Saída à australiana


Webber, enfim, venceu a sua na temporada, contando com um “pequeno problema” de Vettel, mas foi Button quem se sagrou vice-campeão, como era esperado. E a lona se fechou pela última vez neste ano.

Homenagens e mais homenagens

A chegada da Fórmula 1 à São Paulo foi um verdadeiro festival de homenagens aos pilotos brasileiros. Ayrton Senna foi homenageado pelos vinte anos do tricampeonato por Barrichello e por Hamilton, que mudaram a pintura de seus capacetes por este motivo. No caso de Barrichello, a homenagem também foi ao designer Sid Mosca, falecido neste ano, e que foi o responsável pela pintura do casco de grandes campeões. Bruno Senna também fez questão de lembrar o tio e suas conquistas. Massa também foi homenageado pelos 10 anos de carreira e pela 100ª corrida pela Ferrari.

Clima de festa serve pra isso. Massa e Hamilton zeram as disputas, pelo menos até março

Mas a maior homenagem do dia foi para os trinta anos do primeiro título mundial de Nelson Piquet, com direito a toda irreverência do tricampeão dos anos 80. A bordo do mesmo Brabham BT49 de 1981, o macacão com patrocínios da época, o mesmo capacete, alguns dos mesmos mecânicos daqueles tempos, tudo isto remeteu os fãs a uma época que muitos dos presentes não viveram e só conheciam por filmes e fotos antigas. E o toque irreverente do grande Nelson foi, durante as voltas que deram, sacar uma bandeira de seu clube do coração, o Vasco da Gama, em pleno autódromo paulista e em clima de decisão no futebol brasileiro com o Corinthians. No carro, com as trocas de marcha ainda na alavanca, o capacete ficava para fora do cockpit e os pés do piloto quase na mesma direção do aerofólio dianteiro. Dentro dele, o maior ídolo deste que vos escreve, a quem o esporte a motor do Brasil deve muito.

Piquet foi homenageado e andou em seu Brabham de 1981

Mas o treino oficial foi o habitual, com pequenas exceções. A primeira delas foi a Hispania, aquela equipe que mostrou um projeto de carro feito para andar na ponta, no caso, a ponta dos fundos do grid. Conseguiu a proeza de colocar seus dois carros, de Liuzzi e Ricciardo, à frente dos carros da Marussia Virgin, pela primeira vez no ano. Barrichello foi outra exceção, conseguindo colocar a fraca Williams de 2011 em um ótimo 12º lugar no grid, dadas as limitações do carro. Quem também teve um ótimo desempenho foi Bruno Senna, colocando a Lotus Renault em nono, logo atrás de Sutil e sua Force India. Schumacher conseguiu entrar para o Q3 mas preferiu não fazer volta e se contentar com a décima posição.

Vettel, que já havia igualado o recorde de 14 poles na mesma temporada do inglês Nigel Mansell, deixou Button, Hamilton, e até seu companheiro Webber sentirem a possibilidade da pole nos treinos livres, e até no Q1 e Q2, mas que quando foi pra valer, Vettel se isolou em mais um recorde na carreira, obtendo a 15ª pole no ano, a 30ª na carreira. Seu companheiro Webber dividiu com ele a primeira fila, deixando os dois McLaren de Button e Hamilton logo atrás. Alonso fez o que pode e abriu a terceira fila, só que ao invés de Massa, era Rosberg quem estava ao seu lado, pois o brasileiro não passou da sétima posição.

Surpresas seriam possíveis se viesse a chuva prometida para o treino oficial. Ela não chegou, então todos esperaram que ela viesse no domingo, sem falta.

Na seca

Da chuva mesmo, só vieram as nuvens. Com isso, Vettel largou bem e deixou Webber e Button brigarem mais atrás. Alonso ganhou a posição de Hamilton logo na descida do “S” do Senna, enquanto Schumacher abria caminho no meio do grid. Quem largou muito mal foi Barrichello, que foi parar na vigésima posição depois de uma escolha errada da relação de marchas visando a chuva que não veio, e o brasileiro acabou perdendo todo o trabalho do sábado em alguns metros.

A largada, desta vez, não teve toques

Aos poucos os carros iam se assentando na pista e Alonso já apertava Button, enquanto Schumacher chegou em Senna e tentou ganhar a posição do brasileiro ao final da reta dos boxes. Os carros se tocaram duas vezes. A primeira quando Schumacher deu uma pequena guinada para tentar forçar a freada de Senna, o que não aconteceu, e a segunda quando Senna tocou, de leve, na roda traseira esquerda da Mercedes do heptacampeão do mundo. Senna ficou com o bico avariado enquanto Schumacher teve um pneu furado, ambos tendo suas corridas comprometidas. Senna ainda levou, injustamente em minha opinião, um drive-thru, por ter sido considerado responsável pela manobra que praticamente tirou Schumacher da prova.

O momento mais empolgante da prova aconteceu quando Alonso pressionava Button e fez uma ultrapassagem por fora, na subida do Laranjinha, um lugar praticamente impossível de alguém ultrapassar. Ao que parece, Button não quis brigar com Alonso naquele momento da prova e foi o primeiro a ir aos boxes, enquanto Vettel começava a polêmica da prova. Pelo rádio, o bicampeão era advertido pela equipe para poupar a 1ª e 2ª marchas para não ficar sem carro no final da prova. A polêmica veio quando Vettel, depois de ser ultrapassado por Webber, começou a virar no mesmo ritmo do australiano, o que levantou a suspeita de que o problema no câmbio não era tão grave assim.

Quem não conseguiu disfarçar os problemas foi a Marussia Virgin de Glock, que na saída do pit-stop teve uma roda solta, numa clara demonstração que a Hispania realmente pode surpreender ano que vem e perder a ponta dos fundos do grid.

Pelo menos aqui, cadeiras para todos, o que não deve acontecer com cockpits para o ano que vem

Mais uma rodada de pit-stops e é a vez de Button atacar Massa, o único que se mantinha por mais tempo na pista tentando fazer uma parada a menos que os demais e até se aproveitar da chuva, que ameaçou, ameaçou, mas não caiu. Button deixou Massa para trás, ou melhor, para Hamilton, e o torcedor já esperava mais uma briga cheia de lances entre os protagonistas da maior rivalidade do ano. Até voltaram de suas paradas para troca de pneus juntos, mas Hamilton foi obrigado a abandonar a prova com problemas no câmbio, de verdade. Assim, Sutil e Rosberg, que fizeram ótimas corridas com direito a troca de posições entre ambos. Empurrados pelo motor Mercedes presente nos dois carros, ambos herdaram a posição de Hamilton, com vantagem para Sutil ao final da prova. Duas posições atrás, chegou seu companheiro Paul Di Resta, em oitavo, deixando claro que a Force India pode sim brigar mais na frente em 2012.

Webber e Vettel fizeram apenas a terceira dobradinha na temporada

Webber e Vettel na frente, Alonso em terceiro. Foi então que Button voltou de sua última parada e recebeu pelo rádio a informação que Alonso estava na alça de mira e que deveria fazer voltas de treino. Missão dada é missão cumprida, e Button ganhou a posição de Alonso para consolidar com toda justiça o vice-campeonato de 2011.

Parece que faltou algo

Sem mais surpresas e com poucas ultrapassagens, o GP do Brasil deste ano viu a vitória de Webber, sua primeira na temporada, mas que não foi suficiente nem para chegar ao terceiro lugar no mundial de pilotos. Nem mesmo a “miguelada” de Vettel ajudou. Webber fez também a melhor volta da prova. Massa foi apenas o quinto pela sexta vez na temporada em que fechou sem subir ao pódium.

Button não achou tão importante, mas foi vice merecidamente

Eu esperava mais da corrida em si, mas foi natural ver a dobradinha da Red Bull com a McLaren de Button (já que Hamilton abandonou) e os Ferrari de Alonso e Massa nas primeiras posições. A decisão equivocada da direção de prova, de liberar a asa móvel apenas na reta oposta, diminuiu muito as disputas e deixou uma sensação de que o campeonato não foi tão emocionante, o que não é verdade.

As colunas das corridas de 2011 ficam por aqui. Foram ao todo 19, acompanhando a temporada mais longa de todos os tempos. Usei quase todo meu caderninho azul, onde fiz as anotações mais importantes, às vezes, totalmente ilegíveis depois de alguns minutos. Eu prometo voltar ainda com um balanço do ano, as perspectivas para 2012, a dança dos cockpits, os números finais de uma temporada que teve inúmeras ultrapassagens, milhares de pit-stops, recordes quebrados e mais alguns leitores conquistados com este espaço da velocidade dentro deste blog que cresce sem parar.

A gente se vê ainda este ano.
Um grande abraço!

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

2 Responses

  1. Fábio A. says:

    Mais um ótimo e envolvent texto Lauro!!

    Só discordo na sua colocação sobre o caso Senna ve Schumacher!

    Reví diversas vezes as cenas e não consegui ver onde o Bruno Senna tenha acertado (além do Schumacher, rsrs)… Ele errou tudo… E prejudicou o Véinho !!

    Mas ele ainda aprende!!

    Legal saber que o Piquet é mais idolo para você do que o Senna, o Ayrton lógico!!

    Eu também sou muito fã dele e ele sempre será o número 3 da minha lista !! Enquanto o Senna está lá perto do 10º lugar, hehehehehe

    Vamos ver agora a classificação do Bolão, os ganhadores e os prêmios!!

    E aguardo também seu artigo de encerramento da temporada!!

    Grande abraço!!

    Vamo que vamo!!

  2. Alexandre Pinho says:

    Que venha a próxima temporada!

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