Consistência


Em corrida agitada, Rosberg vai de novo ao lugar mais alto do pódio e conta com os azares de Hamilton e Vettel para disparar na liderança do campeonato. Grosjean mais uma vez vai muito bem e o estreante Vandoorne pontuou com a McLaren de Alonso.

Esqueçam isso

Não gente, a atual formatação do treino classificatório não tem agradado a ninguém. Dirigentes, jornalistas, chefes de equipe, pilotos, público. Todos eles, em suas maiorias, não veem como esta formulação pode ter continuado para a segunda etapa do mundial, visto que o erro foi comprovado na corrida de abertura, na Austrália. Persistiram no erro, e isso tem um nome.

Para piorar, uma das estrelas do circo foi vetada pelo departamento médico antes de vestir o macacão. Fernando Alonso, ainda convalescendo do fortíssimo acidente com Gutiérrez há duas semanas, teve fraturas em algumas costelas que, em caso de um novo acidente, poderiam até perfurar seus pulmões. Não valia a pena correr o risco, claro, mas bem que Ron Dennis tentou liberar o bicampeão após Jenson Button conseguir o terceiro lugar nos treinos livres. Tudo bem que era 1º de abril, mas o resultado tava lá pra todo mundo ver. Mas Alonso ficou mesmo de fora e quem assumiu o volante do carro da McLaren, com o número 47, foi o piloto de testes Stoffel Vondoorne.

Conversei com alguns amigos e chegamos à conclusão que o que vale mesmo agora no treino oficial é o Q1, porque é lá que os caras correm de verdade hoje em dia. Senão vejamos: os favoritos tratam logo de meter um temporal para dar moral e mostrar força. O pessoal do meio do pelotão faz de tudo para não passar vergonha, e o pessoal do fundão se mata para passar e provar que pode mais do que realmente tem em mãos. Em outras palavras, uma categoria de velocidade tem no seu momento mais “lento”, a sua maior disputa. É um paradoxo.

A "sapattada"

A “sapattada”

Não deu para Felipe Nasr, o primeiro a ser eliminado após um erro na volta rápida. Se serve de alento, Marcus Ericson, seu companheiro, também ficou pelo caminho. Os carros da Renault não mostraram bom desempenho e ficaram devendo. Pior foi para Magnussen, que não fez a pesagem obrigatória no último treino livre e foi “agraciado” com a possibilidade de largar com todo o conforto dos boxes, sem aquela barulheira infernal do grid. Barulho, aliás, que melhorou em relação ao ano passado.

Além dos dois amarelos e dos dois azuis, Sérgio Pérez ficou também no Q1, surpreendentemente. Com eles, Rio Haryanto, com o carro da Manor. Mas cadê o outro carro da Manor? É que o menino Pascal Wehrlein colocou o outro carro da ainda “pequena” equipe no Q2, mas dali não passaria.

E o que determina o fracasso do treino é que, a medida que o piloto sente que não vai conseguir melhorar seu tempo, ele vai para os boxes e se dá por satisfeito, deixando a pista vazia.

No caminho do Q2 ficaram Kvyat, Button, Gutiérrez, Vandoorne e os dois carros da Toro Rosso, Sainz e Verstappen, além de Romain Grosjean, mas o francês tinha motivos de sobra para comemorar o excelente lugar no grid depois de estrear com a novata Haas no sexto lugar da Austrália.

Grosjean segue surpreendendo. E parece sólido esse carro da Haas.

Grosjean segue surpreendendo. E parece sólido esse carro da Haas.

A medida que o Q3 foi acontecendo, ficou claro que a pole ficaria entre os carros da Mercedes, com a pequena possibilidade da Ferrari surpreender em caso de ajuda dos prateados através de um erro.

Nico Hülkenberg, Massa, depois Bottas e Daniel Ricciardo saíram de fininho para deixar Raikkonen em uma tentativa inglória de superação. O finlandês ficou com o quarto lugar. Vettel também não conseguiu nada melhor que a segunda fila. E quando todos achavam que Nico Rosberg ficaria com a pole position, Hamilton foi lá e não só tomou a posição de honra no grid como também bateu o recorde da pista do deserto.

Sapattada na oreia

A volta de apresentação serve para que os pilotos façam um último ajuste em sabe-se lá o que. Antigamente eles vinham puxando o carro de um lado para o outro para aquecer os pneus que, agora, saem prontinhos dos cobertores. Nem convém esfregar demais os compostos para evitar um desgaste prematuro, tamanha a sensibilidade dos mesmos. Mas a volta de instalação pode ser também cruel com alguns, como foi desta fez com Sebastian Vettel. O carro do alemão fumou legal na redução de marcha e obrigou o piloto da Ferrari a assistir a corrida junto com Fernando Alonso.

O que Hamilton talvez não contasse é que, mesmo largando mal, iria levar uma sapatada logo na primeira curva. A tal sapatada veio de Bottas (desculpe, tinha que fazer esse trocadilho infame), que largou muito bem mas acabou exagerando na dose e pegou Hamilton no meio, danificando o carro dele e do tricampeão mundial. Rosberg foi embora e trouxe Massa com ele. Em terceiro, Bottas ainda recolhia os cacos mas seguia na pista, assim com Hamilton, mas o inglês caiu para a oitava posição. Vale dizer que Hamilton largou muito mal, de novo.

Pascal e a Manor. Pontos este ano?

Pascal e a Manor. Pontos este ano?

Pouco mais atrás, Pérez tocou em Sainz Jr e teve a asa dianteira avariada, além de furar o pneu do espanhol. Mais trabalho prematuro para o pessoal dos boxes.

Cresciam na prova Hamilton e Raikkonen. O primeiro, por motivos óbvios em ter um carro mais rápido que os demais, embora tenha havido avarias no acidente com Bottas. O outro, aproveitou a ida de Ricciardo para os boxes e fez aproximação e ultrapassagem sobre o mesmo Bottas, e assumir o terceiro lugar provisório. E, falando do apressadinho da largada, Bottas foi punido com um drive-thru após fazer a sua primeira parada. Massa também já havia feito a sua, e a estratégia da Williams praticamente acabou com alguma chance de melhor colocação do brasileiro. A tentativa era fazer uma parada a menos, utilizando os compostos médios, mas a diferença de desempenho para os macios e supermacios era gritante.

O destaque da prova, assim como aconteceu na Austrália, era Romain Grosjean e seu Haas. Os pneus deixavam o francês em condições de brigar e ultrapassar Daniel Ricciardo, assumindo uma improvável quarta posição.
E Grosjean não era o único a se destacar. Olhares mais atentos para o meio do pelotão e tínhamos Pascal Wehrlein fazendo ultrapassagens e resistindo a algumas investidas dos adversários com um carro ainda limitado, mas o melhor que a Manor já fez até hoje e, empurrado com o motor Mercedes. Ainda não foi desta vez que o garoto e a equipe pontuaram, mas há circuitos mais propícios para isso. O companheiro de Pascal, Rio Haryanto, pelo menos ficava a frente da Sauber de vez em quando.

Ultrapassagens e mais ultrapassagens, além de um festival de faíscas para todos os lados. O grande prêmio do Bahrein estava muito, mas muito interessante.

Nico, todo pimpão

Os carros da Sauber, por exemplo, pareciam dois galos em rinha nas vezes que se cruzaram pela pista. Nasr e Ericson sabem que o carro está uma “draga” total como se diz popularmente, e parece que brigam para ver quem não vai virar mulher do sapo. Nesta corrida, pelo menos, o Rio ficou em último ainda. Sem contar os abandonos, claro. Vettel nem largou, Palmer também não, Button acabou abandonando ainda no começo. Gutiérrez foi mais cedo pra casa também e Sainz acabou recolhendo antes da bandeirada.

Vandoorne e seu primeiro ponto na carreira. Bom começo.

Vandoorne e seu primeiro ponto na carreira. Bom começo.

Em determinado momento da prova, quando as estratégias já estavam bem claras, parecia que Raikkonen poderia tentar se aproximar de Rosberg. Ultrapassar talvez não desse, mas pelo menos ficar ali, na sobra, em caso de algum erro do alemão, o que está difícil este ano, cá entre nós. Hamilton não conseguia apertar o passo e, com os problemas no carro provenientes ainda da largada, achou melhor garantir a terceira posição.

Daniel Ricciardo se firmou na quarta colocação, repetiu o resultado da prova australiana e mostra mais uma vez todo seu valor. O carro é bom, não para brigar por vitórias, mas ele foi o melhor do resto de novo. Já Grosjean melhorou de um surpreendente sexto lugar na Austrália, para um excepcional quinto lugar no Bahrein. Condução precisa, estratégia de pneus perfeita, e assim o francês é a sensação deste início de temporada.

Max Verstappen foi mais discreto, mas fez uma bela ultrapassagem sobre Bottas no meio da prova e foi combativo como sempre. Chegou a frente do carro da Red Bull de Daniil Kvyat, que veio galgando posições durante a prova depois de sair da décima quinta posição. Foi beneficiado, é verdade, pela péssima escolha da Williams em relação aos pneus e pela punição de Valtteri Bottas. Massa foi a grande decepção, pois apesar de Bottas ter sido obrigado a um drive-thru, como dissemos, o brasileiro chegou pouco a frente do companheiro, com desempenho sofrível. Aliás, a Williams hoje não é nem a quarta força do mundial na minha opinião.

E o décimo lugar ficou com o estreante Stoffel Vandoorne, que foi combativo e marcou o primeiro ponto da McLaren no ano e estreou com o pé direito (no fundo). Foi cumprimentado por Fernando Alonso, inclusive. Isso mostra que há gente boa disposta a tomar alguns lugares no grid ano que vem.

Bonito. Esse foi o GP do Bahrein deste ano.

Bonito. Esse foi o GP do Bahrein deste ano.

Mais uma vitória de Rosberg, a quinta seguida, e mais um vacilo de Hamilton na largada. Raikkonen, que sempre vai bem quando a corrida é a noite, mostrou que o carro da Ferrari está, sim, mais próximo do que nunca da Mercedes, principalmente em corridas. Na classificação, o cronômetro é mais embaixo. Parece que vamos ter disputa esse ano.

Ao desligar dos motores…

– Alonso não sabe se corre na China. Vai fazer exame no vestiário;

– Quem também não sabe se corre em Shangai é a Sauber, por falta de dinheiro;

– A corrida no Bahrein, de noite, pegou. O visual é sensacional e a temperatura mais amena comparada com o dia torna a corrida mais agradável para quem pilota e para quem assiste. Raikkonen agradece;

– A Williams joga como time pequeno, pelo empate. Não tem dado resultado;

– A FIA estuda um novo sistema classificatório: o Q1 vai ser decidido no “joquempô”. No Q2 será usado “Pedra, Papel ou Tesoura”. E no Q1, quem sobrar vai ter que comer uma banana e tomar um copo d’água alternadamente. Quem ficar de pé por último fica com a pole, com direito a mexer no molde do banco;

– Hamilton tem 22 vitórias com a Mercedes e Rosberg 15. Há cinco corridas atrás, o placar era 22 x 10.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

1 Response

  1. lsussumu says:

    O estreante da Mclaren surpreendeu, entre o Botão e o Alonso ele foi o primeiro a marcar o ponto para Mclaren. Tem potencial, espero que ele corra outra vez na China e mostre que consegue manter o ritmo. Assim o botão se aposenta ano q vem e fica ele e alonso na Mclaren.

    Ferrari está surpreendendo chegando perto da Mercedes, comparado a ano passado eles estão mais competitivos.

    Rosberg, acredito que nas proximas corridas ele virá mais animado e empolgado. Mas o Comandante Hamilton deve estar com sangue nos olhos, antes da premiação ele deu um olhar para o Rosberg como se quisesse dizer “A próxima etapa é minha”.

    Haas, que isso, pqp!!!!! Os americanos mostrando que podem ser competitivos. Ansioso para o 1 pódio da Hass, será que acontece esse ano!?

    Willians, e pensar que ela já foi referencia na F1…

    Ronco dos carros, para mim ainda está desanimador, previsa voltar os V8/V10/V12. Poderiam fazer V8 Biturbo.

    Hahahahahahahah Q1 Joquenpo, Q2 peda papel e tesoura, Q3 gol a gol ahahahahahaah

    Belo texto !!! Mas essas fotos, pqp!!!!

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