Um inédito começo seis em seis


Webber herda a pole de Schumacher, segura um pelotão de carros colados nele nas últimas voltas e se torna o sexto vencedor diferente nas seis primeiras etapas da temporada, que entra definitivamente para a história como a de início mais equilibrado de todos os tempos.

O gigante despertou, mas não levou.

Que Mônaco é o circuito da Fórmula 1 onde a concentração é mais exigida, isto todo mundo sabe. Que os erros são pagos com um preço muito alto, também. Ou seja, Mônaco é para quem sabe, e muito.

Prova disso foi que Alonso colocou a Ferrari na ponta logo no treino da quinta-feira, mostrando a boa evolução da Ferrari depois dos testes de Mugello. Massa também andou muito bem, ficando sempre nas primeiras posições, e se sentindo mais confortável com o carro pela primeira vez na temporada. Button andou bem na quinta também, no segundo treino livre, mas foi antes da chuva e ficou incógnito se realmente a McLaren estava tão bem preparada para prova.

No terceiro treino livre, algum entrevero entre os novatos Perez e Maldonado custou ao piloto venezuelano dez posições no grid. Talvez o choque em Perez também tenha afetado, ainda que pouco, a suspensão dianteira do mexicano, que resultaria em um problema no treino oficial, isto porque, logo no início do Q1, Perez não conseguiu contornar a entrada do “S da Piscina” do circuito de Mônaco e acertou o guard-rail, deixando o treino prematuramente e comprometendo toda sua corrida.

E por que a Fórmula 1 está diferente? O exemplo veio com Hulkenberg, da Force India, que fechou o Q1 com o melhor tempo usando os compostos supermacios. No Q2 foi a vez de Felipe Massa conseguir o melhor tempo, e pela primeira vez no ano conseguir passar para o Q3. Com carros mais competitivos mas longe do desempenho ideal, Jenson Button e Bruno Senna ficaram muito distantes de seus parceiros Hamilton e Maldonado e acabaram, respectivamente, com a décima terceira e décima quarta posições apenas. Quem deu trabalho também no Q2 foram os dois carros da Lotus, de Raikkonen e Grosjean, que só foram para o Q3 nos segundos finais da segunda etapa de classificação.

Vettel também sofreu para colocar o carro no Q3, tanto que nem foi pra pista na disputa pela pole para economizar pneus para a corrida. Maldonado fazia de tudo para ficar o mais na frente possível já que perderia posições, e tratou logo de fazer o melhor tempo. Grosjean resolveu andar e pulou para a ponta, mas Rosberg foi ainda mais rápido e tinha a pole provisória. Faltava pouco tempo para o treino acabar e os carros da Ferrari não conseguiram repetir os bons treinos anteriores e ficaram no meio do primeiro pelotão, com Alonso em quinto e Massa em sexto.

Webber então aparece voando na pista e crava o melhor tempo, surpreendendo muita gente, mas falamos no começo da coluna que a experiência em Mônaco era fundamental, certo? Com o carro bem equilibrado, Schumacher voltou a cravar o melhor tempo em um treino oficial e, não fosse a punição que tomou de cinco posições no grid por ter sido considerado culpado no acidente com Bruno Senna em Barcelona, faria mais uma pole, ele que é o recordista neste (e em quase todos) quesitos da categoria. Com a punição, Schumacher se posicionou entre Alonso e Massa, em sexto lugar no grid.

Se um não quer, cinco não passam

Depois de um começo ruim de campeonato, Grosjean se recuperou nas últimas três provas, chegou a fazer pódium, mas teve uma recaída antes da primeira curva. Tocou em Alonso, apertou e trocou tinta com Schumacher, rodou perigosamente e teve que abandonar a prova. Quase todos se safaram das conseqüências da batida, mas Kobayashi, Maldonado e De La Rosa acabaram por ali suas corridas, sendo que Maldonado chegou a bater no carro de De La Rosa.

Por aí não Grosjean. A rodada poderia ter consequências mais sérias, mas foi só um susto.

Nesta corrida de Mônaco, já é tradição alguns pilotos homenagearem ex-pilotos ou acontecimentos em seus capacetes. Por exemplo, Raikkonen homenageou seu ídolo James Hunt, campão de 1976. Jean Eric Vergné prestou homenagem ao compatriota Jean Alesi, enquanto Alonso tinha uma pintura dourada com vários números, em homenagem aos cassinos locais. Pérez também personalizou seu capacete com a figura do personagem Chapolin, em homenagem ao seu criador Bolaños, mas quem chamava atenção mesmo era o capacete vermelho de Heikki Kovalainen, da Caterham. Embora o finlandês já venha usando este capacete há algumas provas, a pintura da cabeça de um pássaro com cara de poucos amigos, personagem de um game, nunca foi tão mostrada como hoje, e andando a frente de Button.

Não se pode dizer que Kobayashi não voou em Mônaco.

Com pista livre, Webber tentava se distanciar de Rosberg e Hamilton, enquanto seu companheiro Vettel já aparecia atrás dos carros da Ferrari, com Massa empurrando Alonso na briga pela quinta posição. A distância entre eles era de um segundo em média. A medida que os pneus foram se desgastando, Alonso começou a melhorar o desempenho e chegou a fazer a volta mais rápida da prova. E falando em volta rápida, quem também voava na pista era Sergio Pérez, que ultrapassava os adversários em locais pouco prováveis, mas o mexicano tinha um longo caminho a percorrer para chegar nos pontos.

Raikkonen vinha mais lento que os ponteiros na sétima posição e segurava Schumacher, Hulkenberg, Senna, Di Resta e Ricciardo. Todo mundo olhava para o céu para saber se a chuva viria ou não, mas os pneus teriam que ser trocados em algum momento, e Rosberg foi o primeiro a parar para troca, voltando em sexto, logo a frente do “trenzinho do Kimi”.

Alonso viu Massa no retrovisor boa parte da corrida, mas não deu chance ao brasileiro.

Nas paradas seguintes, Alonso ganhou a posição de Hamilton e foi pra terceiro. Vettel foi quem mais se segurou na pista, já que tinha largado com os macios, e apostava todas as fichas em uma chuva que ameaçava muito, mas não caía. Os pneus macios desgastados de Vettel, naquela altura da prova, rendiam mais que os supermacios dos adversários e assim o bicampeão conseguia abrir de Webber.

Raikkonen quase teve a corrida encerrada prematuramente quando disputava posição com Hulkenberg e viu Sergio Pérez lhe cortar a frente para entrar nos boxes para sua parada. Os carros quase se tocaram e Raikkonen perdeu a posição para Hulkenberg. Perez, “por não ter sinalizado com seta que iria entrar nos boxes”, foi punido com um drive-thru, encerrando suas chances de chegar aos pontos.

Vettel se segurava o quanto podia, mas os pneus não rendiam mais como antes e o atual bicampeão do mundo fez sua parada voltando na quarta posição. Ainda faltavam 30 voltas e Webber, Rosberg, Alonso Vettel, Hamilton e Massa estavam separados por apenas três segundos e meio, sendo que Vettel tinha os pneus mais rápidos.

E Button, alguém viu? O inglês vagava pelas ruas do principado, tão lento, que conseguiu voltar atrás de Kovalainen depois de sua parada para troca de pneus.

Recorde batido

Alternando momentos de aproximação e distanciamento, os seis primeiros seguiram assim até o final da prova, sempre aguardando que a chuva pudesse chegar de vez. Nem mesmo a aproximação dos líderes nos retardatários Button, Pérez e Kovalainen, que se enroscavam pela frente (Button até abandonou na seqüência), mudou alguma coisa na ordem do sexteto. Jean Eric “Alesi” Vergné aparecia em oitavo e ganhou posição de Schumacher, que assim como Button, também acabou abandonando no final. Vergné, aliás, foi o único a colocar pneus intermediários, mas a tentativa foi em vão e fez com que o francês saísse da zona de pontos. Melhor para a Force India, que colocou Di Resta e Hulkenberg em sétimo e oitavo lugares respectivamente, para Raikkonen, que beliscou mais dois pontos, e para Bruno Senna, que mesmo desapontado com a estratégia da equipe, conseguiu mais um ponto no mundial.

Mais com jeito do que com força, Webber dominou o domingo e venceu de ponta-a-ponta.

Massa, enfim, fez uma boa corrida, consistente, mas não pode se dar por satisfeito já que a Ferrari pediu-lhe (leia-se ordenou-o) a ajudar a equipe ao longo do campeonato. Desta vez, Vettel e Hamilton ainda chegaram entre o brasileiro e Alonso. Rosberg é quem vem fazendo uma excelente temporada e, assim como acontece com Hamilton na McLaren, está bastante a frente de seu companheiro de Mercedes, Schumacher.

Kovalainen e Pérez brigaram muito durante a corrida. Desta vez, o Chapolin foi derrotado.

Foi um motivado Webber que deu a segunda vitória na temporada para a Red Bull, e a sexta etapa do ano teve a vitória de um sexto piloto diferente, o que muitos torciam, quebrando portanto um recorde histórico que durava desde a estréia da categoria em 1950. Button, Alonso, Rosberg, Vettel, Maldonado e agora Webber já subiram no lugar mais alto do pódium. Hamilton e Raikkonen devem vencer, assim como Grosjean e também Massa já podem começar a sonhar com vitória, lembrando que vamos ter pistas de alta, de baixa, noturnas e, muito provavelmente, molhadas pela frente.

Kimi ficou devendo, já que era apontado como um dos favoritos. Schumacher também não fez a corrida que queria, ainda.

A liderança do campeonato com 30% das provas realizadas é isolada e pertence a Fernando Alonso com 76 pontos, três a mais que Vettel e Webber, que dividem a segunda colocação. Hamilton tem 63, Rosberg 59 e Raikkonen 51 pontos, fechando os seis primeiros do mundial, separados pelos 25 pontos de uma vitória. Destes, Hamilton e Raikkonen, como já dissemos, ainda não tem vitórias. No campeonato de construtores, liderança isolada da Red Bull com 146 pontos, 38 pontos a frente da McLaren. A Ferrari tem 86 e a Mercedes 61, quase todos de Rosberg.

É interessante notar que a Red Bull e a Ferrari, que lideram o campeonato de pilotos, não tem uma supremacia nítida em relação às demais equipes. Alonso e Vettel fizeram a diferença, e Webber, como quem não quer nada, fechou quatro quartos lugares e uma vitória até aqui, também se inserindo como um dos favoritos ao campeonato. A McLaren é a equipe que parece ter estacionado um pouco e Button não se acerta mais com o carro como era no início do mundial. Vamos ver como se comporta no Canadá, onde sempre andou bem e venceu de maneira fantástica ano passado.

Quem será o primeiro a vencer duas vezes no mundial? Vamos ter um sétimo vencedor diferente na sétima etapa?

A certeza é que vamos acompanhar de perto.

Até lá e um abraço.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

5 Responses

  1. Rene Arnoux says:

    Agora eu entendi o significado de GP em Mônaco. GP “Grande Parada”, porque neste circuito não há corrida e sim um desfile dos bólidos. Em minha modesta opinião, ou Mônaco altera o circuito possibilitando uma disputa por posições ou a FIA deveria cancelar esta prova. É monótono demais, vc fica esperando um acidente ou uma chuva ou alguém errar na troca de pneus para haver alterações nas posições. Isso não é corrida de F1, que diferença para Espanha. C’est la Vie. Au revoir.

  2. Grande Rene Arnoux!
    É complicado falar de Mônaco porque o circuito é extremamente desafiador, ainda que hoje em dia os erros dos pilotos sejam cada vez menores.
    No passado, existiam as quebras de motor, que também davam outro panorama para a prova.
    No meu entender, a própria FIA,na busca pela segurança dos pilotos, ficou severa demais em seus critérios para atibuir culpa por esta ou aquela manobra. Especificamente em Mônaco, ninguém quer se arriscar, ou para não bater ou para não ser punido. Aí, concordo, fica complicado não associar o GP monegasco a um desfile. Pontos de ultrapassagem? A freada do túnel é uma, mas com freios de eficiência sobrenatural como estes, frear depois significa passar reto, como vimos algumas vezes ontem.
    É complicado, mas considerando-se que é apenas uma vez por ano, acho que pode ficar.
    Um abraço e obrigado pelos seus sempre ótimos comentários.

  3. Fábio Abade says:

    Mais um excelente texto Laurão !!

    Discordei, discordo e vou para sempre discordar da punição ao Schumacher… o Bruno Senna que foi barbeiro demais…

    Rene Arnoux, o grande extase de Monaco fica 100% para o piloto, que pilota lambendo os guard-rails!! Para nós só resta contemplar os bons acertos de equipe!!

    E que venha o Canadá…

    Grande abraço!

    Vamo que Vamo!!

  4. Rene Arnoux says:

    Fabio, para alguns pilotos pode ate ser emocionante, mas acredito se fizessem uma pesquisa a maioria iria preferir pular esta etapa, Monaco. No passado ja houve ate protestos velados dos pilotos. Enfim, o Canada, circuito de verdade. Abs.

  5. Fábio Abade says:

    Pode ser Rene !! Pode ser…

    Mas aí esses pilotos deveriam estar em casa, brincando de boneca… HAHAHAHA

    Abraço !!

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