Sempre há um jeito


Ferrari domina Mônaco, coloca Vettel mais ainda na liderança do mundial e se consolida em primeiro na briga pelos construtores. Só que Raikkonen não gostou.

Meu videogame fala

Mônaco chegou a sua corrida de número 75. Sim, isso mesmo. Apesar da Fórmula 1 ter apenas 67 anos, a corrida pelas ruas do Principado de Mônaco ocorre desde 1929, mas, como mostra a matemática, nem todo ano teve corrida por lá por razões que vão desde guerras até luto pela família real local.

Além disso, este ano se completou 30 anos da primeira vitória de Ayrton Senna por lá. Ele, Senna, é o maior vencedor de todos os tempos com seis vitórias por aquelas ruas estreitas. Várias homenagens foram feitas ao longo do final de semana.

Tanta pompa, homenagens, e aí aparece o Lance Stroll e acerta o muro no segundo treino livre. Não que isso não fosse esperado, e até temerário, mas o que chamou a atenção foi a justificativa do garoto. Ele disse que o que o deixava mais “desapontado” era que ele sempre errava a mesma curva no videogame. É sabido que os pilotos atualmente treinam muito em simuladores, para conhecerem as reações do carro e até o traçado de novos circuitos. Mas não se formam pilotos de verdade apenas em um monitor.

Mas vamos falar do treino oficial.

Em Mônaco é assim: se o carro ou o piloto não são bons, não adianta forçar a natureza. Isso pode se aplicar direitinho para a Sauber. Ambos os pilotos da equipe ficaram com as últimas posições do grid no treino. Pascal Wehlein foi melhor que Ericsson porque é melhor mesmo, e ponto.

Jolyon Palmer, outro candidato a sucessor de Pastor (o Maldonado), também ficou pelo caminho, assim como o Stroll e o Ocon, com a Force India. Devemos dizer que Felipe Massa escapou por muito pouco, mas ficaria pelo Q2.

Hamilton, discreto.

Hamilton, discreto.

Raikkonen era quem dominava o treino no Principado, quebrando o recorde que Vettel havia estabelecido na sexta-feira. Era clara a soberania vermelha e a pouca combatividade da Mercedes, mais especificamente de Hamilton, que apesar de liderar o primeiro treino livre, não teve o mesmo rendimento nas sessões seguintes. Para piorar, quando fazia sua última tentativa para passar para o Q3, teve que tirar o pé devido ao acidente de Stoffel Vandoorne com o cronometro perto de zerar. Acabou ficando pela décima quarta posição apenas, atrás de Kvyat, Hülkenberg e Magnussen.

Apesar do acidente, Vandoorne passaria para o Q3, pois tinha tempo suficiente isso. Pena que havia sido penalizado com três posições no grid por causar acidente na Espanha. E o bom desempenho da McLaren foi também confirmado pelo excelente retorno de Button (lembram que Jenson Button substituiu Fernando Alonso em razão do espanhol ter ido se aventurar nas 500 Milhas de Indianápolis?) em nono. Mas a McLaren, de bom chassi e problemas imensos de motor, gerou uma penalidade de 15 posições para Button no grid em razão de troca dos componentes motrizes do carro laranja e preto.

Na quarta fila, estavam Sergio Pérez e Romain Grosjean. O francês rodou no Q1 e, por pouco, não levou uma batida de frente de Carlos Sainz Jr. Este, o único espanhol na prova, ficou com a sesta posição no grid, um ótimo trabalho, e ao lado de Max Verstappen.

Nas duas primeiras filas, notava-se que Ricciardo parecia que tinha mais carro do que o quarto lugar apenas, e ele ficou muito irritado com a equipe por manda-lo para a pista em um momento de tráfego.

O equilíbrio na disputa pela pole entre os dois carros da Ferrari e o Mercedes de Bottas foi de arrepiar.

Inexpressivos 45 milésimos separaram os três primeiros colocados no grid. Bottas ficou a dois milésimos de ocupara a segunda colocação no grid, mas perdeu para Vettel, que viu seu companheiro de equipe, Kimi Raikkonen, bater o novo recorde da pista e quebrar um jejum de poles que já durava quase uma década. Sua felicidade não era radiante, mas importante. Seria o efeito Thomaz?

Necessidades fisiológicas bem claras

Boa nota de comportamento para todos.

Boa nota de comportamento para todos.

Antes da largada, um momento especial. A McLaren resolveu fazer Button largar dos boxes e quando ele já se posicionava na saída do grid, o rádio da equipe chamou e colocou Fernando Alonso para conversar com ele e lhe desejar boa sorte, também retribuída pelo inglês. A parte mais engraçada da conversa foi quando Alonso pediu para Button cuidar bem do seu carro, ao que o campeão de 2009 disse que iria fazer xixi no cockpit.

A Saint Devotte assistiu a todos os pilotos passarem sem nenhum problema e fecharem a primeira volta praticamente sem nenhuma alteração na ordem da largada. Magnussen conseguiu pular duas posições a frente e foi apenas isso de importante.

Mesmo largando dos boxes, Button foi para os boxes, o mesmo acontecendo com Wehrlein. Carros no chão e, quando Button já estava no pit-lane, a Sauber liberou Wehrlein e os dois quase bateram. Como resultado da manobra, Wehrlein foi punido em cinco segundos no tempo total de prova dele, mas isso traria problemas mais tarde.

O ritmo de Raikkonen e Vettel era muito forte e ambos se distanciavam de Bottas e demais pilotos.

Mas Mônaco não perdoa erros e o mexicano Pérez foi o primeiro a visitar os boxes com o bico torto, voltando apenas na décima sexta posição. Ao mesmo tempo, Hülkenberg teve o motor estourado e abandonou.

Com os pilotos muito cautelosos, nenhuma disputa de posição na pista, apenas diminuição de distâncias. A troca mesmo de posições começou com a rodada de pit-stops, com Verstappen parando primeiro e caindo de quarto para sexto. Logo depois foi a vez de Bottas, que voltou com Verstappen muito próximo a ele.

Mas a parada que iria definir a corrida veio na 34ª volta, quando a Ferrari chamou Raikkonen para os boxes. O finlandês fez a parada sem muitos problemas e voltou para a pista. Só que Vettel não veio logo em seguida e, mesmo com pneus desgastados, foi pulverizando o tempo de volta no Principado. Foi com elegância, mas foi perceptível o favorecimento ao alemão.

Em duas rodas. Assim foi o susto do Wehrlein.

Em duas rodas. Assim foi o susto do Wehrlein.

Quem se deu bem também foi o Ricciardo, que ganhou duas posições e escalou para a terceiro, deixando Bottas e Verstappen para trás. O companheiro, diga-se, proferiu pelo rádio alguns impropérios quando ficou sabendo do ocorrido. Atrás dos cinco primeiros, Hamilton, ainda sem parar. Só iria fazer a sua parada faltando trinta voltas para o final, e voltou em sétimo.

De quem é o assoalho?

Vettel abriu muito de Raikkonen, é verdade. Ainda que o finlandês tenha perdido a posição nos boxes em razão das voltas voadoras de Vettel ainda antes da parada, era muito grande a distância que Vettel abrira para o companheiro. Raikkonen estava sendo mais pressionado por Ricciardo, em terceiro, do que com ação sobre Vettel. E Verstappen estava “babando” atrás de Bottas.

Depois de muito charme, o safety-car acabou convidado a entrar na pista, e o motivo foi meio assustador até.
Quando as imagens mostraram um carro virado lateralmente no guard-rail da entrada do túnel, ninguém sabia ainda quem era o piloto e nem a gravidade do acidente. Pouco depois, as imagens mostravam o carro de Jenson Button com uma das rodas dianteira tortas, bico quebrado, e se arrastando para uma área segura para abandonar. E veio a identificação do piloto preso ainda dentro do carro: Pascal Wehrlein.

O Ericsson conseguiu.

O Ericsson conseguiu.

Os fiscais de pista tentavam virar o carro do piloto da Sauber para livrar o piloto, que conseguiu tranquilizar a todos pelo rádio da equipe, dizendo que estava bem, mas que estaria melhor fora daquele lugar. Pouco depois, as imagens mostraram que Button tentou uma manobra quase impossível quando Wehrlein abriu a curva um pouquinho demais. O toque entre as rodas traseira da Sauber e dianteira da McLaren acabaram catapultando o primeiro, sem violência, para a barreira de proteção. Tudo bem com todos.

O safety-car segurava todo mundo, aí o Ericsson mostrou todo o seu talento e conseguiu bater na Saint Devotte em ritmo de desfile. Tudo bem que o asfalto estava realmente se soltando por ali, mas bater naquelas condições é como cair do cavalo em um carrossel de parque de diversões. E não faltou muito para o Ericsson ser içado junto como o carro. Tava demorando demais para deixar o cockpit e os serviços da “Mônaco Içamentos Inc” é muito rápido.
Relargada com todos reagrupados, na relargada quase que o Ricciardo dá uma esfregada na barreira de pneus e perde a terceira posição para Bottas e Verstappen. Segurou.

Vandoorne também acabou mostrando seu lado devoto e acabou no guard rail da curva do santo. Nem precisou do safety-car porque o pessoal da MII, aquela de içamentos, foi ainda mais rápido e as bandeiras amarelas no local foram suficientes.

Parece que para compensar a primeira metade da corrida monótona de tudo, Pérez e Kvyat também resolveram se enroscar na Rascasse, antes da entrada dos boxes. O mexicano conseguiu ir para os boxes e trocar o bico, além de colocar pneus novos, o que lhe garantiria a melhor volta da prova. Massa subiu para nono com isso e Stroll abandonou faltando cinco voltas para o final. Parece que foi cansaço.

Nada mais importante e Vettel cruzou em primeiro, seguido de Raikkonen, Ricciardo, Bottas e Verstappen, os favoritos já que Hamilton foi muito aquém do esperado. O inglês acabou em sétimo, atrás de mais uma ótima performance de Carlos Sainz. Grosjean e Magnussen também marcaram pontos para a Haas, em oitavo e décimo respectivamente.

Sainz vai começando a convencer os grandes times (leia-se Ferrari).

Sainz vai começando a convencer os grandes times (leia-se Ferrari).

Ao desligar dos motores…

– Raikkonen é um tanto “poker face”, mas era notória a sua decepção no pódio. A Ferrari joga todas as suas fichas em um título de Vettel, mais consistente e mais forte em uma briga pelo título. Raikkonen colhe um pouco do que plantou nos últimos anos. É compreensível, menos para Thomaz;

– Massa disse que teve problemas de freio e creditou o nono lugar a sua grade experiência em levar o carro até o final. Pode ser, mas por que só o carro de Massa teve problemas no freio e o de Stroll não? Digo que o canadense não teve porque, se tivesse tido, seria notado facilmente;

– Desculpem a expressão chula, mas Button acabou não mijando no carro de Alonso. Fez foi uma cagada mesmo. Em sua defesa, é bom lembrar que, se Wehrlein fosse punido na pista pela manobra nos boxes, o acidente não teria ocorrido. Button ficou o tempo todo atrás do piloto da Sauber e, se empolgou;

– Fernando Alonso… Fora de Mônaco, o espanhol largou em quinto nas 500 Milhas de Indianápolis. Liderou a prova por mais de uma vez. Foi o tempo todo competitivo, com chances reais de vencer, até que foi traído pelo motor Honda mais uma vez, agora em outra categoria. Ao encostar o carro, foi aplaudido de pé pelos presentes IMS. Disse que voltará. Longe da Fórmula 1, Alonso foi o grande piloto de sempre. Se tivesse ganho…

– A Liberty Media fala em um calendário com 25 etapas. Adoraria ver mais Fórmula 1, mas creio que mais que 20 etapas já não é algo razoável.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

2 Responses

  1. Glauco de F. Pereira says:

    Lauro, não acredito que tenha havido um favorecimento “declarado” a Vettel quando da ida aos boxes. Se existe algo assim, deve-se simplesmente pelo comportamento de Raikkonen, que não se mostra muito afeito a uma disputa que mereça este nome. O Raikkonen, não sei se infelizmente ou felizmente (depende do ponto de vista…) parece aquele funcionário público que, depois de muito tempo de casa, esta ali no local de trabalho esperando a hora de ir embora ou garantir sua aposentadoria com o salário integral.

    Vejamos: se Raikkonen era o primeiro colocado, quem teria condições, em tese, de fazer “voltas” de classificação uma atrás da outra, momentos antes de ser chamado aos boxes, como bem fez Vettel antes de sua parada, e que foi a principal motivadora de seu salto para a liderança da prova? Raikkonen, não é mesmo? E porque não o fez? Parece que, a altura da troca de pneus, ainda não havia tantas retardatários assim a impedir Raikkonen de fazer da mesma forma que Vettel. Mas, convenhamos, vontade e garra não é uma das principais qualidades com que Raikkonen foi agraciado, não é mesmo?

    Enfim, não acho que houve um favorecimento assim tão grandioso a Vettel. Talvez a Ferrari tenha “apostado” suas fichas naquele piloto que, em uma disputa com a Mercedes, poderá ser mais aguerrido e lhe trazer um campeonato… O único, digamos, “risco” após Mônaco é que, caso futuramente a Ferrari precise de uma colaboração de Raikkonen em alguma prova não haja assim uma boa vontade de sua parte.

    Quanto a Massa, tá difícil entender o que acontece. Pelos testes de pré-temporada, era dito que o carro iria muito a favor de suas principais características de pilotagem, e que poderia, num ano de mudança de algumas características dos carros, sua experiência fazer a diferença. Não é o que estamos vendo, e, pra piorar, Massa corre e pontua sozinho, fato este que, no final do ano, com a classificação e posterior divisão dos prêmios financeiros para as equipes, terá como consequência menos dinheiro no caixa da Willians para 2019.

    Fica a pergunta: será que todo o dinheiro de “Is Stroll” compensará para a equipe, mesmo que papai pague toda a “brincadeira” do garotinho, que queria brincar de “bate-bate” com um carro mais potente do que aqueles da coleção do papai? (Lauro, que tal no bolão tem um “campo” pra apostas sobre em que volta “Is Stroll” baterá nos próximos GP’S??)

    Quanto a Riccardo e seu sorriso de 128 dentes, creio que corre a passos largos pra em 2018 ser “concorrente” de Vettel na Scuderia. Discreto, sem reclamar ou dar show, mostra a cada prova ser mais pelo valor pago do que Verstappen. Bottas é outro que a cada dia mais se mostra um piloto pronto já, sendo que se o seu contrato for de apenas um ano com a Mercedes e após tal período não for renovado, pode ser também uma carta importante e a ser considerada no jogo para as próximas temporadas.

    Quanto a Alonso e sua “conquista” da América, o que dizer que já não foi dito? Como diria Victor Martins, do site “Grande Prêmio”, “…que homem”!

    Sabe aquela história expressa no “Vim, vi e venci”. Pois então, Alonso quase tornou-se sinônimo dessa expressão. E olha que hoje os pilotos não treinam durante todo o mesmo de Maio em Indianapolis… Imagina se assim fosse.

    Alonso fez coisas que até mesmo pilotos com experiência em circuitos ovais não fazem a todo tempo e com requintes de uma técnica que demonstra que somos nós privilegiados em ver um piloto fazendo história. Ao final de tudo, Alonso volta para a F1 maior do que saiu, como se fosse ainda possível.

    É uma pena que, por causa de seu gênio e, pelo que vemos na imprensa, sempre exigir da equipe que trabalhe para somente ele o tempo todo, sempre saiu das maiores equipes da F1 com uma listas de digamos “poucos” amigos, e o pior, sem títulos a que sua pilotagem magistral faça jus.

    Creio que, se resolvesse “fazer” a América, disputando toda a temporada, colocaria seu nome ao lado de Montoya, Mansell, Villeneuve, como pilotos que venceram dos dois lados do atlântico. E do jeito que pouco antes do fim, os motores Honda, pra variar, deixaram o espanhol com a “paelha” na mão, e Alonso não é muito de se conformar com coisas do tipo, seguramente veremos Alonso novamente na disputa.

  2. Glauco,
    Excelente o sue comentário, como sempre. Vou colocar aqui alguns pontos:
    – No meu entendimento, o Raikkonen estava perdendo terreno para Vettel na pista, no entanto, não seria ultrapassado se não fosse nos boxes ou com uma barbeiragem muito feia. Se a Ferrari tivesse chamado Vettel na volta seguinte, a ultrapassagem não teria acontecido.
    – Vettel, o maior interessado, tem sim mais garra, mais apetite, mais gana que Raikkonen e, mais apoio dentro do time. Devemos lembrar que a decisão de manter Raikkonen na equipe em 2017 passou por essa análise, que foi a de manter Vettel em condições de disputar o título contra a Mercedes da melhor forma.
    – Vettel tem muitos méritos. Fez voltas assustadoras de rápidas e cumpriu sua tarefa de maneira absolutamente precisa. Voou quando precisava voar, mas mesmo voando, voltou muito pouco a frente de Raikkonen. Elogios ao alemão, mas, a Ferrari foi deixando Vettel na pista para isso, senão o teria chamado logo em seguida.
    – Não tenho gostado da Williams, mas…
    – Ricciardo é muito bom piloto. Tomara que seu dia chegue. A Austrália merece também
    – Alonso fatura fácil qualquer campeonato aqui na América, porque já provou que anda muito em ovais. Em circuito misto, arriscaria que seria imbatível.

    Vamos ver o menino rico no playground de casa.

    Grande abraço.

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