Só falta o título


Rosberg vence de ponta a ponta e tenta evitar o “já ganhou”. A equipe Mercedes já pode comemorar no campeonato de construtores e Verstappen, sempre ele, abriu as asinhas de novo.

Impondo-se por 13 milésimos

Suzuka é o eterno palco da rivalidade entre Alain Prost e Ayrton Senna, no final da década dos anos 1980. Os motores Honda, que impulsionavam os carros McLaren destes pilotos, também impulsionaram milhares de torcedores que, ao longo dos anos e mesmo sem a presença de um piloto nativo, lotam as arquibancadas do autódromo japonês.

A rivalidade do momento, entre Lewis Hamilton e Nico Rosberg, em minha opinião, não pode ser comparada àquela entre o francês e o brasileiro. Em comum, o fato de ambos os pilotos que brigam hoje pelo título também estarem na mesma equipe e que Rosberg, assim como Senna em 1988, não tem título mundial ainda, enquanto seu oponente já tem mais que um, como era Prost naquele mesmo ano.

Nico Rosberg está muito, mas muito longe de ser comparado com Ayrton Senna. É, segundo alguns amigos, aquele menino criado pela avó que quando compra um sorvete, vem todo pimpão mostrar para os amigos, tropeça e sai com cara de coitado. Mas, ao que parece, esse cara que já é o piloto não-campeão com mais pontos na história, deve conseguir o tão almejado título mundial este ano.

E não é que a Haas andou de novo?

E não é que a Haas andou de novo?

Rosberg dominou o final de semana inteiro do GP do Japão. Nos treinos, não deu muitas chances para Hamilton e, apesar da diferença da pole entre ambos ter ficado apenas em treze milésimos de segundo, ficou com a pole, como mais uma prova de superioridade no momento perante o inglês. Hamilton, diga-se, tratou de desmerecer a pole dizendo que no circuito japonês, a pole não é fundamental para vencer a corrida.

Como a primeira fila sempre tem dono, o terceiro colocado e “pole do resto” desta vez foi Kimi Raikkonen, que tem pilotado bem ultimamente, diga-se. Logo atrás dele, veio o companheiro de equipe Vettel, mas este foi punido com três posições por causa daquele acidente na largada do GP da Malásia na semana anterior, lembram? E, como desgraça pouca é bobagem, a Ferrari também trocou o câmbio de Raikkonen, fazendo com que o piloto finlandês largasse apenas na oitava posição.

Quem se beneficiou com isso foram os pilotos da Rad Bull, Verstappen e Ricciardo, que herdaram a segunda fila. Sérgio Pérez acabou com um lugar na terceira, em quinto, ao lado de Vettel. Seu companheiro Hülkenberg não foi tão bem, mas estava entre os dez primeiros, em nono.

A surpresa ficou com os carros da Haas, que resolveram andar forte e ficaram com a oitava e décima posições no grid, com Grosjean a frente de Gutiérrez. Em suma, quatro das cinco melhores equipes do mundial nas dez primeiras posições. É que faltaram os carros da Williams, degolados no Q2.

Se esperava, na verdade, que a McLaren pudesse andar bem e chegar no Q3, mas os carros que hoje correm com o motor Honda, assim como na época de Senna x Prost, não renderam o suficiente para irem além da décima quinta posição com Alonso. Button, no outro carro, acabou largando em último por decisão da equipe em mexer no seu carro, que havia sido eliminado no Q1.

Toro Rosso ficou pelo Q2, a Renault colocou Palmer no Q2 mas não conseguiu o mesmo com Magnussen, e os carros de Sauber e Manor, claro, continuam torcendo para que o regulamento adote o grid invertido o mais rápido possível.
Ameaçou chuva? Sim, mas não veio. Ameaçava para domingo? Também, mas assim como no sábado, ela não veio, pelo menos na hora da corrida. E mesmo assim teve gente que parecia que estava largando no molhado com pneu slick.

Snapchat, só pode

Falei aqui, na resenha do GP da Itália, que o Hamilton havia dado uma cochilada na hora da largada provavelmente por estar fazendo selfies e postando nas redes sociais. Eu acho que acertei porque, o que ele fez agora no Japão só pode ser justificado pela sua insistência em ficar olhando o celular, agora para ficar postando snapchat. Só pode.

Cinco carros lado a lado na largada. Haja sangue frio.

Cinco carros lado a lado na largada. Haja sangue frio.

Se a diferença do tempo da pole foi praticamente inexistente, a largada deixou um abismo de diferença entre os concorrentes ao título.

Aliás, um milagre ninguém ter se encostado na largada. A “refugada” de Hamilton fez com que Ricciardo desviasse do Mercedes #44 no limite, trazendo para o lado de dentro. Vettel, logo atrás de Ricciardo, fez o mesmo, só que foi ainda mais para dentro, forçando uma recuada de Raikkonen e uma habilidade incrível de todos os demais para não retirarem pedaços de carro um dos outros.

Rosberg largou bem e tinha a presença de Max Verstappen logo atrás. Em terceiro, quem apareceu muito bem foi Sergio Pérez, que tinha Ricciardo logo atrás. Porém, Vettel vinha forte e tratou de deixar Ricciardo mais longe de sua comemoração shoey, confiscando o quarto lugar do australiano, e ainda sem se utilizar da asa móvel.

Podem falar o que quiserem, mas o Raikkonen ainda é um baita piloto. Suas ultrapassagens são sempre decisivas e de muita habilidade. Hülkenberg que o diga. Quando percebeu, Raikkonen já tinha colocado de lado e ido embora, deixando o piloto da Force India a frente de Hamilton, que ainda não conseguia nada de melhor que a oitava posição desde a largada.

E Hülkenberg tentou segurar Hamilton de todas as formas. Até conseguiu em um primeiro momento, mas a diferença de equipamento é muito grande como sabemos, apesar da utilização de motores Mercedes em ambos os carros. Na segunda tentativa, tudo certo.

Em segundo desde o início da corrida, Verstappen começou a reclamar pelo rádio sobre o comportamento do carro, isso com menos de dez voltas. Atrás dele e de Vettel, vinha um bloco formado por Pérez, Ricciardo, Raikkonen e Hamilton.

Começam então as primeiras paradas de box, e a Red Bull traz os dois pilotos ao mesmo tempo, o que foi possível graças a distância de pista entre ambos. O líder Rosberg entrou duas voltas depois e na mesma volta vieram Vettel, Pérez e Raikkonen. Hamilton, ainda discreto, veio logo depois.

Nico, o outro, e a ultrapassagem da corrida.

Nico, o outro, e a ultrapassagem da corrida.

Mas a discrição de Hamilton era aparente apenas. Nas voltas em que se manteve na pista antes da sua primeira parada, o inglês voou e fez o necessário para fazer a parada e voltar à frente de Pérez e Raikkonen. Ambos desciam a reta lado a lado quando Hamilton voltava. Nada perigoso, mas ali Hamilton já havia ganho duas posições sobre seus oponentes.

Verstappen segura o segundo lugar

O fraco desempenho nos treinos fez com que a Williams optasse por permanecer na pista por mais tempo, o que jogou tanto Massa quanto Bottas no meio da disputa dos líderes. No entanto, a disputa que mais interessava, entre Rosberg e Hamilton, assinalava quase vinte segundos, com Rosberg em primeiro e Hamilton em quarto.

A overdose de disputas e ultrapassagens do começo da corrida haviam diminuído em quantidade, mas a qualidade com a qual Hülkenberg fez a ultrapassagem sobre Bottas, no lado externo da chicane famosa pelo acidente entre Prost e Senna em 1989, foi de merecer aplausos em pé.

Mas, voltando a falar dos carros da Williams, o único lance digno de nota foi o belo drible que Massa deu sobre Carlos Sainz, deixando o espanhol meio atordoado e possibilitando também a ultrapassagem de Bottas sobre o piloto da Toro Rosso, na mesma sequência. E só. Sem forças, a equipe conseguiu ao menos fechar com os dois pilotos entre os dez primeiros, o que não conseguiu nos treinos pelo bom desempenho da Haas.

Segunda parada de boxes, e quase todos se mantiveram em suas posições, exceção de Ricciardo, que perdeu muito tempo para troca do pneu dianteiro direito e acabou voltando muito atrás, em sexto.

Hamilton na tentativa de reconquistar o segundo lugar. Foi reto.

Hamilton na tentativa de reconquistar o segundo lugar. Foi reto.

Rosberg seguiu na liderança, com Verstappen em segundo e Hamilton, mais uma vez, ganhou posição. Desta vez, Vettel acabou aparecendo atrás do inglês quando voltou de sua última parada de box. Mas isso foi até legal porque Vettel era uma ameaça real para Hamilton e obrigou o piloto da Mercedes a andar forte. Resultado: ambos foram se aproximando de Verstappen.

Para o líder Rosberg, bastava administrar a ponta e ir para o abraço da equipe, e foi o que ele fez. Vitória de ponta a ponta e uma folga ainda maior na liderança do campeonato, deixando tudo muito ao seu favor neste ano.
Mas Hamilton tentou, pelo menos, diminuir este prejuízo e voltar ao segundo lugar o qual estava na largada.

Andando muito forte, mesmo com a equipe tendo limitado os motores para evitar novas quebras, Hamilton chegou em Verstappen faltando sete voltas para o final da prova. No entanto, a tentativa de ultrapassagem naquela mesma chicane famosa antes da entrada dos boxes foi muito mal realizada. Na verdade, Hamilton vinha forte, mas Verstappen deu aquela fechada cruzando a pista e freando ao mesmo tempo, o que resultou em uma reclamação formal da equipe alemã para a direção de prova. Hamilton perdeu a freada e a chance de conquistar o segundo lugar.

Questão de tempo (II) para o título?

Questão de tempo (II) para o título?

Rosberg comemorou muito, e não poderia ser diferente. Verstappen foi mais uma vez o segundo colocado e Hamilton completou o pódio. Os dois carros da Ferrari, com Vettel e Raikkonen, foram quarto e quinto colocados respectivamente. Daniel Ricciardo foi sexto, aquém do que se esperava dele. Force India e Williams completaram os dez primeiros colocados com Pérez, Hülkenberg, Massa e Bottas respectivamente.

A mão na taça, agora, é a de Rosberg.

Ao desligar dos motores….

– Rosberg tem números impressionantes para um piloto sem título. Acho que é hora de se fazer reconhecido;
– A Mercedes é tricampeã de construtores. Alguém tinha dúvidas?;

– Hülkenberg é o nome da vez na Renault. Deve ir para o time francês na vaga que seria de Felipe Massa. Isto segundo o site motorsport.com. Pagando bem, que mal tem?;

– Eu acho que o Japão merece um piloto no grid. A maravilhosa e familiar torcida nipônica, na verdade, não precisa de um piloto para comparecer ao evento, que eles idolatram. Mas, merecem;

– Vettel andou bem, é inegável que seja um excelente piloto, mas está reclamando demais de seus companheiros de profissão. Vai virar persona non grata no grid;

– Sobre snapchats. Hamilton foi criticado por parte dos jornalistas presentes na coletiva de imprensa por ficar fazendo snapchats e postando os mesmos durante a sessão de perguntas. Entenderem que este desprezo pelo trabalho deles não deveria acontecer. Aí o Hamilton vem e diz que as perguntas deveriam ser feitas pelos fãs. Lacrou.

Eles são demais.

Eles são demais.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

2 Responses

  1. Glauco de F. Pereira says:

    Estamos prestes a completar um ano do GP dos EUA. Alguns aqui vão se lembrar da “jogada” do boné pelo segundo lugar com que Hamilton “recepcionou” Rosberg após o fim da corrida.

    Pois então, parece que após tal ato, Rosberg, com “sangue nos zóio”, vem aplicando diversas lições em Hamilton, e que como lição master, pode ser a conquista do título este ano. Merecido? Pode ser, é claro, afinal sua pilotagem este ano vem sobressaindo em relação a Hamilton.

    Caso realmente conquiste, entrará para a galeria dos campeões mundiais “sem sal”, ou seja, aqueles campeões que, logo após a conquista, poucos são os que se lembram… Na verdade, sem desmerecer uma possível conquista, creio que Hamilton perdeu, não Rosberg ganhará (possivelmente). Em CNTP, Hamilton ainda continuará sendo mais piloto que Rosberg.

    Ainda acredito numa virada de Hamilton. Desaprender, não desaprendeu. Talvez tenha perdido um pouco o foco. Quem sabe, a se confirmar a perda do título, sirva de lição para não menosprezar adversários, ainda mais quando este tem o mesmo equipamento…

    Já Vettel, anda parecendo uma tia rabugenta e se esquecendo de pilotar, o que sabe muitíssimo bem. Já o seu companheiro, Raikkonen, outra tia rabugenta, é daquelas reclamonas, mas que sentam a bota, mesmo reclamando. Vettel talvez tenha pensado que as conquistas de Schumi na Ferrari tenham sido por encanto, ou seja, chegou, sentou no carrinho e pronto e o mesmo aconteceria com ele. Ledo engano…

    Já Massa, que despedida melancólica. Bem que a Willians poderia fazer mais para que Massa tivesse uma despedida a altura de sua carreira, tão pouco valorizada por alguns aqui.

    Enfim, vamos ver se na próxima prova, completando um ano da “jogada” de boné em Rosberg, a nuvem negra que parece que se abateu sobre Hamilton vá embora. Se foi alguma “praga” rogava por Rosberg, vai que só dura um ano????

    Se foi, Rosberg que se cuide!!!! Hamilton pode fazer questão de colocar água na cerveja do alemão, só pra ficar meio “aguadinha” a possível conquista…

  2. Eu concordo que Rosberg, pelos resultados, mereça ser campeão. Não há o que dizer de sua pilotagem e resultados. Vai ser um campeão sem carisma, mas vai ser campeão, ao contrário de tantos outros que ficaram só no carisma.
    A vantagem de 33 pontos, mesmo que Hamilton vença todas e ele chegue em segundo, lhe garantem o título por 3 pontos. Mas uma quebra e uma vitória de Hamilton trazem a diferença para oito pontos.
    Vai valer a pena acompanhar.

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