O sapato pode ser a pedra no caminho

Os testes deste ano serviram para demonstrar equilíbrio e incertezas quanto aos pneus e suas novas formulações, o que pode resultar em outro campeonato inesquecível.

A pré-temporada começou há pouco mais de um mês atrás, no circuito de Jerez de La Frontera, e depois seguiu para o circuito de Barcelona, ambos na Espanha, para que as equipes chegassem afiadas no próximo domingo, dia 17 de março, na abertura da temporada na Austrália. Depois de ler bastante sobre o assunto, o que concluo é o seguinte:

1º Ato – Treinos de Jerez:

Primeiros carros da temporada indo para a pista, algumas equipes inclusive testando com carros híbridos 2012/2013 como foi o caso da Williams, e muitas quebras e escapadas de pista.

Como é mais fácil acertar na loteria do que saber a quantidade de combustível presente em cada carro na pré-temporada, os tempos em si não necessariamente significam grande coisa, mas mostram se o carro é veloz. E o outro dado importante é a quilometragem.

As melhores marcas dos quatro dias de testes foram de Button, Grosjean, Massa e Raikkonen. O que isso significa? Bom, a Lotus sempre esteve entre os quatro melhores tempos dos diferentes dias em Jerez, seja com Grosjean ou com Raikkonen. Já Massa e Button, quando não lideraram, estiveram pouco mais atrás. Vale lembrar que a Ferrari usou o brasileiro e o espanhol Pedro de La Rosa, agora testando para Maranello, nos treinos em Jerez enquanto Alonso alongava um pouco mais as férias.

Em suas estreias pelas novas equipes, tanto Hamilton pela Mercedes quanto Pérez pela McLaren não impressionaram. Hamilton até escapou da pista e avariou o carro prateado, ficando fora de parte do treino no dia em que se sentou pela primeira vez no cockpit da equipe alemã.

Esteban Gutiérrez não fez nada surpreendente com a Sauber, mas foi quem mais andou nesta bateria, com 1.115 km, quase o mesmo que Paul di Resta da Force India, que fez “três voltinhas a menos”.
E a atual campeã? Entre os líderes, sempre, mas sem fazer o melhor tempo, dando pinta, às vezes, de esconder o jogo.

Nesta primeira bateria, Jules Bianchi testava pela Force India e Luiz Razia, minutos após ser anunciado como titular da Marussia, foi para a pista fazer a sua estreia. Para o mundial, Bianchi vai pilotar pela Marussia e Razia ficou a pé por falta de pagamento de algum (ou alguns) de seus patrocinadores.

Em resumo, Red Bull, Lotus, McLaren e Ferrari, nesta ordem, se destacaram. Uma menção honrosa para a ToroRosso e para a Force India.

2º Ato – Treinos de Barcelona I:

Para esta segunda bateria, a Williams já trouxe seu modelo 2013 mas teve que mudar a saída do escapamento. A Caterham também teve um probleminha com o regulamento, mas nada que mudasse sua posição entre as últimas colocadas.

Fernando Alonso voltou ao volante da Ferrari nos três primeiros dos quatro dias de testes e chegou a fazer o melhor tempo em um deles. Massa deu azar, pois no quarto dia choveu e o melhor tempo ficou com Hamilton.

Por falar em Mercedes, foi Rosberg quem abriu o segundo período de treinos na frente e elogiou demais o carro. Hamilton já estava bem mais a vontade, não que o melhor tempo na chuva tenha sido representativo, mas deu pinta de força sim. Button e Pérez oscilaram muito, apesar do mexicano tendo feito o melhor tempo no segundo dia, só que foi em uma volta lançada apenas e de pneus macios.

A Red Bull, na dela, com tempos razoáveis, só ameaçou com Vettel com asegunda marca no dia em que Pérez foi o melhor. De novo, a equipe austríaca dando a impressão de ter cartas na manga.

A Lotus manteve a consistência e ficou sempre entre os primeiros colocados, de novo, tanto com Raikkonen quanto com Grosjean.

E menção honrosa para a Toro Rosso, de novo, e para a Sauber, que apesar de tempos modestos, teve com o rapidíssimo alemão Nico Hülkenberg um momento de brilho com a vice-liderança no terceiro dia de treinos na Cataluña.

3º Ato – Treinos de Barcelona II:

Para a última bateria de testes, a ForceIndia confirmou a contratação de Adrian Sutil, preferindo o alemão ao francês Jules Bianchi que, como dissemos, iria parar na Marussia. E Sutil chegou a andar na frente na manhã em que foi o terceiro do dia, ou seja, já está desenferrujado.

Webber foi quem liderou o primeiro dia, de pneus macios, com Hamilton logo atrás. O inglês estava rasgando elogios ao carro da Mercedes e atestando o que Rosberg já havia sentido durante os testes da semana anterior. E não deu outra; os carros da Mercedes lideraram os dois últimos dias de testes da pré-temporada, uma vez com cada um de seus pilotos. Felipe Massa e Fernado Alonso também foram bem, e ficaram logo atrás dos carros prateados nos derradeiros dias. Massa teve um problema mais sério, chegou a perder uma roda dianteira na reta, mas era treino, inclusive para os mecânicos, então tudo bem´.

A Sauber evoluiu no final, deixando sempre seus dois pilotos entre os seis primeiros, o que parece ser muito bom para uma equipe que trocou seus dois pilotos em relação a última temporada.

Red Bull e Lotus fizeram para o gasto, pois seus carros estão acertados, e bem, para a temporada. E Button, dentro da McLaren, foi muito melhor que Pérez, o que já era de se esperar.

Menção honrosa, de novo, para a ToroRosso e também para a Williams, que com o carro já regulamentado, achou seu lugar no meio do pelotão.

E tem os novos calçados

Se ano passado a expectativa estava concentrada no que o degrau no bico dos carros poderia afetar o desempenho, este ano as atenções estão voltadas aos novos compostos preparados pela fornecedora da categoria.

O brasileiro Lucas di Grassi, piloto de testes da fornecedora de pneus, afirma que a mudança está na preparação do composto, e que isso deixou os mesmos mais moles. E o objetivo era esse mesmo, trazer maior imprevisibilidade ao espetáculo.

Claro que o pneu mais mole gera mais grip, assim, os tempos de volta tendem a ser mais baixos que ano passado. Só que pneu mole em asfalto duro, tanto roda até que acaba, e isso tem deixado os pilotos e engenheiros com um ótimo problema para resolver.

A parte da engenharia tem que projetar um carro com a suspensão mais suave, o downforce tem que ser balanceado para gerar estabilidade e, ao mesmo tempo, não “pesar” sobre os pneus. Em resumo, um carro que precise de uma condução mais suave.

E é exatamente pensando nesta suavidade que surge o nome de Jenson Button e sua McLaren. Os ingleses já demonstraram várias vezes que podem consumir menos pneus que os concorrentes, e o estilo Button vem ao encontro disso. Claro que nomes como os de Alonso, Vettel, Raikkonen e Hamilton tem tudo para brigar por vitórias (se os carros ajudarem evidentemente), mas me parece que o começo da temporada pode ser de Jenson Button.

E vale observar que, se Massa, Webber, Grosjean, Rosberg e Pérez andarem mais que ano passado, a briga pelo pódio será “a faca”. Isso sem contar boas provas que podemos esperar de Hülkenberg, Sutil, Maldonado e dos carros da Toro Rosso, que podem chegar entre os seis, sete primeiros, com certa frequência.

Pois bem amigos, acho que devemos estar preparados para mais uma temporada de fortes emoções e equilíbrio, não necessariamente em número de vencedores diferentes, mas em pontuação e disputa pela classificação de equipes. As respostas começam a ser dadas na próxima semana, no GP de abertura da temporada na Austrália.

Um grande abraço, boa torcida e acompanharemos tudo isso juntos, aqui, no No Trânsito!

Até Melbourne!