro, e ainda jogou para todo mundo que estava com um motor velho e que seu companheiro Hamilton estava de motor novo. Intrigas…

Aperta daqui, espreme dali

As primeiras voltas do GP de Abu Dahbi lembraram os programas da Xuxa. Era “x” que não acabava mais em uma volta absolutamente alucinante.

Próximo, mas sempre atrás de Rosberg. Assim se encerrou a temporada do tricampeão Hamilton.

Próximo, mas sempre atrás de Rosberg. Assim se encerrou a temporada do tricampeão Hamilton.

Tudo bem que os primeiros colocados se mantiveram em suas posições, mas no pelotão intermediário a briga era de foice no escuro, com todo mundo tentando formar a fila indiana o mais bem colocado possível. Com todo mundo muito próximo, era quase inevitável que algum toque acontecesse, mas não. Pelo menos não depois da primeira curva, porque foi ali que o Alonso e o Maldonado acabaram se chocando, com culpa de quem, de quem? Errou quem apostou no venezuelano desta vez. Foi Alonso que veio tocando em Felipe Nasr e perdeu o controle do carro atingindo em cheio o Lotus de Maldonado. Fim de corrida para o sulamericano.

Vettel, vindo de décimo sexto, já vinha se recuperando como era de se esperar, mas a largada de Felipe Massa chamou mais atenção, brigando lado a lado com o companheiro Bottas e depois se aproximando e passando Sainz Jr, que também já havia ganhado algumas posições e era o sétimo quando perdeu a posição para o brasileiro. Bottas se via enroscado com Kvyat, em outra bela disputa, mas o russo resolve ir para os boxes, abrindo os serviços.

Pena que estes caras não tem um carro vencedor, mas Ricciardo e Hülkenberg fizeram uma batalha muito bonita pelo sexto lugar no início da prova, pouco antes das paradas dos mesmos.

E, por falar em parada de box, a Williams vai ter que melhorar muito neste “fundamento”. Para fechar o ano com “chave de roda”, a parada para troca de pneus de Bottas foi um desastre. Além de um pouco mais lenta que a dos demais, o que já é normal para a equipe inglesa, liberaram o finlandês no momento em que Button chegava para a sua troca logo no próximo box. O resultado foi um choque entre o pneu traseiro de Button com a asa dianteira do carro de Bottas, que teve que dar uma volta inteira com o bico quebrado para poder reparar o dano. Vale dizer que Bottas não teve culpa no incidente, a culpa sempre é de quem libera o carro. Um erro que pode decidir um campeonato, custar um pódio, ou pelo menos alguns pontos como foi no caso de Bottas. Acho que a equipe tem que voltar em 2016 com nova mentalidade.

Vettel não conseguiria mais que um quarto lugar. Foi o que ele fez.

Vettel não conseguiria mais que um quarto lugar. Foi o que ele fez.

Hora de Rosberg parar, primeiro que Hamilton, claro, pela posição de pista. Raikkonen veio com ele enquanto Grosjean e Pérez travavam mais uma bela disputa nas curvas lentas do circuito árabe.

Hamilton veio na volta seguinte e saiu atrás de Vettel que, sem parada ainda, assumia a segunda posição por alguns momentos. Com pneus gastos, Vettel cometeu um pequeno erro e viu Hamilton crescer muito no retrovisor, sem conseguir segurá-lo. Mais algumas voltas e Vettel abriria para Raikonen reassumir a terceira posição e assim seguir a caça das Mercedes. Caça, desculpem, é força de expressão.

Para piorar a corrida do Bottas, o piloto da Williams foi punido em cinco segundos, mas isso não faria diferença para ele no final.

No segundo jogo de pneus, parecia que Hamilton iria dar um certo calor em Rosberg. E andar rápido no circuito de Yas Marina não é tarefa tão simples, porque escapar é muito fácil. Verstappen, por exemplo, andou fazendo muitas ultrapassagens como sempre, mas andou também abusando um pouco da molecagem e deu uma bela fritada nos compostos, obrigando uma entrada imediata nos boxes na volta seguinte para aliviar as vibrações causadas pela frenagem acima do limite.

Começa a segunda rodada troca de pneus para a maioria, mas para Vettel, que havia entrado um pouco antes, era o momento de tirar o máximo dos pneus novos. Muitos nesta altura apostavam que o alemão iria fazer apenas uma parada e brigar pelo pódio.

Williams e pit-stop: uma relação complicada

Na vez da Williams… mais um erro na parada de Massa, que gastou 4.4 segundos. Bottas, entrou e pagou os cinco segundos de penalidade com os mecânicos brincando de estátua ao lado do carro. Se reparei bem, o mecânico que fica na frente do carro e que é responsável por erguer o mesmo, foi fazendo movimentos em “super slow” mesmo antes do tempo de penalidade se esgotar. Malandrinho o rapaz.

E a Ferrari também se atrapalhou na parada de Raikkonen, devolvendo o finlandês atrás de Vettel de novo, mas isso não foi problemas para o homem de gelo, que teve mais uma vez o trabalho facilitado por Vettel, que abriu para a sua ultrapassagem e retorno ao terceiro lugar da corrida.

Hamilton tirava, tirava e tirava diferença para Rosberg, até que ela chegou a um segundo, coincidentemente quando o piloto do carro #6 passava pela entrada dos boxes. Para evitar uma briga direta, o vice-campeão e líder da prova entrou para sua segunda troca de pneus enquanto Hamilton começou uma longa discussão com a equipe para saber se entrava na volta seguinte, se esperava, se tomava um café, etc.

Quem viu esta foto antes da largada, comportados, não imagina o que foi a primeira volta.

Quem viu esta foto antes da largada, comportados, não imagina o que foi a primeira volta.

O normal seria Hamilton entrar logo na volta seguinte salvo que ele tentasse alongar o segundo trecho para usar os pneus super-macios no final da prova. Hamilton demorou bastante para fazer sua segunda parada mas, quando o fez, a equipe colocou os pneus macios e não os super-macios como era esperado. No retorno a pista, a diferença era de 13 segundos para o líder e Hamilton era muito mais rápido, em média um segundo por volta. Mas isso não durou muito tempo, porque os pneus de Hamilton também se desgastaram e a diferença ficou na casa dos sete segundos.

Nas voltas finais, mais brigas interessantes, a maior delas entre Button, que fazia de tudo para se segurar a frente de Vertappen. O veterano mostrou como segurar o ímpeto do jovem da Toro Rosso, que teve que sair da pista para evitar uma batida entre ambos, mas que, no final, acabou vencendo o duelo e ultrapassando Button. Valia a décima segunda posição.

Grosjean fez uma corrida discreta, mas teve um final de prova cheio de ação, saindo do décimo primeiro lugar para o nono, deixando Sainz Jr e Kvyat para trás.

Sebastian Vettel, com uma corrida toda estratégica, superou Sérgio Pérez no final de fechou a corrida na quarta posição, um resultado absolutamente positivo. Ricciardo foi o sexto, Hülkenberg o sétimo e Massa o oitavo.

Ao desligar dos motores (pela última vez este ano)…

– Ron Dennis diz que Alonso deveria tirar um ano sabático em 2016. Alonso disse que vai estar no grid. Onde tem fumaça, tem fogo ou é o motor Honda pifando de novo? (acho que já falei essa aqui);

– O grupo de estratégia da Fórmula 1 vetou a proposta de um motor alternativo para a temporada de 2017, visando reduzir os custos. Perdeu-se uma boa oportunidade de mudar a categoria para melhor, na minha opinião;

– A Red Bull acertou fornecimento de motores para o ano que vem, e ao que parece, com a própria Renault. Que seja um carro melhor, porque Ricciardo merece e Kvyat está fazendo bem o seu papel também;

– Após cruzarem a linha de chegada, Rosberg foi fazer sua graça com o público, indo até a área de escape. Tomou uma “cortada” de Hamilton, que fez questão de ir na frente dele e saudar o público primeiro. Na sala que antecede o pódio, clima apenas cordial. Ex-amigos para sempre;

O silêncio.

O silêncio.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

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