Fórmula 1 – Por um bico de vantagem

Webber voa suavemente em Silvertsone, mostra que o grave acidente de Valência já é passado, ironiza a própria vitória e esquenta o clima com Vettel diante da polêmica criada pela própria Red Bull.

Red Bull não lhe dá asas, ao menos as novas

Decisões de uma equipe de Fórmula 1 tem que ser respeitadas sempre, mas há de se tentar evitar polêmicas, principalmente quando se é uma das favoritas ao título. A Red Bull, assim como quase todas as equipes, trouxe para os treinos um novo pacote aerodinâmico. Entre as mudanças, uma nova asa dianteira que foram montadas nos carros de cada um de seus pilotos. Mas Vettel quebrou o brinquedo novo e a direção da equipe resolveu dar o bico novo e intacto de Webber para Vettel com a justificativa de que o alemão estava melhor posicionado no campeonato. Como os Red Bull estavam sobrando em Silverstone, ficava claro que assim Vettel faria a pole e Webber seria segundo. Dito e feito, mas Webber não gostou nenhum pouco de ter sido preterido. E por falar em polêmica, lá na ponta de trás do grid, a Hispania dispensou Bruno Senna de correr na Inglaterra e colocou em seu lugar o piloto de testes Sakon Yamamoto. Pouco importa se o motivo foi necessidade financeira ou uma represália aos comentários que Senna tem feito sobre o carro. Os repórteres do “The Sun” ficaram atentos.

Começo agitado e um Vettel descontrolado

Com a pista modificada em relação aos anos anteriores, o apagar das luzes vermelhas mostrou que Webber era sim páreo para Vettel e o australiano pulou na frente do alemão, que teve ainda um toque com Hamilton na briga pelo segundo lugar. Vettel conseguiu controlar o carro mesmo com um dos pneus furados, mas acabou fora da pista e precisou de praticamente uma volta inteira para voltar aos boxes. E voltou acelerando muito, mas era muito difícil uma recuperação. O constante Kubica também fez ótima largada e pulou para terceiro, seguido de Rosberg e Alonso. A largada agitada mostrava Barrichello em sexto, seguido de Schumacher e Button. O inglês havia sido apenas décimo quarto nos treinos e tentava uma corrida de recuperação, bem iniciada, diga-se de passagem. Enquanto Webber e Hamilton abriam, uma fila de carros do terceiro ao nono vinha separada por apenas 5 segundos. Vettel, depois da largada desastrosa, já aparecia na mesma tomada de câmera dos líderes, mas era para tomar uma volta dos mesmos.

Alonso então força a ultrapassagem sobre Kubica e, expremido, corta uma curva de baixa e sai na frente do polonês. Preocupado com os últimos incidentes envolvendo o regulamento, Alonso imediatamente pergunta aos boxes se a manobra para ganhar a quinta posição foi legal. Porém, antes do veredito dos comissários, Kubica abandonava sua excelente corrida com problemas na transmissão. Neste momento, quem se destacava na prova era Button. O então vice-líder do mundial retardou a parada para troca de pneus e, quando voltou à pista já era o sexto colocado.

O Safety-car aparece e, de novo, Alonso desaparece

As polêmicas envolvendo as regras do safety-car também deram o que falar em Silverstone. Depois de um toque com a Force India de Liuzzi, a BMW Sauber de Pedro de La Rosa começou a perder pedaços da asa traseira pela pista e isso provocou a entrada do safety-car para limpeza. E as preocupações de Alonso pela ultrapassagem sobre Kubica eram pertinentes. Pouco antes da entrada do safety-car, o bi-campeão foi punido com um drive-thru e como não tinha mais tempo de cumprir a punição antes da entrada do safety-car, Alonso deu adeus às chances de uma boa colocação na prova. Achei exagerada a punição a Alonso e as circunstâncias da prova aumentaram o prejuízo para o piloto da Ferrari.

Na re-largada, Sutil vinha determinado a melhorar sua posição na prova e ultrapassou Schumacher com direito a tirar um pedacinho da asa do heptacampeão. Conseguiria um bom oitavo lugar ao final da prova. Vettel também entrou na zona de pontos e nas últimas voltas parecia decidido a matar ou morrer por uma melhor colocação. E tudo funcionava bem para o alemão até encontrar justamente Sutil pela frente. Vettel brigou e literalmente arrancou a ultrapassagem na penúltima volta para marcar mais alguns pontos.

Os súditos e a realeza

Meros mortais ao final do GP inglês, Schumacher e Massa foram meros coadjuvantes neste domingo. Alonso, mesmo chegando atrás de Massa em uma apagada décima quinta posição por causa de um pneu furado nas últimas voltas, foi muito mais combativo e levou um prêmio de consolação com a melhor volta da prova.

Amigos da realeza, destaques para Rosberg, que voltou ao pódium depois de várias corridas. Para Barrichello, com um excelente quinto lugar depois de ter largado em oitavo, assim como para Hamilton e sua persistência em acompanhar Webber, mesmo tendo um McLaren mais limitado que o australiano. Mas na minha opinião foi Button o grande rei de Silvertone mesmo com o quarto lugar. Os pontos conquistados por ele correndo em casa, especialmente depois de ter largado muito atrás, fazem do atual campeão um piloto a ser muito respeitado na luta pelo título.

E, claro, Webber também merece destaque. Não apenas pela sua vitória, facilitada pela saída prematura de Vettel da disputa, mas pelo recado dado à equipe em tom irônico pelo rádio, após cruzar a linha de chegada. Parabenizado, Webber soltou ao vivo um “nada mal para um segundo piloto”, mostrando todo seu descontentamento com a equipe no caso das asas dianteiras no sábado. Se critérios forem respeitados, Webber deve ter agora a preferência da equipe, nada mais justo para quem é o piloto que mais venceu em 2010 até o momento. Parece que a Red Bull ainda vai ter mais incidentes entre seus pilotos como na Turquia neste ano, o que pode significar para os ingleses da McLaren vários “thanks guys”.