Fórmula 1 – Tempo para vencer


Apesar do ideal esportivo de que o importante é competir, todos querem vencer. E, dependendo de quanto tempo isso leva para acontecer, pode ser decisivo para os anseios de um piloto em sua trajetória na Fórmula 1.

Mas afinal, qual é o tempo “aceitável” para um piloto atingir seu primeiro triunfo? E isso pode ser determinante para sua carreira? Em minha opinião, sim. E como este assunto também é controverso, há diversas maneiras de analisá-lo, pois existem inúmeros fatores que podem levar um piloto a vencer. Dentre eles, além de sua própria competência e um carro competitivo, o piloto pode ter uma identidade com o circuito, uma boa estratégia, ou mesmo uma corrida sob condições adversas como chuva ou muito acidentada podem trazer a conquista tão esperada. E tem a sorte. Vamos analisar juntos algumas carreiras.

Michael Schumacher resolveu voltar depois de vencer 91 vezes. A primeira delas foi em sua segunda temporada, 18ª corrida de sua carreira. Era o GP da Bélgica, e ele pilotava um carro Benetton, no mesmo circuito em que havia estreado um ano antes pela equipe Jordan.

Fernando Alonso, quando venceu pela primeira vez, estava em sua 30ª corrida na Fórmula 1. Naquele GP da Hungria de 2003, pilotando pela Renault, Alonso tornou-se o mais jovem piloto a vencer uma corrida na história da Fórmula 1, quebrando um recorde que pertencia até então ao brasileiro Emerson Fittipaldi.

Tão jovem quanto Alonso quando venceu na Hungria só que mais “apressado” que o espanhol foi seu companheiro de equipe na McLaren em 2007, Lewis Hamilton. Se o fato de estrear na Fórmula 1 pilotando um McLaren e tendo sido preparado para brilhar pela equipe inglesa o ajudaram bastante, o fato é que Hamilton precisou de apenas 6 corridas para vencer. Logo na estréia, na Austrália, já havia chegado em segundo e todos sabiam que sua primeira vitória viria em breve, no caso, apenas cinco provas mais tarde.

Também jovem e não menos talentoso, Sebastian Vettel, o alemão que começou pela BMW, encontrou no veloz circuito de Monza, na Itália, sua primeira vitória em sua 22ª corrida. Contando com a pista úmida, Vettel deu um show de competência e levou a modesta Toro Rosso à pole e a vitória numa mesma tacada.

Dos citados até agora, exceto Vettel, todos foram campeões. E eu aposto que Vettel também o será, lembrando que ele já foi vice no ano passado. Em comum, todos venceram em suas duas ou três primeiras temporadas completas. Mas uma vitória isolada não é sinônimo de piloto campeão mesmo quando acontece, digamos, precocemente.

Um exemplo é do polonês Robert Kubica. Veloz, Kubica conseguiu sua primeira vitória em sua 30ª corrida, no Canadá em 2008, pela BMW. Um ano antes dela, Kubica havia sofrido um gravíssimo acidente no mesmo circuito, mas que felizmente não teve grandes conseqüências. O finlandês Heikki Kovalainen é outro exemplo, tendo vencido com um McLaren seu 28º GP, na Hungria. Entretanto, ele e Kubica, agora estão em equipes que dificilmente lhes proporcionarão vitórias em 2010 (Renault e Lotus, respectivamente). Para mim, Kubica merecia mais que uma Renault para 2010. Já para a estreante Lotus, Kovalainen tem que agradecer a oportunidade de não ter deixado a categoria.

E, se não são todos que vencem, a demora pela primeira vitória pode significar muito mais que um alívio, mesmo que tardia.

O exemplo mais emblemático que me lembro foi do francês Jean Alesi, que fez corridas notáveis pela Tyrrell no começo dos anos 90 e rapidamente foi para a Ferrari, mas demorou ao todo 82 corridas para sua primeira, e única por sinal, vitória na Fórmula 1, que aconteceu no GP do Canadá de 1995. Neste mesmo ano, um fato curioso. David Coulthard, que substituiu Ayrton Senna na Williams depois de sua morte, em seu 21º GP apenas, tornou-se o mais jovem piloto da história a fazer um hat-trick (pole, vitória e volta mais rápida). Via-se então no escocês um futuro campeão, mas Coulthard conseguiu apenas um vice-campeonato, mesmo vencendo mais 12 corridas ao longo de sua carreira.

Agora, caso raro mesmo é o de Jenson Button. Campeão do ano passado, Button precisou de 113 corridas para vencer pela primeira vez no travado circuito húngaro em 2006, pilotando um Honda. E esta era sua única vitória na Fórmula 1 até março de 2009, quando a história transformou a Honda em Brawn e lhe rendeu mais seis vitórias e um título mundial.

No grid de 2010, além de Schumacher, Alonso, Hamilton, Vettel, Kubica e Kovalainen, Felipe Massa, Jarno Trulli, Rubens Barrichello e Mark Webber também já venceram na Fórmula 1.

Massa foi um caso típico de identificação com um circuito. Foi justamente quando o GP da Turquia estreou no calendário em 2006 que Massa triunfou pela primeira vez, em sua 66ª corrida, no seu ano de estréia como piloto da Ferrari. Já venceu três das quatro corridas disputadas no circuito turco.

Também em seu ano de estréia pela Ferrari, Barrichello conseguiu na Alemanha sua primeira vitória, só que já era seu GP de número 123. E era de Barrichello o recorde ingrato de mais participações em GPs até a primeira vitória. Quem bateu este recorde foi Mark Webber, o australiano da Red Bull, que demorou 129 GPs até chegar a Alemanha no ano passado para quebrar o seu jejum de vitórias. Trulli, outro presente no grid de 2010, venceu pela Renault o GP de Mônaco de 2004, sua 116ª corrida na ocasião.

Das equipes que considero favoritas ao título deste ano (Ferrari, McLaren, Red Bull e Mercedes), só Nico Rosberg ainda não venceu na Fórmula 1. O alemão já disputou 70 GPs, tendo como melhor resultado um 2º lugar naquele polêmico GP de Singapura de 2008, e que por justiça, deveria ter sido sua primeira vitória com a desclassificação de Alonso pela manobra premeditada da Renault com Nelsinho Piquet. Mas isso não ocorreu. Era então o 50º GP de Rosberg. O curioso é que seu pai, o finlandês Keke Rosberg, que venceu 5 corridas na Fórmula 1, ganhou seu primeiro GP em 1982, justamente o ano em que também venceu seu único título mundial. Será que Nico Rosberg vai tentar repetir o pai? Bem, ganhar sua primeira corrida em 2010 acho plenamente possível, já o campeonato…

Finalizando esta coluna, penso que a primeira vitória é fundamental para qualquer piloto, pois tira um peso muito grande de suas costas, principalmente quando este é tido como um campeão em potencial. Mas é a regularidade, a partir do momento que a vitória acontece, que faz de um piloto sempre favorito ao título e com chances de ser campeão. Será que alguém vai vencer pela primeira vez em 2010? Rosberg? Kobayashi? Alguerssuari? Algum estreante? Façam suas apostas.

P.S.: Duas coisas: 1- Estamos acompanhando os testes de Jerez de La Frontera e me esqueci de citar os testes de Barcelona, no começo de março. Vamos falar sobre eles na próxima coluna, claro. 2- Eu me lembro de muita coisa nestes últimos 25 anos da Fórmula 1, mas não pensem que tenho tudo na memória não, pois estou ficando velho e é a internet que tem me ajudado muito. Eu só dou uns palpites. Um abraço a todos.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

10 Responses

  1. Olá Lauro, acho que ainda não fomos apresentados! Gostaria primeiramente de parabenizá-lo pelos textos sempre repletos de fatos da história da F1, misturados com uma pitada de emoção e raciocínios lógicos bem embasados.

    Queria também me desculpar, por não haver comentado em suas colunas antes. Me interesso por F1, e sempre leio os seus comentários sobre o que está se passando neste circo da F1. Ás veses vira um circo mesmo, e fica difícil de acompanhar para quem está meio de fora.

    Mas para me redimir, prometo que vou re-ler as matérias anteriores e comentar à medida do possível. Aliás, acho que a seção de comentários não faz juz à sua criatividade para escrever, e acredito sinceramente que muitos estejam apenas lendo, evitando comentar alguma coisa por acharem que “não entendem muito de F1”. É irônico, mas talvez essa seja a razão. Queria incentivá-lo a continuar assim, em todo caso. Os comentários virão!

    Abraços!

  2. Caro Lauro,

    sua matéria está fantástica, é muito prazeroso ler fatos historicos com alguns palpites sobre um assunto em que o pessoal não da muuita opinião!

    Continue assim!!

    Abraços!

  3. Lauro says:

    Eduardo,

    Obrigado pelo seus elogios. É um prazer receber comentários assim de um “veterano” deste blog. Sei que você também se interessa por Fórmula 1 e espero continuar contribuindo com minhas colunas para mantermos o alto nível deste site.
    Quanto ao número reduzido de comentários, honestamente, até esperava que fosse assim pelos seguintes motivos: o site é sobre fotografia automotiva e não automobilismo (e Fórmula 1 é só uma das categorias); textos quando comparados com fotos são mais “chatos” naturalmente (eu quando tinha que ler um livro para a escola na infância sempre perguntava se o mesmo tinha fotos, para ser mais rápido de ler); e a temporada da Fórmula 1 ainda está para começar, então imagino que a maioria que acompanha e opina ainda deve estar aguardando o circo começar o espetáculo. Quando comecei a enviar as colunas, o campeonato do ano passado estava no final e o título decidido.
    Sempre que possível, comente, assim aprendemos juntos, ok?
    Aliás, que Aston Martin aquele hein!?
    Arrivederci !

  4. Lauro says:

    Pedro.

    Obrigado mesmo. Espero manter o nível das colunas e torná-las sempre prazerosas.
    A propósito, seu trabalho no Driver Experience também foi excelente! Parabéns pelo seu trabalho também. Me sinto muito honrado em fazer parte deste time.
    Abraço!

  5. É verdade Lauro! Bem lembrado… concordo com os 3 aspectos que vc levantou.

    Ci sentiamo!

  6. Beatriz says:

    Olá Lauro!
    Sempre leio tuas colunas mas comentário de mulher nunca é levado em conta. Me lembro de quando era criança, que meu pai pedia para eu parar de falar de carros pois era coisa de menino e ficaria feio pra mim. E confesso não acompanhar muito este mundo de F1, mas sempre que posso, assisto!

  7. Lauro says:

    Olá Beatriz!

    Fico agradecido por você sempre ler nossas colunas. Mas quem lhe falou que comentário de mulher não é levado em conta? De minha parte, sinta-se absolutamente livre para comentar, criticar, perguntar, etc. Há blogs apenas de Fórmula 1 que foram criados por mulheres fãs do esporte.
    E, pelo que senti até agora, o Guilherme tem um espaço democrático e de alto nível, com leitores que se respeitam, e tenho certeza que assim continuará.
    Obrigado por nos prestigiar sempre!
    Até mais.

  8. Lucas Brunckhorst says:

    Párabens pela matéria Lauro!
    Como já dito anteriormente, a “mistura” dos fatos com opiniões e palpites deixa a mesma interessantíssima. Tornando-se em algo que realmente dê gosto de ler!

    Continue assim!
    Párabens!

  9. RTP says:

    Olá Lauro.
    Concordo com o amigo Eduardo, e acho que faço parte desse grupo que não entende mt de F1. Gosto do esporte. Passei a me interessar mais a pouco tempo. Mas de história não sei mt coisa. Tenho lido suas matérias e tenho certeza de que estão sensacionais. Para mim (que não sei mt sobre F1 mas me interesso), esta sendo mt legal ler e aprender em um espaço como o NT.
    Abraços…e que venham mais… Boa semana a tds.

  10. Lauro says:

    Ao Lucas
    Obrigado pelos comentários e pelo prestígio. A minha responsabilidade aumenta a cada coluna, mas que bom que seja assim.

    Ao RTP
    Obrigado pelos elogios também. E, no que depender de mim, pode perguntar, criticar, dar pitacos, sem problema. Valeu o interesse em nosso trabalho.

    Abraços.

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