Fiz igual a você, papai…


Monotonia, batidas fortes e até interrupção da prova. Nada disso tirou de Nico Rosberg uma vitória de ponta-a-ponta, sem sustos, que papai Keke curtiu bastante.

Poleberg

Treino livre, o próprio nome já diz, faz o que tu queres que a de ser tudo da lei. Tem gente que experimenta inovações, tem gente que sede o carro pra outro piloto, e tem aqueles que passam dos limites. Eu acho que esta é a real razão para que os primeiros treinos livres sejam realizados na quinta-feira que antecede a corrida, e não na sexta, assim dá tempo de consertar os estragos maiores que alguns pilotos podem fazer.

Romain Grosjean conseguiu bater em todos os treinos da quinta-feira e também do sábado pela manhã, mas nada que uma “garibada” não resolvesse e o colocasse nos últimos minutos do Q1 para garantir uma posição melhor no grid. Felipe Massa foi outro que andou batendo nos treinos livres, mas especificamente também no de sábado antes do treino oficial, só que a coisa foi bem mais séria. Uma batida forte, estranha, na freada da Saint Devote, a curva do final da “reta curva” dos boxes. E o brasileiro acabou ficando de fora do treino oficial apesar de todo o esforço da equipe de Maranello em coloca-lo na disputa. Sem participar do Q1, Massa ficou com a última posição do grid.

E parecia que os muros receberiam mais “autógrafos” ao longo do treino oficial, porque a pista estava muito úmida em decorrência das chuvas esparsas do decorrer do período pela capital monegasca como diria a moça do tempo de lá.

Batida de Felipe Massa nos treinos. A mesma cena se repetiria na corrida

Jules Bianchi, da Marússia, nem conseguiu completar a primeira volta já que o motor esfumaçou na subida e já ocasionou a primeira bandeira amarela. Massa, então, descobriu quem largaria ao seu lado. E era a única certeza no momento, já que a pista escorregava muito, mas secava com facilidade. E todo mundo de pneus intermediários.

Cada um que completava a volta diminuía muito o seu tempo e jogava para quem ainda estava na pista a responsabilidade de andar mais rápido. E assim foi até o final dos primeiros vinte minutos, que terminaram com a liderança de Pastor Maldonado, que parecia viver um bom momento no principado, e Sergio Pérez também parecia bem para o final de semana. Dois carros que normalmente passam pelo Q1 acabaram ficando pelo caminho, casos de Paul Di Resta da Force India e Esteban Gutiérrez da Sauber. Isso tudo fez com que Giedo Van Der Garde, da ainda modesta Caterham, pulasse para o Q2 (e iria aprontar mais um pouco).

Já na segunda parte da sessão, as coisas começaram a voltar ao normal e os pneus já passaram a ser os de pista seca. Foi aqui que a Williams voltou ao normal, com Maldonado e Bottas ficando para trás, mas Van Der Garde foi mais rápido que Maldonado e garantiu a décima quinta posição na largada, cinco posições apenas atrás de um quase inalcançável pontinho,e justo em Mônaco… deve ter dado insônia na equipe toda.

Romain Grosjean foi o décimo terceiro, Ricciardo na sua frente, e Hülkenberg foi quem chegou mais perto de ir para o Q3, mas teve que se contentar com a décima primeira posição e a estratégia de largar com pneus mais duros.

Na hora do Q3, a Mercedes apenas confirmou o que já vem fazendo a algumas corridas e durante todo o final de semana. E, de novo, Rosberg cravou a pole, a terceira seguida em seis corridas, a segunda dobradinha do time. Mas não foi tão fácil assim.

Mark Webber é um cara que gosta muito de Mônaco, já venceu por lá e se sente bem com o circuito. Queria a pole e esteve perto dela, mas acabou ficando atrás do companheiro e “muy amigo” Vettel, o mesmo gosto amargo que teve Hamilton, que continua vendo Nico dominando.
As duas primeiras filas definidas, e a terceira com dois postulantes ao título. Raikkonen com a quinta posição e Alonso com a sexta estavam no limite máximo de suas possibilidades para a corrida. Sem surpresas se compararmos com a quarta fila, formada por Pérez e Sutil, ambos com performance muito boa e dando mostras de que poderiam aprontar na corrida. Button e Vèrgne, da ToroRosso, completaram os dez primeiros. Chilton acabou punido e largou em último, mas nada que mudasse a cotação do dólar.

A fila anda

Rosberg só foi ameaçado na largada, limpa por sinal.

Uma largada muito agressiva de Vettel e de Hamilton, mas nenhum dos dois conseguiu tomar a ponta de Rosberg na primeira curva, onde normalmente acontece a perda de algumas peças. Só que o “desmanche” mudou de endereço para algumas curvas a frente, na freada da lenta curva Lowes. E dois dos pilotos que poderiam apresentar algumas surpresas, Maldonado e Van der Garde se enroscaram e já tiveram que reparar a funilaria nos boxes.

Nesta altura, Bianchi já tinha largado dos boxes por problemas com o carro e Massa já se recuperava um pouco. A briga da prova entre os dois McLaren, Hamilton segurava os dois carros da Red Bull e Van der Garde, depois da parada forçada, faz a melhor volta de todos no sexto giro.

Alonso começou a ver Raikkonen escapar e ficou a mercê de Sérgio Pérez, mas foi Button quem passou pelo mexicano e se credenciou para a vaga de Alonso. Quem aumentou a temperatura da prova foi Charles Pic, com a outra Caterham, mas não por fazer algo extraordinário, salvo a sua saída super-rápida do carro que pegava fogo no acesso aos boxes.

E seguiam duas filas indianas separadas e sem muito para comentar.
Webber foi para a troca de pneus, assim como Raikkonen e Alonso foram em seguida. Mas o nome da prova era Paul Di Resta, se recuperando com lindas ultrapassagens e chegando próximo da zona de pontos. Ultrapassou Felipe Massa por fora no final da reta dos boxe, algo absolutamente incomum em Mônaco.

Mônaco, simplesmente espetacular.

Aí aconteceu o acidente com Felipe Massa. Uma batida forte, estranha, na freada da Saint Devote, a curva do final da “reta curva” dos boxes. Eu fiz questão de repetir a frase que escrevi anteriormente sobre o acidente de Massa nos treinos porque a batida foi igualzinha. Uma travada das rodas dianteiras, um encontrão com o guard-rail e o carro deslizando sem controle até encontrar a barreira soft. Só que desta vez doeu e Massa foi atendido pelos fiscais após ter saído sozinho do carro. Foi para o hospital, mas tudo bem com ele, só um susto.

Para remover o carro de Massa, entrou o safety-car e quem ainda não havia feito a parada para a troca foi para os boxes. Dentre os primeiros colocados, a principal mudança nas primeiras posições foi a ida de Hamilton para o quarto lugar, perdendo duas posições para da Red Bull. A Mercedes até fez a parada de ambos os seus pilotos ao mesmo tempo, mas Hamilton admitiu depois não ter sido rápido o suficiente para voltar à frente dos carros azuis.

E aparecerem os inquietos, ainda bem, para darem um pouco mais de graça na prova.

Um deles era o próprio Rosberg, que queria passar até pelo safety-car, reclamando pelo rádio que estava preocupado com o carro, lento nas voltas de bandeira amarela. E assim que a corrida recomeçou, Hamilton também pressionou muito sobre Webber, tentou até na curva que dá acesso a entrada dos boxes, outro lugar improvável, mas Webber segurou.

Adrian Sutil (atrás de Webber) foi o cara da corrida em Mônaco.

Sergio Pérez, em um momento de inspiração, fez uma ultrapassagem arrojada sobre o companheiro Button na freada da chicane após o túnel, com direito a rodas travadas e torcidas para segurar a escapada. Embora Button não tenha gostado nenhum pouco, a ultrapassagem foi linda. Depois ele foi pra cima de Alonso, em tentativa semelhante no mesmo lugar, mas Alonso se defendeu e cortando a chicane para não bater, o que foi analisado como irregular pelos fiscais.

Antes que Alonso tivesse tempo de devolver a posição, a corrida foi interrompida, desta vez por outro acidente, forte também, que chegou a estreitar a pista e paralisar a prova com bandeira vermelha. Maldonado vinha rápido quando encontrou a Marússia de Max Chilton lenta e tentou passar onde não dava. Chilton não viu e espremeu o venezuelano que chegou a decolar com o toque dos pneus e bater forte no softwall, jogando boa parte da protação para o meio da pista na curva da Tabacaria. Pessoal da Companhia de Engenharia de Tráfego do principado teve que trabalhar duro.

Relargadas e chegada

Na relargada, Alonso deixou Pérez passar e abrir. Button vinha atrás do espanhol, mas Sutil queria mostrar, como ele mesmo disse ao final da prova, que é possível ultrapassar em Mônaco, e fez então mais uma lindíssima ultrapassagem no domingo, sobre o inglês, e foi brigar com Alonso. Depois de mais algumas voltas, Sutil faz nova ultrapassagem, no mesmo ponto, e deixou Alonso para trás. Excelente corrida do alemão depois de alguns azares.

Mas ainda tinha um piloto que precisava completar seu ciclo batidas e fechar com “chave de roda” a sua participação no GP deste final de semana. Seu nome, Romain Grosjean. E ele voltou a ser o Grosjean que estávamos acostumados, provocando mais um acidente bisonho, abalroando o carro de Ricciardo na freada da chicane da saída do túnel. Resultado: mais um safety-car.

A transmissão mostrou, em super-slow, a imagem de uma pomba, que resolveu pousar na segunda perna dos “ésses” da piscina, curva cega, sem se ater ao perigo que estava correndo. A imagem do Mercedes de Rosberg aparecendo rapidamente na direção da pomba e esta levantando voo rapidamente é uma das imagens mais belas já captadas pelas câmeras que acompanham a Fórmula 1. Mas a pomba não era branca e não conseguiu evitar uma nova batalha no final da prova, entre o atrevido Pérez, até então fazendo ótima corrida, e Kimi Raikkonen, se segurando atrás dos carros da Mercedes e da Red Bull.

Mesmo quando o safety car precisou entrar, a Mercedes nunca saiu da ponta da corrida.

Pérez mostrou, assim como Grosjean, o quanto ainda lhe falta para chegar ao primeiro time de pilotos. Seu arrojo mostrou ser desastroso e o toque no guard-rail lhe causou danos que o fizeram abandonar a prova. Porém, antes de encostar o carro, quase causa outra batida com o companheiro Button, o que poderia ser algo de consequências graves em sua rotina no time de Woking. Pérez jogou fora uma corrida na qual estava a frente de Button e com boa pontuação em mãos.

Raikkonen também teve problemas na colisão. Um pneu traseiro furado o fez voltar aos boxes e voltar na última posição, mas o talento do finlandês o fez se recuperar, voando nas últimas voltas, para alcançar uma honrosa décima posição e continuar sua série de GPs na zona de pontos, 23 agora, contra o recorde de 24 de Schumacher.

Tranquilo na ponta, sem nunca ter sido ameaçado exceto na largada, Rosberg venceu o GP de Mônaco exatamente 30 anos depois que seu pai, KekeRosberg, fez a mesma coisa, numa daquelas coincidências históricas da categoria. Os dois carros da Red Bull completaram o pódio, e Vettel abriu boa distância para o vice-líder, agora Webber. Hamilton foi o quarto, Sutil foi o quinto com uma apresentação maravilhosa, seguido de Button e Alonso. Outros destaques da prova foram Jean-Eric Vérgne e Paul Di Resta, oitavo e nono colocados respectivamente.

A conquista da Mercedes, em circuito de rua, foi colocada em xeque com a divulgação no sábado de que o time foi favorecido pela fornecedora de pneus em teste recente depois do GP da Espanha. Os testes são permitidos sim, e a Pirelli faz com as equipes principais também, mas a diferença é que a Mercedes usou o carro atual para realizar as medições, o que não é permitido, salvo algum documento que diga que não foi bem assim. Webber, por exemplo, acha que isso não influenciou no resultado de hoje, mas e se a equipe prateada vencer a próxima etapa, no Canadá, onde os pneus voltarão a ter papel de protagonistas? Onde há fumaça, há Ross Brawn.

Palpitando…

A ForceIndia é a quinta força da categoria, superando a McLaren. Além do bom carro, seus pilotos são talentosos e tem a cabeça no lugar.

Hamilton, de novo, atrás de Rosberg. Se a Mercedes brigasse pelos campeonatos de piloto e construtores, alguém apostaria no filho de Keke?

O circuito de Mônaco, apesar de não propiciar uma corrida cheia de ultrapassagens, premia os pilotos que nasceram para serem cirurgiões, ou seja, os precisos, e pune os limitados, sempre.

Príncipe Albert engordou um pouco.

Igual ao pai, Keke Rosberg, Nico venceu em Mônaco depois de 30 anos e entra para história como da Fórmula 1 e da família.

P.S.: O automobilismo mundial teve neste domingo mais uma edição da tradicional 500 Milhas de Indianápolis. Eu não sou fã da Fórmula Indy, em especial dos seus circuitos ovais curtos, o que não é o caso de Indianapolis Motor Speedway, mas é preciso citar a brilhante vitória de Tony Kanaan na prova de hoje. Mais que um brasileiro, Kanaan é um excelente piloto, com uma história de superação muito legal, e que merece uma menção, no mínimo, de quem gosta de velocidade e corrida de automóvel como eu. Parabéns baiano! (as más línguas dizem que o troféu de Indianápolis vai ganhar uma alça agora).

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

3 Responses

  1. Victor Ferraz says:

    Só lembro de ter vibrado muito quando a corrida acabou e vi que Raikkonen estava em décimo lugar! Já estava pensando “esse filho da %&$& do Perez tirou a chance do Kimi de bater o recorde do Schumacher…”, aí quando vi que o homem de gelo pontuou, soltei um belo de um “YESSS!!!” hehehe…

    Mas fico pensando no que o Alonso declarou depois, que ele estava sendo cauteloso na corrida, já que em Mônaco é muito fácil bater, principalmente quando algum piloto menor (que não tem nada a perder) vem pra cima de você… Portanto às vezes é melhor deixar o cara passar logo do que bater e perder os pontos que você tem… Será que seria o caso do Raikkonen não fechar a porta pro Pérez, evitando a colisão?…
    De qualquer forma, “abusado” é apelido pro Checo nesta corrida… O cara tenta uma ultrapassagem e dá problema com o Alonso, depois ele tenta do mesmo jeito e dá problema com o Raikkonen (da primeira vez os dois tiveram que passar direto na chicane pra não baterem) e o que que ele faz em seguida? Tenta DE NOVO pra cima do Raikkonen e acaba fora da corrida… Uma coisa é um piloto arrojado, outra coisa é um piloto perigoso…

    Fora isso, é realmente curioso o fato do Massa bater duas vezes de forma exatamente igual… A primeira ele disse que foi erro dele mesmo, a segunda a Ferrari disse que foi ero mecânico… Como duas batidas iguais podem ter causas diferentes?… Acho que não foi nada mais do que uma infeliz combinação do estilo de guiar do Felipe com o asfalto acidentado de Mônaco… Ele escolhia pra frear bem em cima de um “bump”, e as configurações de um carro muito baixo faziam com que o fundo batesse na pista… Enfim, só um palpite!
    Abraço!

  2. Glauco de F. Pereira says:

    Parece que o Perez anda confundindo arrojo e agressividade com burrice, como bem disse Raikkonen em entrevista depois da prova:

    http://www.grandepremio.com.br/f1/noticias/raikkonen-detona-comportamento-agressivo-de-perez-deveria-levar-um-soco-para-ver-se-entende

    E acho que não demora muito ele vai encontrar quem lhe dê esse murro não…

    Quanto ao Kanaan, acho que nunca uma vitória esteve em tão boas mãos, ainda mais depois do que aconteceu no Gp de São Paulo. Veio coroar uma carreira de muita luta e esforço de alguém que descobriu o seu caminho fora da F1, e o fez com muito arrojo e talento!

  3. lsussumu says:

    Concordo com vc Lauro, ainda falta mtoooo para o Perez atingir o nível dos pilotos de ponta, ele pode ter potencial, mas ainda é muito inconsequente.

    E o Alonso foi muito inteligente deixando o Sutil passar,pois o Sutil tava vindo engolindo todo mundo. Melhor garantir alguns pontos do que perder a corrida.

    Sera que o Kimi foi falar com o Perez depois da corrida?

    Kimi Reclamando do Perez a 1 vez
    http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=NjLTmrCIeHg

    Video do raikkonen ultrapassando. Engraçado que o Bottas declarou depois que abriu pq pensou q o Raikkonen tava dando volta nele hdsauidhiuashdiaushasdiuhdsaiu
    http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=QxTgZzR2Tn0

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