Dinastia Benz


Um-dois de novo, mais fácil para Hamilton que para Rosberg, e a companhia de Fernando Alonso no pódio. Na China, a rotina de vitórias do time alemão não teve a mesma emoção, mas segue dominante.

A mesma coisa, um pouco mudada.

Não bastasse assombrar o GP do Bahrein com um domínio muito amplo, a Mercedes também dominou os testes pós GP que aconteceram no mesmo circuito, e com a presença das demais equipes. Os alemães da equipe prateada acham que podem melhorar ainda mais o carro, para desespero total da concorrência.

Mas a Fórmula 1 é dinâmica e quem corre atrás hoje quer logo dar um jeito de ser seguida em pouco tempo. A Ferrari e a Williams mexeram na aerodinâmica de seus carros e obtiveram alguma evolução sim, que comprovaram nos treinos livres do autódromo chinês. Só que no caso da Ferrari, as mudanças foram também extra pista, mais exatamente no comando da equipe. A pressão por resultados, que se traduzem mais diretamente na premissa de não passar vergonha na pista como aconteceu no circuito de Sakhir, fizeram com que Stéfano Domenicalli pedisse o boné e saísse de cena, mais exatamente, do muro do pit-lane. Em seu lugar foi promovido um homem de negócios da equipe, Marco Mattiacci, responsável por operações da empresa na América do Norte. É preciso acompanhar mais de perto o desenrolar desta mudança no comando, visto que foi Domenicalli o responsável pela contratação de Kimi Raikkonen, e este estava sendo ironizado por Fernando Alonso, que se referiu várias vezes ao finlandês como “o salvador da pátria”. A briga tá maior nos bastidores que na pista no time de Maranello.

Coincidência ou não, foi de Alonso o melhor tempo na primeira sessão de treinos livres da sexta-feira. Na segunda sessão, no mesmo dia, ele ficou em segundo, só que muito próximo de Hamilton, e já demonstrando certa consistência. No sábado, já com pista úmida, foi a vez da Williams de Felipe Massa mostrar que a “síndrome de Cascão” ficou para trás e o carro branco já anda no molhado sem medo.

Alonso reaparecendo no noticiário.

Alonso reaparecendo no noticiário.

A chuva tomou conta do treino oficial, porém, nada que tirasse de Lewis Hamilton mais uma conquista.

Lembram do acidente entre Maldonado e Gutiérrez? Pois aquela trapalhada rendeu ao venezuelano uma punição de cinco posições no grid deste domingo. Maldonado então queria mesmo ter certeza de que largaria em último na China, batendo o recorde de trapalhadas nas sessões livres a ficando sem carro para o treino oficial. Coincidentemente, Gutiérrez também foi um dos que ficaram no Q1, junto com os “quarteto fantástico” Kobayashi, Bianchi, Ericsson e Chilton.

Já no Q2, a dura constatação de que a McLaren não vai bem nem com os motores Mercedes. Kevin Magnussen e Jenson Button não conseguiram acompanhar os mais velozes e não fizeram por onde passar para o Q3. Button foi o décimo segundo e Magnussen foi apenas o décimo quinto, a frente de Sergio Pérez, que saiu do pódio no Bahrein para o décimo sexto lugar na largada do GP da China. Adrian Sutil e Daniil Kvyat também caíram, mas quem mais surpreendeu foi Kimi Raikkonen, que tomou mais de um segundo de diferença de Alonso no Q2 e teve de se contentar com um discretíssimo décimo primeiro lugar.

Agora, surpresa mesmo foi o bom resultado de Romain Grosjean, que com a ainda problemática Lotus, passou para o Q3 onde ficou com a décima posição. E olha que o francês, ou franco-suíço, já tinha sido o terceiro mais veloz na terceira sessão livre, quando seu companheiro Maldonado, apesar das “barbeiragens”, tinha andado bem também, em sexto. Outro francês, Jean-Éric Vèrgne, da Toro Rosso, andou forte e ficou com a nona posição, atrás de Nico Hülkenberg.

Os dois pilotos da Williams ficaram juntos de novo, em sexto e sétimo lugares, de novo com Massa na frente de Bottas, ainda que por 0.135s apenas. Na frente deles, Alonso, disposto a incomodar os demais em solo chinês, perdendo somente para os carros de Mercedes e Red Bull.

E, se por um lado Hamilton teve vida fácil, o mesmo não se pode dizer de Rosberg, que confessou ter tido alguns problemas e não conseguiu superar os dois carros da Red Bull, ficando longe de Hamilton. Já os touros estiveram mais enfezados do que nunca no Q3, e ficaram na segunda e terceira posições do grid. Ah, Ricciardo na frente de Vettel, de novo.

Esbarros na saída

Passaram um pano seco na pista e os pneus com ranhuras cederam espaço para os slicks, o que poderia ser um excelente sinal para Massa caso o brasileiro conseguisse repetir a estupenda largada de quinze dias atrás. E Massa bem que tentou, conseguindo superar Rosberg, mas levou um toque forte de Alonso, sem prejuízo aparente para nenhum deles, apenas inibindo uma largada que poderia ter sido melhor. Rosberg, além de ter sido superado por Massa e Alonso, também tocou em Bottas e o finlandês, por pouco, não deu uma bela escapada. Ambos perderam mais posições. Enquanto isso, lá na frente, Vettel tomou o segundo lugar de Ricciardo e o australiano foi também ultrapassado por Alonso.

"Oi, ex-companheiro, você por aqui?"

“Oi, ex-companheiro, você por aqui?”

A corrida passou pelas primeiras voltas vendo o início da recuperação de Rosberg, que se recuperou sobre Hülkenberg e Massa.

Button foi quem inaugurou a primeira rodada de pit-stops, já na oitava volta. Grosjean, que se segurava bravamente em nono, fez o mesmo em seguida. E Rosberg continuava “remando” (mesmo sem a chuva) e chegou junto de Ricciardo, enquanto Hülkenberg atacava Massa e trazia com ele Valtteri Bottas, já bem posicionado de novo.

Equipes trabalhando, e quando Felipe Massa foi para sua primeira parada, problemas e mais
problemas. A equipe trocou os pneus erroneamente e parece ter detectado que o “encostão” com Alonso não foi tão inofensivo como pareceu de início. Com a parada desastrosa, Massa voltou em último e viu ruir ali a possibilidade de somar pontos.

Entre mortos e feridos depois das primeiras paradas, Alonso apareceu na frente de Vettel, e Hamilton seguia tranquilo, tranquilo, andando com segurança e abrindo sempre. E o Kekinho, por onde andava?

Rosberg ia fazendo o seu para a Mercedes conquistar mais uma dobradinha e foi pra cima de Vettel, na briga mais emocionante do dia, mas que não chegou nem aos pés da sua briga com Hamilton há duas semanas. Vettel lutou o quanto pode, tentou dar o troco, mas a única coisa que conseguiu foi fazer com que Ricciardo encostasse em ambos. Após perder a posição para Rosberg, Vettel se viu em briga com o companheiro e ouviu da equipe a orientação para que o australiano fosse favorecido. Assim se fez, e Ricciardo foi embora.

Rosberg trabalhou bastante e segue na liderança do mundial.

Rosberg trabalhou bastante e segue na liderança do mundial.

Grosjean, quando ocupava a nona posição, teve de abandonar. Uma pena.

Hamilton passeia e Rosberg corre.

A segunda rodada de pit-stops começou e Alonso estava muito pressionado por Rosberg. O espanhol fez de tudo e segurou o piloto da Mercedes até entrar para sua segunda parada. Na volta seguinte, foi a vez de Rosberg ir para sua segunda parada com direito a uma bela “fritada” no pneu dianteiro esquerdo antes de entrar nos boxes, tudo muito bem demonstrado pela câmera térmica, aquela que mostra a variação de temperatura dos pneus e que voltou a cena neste GP.

Mas a vida do alemão do carro #6 era dura, e Alonso recuperou a posição quando o piloto da Mercedes voltou para a pista. Não se sabia ainda, nesta altura, se o bico novo da Mercedes teria condição de superar o novo jogo de dutos de freio do carro vermelho de Alonso, tudo testado e aprovado nos últimos ensaios coletivos.

Brigas na pista? Poucas. Deu tempo até para listar algumas coisas que poderiam ameaçar a vitória de Hamilton nesta altura da corrida, com dois terços completados: um safety-car, uma chuvinha, um golpe de Maldonado ou uma parada errada nos boxes da McLaren. Mas nada disso aconteceu, tanto que o inglês foi para sua segunda parada e voltou ainda na liderança.

Olhos então atentos para a possível briga pela segunda posição entre Alonso e Rosberg, que ainda poderia render certa emoção. Mas nem esta acrescentou nada a corrida, apenas corroborou que a Mercedes é ainda o carro a ser batido este ano. Rosberg superou Alonso na volta 43 e garantiu a terceira dobradinha em quatro provas. Foram necessárias todas estas voltas para que Rosberg se recuperasse de ter contornado a primeira curva em sétimo lugar e, assim, ter apenas Hamilton a sua frente, mesmo que distante.

Por fim, Ricciardo até tentou ameaçar o pódio de Alonso. A diferença entre ambos chegou a cair para dois segundos apenas mas o espanhol respondeu e fez a diferença subir novamente para mais de cinco segundos.

Lewis Hamilton venceu sem precisar do biscoito da sorte, com calma e com uma tocada irrepreensível mais uma vez, o que o qualifica como grande favorito ao título deste ano. Colocou dezoito segundos sobre Rosberg, sem esforço, apesar dos problemas do companheiro na largada. E, por falar em diferenças, Alonso manteve Raikkonen, oitavo neste domingo, cinquenta e três segundos distante desta vez, praticamente a mesma diferença do treino multiplicada pelo número de voltas do GP. E o Ricciardo então? Quarto colocado com mais de vinte segundos de vantagem sobre Vettel! O australiano é osso duro para o atual tetracampeão e, quem sabe, se a Red Bull estivesse dominando a temporada, não seria o sorridente piloto do carro #3 o líder do mundial? Já pensou?

Hülkenberg, o constante, foi o sexto, seguido de Bottas. Sergio Pérez conseguiu entrar na zona de pontos com o nono lugar e Daniil Kvyat, o guri soviético, fechou o grupo de pontuadores do domingo, já com uma volta atrás do vencedor.

A briga na Red Bull está surpreendendo. Culpa do Ricardão.

A briga na Red Bull está surpreendendo. Culpa do Ricardão.

Depois da prova, descobriram que a bandeirada foi dada com duas voltas a menos. Eu sei que a corrida foi monótona, mas não precisava acabar antes do combinado.

Brincadeira, claro, como brincadeira é o que a Mercedes vem fazendo com a concorrência este ano. Suas parceiras de motor, Williams e Force India principalmente, não oferecem risco. A McLaren se perdeu. A Ferrari ainda não é aquilo tudo, e a única equipe que parece (eu disse parece) fazer frente ao time prateado hoje é a até um mês atrás desacreditada Red Bull. Tá fácil para a Mercedes, não?

Palpitando:

– Será que ainda vamos ter a tão esperada briga entre Alonso e Raikkonen este ano, ou a chegada do novo “capo” vai deixar ambos a uma distância segura na pista?;

– A Mercedes tem quase 100 pontos de vantagem sobre a Red Bull na classificação do mundial de construtores. São 97 para ser mais preciso. E nem temos pontuação dobrada ainda.;

– Apesar da superioridade na pista, Daniel Ricciardo ainda está atrás de Sebastian Vettel na classificação do mundial de pilotos. Repare, eu disse “ainda”.

P.S.: Como todos soubemos, o jornalismo, o esporte e a comunicação brasileira perdeu, neste final de semana, a voz de Luciano do Valle. Mais que a voz, o empreendedorismo, a precocidade, a polêmica, a marca. Luciano fez muito pelo esporte deste país, muito mais que governos, muito mais que discurso. Para mim, ele é sinônimo de Fórmula 1, de Piquet, de campeão, pois foi dele a narração do primeiro título mundial do brasileiro, em 1981, a qual mudou minha vida para sempre. Mas foi dele também os impulsos para o vôlei no Maracanã, o campeonato de futebol Senior, a Fórmula Indy, Maguila e Rui Chapéu, Paula e Hortência, entre outros. Para quem teve a responsabilidade de sonorizar e eternizar em nossa memória o esporte brasileiro, Luciano teve uma competência inigualável. Sua perda foi um lançamento no “costado da zaga” da vida.

Até a Espanha!

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

5 Responses

  1. Glauco de F. Pereira says:

    A única esperança de disputa até o final não ser somente entre Hamilton vs. Rosberg é a genialidade de Adrian Newey despontar com alguma solução mágica que faça com que a RedBull volte para a disputa.

    Senão, abraço para o gaiteiro e já manda entregar o título em Brackley, aos cuidados de Niki Lauda, Paddy Lowe e Toto Wolff, até definir quem será o campeão, pois provavelmente o título não ficará em outro local…

    • É Glauco, dizem que a hora que Vettel “se achar” no carro, não terá pra mais ninguém de novo. Mas tem que ser pra ontem, senão, abraço para o gaiteiro mesmo.
      Obrigado pelo comentário, sempre importante.

  2. Fábio Abade says:

    ” “Oi ex-companheiro, você por aqui?” ”

    Melhor legenda de todos os tempos!!!!!!!!

    KKKKkkkKKKK

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