São e salvo


Rosberg está 100% no ano e a Ferrari ainda não está no mesmo nível da Mercedes. Porém, a monotonia foi trocada pela estratégia de pneus, que gera um número sem fim de ultrapassagens e salva o campeonato até aqui.

Ele voltou!

Atendendo a pedidos de todos, mas principalmente dos pilotos e equipes, o formato de treino dos últimos anos voltou a vigorar no GP da China. Estava mais do que na hora. A fórmula de “dança das cadeiras” proposta pela FIA se mostrou desinteressante para todos, principalmente para o público. Enfim, valeram as reclamações e, mesmo com um coro ao fundo de “não vai ter golpe” e etc.

Mas é preciso falar dos treinos livres desta vez, porque a Ferrari, enfim, andou na frente da Mercedes e chegou a fazer 1-2 com Raikkonen na frente na sexta-feira. E a vantagem da Ferrari parecia muito grande mesmo, pelo menos sobre um dos carros da Mercedes. É que Lewis Hamilton teve que trocar o câmbio e teria que cumprir a penalidade de 5 posições no grid. Mal sabia ele aonde ele acabaria largando.

Ricciardo pulando na frente na largada.

Ricciardo pulando na frente na largada.

Com a promessa de que as Ferrari viriam para tomar a primeira fila, o sábado amanheceu chuvoso em Xangai, levando todo o “emborrachamento” da pista pelos rios que se formaram ao longo da mesma. Quando começou o treino oficial, a pista estava quase seca, com alguns trechos bem visíveis e definidos de água. Foi em um deles, em plena reta dos boxes, que Pascal Wehrlein perdeu o controle do carro e acabou batendo no guard-rail, deixando o treino interrompido por alguns minutos para limpeza da região. Uma pena, a chicoteada foi violente, mas nada que os mecânicos não resolvessem para a corrida.

Ai aconteceu aquelas coisas que a gente começa a associar quando pensa na sorte de um campeão. Se Rosberg já estava feliz por saber que provavelmente largaria a frente de Hamilton por conta da punição que falamos acima, a certeza veio quando o inglês acabou parando o carro com problemas e, sem tempo, largaria em último, o que fez com que a equipe resolvesse trocar, também, o motor.

A Haas também não apresentou grande desempenho na China, e Gutiérrez acabou ficando pelo Q1, junto com os dois carros da Manor e da Renault, que está em um começo complicado de temporada.

Contudo, outro piloto também foi afetado com punição. Nico, mas o Hülkenberg, da Force India. O motivo foi ter andado de triciclo no meio do Q2. Brincadeiras a parte, Hülk perdeu uma das rodas dianteiras no meio da reta, sendo que não deu nem pra disfarçar o constrangimento. Ficou atrás dos carros da McLaren por causa disso, mas a frente de Romain Grosjean, que comprovou a má adaptação do carro americano na pista chinesa. Mas deve ter doido mais ainda para Hülkenberg o fato de ele ver que seu companheiro Sérgio Pérez foi para o Q3 e beliscou a sétima posição.
Outros dois carros que passaram para o Q3 e que todos estavam esperando darem o ar da graça de vez foram os carros da Toro Rosso, com Verstappen a frente de Sainz Jr, na oitava posição.

E quando todos esperavam a Ferrari dominando a primeira fila, ou ao menos fazer a pole, eis que Rosberg se confirma como sendo o cara a ser batido no ano, conquistando sua primeira pole em 2016. E, ao seu lado, nada de carro vermelho. A boa e velha Red Bull com o excelente Ricciardo estava lá para mostrar que o carro é bom sim senhor. Tanto que Kvyat conseguiu um bom sexto lugar, levando em consideração que entre os carros da equipe austríaca ficaram, ai sim, Raikkonen, Vettel e Bottas. Este último, aliás, muito melhor que Felipe Massa, apenas o décimo.
As esperanças da torcida em ver mais disputa com os carros da Ferrari incomodando a Mercedes foram por água abaixo quando se vê que, na planilha de tempos, Raikkonen tomou meio segundo e Vettel quase um segundo de Rosberg. Embora Vettel tenha admitido que não foi a volta ideal, Raikkonen não chegou nem perto de novo. Mirar em quem então, Ricciardo?


Touros alucinados

Bom, se você perdeu a corrida, você perdeu um dos maiores festivais de ultrapassagens que eu já testemunhei nos últimos tempos. Em uma Fórmula 1 carente de ultrapassagens por uma série de fatores, até que foi bem divertido e prazeroso de assistir. Os pilotos, em sua maioria, sabem fazer ultrapassagens (!). Além disso, você também perdeu um momento raro na Fórmula 1 atual, que é ver um dos carros da Mercedes fora da liderança da prova.

Vettel assustado batendo em Raikkonen e deixando a direita livre para Kvyat.

Vettel assustado batendo em Raikkonen e deixando a direita livre para Kvyat.

Em uma largada bastante tumultuada, não é que o Ricciardo surpreendeu Rosberg e pulou na ponta logo de cara? É amigos, uma grata surpresa. Pouco mais atrás, Kvyat veio como um louco por dentro da curva um e acabou provocando o início da desordem ao assustar Vettel e fazer o alemão tocar em Raikkonen, que vinha tentando se colocar atrás da Mercedes de Rosberg. Bottas, outro que foi afoito, jogou todo um bom trabalho no treino ao escapar na mesma curva, mas acabou voltando. Mais atrás, Hamilton estava em maus bocados tentando ultrapassar o máximo de adversários possíveis para tentar se recuperar o mais breve possível, mas largar no meio do pelotão é a pior coisa que existe, já diria Nelson Piquet. No “empurra-empurra” típico que acontece enquanto as câmeras de TV estão voltadas para os líderes, Hamilton acabou perdendo o bico do seu Mercedes em toque com Felipe Nasr, outro que também teve um pneu furado por conta disso.

Um começo de prova cheio de pedaços de carro na pista. Não tardou muito para começarem a aparecer as primeiras vítimas, digamos, indiretas dos acidentes ocorridos. E justamente o líder da prova, Daniel Ricciardo, que conseguia manter uma distância segura de Nico Rosberg, viu sua corrida arruinada pela “dechapada” do pneu traseiro esquerdo em pleno retão se Shangai. Por sorte, isso aconteceu antes da entrada dos boxes, o que permitiu com que o prejuízo não fosse ainda mais sério, mas tirou do australiano qualquer chance de brigar pelo pódio. Uma pena.

Com Rosberg na ponta, Kvyat pulou para segundo, e os dois carros da Force India vinham bem, em terceiro e quarto lugares. Contudo, a direção de prova acabou optando pela entrada do safety-car para limpeza da pista. Nesta hora, eu fico com pena dos mecânicos. É começo de prova, os pilotos ainda estão se ajeitando na pista, o mecânico vai lá, coloca a marmita no micro-ondas e tem que interromper o almoço para atendar a procissão que se encaminha para os boxes toda vez que isso acontece nas voltas iniciais de um GP. É a vida.

Vocês lembram daquela ultrapassagem de Alonso sobre Massa no trecho que dá acesso aos boxes, em 2010? Pois Vettel ultrapassou Sainz e Hülkenberg de uma só vez, sem titubear, o que me deu a clara impressão de que ele seria punido. No entanto, Hulk estava mais lento que o normal porque seu companheiro Pérez fazia a sua parada e levava a culpa por estragar o almoço do pessoal da Force India.

O russo mostrou que o carro da Red Bull é bom, mas o lugar no pódio seria de Ricciardo em condição normal.

O russo mostrou que o carro da Red Bull é bom, mas o lugar no pódio seria de Ricciardo em condição normal.

Tem russo no pódio

Rosberg, Massa, Alonso, Wehrlein e Kvyat. Sim, senhoras e senhores, uma Manor em quarto lugar, claro que sem parada ainda.

Uma relargada tranquila no pelotão da frente, e Wehrlein segurava o quanto podia os adversários. Claro que foi sendo superado pela diferença de equipamento, mas mostrou mais uma vez que é atrevido e talentoso esse alemão. E o que mais fazia da corrida interessante eram as recuperações de Raikkonen, Hamilton e Vettel, que vinha alucinado. Teve até um pequeno toque com Bottas, que avariou o bico da Ferrari, soltando mais peças na pista voltas depois. As más línguas dizem que este design da asa dianteira “quebrada” será adotado de agora em diante, pois Vettel começou a virar mais rápido. Haja túnel de vento…

Eu não contei o número de ultrapassagens, muito devido a nova possibilidade de estratégia de pneus das equipes. Era vácuo e asa aberta o tempo todo, e a sucessão de paradas de box também embolava mais ainda os principais adversários.

E o Ricciardo, lembram? Pois bem que o australiano tentou, mas não conseguiu chegar ao pódio que seria seu, sem dúvida alguma, caso não ficasse descalço logo de cara. O pódio estava praticamente decidido com Rosberg, Vettel e Kvyat.

Felipe Massa segurava a quarta posição com Bottas atrás e Hamilton em seguida. Só que, como eu falei, tinha Ricciardo chegando, chegando, e passando todos os três. Mais um pouco foi a vez de Raikkonen, que deixou não só Bottas, mas também foi brigar com Hamilton e Massa.

Vencendo e salvando crianças do afogamento. Que fase positiva para Rosberg!

Vencendo e salvando crianças do afogamento. Que fase positiva para Rosberg!

Na última grande disputa da prova, Raikkonen deixa Hamilton para trás e logo em seguida também Massa. Parecia óbvio que o atual tricampeão também ultrapassaria o brasileiro, mas a defesa de Massa foi sensacional, e o piloto da Williams fechou em sexto, ficando bem satisfeito com o resultado.

Verstappen e Sainz ainda passaram por Bottas, mau calçado no final da prova. O finlandês do carro #77 ficou em décimo.

Decepção com os carros da Force India mais uma vez, que sequer chegaram na zona de pontos depois de um começo muito promissor. E, alguém reparou que sequer citei o nome de Romain Grosjean?

Depois de duas provas impecáveis, a equipe Haas ficou de fora dos pontos, em razão de toda confusão na largada e de um toque do mesmo em Marcus Ericsson, da Sauber, que rendeu um pouco mais fora da pista.

Foi a sexta vitória de Rosberg seguida, e agora com um péssimo resultado de Hamilton. Os mais otimistas começam a imprimir camisetas com a cara do novo campeão do mundo, mas a minha opinião é a de que esta pode ser, exatamente, a chance de Vettel se tornar pentacampeão. Eu acredito que a Ferrari ainda vai crescer e, quando isso acontecer, se Hamilton também tirar pontos importantes de Rosberg, talvez para o inglês não resolva muito, mas para o piloto da Ferrari seja fundamental.

Vocês acham que dava para narrar todas estas trocas de posições?

Vocês acham que dava para narrar todas estas trocas de posições?

Ao desligar dos motores:

– Pilotos unidos novamente, pelo menos é o que parece. Assim, a Fórmula 1 deve caminhar para dias melhores em minha opinião;

– A Renault não está fazendo por onde chamar a atenção de Fernando Alonso para 2017;
– Por falar em Alonso, como vocês viram, ele correu. E…;

– Vettel não gostou do que Kvyat fez na largada e foi tirar satisfações na sala antes do pódio. O russo respondeu que não fez nada, que nem se tocaram, e tal. Pelo menos, Kvyat mostrou que é bom de papo;

– Grosjean também se desentendeu com algum outro piloto, e Nasr bateu boca pela imprensa com seu companheiro Ericsson que, inclusive, ofereceu o carro ao brasileiro para tirar a prova de que ele é melhor mesmo. E o primeiro parágrafo falava da união dos pilotos…;

– O grid invertido acaba com a Fórmula 1 na minha opinião, mas acaba com o problema de ultrapassagem também e em definitivo. Mas a categoria pode voltar a ter a perspectiva de dias melhores por causa das estratégias que o uso de 3 compostos de pneus proporciona. Acho que ainda vamos ter um número incrível de ultrapassagens este ano;

– Rosberg, além da boa fase na pista, salvou uma criança de 5 anos de se afogar no mar de Mônaco, onde reside, na semana que antecedeu o GP da China. Exímio nadador, Rosberg segue nadando de braçada.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *